Mulher de chefe de esquema de apostas que movimentou R$ 2 milhões vive reclusa, mas não teme prisão


Camila Silva da Motta é apontada pelo MP como a responsável pelas operações financeiras da quadrilha acusada de manipular partidas do futebol brasileiro

Por Ricardo Magatti
Atualização:

Uma casa pequena de portão branco e paredes vermelhas ladeada de residências semelhantes no bairro Jardim Guairaca, zona leste de São Paulo, abrigava Bruno Lopez Moura, o BC, apontado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) como o líder de uma organização criminosa acusada de manipular jogos do Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022, além de Estaduais deste ano. O chefe do grupo morava no local com sua mulher, Camila Silva da Motta, também denunciada pelo MP-GO por envolvimento no esquema. Enquanto o marido está preso preventivamente, ela vive em casa dias de apreensão com o filho de 5 anos e outros familiares, que falaram sob condição de anonimato com o Estadão.

Embora a investigação do MP aponte Camila como responsável por realizar transferências financeiras a integrantes da organização e “laranjas” e também em benefício de jogadores cooptados, a família não teme que ela seja presa. “A Camila não tem envolvimento nenhum”, sustenta um dos familiares. “Estão falando em lavagem de dinheiro? Cadê o dinheiro? Ela mora de favor na casa”, acrescenta. A reportagem tentou falar com Camila, mas ela não quis se manifestar.

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Após o envolvimento no que se constitui ser o maior escândalo da história do futebol brasileiro, Camila, contam os familiares, permanece em casa com o filho. Desativou as redes sociais e não se sente confortável para sair da residência. Antes de participar do esquema de apostas, ela trabalhou em duas academias e em um laboratório de análises clínicas. Sua última remuneração com vínculo empregatício, em janeiro de 2019, foi de R$ 856,75.

Agora, ao se envolver com Lopez e o grupo que aliciava e cooptava jogadores para fraudar partidas e ganhar dinheiro com as apostas, ela vai responder por constituir organização criminosa. A pena é de três a oito anos de cadeia. Nas investigações, ela aparece dizendo querer ajudar o marido na operação. Ela fazia então toda a “contabilidade” do esquema, pagando os atletas envolvidos nas manipulações.

Conversa entre Bruno e Camila, apontada como operadora financeira do esquema Foto: Reprodução
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BC Sports

O endereço da casa em que mora fica também a sede da empresa da qual Camila é sócia com Bruno, a BC Sports Management. Segundo o Ministério Público, foi por meio dessa firma, aberta em janeiro de 2022, que a mulher do “chefe” do esquema, segundo as apurações, movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco tempo. Os jogos contaminados no Brasileirão são da edição do mesmo ano da abertura da empresa.

No papel, a BC Sports Management (B de Bruno e C de Camila), com capital social de R$ 1 mil, foi criada com o objetivo de agenciar jovens jogadores que pretendiam atuar no exterior. Contudo, era usada com outra finalidade. Por meio dela, foram feitos alguns dos “sinais” a jogadores, pagamentos antecipados para que entrassem na manipulação. Os valores antecipados eram de R$ 5 mil, R$ 10 mil e até R$ 40 mil.

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Movimentações financeiras, reveladas pelo MP, tem Camila Silva da Motta como peça no esquema das apostas. Foto: Reprodução

Camila movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco mais de seis meses, de março a setembro de 2022, entre entradas e saídas. Um relatório de inteligência registrou operações em dinheiro vivo, depósitos fracionados, burla de limites a serem reportados e movimentação atípica para a renda declarada por ela, de R$ 4,5 mil.

Em seis meses, foram movimentados na conta da empresa de Bruno e Camila a quantia de R$ 1.036.160,00 a crédito e R$ 1.047.233,00 a débito. Segundo a investigação, Bruno Lopez, seguidas vezes, indicou valores e contas para que a mulher fizesse as transferências bancárias, em conduta que perdurou até a véspera da deflagração da Operação Penalidade Máxima.

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Partiu de Camila, por exemplo, uma transferência via PIX de R$ 40 mil que liga o esquema de apostas ao empresário Cleber Vinicius Rocha Antunes da Silva, o Clebinho Fera, de Curitiba, empresário amigo de muitos dos jogadores que atuam na elite do futebol brasileiro.

