Olimpíadas 2024: entenda o salto de 1080° inédito de Rebeca Andrade que pode ser histórico


Acrobacia tem dificuldade 6,0, segunda mais alta da prova, e, se for executada sem falhas graves, receberá o nome da ginasta brasileira

Por Daniel Vila Nova
Atualização:

A ginasta brasileira Rebeca Andrade se prepara para fazer história nas Olimpíadas de Paris 2024. Principal rival da americana Simone Biles, a atleta do Flamengo planeja realizar um salto que jamais foi efetuado em competições oficiais da ginástica artística. O Yurchenko com tripla pirueta, conhecido pela sigla YTT, é uma manobra complexa e de dificuldade elevada.

Saltos da família Yurchenko são prática comum na categoria, mas a variação com três piruetas jamais foi realizada. “A manobra está sendo tão comentada porque não existe no feminino. Sempre que alguém inventa um novo elemento na ginástica, há um burburinho muito grande”, afirma Ângelo Sabino, treinador de ginástica artística no Flamengo. Competidores, técnicos e fãs da modalidade sonhavam com o dia em que alguém toparia o desafio. Rebeca Andrade está disposta a tentar.

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Rebeca Andrade treina nas Olimpíadas de Paris 2024.  Foto: Gaspar Nobrega/COB

“Quanto mais rotações um mortal tem, mais difícil ele é. No caso desse Yurchenko, são três rotações que totalizam 1080º no sentindo longitudinal”, explica Sabino. O movimento consiste em um rodante no trampolim, um mortal para trás com impulso na mesa de salto e outro mortal para trás com três twists antes da aterrissagem.

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“A grande dificuldade do salto é você conseguir altura suficiente para girar tantas vezes. Se você não completa a rotação no ar, a chance de lesão é séria”, diz o técnico.

Caso a brasileira acerte o movimento em Paris, sem falhas graves, a manobra será batizada com seu nome e passará a ser conhecida como “Andrade”. “Esse é o sonho de todo atleta. É a chance de imortalizar o seu nome na história do esporte”, diz Sabino. “Daqui a cem anos, as pessoas vão falar o seu nome sempre que alguém realizar aquele salto.”

Em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, a norte-coreana e campeã olímpica Hong Un-Jong tentou a mesma manobra, mas acabou caindo na aterrissagem. Com o erro, o salto não foi homologado.

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Rebeca pode se juntar a outras quatro brasileiras que também batizam movimentos da ginástica: Daiane dos Santos, Lorrane Oliveira, Júlia Soares e Heine Araújo. Como o movimento nunca foi realizado, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) não tinha uma nota pré-definida. Rebeca, então, teve de inscrever a manobra e esperar por um parecer da federação.

“O comitê técnico da FIG é responsável por dar valor aos elementos. A cada 180º de rotação, o salto sobe 4 décimos de valor. Como o Yurchenko com duas piruetas e meia vale 5,6, o esperado era subir 0,4″, revelou Sabino. Após a inscrição, a FIG definiu o valor em 6,0, o que tornaria o Andrade o segundo salto mais difícil da história da ginástica artística.

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Questão de estratégia nas Olimpíadas

No começo do mês, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) publicou um vídeo em suas redes sociais sobre o treinador da seleção brasileira de ginástica artística, Francisco Porath Neto. Os espectadores mais atentos, no entanto, notaram um detalhe importante. Em uma das imagens, Rebeca aparece treinando o Yurchenko com tripla pirueta. À época, a ginasta ainda não havia registrado o salto.

Para o treinador do Flamengo, o “vazamento” da manobra antes da hora deve ter sido proposital. “É uma estratégia pré-competição. É importante lembrar que, no último mundial, a Rebeca ganhou da Biles com uma versão mais simples desse salto”. Dessa forma, a exibição de um novo movimento antes da competição seria uma forma de mandar um recado.

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O confronto entre as duas ginastas é considerado uma das principais histórias de Paris. E não são os brasileiros que dizem isso. Nos Estados Unidos, Rebeca vem recebendo atenção da mídia como a garota que pode parar Biles. O canal de TV NBC, uma das maiores emissoras do país, elegeu a brasileira como a principal competidora da ginasta americana. Outras publicações também colocaram a paulista no mesmo nível de sua rival. Há, no entanto, algo que dá um ligeiro favoritismo a Biles: o salto mais difícil da história.

