Quando se veste a camisa de um grande clube, naturalmente a responsabilidade do profissional é maior. Maior visibilidade, melhor remuneração, maior repercussão de tudo o que é feito. Posição privilegiada e nível geral de exigência compatível. Contudo, cresce no futebol um curioso movimento que tenta minimizar o desempenho abaixo do esperado de quem ocupa posições de destaque, ganha mais dinheiro e, consequentemente, tem maiores cobranças sobre si. Quase como se o CEO de uma empresa tivesse o mesmo nível de cobrança de um jovem escriturário.
É o caso de Neymar em determinadas avaliações. Trata-se do jogador mais caro da história do futebol – €222 milhões, quase R$ 1,5 bilhão, pagos pelo Catar, dono do Paris Saint-Germain, ao Barcelona quando da contratação, em 2017.
Um atleta que troca de clube por quantia tão surreal não poderia, jamais, ser visto como mais um quando as coisas não vão bem. Mas há quem tente distribuir em pedaços mais ou menos parecidos as responsabilidades pós-eliminação na Liga dos Campeões.
Sim, Neymar teve bons momentos no certame, contra Bayern de Munique e no primeiro tempo do jogo de ida contra o algoz, Manchester City. Mas o que fez foi pouco para tamanho investimento, obviamente. Não foi proporcional, nem se pode colocar na balança em condições iguais o craque brasileiro e atletas como Diallo e Bakker.
A renovação contratual de Neymar com o PSG até 2025 significa um novo voto de confiança no craque. Até porque o time francês não recuperaria o dinheiro investido para tê-lo há quase quatro anos.
O Barcelona, com dívida acima de €1 bilhão e em meio a uma auditoria, não teria condições de buscá-lo de volta e sequer parece haver outro clube disposto a jogar fichas tão caras no camisa 10. Neymar perdeu valor e relevância nos últimos anos.
E isso é inevitável, apesar da tropa de choque que tenta disfarçar a realidade.
O ex-santista deixou o Barça como candidato número um a herdeiro de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Chegou a brilhar ao lado do argentino e de Luís Suárez, com quem formou o “Trio MSN”, campeão europeu em 2015.
Embora muitos não percebam, aquele momento ficou bem no passado. O título do Barcelona em Berlim, derrotando a Juventus de Carlos Tevez na final, vai ficando lá atrás. Quanta coisa aconteceu desde então...
Depois disso Neymar esteve próximo da conquista sonhada em 2020, quando o PSG perdeu a decisão para o Bayern. E ele não se destacou como alguém que custou €222 milhões.
Na atual temporada, o personagem principal do time parisiense é Kylian Mbappé, artilheiro da equipe em 2020/2021 e goleador do Campeonato Francês, que, faltando duas rodadas, parece se encaminhar mesmo para o líder, Lille.
Por sinal, quando Neymar ganhava sua Champions League pelo Barcelona, Mbappé era um adolescente de 16 anos. Subiu, cresceu, foi campeão francês com o Monaco, ergueu taças pelo próprio PSG e faturou a Copa do Mundo aos 18 de idade, como protagonista.
A prorrogação do contrato de Neymar com o Paris Saint-Germain significa uma nova chance para que ele corresponda às expectativas. Talvez contando com a companhia de Messi, algo que distribuiria um pouco mais as responsabilidades entre os principais nomes.
Mas Neymar segue sendo o mais caro jogador da história desse esporte, um astro midiático de enorme talento e pago como poucos atletas são. Em consequência, será cobrado como tal, vários níveis acima da absoluta maioria.
Porque as responsabilidades dos maiores são evidentemente superiores às dos “mortais”. Como na empresa entre o CEO e o escriturário.