No nome dela constam três carros, inclusive o utilitário esportivo que Bruno Lopez disse, em depoimento, pertencer a ele. Na calçada em frente à casa de Camila estava estacionado um outro carro que o pai, um policial militar aposentado, deu para a filha. A residência onde ela passa os dias reclusa com o filho, na zona leste, também foi o pai que comprou.

Conversas de WhatsApp mostram que o empresário delegou à mulher a tarefa de fazer os pagamentos pela BC Sports de todo o esquema e também de gerenciar os cadastros usados para fazer entradas de apostas fraudulentas em sites como Bet365 e Betano, duas das principais casas que operam no Brasil. A investigação também concluiu que Camila era a encarregada de dar auxílio na prática das manipulações.

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No depoimento ao MP, em fevereiro, Bruno Lopez afirmou que sua mulher dava “suporte com jogadores, considerando que mandam muitos atletas menores de idade para fora do país para jogar”.

Primo envolvido no esquema

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O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO dividiu os membros da organização em quatro núcleos: financiadores, apostadores, intermediadores e administrativo. Os responsáveis pela apuração sinalizam que o tamanho dessa rede pode ser maior do que a conhecida hoje. Por isso, as apurações seguem para esgotar o tamanho e o alcance do grupo no futebol.

Camila integrava o núcleo administrativo, como revelaram as conversas obtidas pelo MP-GO no celular da mulher do chefe do esquema. Os diálogos mostram o casal combinando transferências bancárias relacionadas à operação, ao passo que Bruno Lopez pede que ela confira o saldo das contas disponibilizadas por um dos comparsas para saber se ele não estava “metendo o louco”. “Você pediu para ser útil em alguma coisa, pode me ajudar nisso”, pediu o líder da suposta quadrilha à sua mulher.

“Tá bom. Vou entrar aqui. Mas se ele te passou é porque ele realmente está certo no que está te falando, né? Ele não ia te passar se tivesse metendo o louco, né? Presta atenção”, respondeu ela.

O esquema envolveu também um primo de Camila, Zildo Peixoto Neto, um dos responsáveis, segundo a investigação, por contatar e aliciar jogadores, realizar pagamentos indevidos e também promover apostas nos sites em contas próprias e, principalmente, de terceiros.

Ele contou ter conhecido Bruno Lopez em um churrasco da família e que o marido de sua prima “ofereceu para que abrisse conta em meu nome e me avisaria quando utilizasse e pagaria uma porcentagem sobre o que rendesse”. Essa porcentagem seria de 10%. Ele alega ter tido prejuízo de R$ 74 mil em apostas esportivas.

Uma casa pequena de portão branco e paredes vermelhas ladeada de residências semelhantes no bairro Jardim Guairaca, zona leste de São Paulo, abrigava Bruno Lopez Moura, o BC, apontado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) como o líder de uma organização criminosa acusada de manipular jogos do Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022, além de Estaduais deste ano. O chefe do grupo morava no local com sua mulher, Camila Silva da Motta, também denunciada pelo MP-GO por envolvimento no esquema. Enquanto o marido está preso preventivamente, ela vive em casa dias de apreensão com o filho de 5 anos e outros familiares, que falaram sob condição de anonimato com o Estadão.

Embora a investigação do MP aponte Camila como responsável por realizar transferências financeiras a integrantes da organização e “laranjas” e também em benefício de jogadores cooptados, a família não teme que ela seja presa. “A Camila não tem envolvimento nenhum”, sustenta um dos familiares. “Estão falando em lavagem de dinheiro? Cadê o dinheiro? Ela mora de favor na casa”, acrescenta. A reportagem tentou falar com Camila, mas ela não quis se manifestar.

Após o envolvimento no que se constitui ser o maior escândalo da história do futebol brasileiro, Camila, contam os familiares, permanece em casa com o filho. Desativou as redes sociais e não se sente confortável para sair da residência. Antes de participar do esquema de apostas, ela trabalhou em duas academias e em um laboratório de análises clínicas. Sua última remuneração com vínculo empregatício, em janeiro de 2019, foi de R$ 856,75.