A americana é conhecida por realizar saltos de alta dificuldade e, para os Jogos Olímpicos de Paris, aposta no Biles II. A manobra, batizada em homenagem à própria esportista, também é da família Yurchenko e foi realizada pela primeira vez no começo de 2021. No entanto, a homologação oficial só ocorreu no Mundial de Ginástica Artística de 2023. O salto consiste em uma entrada de costas na mesa de trampolim e um duplo mortal carpado. O valor do movimento é de 6,4, o maior já registrado.

Na ginástica, as notas são definidas a partir de dois critérios: dificuldade e execução. Os saltos são classificados por nível de dificuldade e, quanto maior o valor, mais difícil o salto, mas também maior a quantidade de pontos conquistados. Na execução, julga-se a desempenho do atleta na realização dos movimentos.

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Com a nota alta do Biles II, Rebeca se viu em uma situação delicada. Ambas as competidoras costumam fechar suas séries com o mesmo salto, um Cheng, com nota de partida 5,6. Dessa forma, a complexidade da manobra da americana a coloca em vantagem. Para resolver a situação, a brasileira foi para o tudo ou nada e inscreveu o novo movimento.

“É uma questão estratégica. A proposta é se aproximar do salto da Simone, o Biles II”, reflete Sabino. “Com o valor de 6,4, o máximo que a Biles pode alcançar é 16,4. Com o YTT, o máximo da Rebeca é 16. Ela chega mais próximo, mas a vantagem ainda é da Simone.”

Com a aproximação da nota, no entanto, Rebeca obriga Biles a dar o seu melhor. “Se a Simone não for perfeita, a Rebeca tem chance de ganhar”, avalia Sabino. “E mesmo se a Biles não cair, ainda há chance. Se ela fizer uma chegada ruim, se der três passos largos para trás, o ouro se torna possível”.

Durante os treinamentos na tarde da última quinta-feira, dia 25, a ginasta americana cravou o Biles II duas vezes seguidas, impressionando os presentes no ginásio e mandando um claro recado para Rebeca: a disputa não será fácil.

A ginasta brasileira Rebeca Andrade se prepara para fazer história nas Olimpíadas de Paris 2024. Principal rival da americana Simone Biles, a atleta do Flamengo planeja realizar um salto que jamais foi efetuado em competições oficiais da ginástica artística. O Yurchenko com tripla pirueta, conhecido pela sigla YTT, é uma manobra complexa e de dificuldade elevada.

Saltos da família Yurchenko são prática comum na categoria, mas a variação com três piruetas jamais foi realizada. “A manobra está sendo tão comentada porque não existe no feminino. Sempre que alguém inventa um novo elemento na ginástica, há um burburinho muito grande”, afirma Ângelo Sabino, treinador de ginástica artística no Flamengo. Competidores, técnicos e fãs da modalidade sonhavam com o dia em que alguém toparia o desafio. Rebeca Andrade está disposta a tentar.

Rebeca Andrade treina nas Olimpíadas de Paris 2024.  Foto: Gaspar Nobrega/COB

“Quanto mais rotações um mortal tem, mais difícil ele é. No caso desse Yurchenko, são três rotações que totalizam 1080º no sentindo longitudinal”, explica Sabino. O movimento consiste em um rodante no trampolim, um mortal para trás com impulso na mesa de salto e outro mortal para trás com três twists antes da aterrissagem.

“A grande dificuldade do salto é você conseguir altura suficiente para girar tantas vezes. Se você não completa a rotação no ar, a chance de lesão é séria”, diz o técnico.

Caso a brasileira acerte o movimento em Paris, sem falhas graves, a manobra será batizada com seu nome e passará a ser conhecida como “Andrade”. “Esse é o sonho de todo atleta. É a chance de imortalizar o seu nome na história do esporte”, diz Sabino. “Daqui a cem anos, as pessoas vão falar o seu nome sempre que alguém realizar aquele salto.”

Em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, a norte-coreana e campeã olímpica Hong Un-Jong tentou a mesma manobra, mas acabou caindo na aterrissagem. Com o erro, o salto não foi homologado.

Rebeca pode se juntar a outras quatro brasileiras que também batizam movimentos da ginástica: Daiane dos Santos, Lorrane Oliveira, Júlia Soares e Heine Araújo. Como o movimento nunca foi realizado, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) não tinha uma nota pré-definida. Rebeca, então, teve de inscrever a manobra e esperar por um parecer da federação.

