Paz Mundial em 2024? Os Jogos Olímpicos têm um plano, mas não muita esperança


Presidente do Comitê Olímpico Internacional vai às Nações Unidos para defender trégua em conflitos mundo afora antes da edição de Paris

Por Andrew Keh

THE NEW YORK TIMES – O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) subiu ao púlpito na última semana no salão de reuniões das Nações Unidas e começou a pintar um quadro sombrio do mundo lá fora. A sociedade estava numa “espiral descendente”, sugeriu o presidente, Thomas Bach. Ele nunca tinha visto tanta “confrontação, divisão e polarização”. Ele lamentou o crescente “flagelo da guerra e da violência”.

Depois, enquanto diplomatas em outros locais do edifício discutiam trocas de prisioneiros na Faixa de Gaza e soldados continuavam morrendo nos campos lamacentos do leste da Ucrânia, Bach ofereceu o que considerou um bálsamo: a trégua olímpica. A resolução, revivida de dois em dois anos pelos líderes olímpicos e adotada com entusiasmo pelos países membros da ONU, apela com otimismo à cessação da violência em todo o mundo durante as semanas dos Jogos Olímpicos, cuja próxima versão será aberta em julho, na França.

“Nestes tempos difíceis”, disse Bach na terça-feira, “esta resolução é nossa oportunidade de mandar um sinal inequívoco ao mundo: Sim, podemos nos unir, mesmo em tempos de guerras e crises. Sim, podemos dar as mãos e trabalhar juntos por um futuro melhor”.

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Thomas Bach, presidente do COI, durante pronunciamento na Assembleia Geral da ONU. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

A resolução foi aprovada por esmagadora maioria. Apertos de mão. Tapinhas nas costas. Mas será que as facções beligerantes do mundo vão se sentir motivadas a depor as armas no ano que vem, numa demonstração coletiva de amizade induzida pelo esporte? Melhor não esperar muita coisa.

Enraizada nas tradições da Grécia antiga e reimaginada três décadas atrás para os Jogos modernos, a trégua olímpica se tornou parte do ritual de prelúdio aos eventos tanto quanto o acendimento da tocha e a corrida por quartos de hotel. Mas, apesar da retórica inebriante, ela é em grande medida simbólica, essencialmente não vinculativa e consistentemente ignorada.

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No entanto, os idealistas encaram a resolução bienal como um gesto de esperança que promove a harmonia global por meio da linguagem universal da competição atlética. Mas, nos últimos anos, a trégua gerou igual medida de escárnio por parte daqueles que apontam a desconexão entre as suas concepções elevadas e as duras realidades da paisagem geopolítica. “São muitas palavras bonitas que não significam absolutamente nada”, disse David Wallechinsky, membro fundador da Sociedade Internacional de Historiadores Olímpicos. “Qual é o objetivo?”

O objetivo, nos tempos antigos, era simples: sob a trégua, as cidades-estados rivais interrompiam voluntariamente suas guerras para abrir aos atletas uma passagem segura para Olímpia. O Comitê Olímpico Internacional ressuscitou e modernizou o conceito antes dos Jogos de 1994 em Lillehammer, Noruega, e a ONU o adotou como resolução oficial, instando os países a observarem a trégua desde sete dias antes do início da competição até sete dias depois do encerramento. Desde então, a cada dois anos, o país anfitrião elabora uma resolução, sempre com o mesmo título anódino: “Construir um mundo pacífico e melhor por meio do esporte e do ideal olímpico”.

No entanto, os países membros do COI – um círculo que em boa medida reflete os membros da ONU – nunca pareceram muito preocupados em aderir à trégua, e a organização raramente fez alarido sobre aparentes infracções. As prolongadas intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, por exemplo, abrangeram vários Jogos sem merecer muita repreensão por parte do comitê olímpico. O mesmo aconteceu com os conflitos de longa data na África, na Ásia e no Oriente Médio.

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Mais recentemente, a Rússia se tornou o principal transgressor da trégua, criando um hábito estranho de invadir países durante ou logo após os Jogos Olímpicos: em 2008 (Geórgia), 2014 (Ucrânia) e 2022 (Ucrânia, de novo).

A Torre Eiffel será uma das mais frequentes paisagens dos eventos dos Jogos de Paris, em 2024. Foto: Gonzalo Fuentes/ Reuters

Os Jogos de Paris no ano que vem muito provavelmente vão acontecer em um contexto de duas guerras importantes, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia chegando a um impasse e o conflito entre Israel e o Hamas suscitando receios de um conflito regional mais amplo.