Agora, ao se envolver com Lopez e o grupo que aliciava e cooptava jogadores para fraudar partidas e ganhar dinheiro com as apostas, ela vai responder por constituir organização criminosa. A pena é de três a oito anos de cadeia. Nas investigações, ela aparece dizendo querer ajudar o marido na operação. Ela fazia então toda a “contabilidade” do esquema, pagando os atletas envolvidos nas manipulações.

Conversa entre Bruno e Camila, apontada como operadora financeira do esquema Foto: Reprodução

BC Sports

O endereço da casa em que mora fica também a sede da empresa da qual Camila é sócia com Bruno, a BC Sports Management. Segundo o Ministério Público, foi por meio dessa firma, aberta em janeiro de 2022, que a mulher do “chefe” do esquema, segundo as apurações, movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco tempo. Os jogos contaminados no Brasileirão são da edição do mesmo ano da abertura da empresa.

No papel, a BC Sports Management (B de Bruno e C de Camila), com capital social de R$ 1 mil, foi criada com o objetivo de agenciar jovens jogadores que pretendiam atuar no exterior. Contudo, era usada com outra finalidade. Por meio dela, foram feitos alguns dos “sinais” a jogadores, pagamentos antecipados para que entrassem na manipulação. Os valores antecipados eram de R$ 5 mil, R$ 10 mil e até R$ 40 mil.

Movimentações financeiras, reveladas pelo MP, tem Camila Silva da Motta como peça no esquema das apostas. Foto: Reprodução

Camila movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco mais de seis meses, de março a setembro de 2022, entre entradas e saídas. Um relatório de inteligência registrou operações em dinheiro vivo, depósitos fracionados, burla de limites a serem reportados e movimentação atípica para a renda declarada por ela, de R$ 4,5 mil.

Em seis meses, foram movimentados na conta da empresa de Bruno e Camila a quantia de R$ 1.036.160,00 a crédito e R$ 1.047.233,00 a débito. Segundo a investigação, Bruno Lopez, seguidas vezes, indicou valores e contas para que a mulher fizesse as transferências bancárias, em conduta que perdurou até a véspera da deflagração da Operação Penalidade Máxima.

Partiu de Camila, por exemplo, uma transferência via PIX de R$ 40 mil que liga o esquema de apostas ao empresário Cleber Vinicius Rocha Antunes da Silva, o Clebinho Fera, de Curitiba, empresário amigo de muitos dos jogadores que atuam na elite do futebol brasileiro.

No nome dela constam três carros, inclusive o utilitário esportivo que Bruno Lopez disse, em depoimento, pertencer a ele. Na calçada em frente à casa de Camila estava estacionado um outro carro que o pai, um policial militar aposentado, deu para a filha. A residência onde ela passa os dias reclusa com o filho, na zona leste, também foi o pai que comprou.

Conversas de WhatsApp mostram que o empresário delegou à mulher a tarefa de fazer os pagamentos pela BC Sports de todo o esquema e também de gerenciar os cadastros usados para fazer entradas de apostas fraudulentas em sites como Bet365 e Betano, duas das principais casas que operam no Brasil. A investigação também concluiu que Camila era a encarregada de dar auxílio na prática das manipulações.

No depoimento ao MP, em fevereiro, Bruno Lopez afirmou que sua mulher dava “suporte com jogadores, considerando que mandam muitos atletas menores de idade para fora do país para jogar”.

Primo envolvido no esquema

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO dividiu os membros da organização em quatro núcleos: financiadores, apostadores, intermediadores e administrativo. Os responsáveis pela apuração sinalizam que o tamanho dessa rede pode ser maior do que a conhecida hoje. Por isso, as apurações seguem para esgotar o tamanho e o alcance do grupo no futebol.

Camila integrava o núcleo administrativo, como revelaram as conversas obtidas pelo MP-GO no celular da mulher do chefe do esquema. Os diálogos mostram o casal combinando transferências bancárias relacionadas à operação, ao passo que Bruno Lopez pede que ela confira o saldo das contas disponibilizadas por um dos comparsas para saber se ele não estava “metendo o louco”. “Você pediu para ser útil em alguma coisa, pode me ajudar nisso”, pediu o líder da suposta quadrilha à sua mulher.