“O comitê técnico da FIG é responsável por dar valor aos elementos. A cada 180º de rotação, o salto sobe 4 décimos de valor. Como o Yurchenko com duas piruetas e meia vale 5,6, o esperado era subir 0,4″, revelou Sabino. Após a inscrição, a FIG definiu o valor em 6,0, o que tornaria o Andrade o segundo salto mais difícil da história da ginástica artística.

Questão de estratégia nas Olimpíadas

No começo do mês, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) publicou um vídeo em suas redes sociais sobre o treinador da seleção brasileira de ginástica artística, Francisco Porath Neto. Os espectadores mais atentos, no entanto, notaram um detalhe importante. Em uma das imagens, Rebeca aparece treinando o Yurchenko com tripla pirueta. À época, a ginasta ainda não havia registrado o salto.

Para o treinador do Flamengo, o “vazamento” da manobra antes da hora deve ter sido proposital. “É uma estratégia pré-competição. É importante lembrar que, no último mundial, a Rebeca ganhou da Biles com uma versão mais simples desse salto”. Dessa forma, a exibição de um novo movimento antes da competição seria uma forma de mandar um recado.

O confronto entre as duas ginastas é considerado uma das principais histórias de Paris. E não são os brasileiros que dizem isso. Nos Estados Unidos, Rebeca vem recebendo atenção da mídia como a garota que pode parar Biles. O canal de TV NBC, uma das maiores emissoras do país, elegeu a brasileira como a principal competidora da ginasta americana. Outras publicações também colocaram a paulista no mesmo nível de sua rival. Há, no entanto, algo que dá um ligeiro favoritismo a Biles: o salto mais difícil da história.

A americana é conhecida por realizar saltos de alta dificuldade e, para os Jogos Olímpicos de Paris, aposta no Biles II. A manobra, batizada em homenagem à própria esportista, também é da família Yurchenko e foi realizada pela primeira vez no começo de 2021. No entanto, a homologação oficial só ocorreu no Mundial de Ginástica Artística de 2023. O salto consiste em uma entrada de costas na mesa de trampolim e um duplo mortal carpado. O valor do movimento é de 6,4, o maior já registrado.

Na ginástica, as notas são definidas a partir de dois critérios: dificuldade e execução. Os saltos são classificados por nível de dificuldade e, quanto maior o valor, mais difícil o salto, mas também maior a quantidade de pontos conquistados. Na execução, julga-se a desempenho do atleta na realização dos movimentos.

Com a nota alta do Biles II, Rebeca se viu em uma situação delicada. Ambas as competidoras costumam fechar suas séries com o mesmo salto, um Cheng, com nota de partida 5,6. Dessa forma, a complexidade da manobra da americana a coloca em vantagem. Para resolver a situação, a brasileira foi para o tudo ou nada e inscreveu o novo movimento.

“É uma questão estratégica. A proposta é se aproximar do salto da Simone, o Biles II”, reflete Sabino. “Com o valor de 6,4, o máximo que a Biles pode alcançar é 16,4. Com o YTT, o máximo da Rebeca é 16. Ela chega mais próximo, mas a vantagem ainda é da Simone.”

Com a aproximação da nota, no entanto, Rebeca obriga Biles a dar o seu melhor. “Se a Simone não for perfeita, a Rebeca tem chance de ganhar”, avalia Sabino. “E mesmo se a Biles não cair, ainda há chance. Se ela fizer uma chegada ruim, se der três passos largos para trás, o ouro se torna possível”.

Durante os treinamentos na tarde da última quinta-feira, dia 25, a ginasta americana cravou o Biles II duas vezes seguidas, impressionando os presentes no ginásio e mandando um claro recado para Rebeca: a disputa não será fácil.

A ginasta brasileira Rebeca Andrade se prepara para fazer história nas Olimpíadas de Paris 2024. Principal rival da americana Simone Biles, a atleta do Flamengo planeja realizar um salto que jamais foi efetuado em competições oficiais da ginástica artística. O Yurchenko com tripla pirueta, conhecido pela sigla YTT, é uma manobra complexa e de dificuldade elevada.

Saltos da família Yurchenko são prática comum na categoria, mas a variação com três piruetas jamais foi realizada. “A manobra está sendo tão comentada porque não existe no feminino. Sempre que alguém inventa um novo elemento na ginástica, há um burburinho muito grande”, afirma Ângelo Sabino, treinador de ginástica artística no Flamengo. Competidores, técnicos e fãs da modalidade sonhavam com o dia em que alguém toparia o desafio. Rebeca Andrade está disposta a tentar.

