A vibração coletiva da seleção brasileira masculina de vôlei no Maracanãzinho pelo ouro olímpico, neste domingo, foi direcionada na maioria dos abraços para um jogador. O líbero Serginho de 40 anos, vibrou com a conquista sobre a Itália, pelos Jogos do Rio, ao entrar na histórica olímpica do esporte brasileiro como o maior medalhista do País em esportes coletivos, com dois ouros e duas pratas.
No pódio ele foi o mais emocionado. Já chorando, foi erguido pelos companheiros, teve o nome gritado mais alto pela torcida e comandou o tradicional "peixinho" na comemoração. Serginho discursou para o ginásio: "Tenho um presente. Essa camisa que joguei, não vou dar para ninguém. Vou deixar no chão do Maracanãzinho e vocês façam com ela o que quiserem", disse. Depois, comandou a volta olímpica ao lado de um dos seus filhos.
Serginho atravessou gerações para pegar a medalha de ouro ao fim dos Jogos do Rio. O líbero personifica um elo entre as diferentes épocas vitoriosas do vôlei brasileiro. Quando estreou em Olimpíada, com o título, em 2004, dividia o elenco com Giovane Gávio, ainda remanescente do ouro em Barcelona, em 1992. Agora, já em 2016, é Serginho quem representa o passado vitorioso e responsável por entregar aos jovens a responsabilidade de representar a equipe futuramente.
O único remanescente da conquista em Atenas, em 2004, vai se aposentar da seleção realizado não só pelas quatro finais no vôlei de quadra, como também pela experiência e títulos com a seleção. O líbero trocou a aposentadoria da equipe ao fim dos Jogos de Londres, em 2012, pela oportunidade de retornar em abril de 2015 para reforçar o elenco para o ciclo olímpico seguinte.
O técnico Bernardinho encerrou esse intervalo, ao convidá-lo por considerar que precisava do líbero. Serginho tinha feito uma ótima temporada como finalista da Superliga pelo Sesi naquela ocasião. O retorno após dois anos e nove meses sem participar da seleção mostraram o veterano ainda com as mesmas características da passagem anterior, seja o talento como defensor ou o bom humor fora de quadra, onde é chamado até de "presidente" por alguns colegas.
A decisão pela volta foi importante para transmitir aos jogadores um pouco da sua extensa bagagem. O líbero vive desde 2004, a cada edição olímpica, a intensa rotina de ser finalista. Foram ainda mais sete títulos de Liga Mundial, dois de Campeonato Mundial, dois de Copa do Mundo, mais outro dos Jogos Pan-Americanos. O currículo lhe fez pedir a palavra aos companheiros quando a equipe vivia momento difícil no Rio. "Antes do jogo com a França, o Escada (Serginho) deu um exemplo essencial, de imaginar que estava na UTI. O caminho do time foi esse: um por todos, e todos por ele", comentou Wallace.
A participação do experiente jogador levantou o grupo no momento mais delicado. As duas derrotas na fase de grupos para Estados Unidos e Itália, deixaram o Brasil à beira da eliminação. Era preciso ganhar de qualquer jeito de França. O triunfo veio, por 3 sets a 1. Assim como mais duas vitórias sobre Argentina, pelo mesmo placar, e Rússia, já por 3 sets a 0. Serginho estava pela quarta vez em uma final olímpica, assim como fez em 2004, 2008 e 2012.
São 28 anos da carreira dedicados ao vôlei, mais de dez deles à seleção brasileira. O jogador de confiança de Bernardinho representa no elenco o vínculo com o passado vitorioso e faz os mais jovens terem contato direto com uma referência na posição. Serginho é considerado um dos melhores do vôlei em sua posição, pela agilidade nas defesas e a capacidade de agilizar o jogo já a partir da recepção.
Ao fim dos Jogos do Rio, Serginho poderá relaxar com a sensação de dever cumprido. Durante a competição ele reforçou nas entrevistas a ansiedade para terminar a competição em breve e poder descansar com a família. A trajetória vitoriosa de quem nasceu no Norte do Paraná e se criou em Pirituba, periferia de São Paulo, com o apelido de Escadinha em referência a um traficante carioca, está concluída e premiada pelo sucesso ao longo de diferentes gerações no vôlei.
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