“Tá bom. Vou entrar aqui. Mas se ele te passou é porque ele realmente está certo no que está te falando, né? Ele não ia te passar se tivesse metendo o louco, né? Presta atenção”, respondeu ela.

O esquema envolveu também um primo de Camila, Zildo Peixoto Neto, um dos responsáveis, segundo a investigação, por contatar e aliciar jogadores, realizar pagamentos indevidos e também promover apostas nos sites em contas próprias e, principalmente, de terceiros.

Ele contou ter conhecido Bruno Lopez em um churrasco da família e que o marido de sua prima “ofereceu para que abrisse conta em meu nome e me avisaria quando utilizasse e pagaria uma porcentagem sobre o que rendesse”. Essa porcentagem seria de 10%. Ele alega ter tido prejuízo de R$ 74 mil em apostas esportivas.

Uma casa pequena de portão branco e paredes vermelhas ladeada de residências semelhantes no bairro Jardim Guairaca, zona leste de São Paulo, abrigava Bruno Lopez Moura, o BC, apontado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) como o líder de uma organização criminosa acusada de manipular jogos do Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022, além de Estaduais deste ano. O chefe do grupo morava no local com sua mulher, Camila Silva da Motta, também denunciada pelo MP-GO por envolvimento no esquema. Enquanto o marido está preso preventivamente, ela vive em casa dias de apreensão com o filho de 5 anos e outros familiares, que falaram sob condição de anonimato com o Estadão.

Embora a investigação do MP aponte Camila como responsável por realizar transferências financeiras a integrantes da organização e “laranjas” e também em benefício de jogadores cooptados, a família não teme que ela seja presa. “A Camila não tem envolvimento nenhum”, sustenta um dos familiares. “Estão falando em lavagem de dinheiro? Cadê o dinheiro? Ela mora de favor na casa”, acrescenta. A reportagem tentou falar com Camila, mas ela não quis se manifestar.

Após o envolvimento no que se constitui ser o maior escândalo da história do futebol brasileiro, Camila, contam os familiares, permanece em casa com o filho. Desativou as redes sociais e não se sente confortável para sair da residência. Antes de participar do esquema de apostas, ela trabalhou em duas academias e em um laboratório de análises clínicas. Sua última remuneração com vínculo empregatício, em janeiro de 2019, foi de R$ 856,75.

Agora, ao se envolver com Lopez e o grupo que aliciava e cooptava jogadores para fraudar partidas e ganhar dinheiro com as apostas, ela vai responder por constituir organização criminosa. A pena é de três a oito anos de cadeia. Nas investigações, ela aparece dizendo querer ajudar o marido na operação. Ela fazia então toda a “contabilidade” do esquema, pagando os atletas envolvidos nas manipulações.

Conversa entre Bruno e Camila, apontada como operadora financeira do esquema Foto: Reprodução

BC Sports

O endereço da casa em que mora fica também a sede da empresa da qual Camila é sócia com Bruno, a BC Sports Management. Segundo o Ministério Público, foi por meio dessa firma, aberta em janeiro de 2022, que a mulher do “chefe” do esquema, segundo as apurações, movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco tempo. Os jogos contaminados no Brasileirão são da edição do mesmo ano da abertura da empresa.

No papel, a BC Sports Management (B de Bruno e C de Camila), com capital social de R$ 1 mil, foi criada com o objetivo de agenciar jovens jogadores que pretendiam atuar no exterior. Contudo, era usada com outra finalidade. Por meio dela, foram feitos alguns dos “sinais” a jogadores, pagamentos antecipados para que entrassem na manipulação. Os valores antecipados eram de R$ 5 mil, R$ 10 mil e até R$ 40 mil.

Movimentações financeiras, reveladas pelo MP, tem Camila Silva da Motta como peça no esquema das apostas. Foto: Reprodução

Camila movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco mais de seis meses, de março a setembro de 2022, entre entradas e saídas. Um relatório de inteligência registrou operações em dinheiro vivo, depósitos fracionados, burla de limites a serem reportados e movimentação atípica para a renda declarada por ela, de R$ 4,5 mil.