Rebeca Andrade treina nas Olimpíadas de Paris 2024.  Foto: Gaspar Nobrega/COB

“Quanto mais rotações um mortal tem, mais difícil ele é. No caso desse Yurchenko, são três rotações que totalizam 1080º no sentindo longitudinal”, explica Sabino. O movimento consiste em um rodante no trampolim, um mortal para trás com impulso na mesa de salto e outro mortal para trás com três twists antes da aterrissagem.

“A grande dificuldade do salto é você conseguir altura suficiente para girar tantas vezes. Se você não completa a rotação no ar, a chance de lesão é séria”, diz o técnico.

Caso a brasileira acerte o movimento em Paris, sem falhas graves, a manobra será batizada com seu nome e passará a ser conhecida como “Andrade”. “Esse é o sonho de todo atleta. É a chance de imortalizar o seu nome na história do esporte”, diz Sabino. “Daqui a cem anos, as pessoas vão falar o seu nome sempre que alguém realizar aquele salto.”

Em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, a norte-coreana e campeã olímpica Hong Un-Jong tentou a mesma manobra, mas acabou caindo na aterrissagem. Com o erro, o salto não foi homologado.

Rebeca pode se juntar a outras quatro brasileiras que também batizam movimentos da ginástica: Daiane dos Santos, Lorrane Oliveira, Júlia Soares e Heine Araújo. Como o movimento nunca foi realizado, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) não tinha uma nota pré-definida. Rebeca, então, teve de inscrever a manobra e esperar por um parecer da federação.

“O comitê técnico da FIG é responsável por dar valor aos elementos. A cada 180º de rotação, o salto sobe 4 décimos de valor. Como o Yurchenko com duas piruetas e meia vale 5,6, o esperado era subir 0,4″, revelou Sabino. Após a inscrição, a FIG definiu o valor em 6,0, o que tornaria o Andrade o segundo salto mais difícil da história da ginástica artística.

Questão de estratégia nas Olimpíadas

No começo do mês, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) publicou um vídeo em suas redes sociais sobre o treinador da seleção brasileira de ginástica artística, Francisco Porath Neto. Os espectadores mais atentos, no entanto, notaram um detalhe importante. Em uma das imagens, Rebeca aparece treinando o Yurchenko com tripla pirueta. À época, a ginasta ainda não havia registrado o salto.

Para o treinador do Flamengo, o “vazamento” da manobra antes da hora deve ter sido proposital. “É uma estratégia pré-competição. É importante lembrar que, no último mundial, a Rebeca ganhou da Biles com uma versão mais simples desse salto”. Dessa forma, a exibição de um novo movimento antes da competição seria uma forma de mandar um recado.

O confronto entre as duas ginastas é considerado uma das principais histórias de Paris. E não são os brasileiros que dizem isso. Nos Estados Unidos, Rebeca vem recebendo atenção da mídia como a garota que pode parar Biles. O canal de TV NBC, uma das maiores emissoras do país, elegeu a brasileira como a principal competidora da ginasta americana. Outras publicações também colocaram a paulista no mesmo nível de sua rival. Há, no entanto, algo que dá um ligeiro favoritismo a Biles: o salto mais difícil da história.

A americana é conhecida por realizar saltos de alta dificuldade e, para os Jogos Olímpicos de Paris, aposta no Biles II. A manobra, batizada em homenagem à própria esportista, também é da família Yurchenko e foi realizada pela primeira vez no começo de 2021. No entanto, a homologação oficial só ocorreu no Mundial de Ginástica Artística de 2023. O salto consiste em uma entrada de costas na mesa de trampolim e um duplo mortal carpado. O valor do movimento é de 6,4, o maior já registrado.

Na ginástica, as notas são definidas a partir de dois critérios: dificuldade e execução. Os saltos são classificados por nível de dificuldade e, quanto maior o valor, mais difícil o salto, mas também maior a quantidade de pontos conquistados. Na execução, julga-se a desempenho do atleta na realização dos movimentos.

Com a nota alta do Biles II, Rebeca se viu em uma situação delicada. Ambas as competidoras costumam fechar suas séries com o mesmo salto, um Cheng, com nota de partida 5,6. Dessa forma, a complexidade da manobra da americana a coloca em vantagem. Para resolver a situação, a brasileira foi para o tudo ou nada e inscreveu o novo movimento.