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A confusão nas tentativas de fazer cumprir os termos da trégua está patente desde o ano passado, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia dias após a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. Esse ato acabou por provocar a primeira resposta oficial a uma aparente violação da trégua olímpica.

No dia da invasão, os líderes olímpicos condenaram a Rússia por violar a resolução. Ao longo dos dias e semanas que se seguiram, o COI apelou a todas as organizações esportivas internacionais para barrarem atletas da Rússia e de sua aliada, Belarus; e, sob pressão de outros países, expulsarem atletas russos e belarussos dos Jogos Paralímpicos.

No mês passado, o comitê reiterou que Rússia e Belarus ainda estavam barradas por violarem a trégua. Mas também observou que a organização havia criado uma exceção permitindo que atletas desses países tentem se classificar para os Jogos Olímpicos como competidores neutros e não afiliados.

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Thomas Bach, presidente do COI, usou o púlpito das Nações Unidas para fazer um pronunciamento em defesa da paz. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

Bach, que ocupa a presidência do COI desde 2013, repetidas vezes lamentou os momentos em que a política internacional, como ele os define, atacam a trégua olímpica e os Jogos em geral. Mas esses ataques parecem estar se multiplicando.

Por exemplo, em 2022, antes dos Jogos de Inverno em Pequim, os Estados Unidos se juntaram a um punhado de países que se recusaram a copatrocinar a resolução de trégua elaborada pela China. E na terça-feira, a Rússia, expressando descontentamento com o tratamento geral dado pelas autoridades olímpicas, apelou a uma votação incomum sobre a medida, que normalmente é adotada por aclamação.

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A salão às vezes ficava tenso. O representante da Rússia acusou o Comitê Olímpico de inconsistência e hipocrisia. O representante sírio se juntou a outros para destacar as dificuldades dos atletas palestinos. O representante da França repreendeu a Rússia por ter “politizado” a discussão. No final, 118 países membros, entre eles Belarus, votaram a favor da resolução. Rússia e Síria se abstiveram.

“Não há como separar esporte e política”, disse Ashleigh Huffman, ex-chefe de diplomacia esportiva do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Salientando que a trégua tradicional, em última análise, “não tinha força”, ela disse que poderia, no entanto, servir como “um importante ponto de partida para uma conversa que nos dá uma estrutura a que aspirar”.

Bach parece concordar. No seu discurso na terça-feira, ele reconheceu que a resolução de trégua era “nossa modesta contribuição para a paz”. Mas também disse que as pessoas de todo o mundo estavam “exaustas de todo o antagonismo, hostilidade, ódio e intolerância com que se deparam todos os dias, em todas as áreas da vida”. Era uma imagem pesada. Se ao menos, pareceu sugerir ele, o mundo ouvisse o COI.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

THE NEW YORK TIMES – O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) subiu ao púlpito na última semana no salão de reuniões das Nações Unidas e começou a pintar um quadro sombrio do mundo lá fora. A sociedade estava numa “espiral descendente”, sugeriu o presidente, Thomas Bach. Ele nunca tinha visto tanta “confrontação, divisão e polarização”. Ele lamentou o crescente “flagelo da guerra e da violência”.

Depois, enquanto diplomatas em outros locais do edifício discutiam trocas de prisioneiros na Faixa de Gaza e soldados continuavam morrendo nos campos lamacentos do leste da Ucrânia, Bach ofereceu o que considerou um bálsamo: a trégua olímpica. A resolução, revivida de dois em dois anos pelos líderes olímpicos e adotada com entusiasmo pelos países membros da ONU, apela com otimismo à cessação da violência em todo o mundo durante as semanas dos Jogos Olímpicos, cuja próxima versão será aberta em julho, na França.

“Nestes tempos difíceis”, disse Bach na terça-feira, “esta resolução é nossa oportunidade de mandar um sinal inequívoco ao mundo: Sim, podemos nos unir, mesmo em tempos de guerras e crises. Sim, podemos dar as mãos e trabalhar juntos por um futuro melhor”.

Thomas Bach, presidente do COI, durante pronunciamento na Assembleia Geral da ONU. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

A resolução foi aprovada por esmagadora maioria. Apertos de mão. Tapinhas nas costas. Mas será que as facções beligerantes do mundo vão se sentir motivadas a depor as armas no ano que vem, numa demonstração coletiva de amizade induzida pelo esporte? Melhor não esperar muita coisa.