Em seis meses, foram movimentados na conta da empresa de Bruno e Camila a quantia de R$ 1.036.160,00 a crédito e R$ 1.047.233,00 a débito. Segundo a investigação, Bruno Lopez, seguidas vezes, indicou valores e contas para que a mulher fizesse as transferências bancárias, em conduta que perdurou até a véspera da deflagração da Operação Penalidade Máxima.

Partiu de Camila, por exemplo, uma transferência via PIX de R$ 40 mil que liga o esquema de apostas ao empresário Cleber Vinicius Rocha Antunes da Silva, o Clebinho Fera, de Curitiba, empresário amigo de muitos dos jogadores que atuam na elite do futebol brasileiro.

No nome dela constam três carros, inclusive o utilitário esportivo que Bruno Lopez disse, em depoimento, pertencer a ele. Na calçada em frente à casa de Camila estava estacionado um outro carro que o pai, um policial militar aposentado, deu para a filha. A residência onde ela passa os dias reclusa com o filho, na zona leste, também foi o pai que comprou.

Conversas de WhatsApp mostram que o empresário delegou à mulher a tarefa de fazer os pagamentos pela BC Sports de todo o esquema e também de gerenciar os cadastros usados para fazer entradas de apostas fraudulentas em sites como Bet365 e Betano, duas das principais casas que operam no Brasil. A investigação também concluiu que Camila era a encarregada de dar auxílio na prática das manipulações.

No depoimento ao MP, em fevereiro, Bruno Lopez afirmou que sua mulher dava “suporte com jogadores, considerando que mandam muitos atletas menores de idade para fora do país para jogar”.

Primo envolvido no esquema

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO dividiu os membros da organização em quatro núcleos: financiadores, apostadores, intermediadores e administrativo. Os responsáveis pela apuração sinalizam que o tamanho dessa rede pode ser maior do que a conhecida hoje. Por isso, as apurações seguem para esgotar o tamanho e o alcance do grupo no futebol.

Camila integrava o núcleo administrativo, como revelaram as conversas obtidas pelo MP-GO no celular da mulher do chefe do esquema. Os diálogos mostram o casal combinando transferências bancárias relacionadas à operação, ao passo que Bruno Lopez pede que ela confira o saldo das contas disponibilizadas por um dos comparsas para saber se ele não estava “metendo o louco”. “Você pediu para ser útil em alguma coisa, pode me ajudar nisso”, pediu o líder da suposta quadrilha à sua mulher.

“Tá bom. Vou entrar aqui. Mas se ele te passou é porque ele realmente está certo no que está te falando, né? Ele não ia te passar se tivesse metendo o louco, né? Presta atenção”, respondeu ela.

O esquema envolveu também um primo de Camila, Zildo Peixoto Neto, um dos responsáveis, segundo a investigação, por contatar e aliciar jogadores, realizar pagamentos indevidos e também promover apostas nos sites em contas próprias e, principalmente, de terceiros.

Ele contou ter conhecido Bruno Lopez em um churrasco da família e que o marido de sua prima “ofereceu para que abrisse conta em meu nome e me avisaria quando utilizasse e pagaria uma porcentagem sobre o que rendesse”. Essa porcentagem seria de 10%. Ele alega ter tido prejuízo de R$ 74 mil em apostas esportivas.

Uma casa pequena de portão branco e paredes vermelhas ladeada de residências semelhantes no bairro Jardim Guairaca, zona leste de São Paulo, abrigava Bruno Lopez Moura, o BC, apontado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) como o líder de uma organização criminosa acusada de manipular jogos do Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022, além de Estaduais deste ano. O chefe do grupo morava no local com sua mulher, Camila Silva da Motta, também denunciada pelo MP-GO por envolvimento no esquema. Enquanto o marido está preso preventivamente, ela vive em casa dias de apreensão com o filho de 5 anos e outros familiares, que falaram sob condição de anonimato com o Estadão.

