A demissão repentina de Jorge Bichara, Diretor de Esportes do Comitê Olímpico do Brasil, pegou atletas e dirigentes de surpresa. O profissional era considerado um dos principais responsáveis por fazer o Time Brasil conquistar em Tóquio sua melhor campanha na história da Olimpíada e nos Jogos Pan-Americanos, em Lima, de 2019.
Ele foi comunicado nesta terça-feira, 22, e enquanto pegava suas coisas em sua sala na sede da entidade seu telefone não parava de tocar. Pessoas como Bernardinho e Torben Grael ligavam para conversar com o profissional que elevou o patamar de treinamento dos atletas brasileiros, oferecendo condições para que o trabalho se transformasse em pódio.
Em contato rápido com o Estadão, o vice-presidente Marco La Porta não quis falar muito sobre o assunto, mas se mostrou bastante chaetado. "Só posso dizer três coisas: não sabia, não fui consultado e não concordo. Eu estava no COB até o meio-dia e não falaram comigo. quando ele foi comunicado da demissão, eu não estava presente. Fiquei chateado porque faço parte da gestão e não falaram comigo", disse.
Ele não sabe a justificativa, mas vai tentar conversar com o presidente Paulo Wanderley Teixeira, que decidiu pela demissão, nesta quarta-feira. O COB também não apresentou uma justificativa para a saída de seu Diretor de Esportes e comunicou que Rogério Sampaio vai assumir a função por enquanto.
"O Comitê Olímpico do Brasil comunica que Jorge Bichara deixa seu quadro de colaboradores nesta terça-feira. A entidade agradece ao profissional pelos serviços prestados ao longo de sua trajetória. De maneira interina, a área de Esportes fica sob responsabilidade do diretor-geral, Rogério Sampaio", disse a entidade.
A demissão foi como uma bomba no meio olímpico. Logo que o anúncio foi feito, diversas confederações chiaram, até porque Bichara tinha relação próxima com todas. Os atletas também lamentaram. "A saída do Jorge Bichara do COB é uma grande perda ao esporte olímpico do Brasil. O cara era competente, tinha expertise no que estava fazendo e tinha acabado de fazer um resultado histórico pro Brasil, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Uma perda… uma pena…", disse a medalhista olímpica Poliana Okimoto.
Ygor Coelho, do badminton, também ficou triste com a mudança no COB. "Bichara é como um pai para mim mano, se eu consegui os resultados que eu conquistei é graças a ele. Espero que seja um mal-entendido", disse em sua conta no Twitter.
Bichara estava no COB havia 17 anos e foi responsável por alguns feitos, como acreditar no potencial dos campeões olímpicos Isaquias Queiroz, da canoagem velocidade, e Rebeca Andrade, da ginástica artística, e Ana Marcela Cunha, da maratona aquática. Em Tóquio, chegou a chorar com os títulos dos dois atletas, que se superaram para subir ao lugar mais alto do pódio.
Nos bastidores, imagina-se que a movimentação tenha motivação política, já de olho na próxima disputa eleitoral da entidade, em 2024. Bichara é muito querido pelos esportistas e sua demissão não pegou bem com a Comissão de Atletas. Foi por causa do profissional que os atletas decidiram apoiar a atual gestão, que acabou sendo eleita.
O temor era de que a chapa de oposição, caso vencesse, trocasse Bichara e colocasse outro diretor no lugar. Isso fez com que muitos atletas apoiassem Paulo Wanderley no pleito. Agora, no meio do ciclo para os Jogos de Paris, o presidente muda os rumos da entidade. Se antes havia a expectativa de que o Brasil pudesse quebrar novamente o recorde de medalhas, agora o temor é que isso não venha mais com a mudança de direção no trabalho que vinha sendo feito.