“É uma questão estratégica. A proposta é se aproximar do salto da Simone, o Biles II”, reflete Sabino. “Com o valor de 6,4, o máximo que a Biles pode alcançar é 16,4. Com o YTT, o máximo da Rebeca é 16. Ela chega mais próximo, mas a vantagem ainda é da Simone.”

Com a aproximação da nota, no entanto, Rebeca obriga Biles a dar o seu melhor. “Se a Simone não for perfeita, a Rebeca tem chance de ganhar”, avalia Sabino. “E mesmo se a Biles não cair, ainda há chance. Se ela fizer uma chegada ruim, se der três passos largos para trás, o ouro se torna possível”.

Durante os treinamentos na tarde da última quinta-feira, dia 25, a ginasta americana cravou o Biles II duas vezes seguidas, impressionando os presentes no ginásio e mandando um claro recado para Rebeca: a disputa não será fácil.

A ginasta brasileira Rebeca Andrade se prepara para fazer história nas Olimpíadas de Paris 2024. Principal rival da americana Simone Biles, a atleta do Flamengo planeja realizar um salto que jamais foi efetuado em competições oficiais da ginástica artística. O Yurchenko com tripla pirueta, conhecido pela sigla YTT, é uma manobra complexa e de dificuldade elevada.

Saltos da família Yurchenko são prática comum na categoria, mas a variação com três piruetas jamais foi realizada. “A manobra está sendo tão comentada porque não existe no feminino. Sempre que alguém inventa um novo elemento na ginástica, há um burburinho muito grande”, afirma Ângelo Sabino, treinador de ginástica artística no Flamengo. Competidores, técnicos e fãs da modalidade sonhavam com o dia em que alguém toparia o desafio. Rebeca Andrade está disposta a tentar.

Rebeca Andrade treina nas Olimpíadas de Paris 2024.  Foto: Gaspar Nobrega/COB

“Quanto mais rotações um mortal tem, mais difícil ele é. No caso desse Yurchenko, são três rotações que totalizam 1080º no sentindo longitudinal”, explica Sabino. O movimento consiste em um rodante no trampolim, um mortal para trás com impulso na mesa de salto e outro mortal para trás com três twists antes da aterrissagem.

“A grande dificuldade do salto é você conseguir altura suficiente para girar tantas vezes. Se você não completa a rotação no ar, a chance de lesão é séria”, diz o técnico.

Caso a brasileira acerte o movimento em Paris, sem falhas graves, a manobra será batizada com seu nome e passará a ser conhecida como “Andrade”. “Esse é o sonho de todo atleta. É a chance de imortalizar o seu nome na história do esporte”, diz Sabino. “Daqui a cem anos, as pessoas vão falar o seu nome sempre que alguém realizar aquele salto.”

Em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, a norte-coreana e campeã olímpica Hong Un-Jong tentou a mesma manobra, mas acabou caindo na aterrissagem. Com o erro, o salto não foi homologado.

Rebeca pode se juntar a outras quatro brasileiras que também batizam movimentos da ginástica: Daiane dos Santos, Lorrane Oliveira, Júlia Soares e Heine Araújo. Como o movimento nunca foi realizado, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) não tinha uma nota pré-definida. Rebeca, então, teve de inscrever a manobra e esperar por um parecer da federação.

“O comitê técnico da FIG é responsável por dar valor aos elementos. A cada 180º de rotação, o salto sobe 4 décimos de valor. Como o Yurchenko com duas piruetas e meia vale 5,6, o esperado era subir 0,4″, revelou Sabino. Após a inscrição, a FIG definiu o valor em 6,0, o que tornaria o Andrade o segundo salto mais difícil da história da ginástica artística.

Questão de estratégia nas Olimpíadas

No começo do mês, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) publicou um vídeo em suas redes sociais sobre o treinador da seleção brasileira de ginástica artística, Francisco Porath Neto. Os espectadores mais atentos, no entanto, notaram um detalhe importante. Em uma das imagens, Rebeca aparece treinando o Yurchenko com tripla pirueta. À época, a ginasta ainda não havia registrado o salto.

Para o treinador do Flamengo, o “vazamento” da manobra antes da hora deve ter sido proposital. “É uma estratégia pré-competição. É importante lembrar que, no último mundial, a Rebeca ganhou da Biles com uma versão mais simples desse salto”. Dessa forma, a exibição de um novo movimento antes da competição seria uma forma de mandar um recado.