Embora a investigação do MP aponte Camila como responsável por realizar transferências financeiras a integrantes da organização e “laranjas” e também em benefício de jogadores cooptados, a família não teme que ela seja presa. “A Camila não tem envolvimento nenhum”, sustenta um dos familiares. “Estão falando em lavagem de dinheiro? Cadê o dinheiro? Ela mora de favor na casa”, acrescenta. A reportagem tentou falar com Camila, mas ela não quis se manifestar.

Após o envolvimento no que se constitui ser o maior escândalo da história do futebol brasileiro, Camila, contam os familiares, permanece em casa com o filho. Desativou as redes sociais e não se sente confortável para sair da residência. Antes de participar do esquema de apostas, ela trabalhou em duas academias e em um laboratório de análises clínicas. Sua última remuneração com vínculo empregatício, em janeiro de 2019, foi de R$ 856,75.

Agora, ao se envolver com Lopez e o grupo que aliciava e cooptava jogadores para fraudar partidas e ganhar dinheiro com as apostas, ela vai responder por constituir organização criminosa. A pena é de três a oito anos de cadeia. Nas investigações, ela aparece dizendo querer ajudar o marido na operação. Ela fazia então toda a “contabilidade” do esquema, pagando os atletas envolvidos nas manipulações.

Conversa entre Bruno e Camila, apontada como operadora financeira do esquema Foto: Reprodução

BC Sports

O endereço da casa em que mora fica também a sede da empresa da qual Camila é sócia com Bruno, a BC Sports Management. Segundo o Ministério Público, foi por meio dessa firma, aberta em janeiro de 2022, que a mulher do “chefe” do esquema, segundo as apurações, movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco tempo. Os jogos contaminados no Brasileirão são da edição do mesmo ano da abertura da empresa.

No papel, a BC Sports Management (B de Bruno e C de Camila), com capital social de R$ 1 mil, foi criada com o objetivo de agenciar jovens jogadores que pretendiam atuar no exterior. Contudo, era usada com outra finalidade. Por meio dela, foram feitos alguns dos “sinais” a jogadores, pagamentos antecipados para que entrassem na manipulação. Os valores antecipados eram de R$ 5 mil, R$ 10 mil e até R$ 40 mil.

Movimentações financeiras, reveladas pelo MP, tem Camila Silva da Motta como peça no esquema das apostas. Foto: Reprodução

Camila movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco mais de seis meses, de março a setembro de 2022, entre entradas e saídas. Um relatório de inteligência registrou operações em dinheiro vivo, depósitos fracionados, burla de limites a serem reportados e movimentação atípica para a renda declarada por ela, de R$ 4,5 mil.

Em seis meses, foram movimentados na conta da empresa de Bruno e Camila a quantia de R$ 1.036.160,00 a crédito e R$ 1.047.233,00 a débito. Segundo a investigação, Bruno Lopez, seguidas vezes, indicou valores e contas para que a mulher fizesse as transferências bancárias, em conduta que perdurou até a véspera da deflagração da Operação Penalidade Máxima.

Partiu de Camila, por exemplo, uma transferência via PIX de R$ 40 mil que liga o esquema de apostas ao empresário Cleber Vinicius Rocha Antunes da Silva, o Clebinho Fera, de Curitiba, empresário amigo de muitos dos jogadores que atuam na elite do futebol brasileiro.

No nome dela constam três carros, inclusive o utilitário esportivo que Bruno Lopez disse, em depoimento, pertencer a ele. Na calçada em frente à casa de Camila estava estacionado um outro carro que o pai, um policial militar aposentado, deu para a filha. A residência onde ela passa os dias reclusa com o filho, na zona leste, também foi o pai que comprou.

Conversas de WhatsApp mostram que o empresário delegou à mulher a tarefa de fazer os pagamentos pela BC Sports de todo o esquema e também de gerenciar os cadastros usados para fazer entradas de apostas fraudulentas em sites como Bet365 e Betano, duas das principais casas que operam no Brasil. A investigação também concluiu que Camila era a encarregada de dar auxílio na prática das manipulações.

No depoimento ao MP, em fevereiro, Bruno Lopez afirmou que sua mulher dava “suporte com jogadores, considerando que mandam muitos atletas menores de idade para fora do país para jogar”.

