PARIS - Os dois medalhistas brasileiros do judô nos Jogos Olímpicos de Paris têm algo em comum. Willian Lima, que conquistou a prata neste domingo na Arena do Campo de Marte, e Larissa Pimenta, que ficou com o bronze, sofreram com lesões que complicaram o ciclo olímpico e, por pouco, não os deixaram fora do evento na capital francesa.
“Venho carregando comigo uma lesão há mais de um ano e ela começou a me incomodar na segunda luta. Estou com uma ruptura de tendão supraespinhal do ombro esquerdo. Agora vou ter de realizar a cirurgia”, disse Lima.
Larissa, que caiu nas quartas de final e precisou passar pela repescagem para ficar com o bronze, revelou que uma cirurgia no joelho a fez desacreditar na sua capacidade de participar das Olimpíadas de Paris. Mas, com um trabalho psicológico, ela recuperou a confiança e mentalizou seu foco em ganhar uma medalha, não somente participar dos Jogos.
“Participar não é o suficiente para mim. Sempre entendi que merecia mais do que isso. Nesses três anos do ciclo olímpico, me senti vulnerável. Sempre achei que fosse forte. Ano passado, fiz uma cirurgia no joelho que me fez deixar de sonhar com a Olimpíada. Disse para minha mãe: ‘Não consigo mais’. A sensação era de que nunca mais fosse andar. Tive muito mais dificuldade mental do que física na minha recuperação. Eu me sinto merecedora de tudo o que passei”, afirmou a judoca.
Durante um dos combates, o medalhista de prata perdeu uma das lentes oftalmológicas que usa. Ele afirma que tem cerca de quatro graus de astigmatismo e miopia e deixou para trás a higiene, pegou do chão a lente e recolocou. Na cerimônia, inspirado pelo judoca georgiano Lasha Shavdatuashvili, quebrou o protocolo para colocar no filho, que tem nove meses de idade, a medalha.
“Meu filho foi todo planejado para estar aqui. Todo atleta de alto rendimento fica receoso de ter filho por causa das viagens, mas minha mulher me deu muita confiança. Quero que meu filho acompanhe minha trajetória e me veja fazendo história. É meu amuleto”, disse Lima, que ainda disse que planeja ter o segundo filho até os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028, mas não sabe por onde começar a contar a história dessa medalha de Paris para seu filho.
Severo com seu desempenho, Lima ficou frustrado com a derrota na final. “Fica um traço de tristeza pela prata, sabendo que tinha condições. Mas, só me dei conta de que teria condições, no final”, disse Lima, que ainda não preparou um local em casa para receber a medalha de prata.
Larissa, por sua vez, não escondeu a emoção e contou que durante todas as lutas sua concentração era tanta que não se interessou por saber quem eram suas adversários e como estava o placar.
“Olimpíada é Olimpíada é o que diz o meu técnico Leandro Guilheiro. Nem vi minha chave, só a primeira luta. Para ganhar a medalha tinha de passar por todas. Sinceramente, eu não estava nem aí sobre quem eram minhas adversárias”, concluiu.