O confronto entre as duas ginastas é considerado uma das principais histórias de Paris. E não são os brasileiros que dizem isso. Nos Estados Unidos, Rebeca vem recebendo atenção da mídia como a garota que pode parar Biles. O canal de TV NBC, uma das maiores emissoras do país, elegeu a brasileira como a principal competidora da ginasta americana. Outras publicações também colocaram a paulista no mesmo nível de sua rival. Há, no entanto, algo que dá um ligeiro favoritismo a Biles: o salto mais difícil da história.

A americana é conhecida por realizar saltos de alta dificuldade e, para os Jogos Olímpicos de Paris, aposta no Biles II. A manobra, batizada em homenagem à própria esportista, também é da família Yurchenko e foi realizada pela primeira vez no começo de 2021. No entanto, a homologação oficial só ocorreu no Mundial de Ginástica Artística de 2023. O salto consiste em uma entrada de costas na mesa de trampolim e um duplo mortal carpado. O valor do movimento é de 6,4, o maior já registrado.

Na ginástica, as notas são definidas a partir de dois critérios: dificuldade e execução. Os saltos são classificados por nível de dificuldade e, quanto maior o valor, mais difícil o salto, mas também maior a quantidade de pontos conquistados. Na execução, julga-se a desempenho do atleta na realização dos movimentos.

Com a nota alta do Biles II, Rebeca se viu em uma situação delicada. Ambas as competidoras costumam fechar suas séries com o mesmo salto, um Cheng, com nota de partida 5,6. Dessa forma, a complexidade da manobra da americana a coloca em vantagem. Para resolver a situação, a brasileira foi para o tudo ou nada e inscreveu o novo movimento.

“É uma questão estratégica. A proposta é se aproximar do salto da Simone, o Biles II”, reflete Sabino. “Com o valor de 6,4, o máximo que a Biles pode alcançar é 16,4. Com o YTT, o máximo da Rebeca é 16. Ela chega mais próximo, mas a vantagem ainda é da Simone.”

Com a aproximação da nota, no entanto, Rebeca obriga Biles a dar o seu melhor. “Se a Simone não for perfeita, a Rebeca tem chance de ganhar”, avalia Sabino. “E mesmo se a Biles não cair, ainda há chance. Se ela fizer uma chegada ruim, se der três passos largos para trás, o ouro se torna possível”.

Durante os treinamentos na tarde da última quinta-feira, dia 25, a ginasta americana cravou o Biles II duas vezes seguidas, impressionando os presentes no ginásio e mandando um claro recado para Rebeca: a disputa não será fácil.

A ginasta brasileira Rebeca Andrade se prepara para fazer história nas Olimpíadas de Paris 2024. Principal rival da americana Simone Biles, a atleta do Flamengo planeja realizar um salto que jamais foi efetuado em competições oficiais da ginástica artística. O Yurchenko com tripla pirueta, conhecido pela sigla YTT, é uma manobra complexa e de dificuldade elevada.

Saltos da família Yurchenko são prática comum na categoria, mas a variação com três piruetas jamais foi realizada. “A manobra está sendo tão comentada porque não existe no feminino. Sempre que alguém inventa um novo elemento na ginástica, há um burburinho muito grande”, afirma Ângelo Sabino, treinador de ginástica artística no Flamengo. Competidores, técnicos e fãs da modalidade sonhavam com o dia em que alguém toparia o desafio. Rebeca Andrade está disposta a tentar.

Rebeca Andrade treina nas Olimpíadas de Paris 2024.  Foto: Gaspar Nobrega/COB

“Quanto mais rotações um mortal tem, mais difícil ele é. No caso desse Yurchenko, são três rotações que totalizam 1080º no sentindo longitudinal”, explica Sabino. O movimento consiste em um rodante no trampolim, um mortal para trás com impulso na mesa de salto e outro mortal para trás com três twists antes da aterrissagem.

“A grande dificuldade do salto é você conseguir altura suficiente para girar tantas vezes. Se você não completa a rotação no ar, a chance de lesão é séria”, diz o técnico.

Caso a brasileira acerte o movimento em Paris, sem falhas graves, a manobra será batizada com seu nome e passará a ser conhecida como “Andrade”. “Esse é o sonho de todo atleta. É a chance de imortalizar o seu nome na história do esporte”, diz Sabino. “Daqui a cem anos, as pessoas vão falar o seu nome sempre que alguém realizar aquele salto.”