Primo envolvido no esquema

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO dividiu os membros da organização em quatro núcleos: financiadores, apostadores, intermediadores e administrativo. Os responsáveis pela apuração sinalizam que o tamanho dessa rede pode ser maior do que a conhecida hoje. Por isso, as apurações seguem para esgotar o tamanho e o alcance do grupo no futebol.

Camila integrava o núcleo administrativo, como revelaram as conversas obtidas pelo MP-GO no celular da mulher do chefe do esquema. Os diálogos mostram o casal combinando transferências bancárias relacionadas à operação, ao passo que Bruno Lopez pede que ela confira o saldo das contas disponibilizadas por um dos comparsas para saber se ele não estava “metendo o louco”. “Você pediu para ser útil em alguma coisa, pode me ajudar nisso”, pediu o líder da suposta quadrilha à sua mulher.

“Tá bom. Vou entrar aqui. Mas se ele te passou é porque ele realmente está certo no que está te falando, né? Ele não ia te passar se tivesse metendo o louco, né? Presta atenção”, respondeu ela.

O esquema envolveu também um primo de Camila, Zildo Peixoto Neto, um dos responsáveis, segundo a investigação, por contatar e aliciar jogadores, realizar pagamentos indevidos e também promover apostas nos sites em contas próprias e, principalmente, de terceiros.

Ele contou ter conhecido Bruno Lopez em um churrasco da família e que o marido de sua prima “ofereceu para que abrisse conta em meu nome e me avisaria quando utilizasse e pagaria uma porcentagem sobre o que rendesse”. Essa porcentagem seria de 10%. Ele alega ter tido prejuízo de R$ 74 mil em apostas esportivas.

Uma casa pequena de portão branco e paredes vermelhas ladeada de residências semelhantes no bairro Jardim Guairaca, zona leste de São Paulo, abrigava Bruno Lopez Moura, o BC, apontado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) como o líder de uma organização criminosa acusada de manipular jogos do Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022, além de Estaduais deste ano. O chefe do grupo morava no local com sua mulher, Camila Silva da Motta, também denunciada pelo MP-GO por envolvimento no esquema. Enquanto o marido está preso preventivamente, ela vive em casa dias de apreensão com o filho de 5 anos e outros familiares, que falaram sob condição de anonimato com o Estadão.

Embora a investigação do MP aponte Camila como responsável por realizar transferências financeiras a integrantes da organização e “laranjas” e também em benefício de jogadores cooptados, a família não teme que ela seja presa. “A Camila não tem envolvimento nenhum”, sustenta um dos familiares. “Estão falando em lavagem de dinheiro? Cadê o dinheiro? Ela mora de favor na casa”, acrescenta. A reportagem tentou falar com Camila, mas ela não quis se manifestar.

Após o envolvimento no que se constitui ser o maior escândalo da história do futebol brasileiro, Camila, contam os familiares, permanece em casa com o filho. Desativou as redes sociais e não se sente confortável para sair da residência. Antes de participar do esquema de apostas, ela trabalhou em duas academias e em um laboratório de análises clínicas. Sua última remuneração com vínculo empregatício, em janeiro de 2019, foi de R$ 856,75.

Agora, ao se envolver com Lopez e o grupo que aliciava e cooptava jogadores para fraudar partidas e ganhar dinheiro com as apostas, ela vai responder por constituir organização criminosa. A pena é de três a oito anos de cadeia. Nas investigações, ela aparece dizendo querer ajudar o marido na operação. Ela fazia então toda a “contabilidade” do esquema, pagando os atletas envolvidos nas manipulações.

Conversa entre Bruno e Camila, apontada como operadora financeira do esquema Foto: Reprodução

BC Sports

O endereço da casa em que mora fica também a sede da empresa da qual Camila é sócia com Bruno, a BC Sports Management. Segundo o Ministério Público, foi por meio dessa firma, aberta em janeiro de 2022, que a mulher do “chefe” do esquema, segundo as apurações, movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco tempo. Os jogos contaminados no Brasileirão são da edição do mesmo ano da abertura da empresa.

