No fim do jogo S. Paulo e Avaí, houve entrevistas com os treinadores. Uma bem curtinha, com o ganhador. Pouco foi perguntado para Silas e sua entrevista deu a impressão que era apenas uma formalidade. Muito diferente das que era obrigado a dar quando estava cai não cai no Flamengo. Naquelas ocasiões, as entrevistas eram longas, fatigantes, pareciam não ter fim, exatamente como a que vitimou Paulo Cesar Carpegiani, o perdedor da partida. Essas entrevistas logo após o jogo são complicadas. Têm um lado ruim, pois parecem feitas expressamente para pegar jogadores, e especialmente treinadores, num momento muito delicado. Minutos depois de uma derrota grave, muitas vezes inesperada, o treinador não tem tempo de se recuperar emocionalmente e pode então deixar escapar uma série de inconveniências e declarações "polêmicas". As entrevistas parecem buscar exatamente isso. São, portanto, por um lado, discutíveis. De outro, porém, são preciosa oportunidade para se avaliar corretamente as diversas personalidades dos treinadores. São eles os pressionados. Os jogadores dizem sempre mais ou menos as mesmas coisas. Os treinadores não, porque são responsáveis pelo trabalho do time e precisam explicar o que na maioria das vezes é inexplicável.Vi pela primeira vez Paulo Cesar Carpegiani no começo dos anos 60, ou foi fim dos 70? Não importa, foi um jogo noturno no Pacaembu. Tinha ouvido falar de um tal de Paulo Cesar, do Inter de Porto Alegre, que jogava muito. Mas isso era quase tudo. Naquele tempo não havia tanta exposição e informação visual. Não estava, desse modo, preparado para o que vi. Um jogador que não tomou conhecimento de Ademir e Dudu, do Pacaembu lotado, de nada. Defendia, roubava bolas, orientava os outros e saia para o ataque sem errar um passe. Impressionante.Foi assim que tomei conhecimento de Carpegiani. Depois segui sua carreira no próprio Inter, no Flamengo e na seleção. Como treinador não consegui ir muito além dos títulos que ganhou quando assumiu o Flamengo, inclusive o de campeão mundial. Agora o reencontro numa dramática coletiva, depois de uma derrota que a maioria dos jornalistas que o interrogavam julgavam surpreendente. Parece que parte da imprensa comprou a ideia, cuidadosa e sabiamente difundida pela cúpula do S. Paulo, de que qualquer derrota do tricolor é surpreendente e inteiramente anormal. O time nunca tem carências, embora na verdade seja um time como outro qualquer.Carpegiani não escapou dessa visão. Também não escapou de perguntas e mais perguntas destinadas claramente a provocar alguma declaração "polêmica"". Repetidas vezes lhe foi perguntado se achava que seria demitido, repetidas vezes lhe foi perguntado sobre Rivaldo, que saiu atacando o treinador e se dizendo humilhado por não ter jogado.E daí então vem a parte boa dessas entrevistas, nas quais o entrevistado revela realmente quem é. Tudo foi em vão. Carpegiani, com classe admirável, foi calmamente respondendo as perguntas. Quando se repetiam, ele, pacientemente, repetia a explicação. Sem polêmicas, choro ou lamento. Não havia arrogância ou empáfia na sua atitude. Havia, sim, uma incrível confiança em si mesmo. Mesmo quando conseguem se controlar, os treinadores, submetidos a esse tipo de interrogatório, demonstram por caretas, esgares, gestos bruscos, que estão a ponto de perder o controle. Isso acontece principalmente com os mais visados, com Felipão, Muricy, Luxemburgo. Não havia nada disso nos gestos e no olhar de Carpegiani, só confiança absoluta no que tinha feito e no que faz. Pode estar errado, pode até ser demitido, não interessa. Novamente essa grande personalidade do futebol mostrou que não é qualquer um. Revi no treinador derrotado muito daquele jogador da distante noite do Pacaembu, e, diante de monstros sagrados, foi mais ele. Impressionante.
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