Em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, a norte-coreana e campeã olímpica Hong Un-Jong tentou a mesma manobra, mas acabou caindo na aterrissagem. Com o erro, o salto não foi homologado.

Rebeca pode se juntar a outras quatro brasileiras que também batizam movimentos da ginástica: Daiane dos Santos, Lorrane Oliveira, Júlia Soares e Heine Araújo. Como o movimento nunca foi realizado, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) não tinha uma nota pré-definida. Rebeca, então, teve de inscrever a manobra e esperar por um parecer da federação.

“O comitê técnico da FIG é responsável por dar valor aos elementos. A cada 180º de rotação, o salto sobe 4 décimos de valor. Como o Yurchenko com duas piruetas e meia vale 5,6, o esperado era subir 0,4″, revelou Sabino. Após a inscrição, a FIG definiu o valor em 6,0, o que tornaria o Andrade o segundo salto mais difícil da história da ginástica artística.

Questão de estratégia nas Olimpíadas

No começo do mês, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) publicou um vídeo em suas redes sociais sobre o treinador da seleção brasileira de ginástica artística, Francisco Porath Neto. Os espectadores mais atentos, no entanto, notaram um detalhe importante. Em uma das imagens, Rebeca aparece treinando o Yurchenko com tripla pirueta. À época, a ginasta ainda não havia registrado o salto.

Para o treinador do Flamengo, o “vazamento” da manobra antes da hora deve ter sido proposital. “É uma estratégia pré-competição. É importante lembrar que, no último mundial, a Rebeca ganhou da Biles com uma versão mais simples desse salto”. Dessa forma, a exibição de um novo movimento antes da competição seria uma forma de mandar um recado.

O confronto entre as duas ginastas é considerado uma das principais histórias de Paris. E não são os brasileiros que dizem isso. Nos Estados Unidos, Rebeca vem recebendo atenção da mídia como a garota que pode parar Biles. O canal de TV NBC, uma das maiores emissoras do país, elegeu a brasileira como a principal competidora da ginasta americana. Outras publicações também colocaram a paulista no mesmo nível de sua rival. Há, no entanto, algo que dá um ligeiro favoritismo a Biles: o salto mais difícil da história.

A americana é conhecida por realizar saltos de alta dificuldade e, para os Jogos Olímpicos de Paris, aposta no Biles II. A manobra, batizada em homenagem à própria esportista, também é da família Yurchenko e foi realizada pela primeira vez no começo de 2021. No entanto, a homologação oficial só ocorreu no Mundial de Ginástica Artística de 2023. O salto consiste em uma entrada de costas na mesa de trampolim e um duplo mortal carpado. O valor do movimento é de 6,4, o maior já registrado.

Na ginástica, as notas são definidas a partir de dois critérios: dificuldade e execução. Os saltos são classificados por nível de dificuldade e, quanto maior o valor, mais difícil o salto, mas também maior a quantidade de pontos conquistados. Na execução, julga-se a desempenho do atleta na realização dos movimentos.

Com a nota alta do Biles II, Rebeca se viu em uma situação delicada. Ambas as competidoras costumam fechar suas séries com o mesmo salto, um Cheng, com nota de partida 5,6. Dessa forma, a complexidade da manobra da americana a coloca em vantagem. Para resolver a situação, a brasileira foi para o tudo ou nada e inscreveu o novo movimento.

“É uma questão estratégica. A proposta é se aproximar do salto da Simone, o Biles II”, reflete Sabino. “Com o valor de 6,4, o máximo que a Biles pode alcançar é 16,4. Com o YTT, o máximo da Rebeca é 16. Ela chega mais próximo, mas a vantagem ainda é da Simone.”

Com a aproximação da nota, no entanto, Rebeca obriga Biles a dar o seu melhor. “Se a Simone não for perfeita, a Rebeca tem chance de ganhar”, avalia Sabino. “E mesmo se a Biles não cair, ainda há chance. Se ela fizer uma chegada ruim, se der três passos largos para trás, o ouro se torna possível”.

Durante os treinamentos na tarde da última quinta-feira, dia 25, a ginasta americana cravou o Biles II duas vezes seguidas, impressionando os presentes no ginásio e mandando um claro recado para Rebeca: a disputa não será fácil.

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