No papel, a BC Sports Management (B de Bruno e C de Camila), com capital social de R$ 1 mil, foi criada com o objetivo de agenciar jovens jogadores que pretendiam atuar no exterior. Contudo, era usada com outra finalidade. Por meio dela, foram feitos alguns dos “sinais” a jogadores, pagamentos antecipados para que entrassem na manipulação. Os valores antecipados eram de R$ 5 mil, R$ 10 mil e até R$ 40 mil.

Movimentações financeiras, reveladas pelo MP, tem Camila Silva da Motta como peça no esquema das apostas. Foto: Reprodução

Camila movimentou mais de R$ 2 milhões em pouco mais de seis meses, de março a setembro de 2022, entre entradas e saídas. Um relatório de inteligência registrou operações em dinheiro vivo, depósitos fracionados, burla de limites a serem reportados e movimentação atípica para a renda declarada por ela, de R$ 4,5 mil.

Em seis meses, foram movimentados na conta da empresa de Bruno e Camila a quantia de R$ 1.036.160,00 a crédito e R$ 1.047.233,00 a débito. Segundo a investigação, Bruno Lopez, seguidas vezes, indicou valores e contas para que a mulher fizesse as transferências bancárias, em conduta que perdurou até a véspera da deflagração da Operação Penalidade Máxima.

Partiu de Camila, por exemplo, uma transferência via PIX de R$ 40 mil que liga o esquema de apostas ao empresário Cleber Vinicius Rocha Antunes da Silva, o Clebinho Fera, de Curitiba, empresário amigo de muitos dos jogadores que atuam na elite do futebol brasileiro.

No nome dela constam três carros, inclusive o utilitário esportivo que Bruno Lopez disse, em depoimento, pertencer a ele. Na calçada em frente à casa de Camila estava estacionado um outro carro que o pai, um policial militar aposentado, deu para a filha. A residência onde ela passa os dias reclusa com o filho, na zona leste, também foi o pai que comprou.

Conversas de WhatsApp mostram que o empresário delegou à mulher a tarefa de fazer os pagamentos pela BC Sports de todo o esquema e também de gerenciar os cadastros usados para fazer entradas de apostas fraudulentas em sites como Bet365 e Betano, duas das principais casas que operam no Brasil. A investigação também concluiu que Camila era a encarregada de dar auxílio na prática das manipulações.

No depoimento ao MP, em fevereiro, Bruno Lopez afirmou que sua mulher dava “suporte com jogadores, considerando que mandam muitos atletas menores de idade para fora do país para jogar”.

Primo envolvido no esquema

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO dividiu os membros da organização em quatro núcleos: financiadores, apostadores, intermediadores e administrativo. Os responsáveis pela apuração sinalizam que o tamanho dessa rede pode ser maior do que a conhecida hoje. Por isso, as apurações seguem para esgotar o tamanho e o alcance do grupo no futebol.

Camila integrava o núcleo administrativo, como revelaram as conversas obtidas pelo MP-GO no celular da mulher do chefe do esquema. Os diálogos mostram o casal combinando transferências bancárias relacionadas à operação, ao passo que Bruno Lopez pede que ela confira o saldo das contas disponibilizadas por um dos comparsas para saber se ele não estava “metendo o louco”. “Você pediu para ser útil em alguma coisa, pode me ajudar nisso”, pediu o líder da suposta quadrilha à sua mulher.

“Tá bom. Vou entrar aqui. Mas se ele te passou é porque ele realmente está certo no que está te falando, né? Ele não ia te passar se tivesse metendo o louco, né? Presta atenção”, respondeu ela.

O esquema envolveu também um primo de Camila, Zildo Peixoto Neto, um dos responsáveis, segundo a investigação, por contatar e aliciar jogadores, realizar pagamentos indevidos e também promover apostas nos sites em contas próprias e, principalmente, de terceiros.

Ele contou ter conhecido Bruno Lopez em um churrasco da família e que o marido de sua prima “ofereceu para que abrisse conta em meu nome e me avisaria quando utilizasse e pagaria uma porcentagem sobre o que rendesse”. Essa porcentagem seria de 10%. Ele alega ter tido prejuízo de R$ 74 mil em apostas esportivas.

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