Enraizada nas tradições da Grécia antiga e reimaginada três décadas atrás para os Jogos modernos, a trégua olímpica se tornou parte do ritual de prelúdio aos eventos tanto quanto o acendimento da tocha e a corrida por quartos de hotel. Mas, apesar da retórica inebriante, ela é em grande medida simbólica, essencialmente não vinculativa e consistentemente ignorada.

No entanto, os idealistas encaram a resolução bienal como um gesto de esperança que promove a harmonia global por meio da linguagem universal da competição atlética. Mas, nos últimos anos, a trégua gerou igual medida de escárnio por parte daqueles que apontam a desconexão entre as suas concepções elevadas e as duras realidades da paisagem geopolítica. “São muitas palavras bonitas que não significam absolutamente nada”, disse David Wallechinsky, membro fundador da Sociedade Internacional de Historiadores Olímpicos. “Qual é o objetivo?”

O objetivo, nos tempos antigos, era simples: sob a trégua, as cidades-estados rivais interrompiam voluntariamente suas guerras para abrir aos atletas uma passagem segura para Olímpia. O Comitê Olímpico Internacional ressuscitou e modernizou o conceito antes dos Jogos de 1994 em Lillehammer, Noruega, e a ONU o adotou como resolução oficial, instando os países a observarem a trégua desde sete dias antes do início da competição até sete dias depois do encerramento. Desde então, a cada dois anos, o país anfitrião elabora uma resolução, sempre com o mesmo título anódino: “Construir um mundo pacífico e melhor por meio do esporte e do ideal olímpico”.

No entanto, os países membros do COI – um círculo que em boa medida reflete os membros da ONU – nunca pareceram muito preocupados em aderir à trégua, e a organização raramente fez alarido sobre aparentes infracções. As prolongadas intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, por exemplo, abrangeram vários Jogos sem merecer muita repreensão por parte do comitê olímpico. O mesmo aconteceu com os conflitos de longa data na África, na Ásia e no Oriente Médio.

Mais recentemente, a Rússia se tornou o principal transgressor da trégua, criando um hábito estranho de invadir países durante ou logo após os Jogos Olímpicos: em 2008 (Geórgia), 2014 (Ucrânia) e 2022 (Ucrânia, de novo).

A Torre Eiffel será uma das mais frequentes paisagens dos eventos dos Jogos de Paris, em 2024. Foto: Gonzalo Fuentes/ Reuters

Os Jogos de Paris no ano que vem muito provavelmente vão acontecer em um contexto de duas guerras importantes, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia chegando a um impasse e o conflito entre Israel e o Hamas suscitando receios de um conflito regional mais amplo.

A confusão nas tentativas de fazer cumprir os termos da trégua está patente desde o ano passado, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia dias após a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. Esse ato acabou por provocar a primeira resposta oficial a uma aparente violação da trégua olímpica.

No dia da invasão, os líderes olímpicos condenaram a Rússia por violar a resolução. Ao longo dos dias e semanas que se seguiram, o COI apelou a todas as organizações esportivas internacionais para barrarem atletas da Rússia e de sua aliada, Belarus; e, sob pressão de outros países, expulsarem atletas russos e belarussos dos Jogos Paralímpicos.

No mês passado, o comitê reiterou que Rússia e Belarus ainda estavam barradas por violarem a trégua. Mas também observou que a organização havia criado uma exceção permitindo que atletas desses países tentem se classificar para os Jogos Olímpicos como competidores neutros e não afiliados.

Thomas Bach, presidente do COI, usou o púlpito das Nações Unidas para fazer um pronunciamento em defesa da paz. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

Bach, que ocupa a presidência do COI desde 2013, repetidas vezes lamentou os momentos em que a política internacional, como ele os define, atacam a trégua olímpica e os Jogos em geral. Mas esses ataques parecem estar se multiplicando.

Por exemplo, em 2022, antes dos Jogos de Inverno em Pequim, os Estados Unidos se juntaram a um punhado de países que se recusaram a copatrocinar a resolução de trégua elaborada pela China. E na terça-feira, a Rússia, expressando descontentamento com o tratamento geral dado pelas autoridades olímpicas, apelou a uma votação incomum sobre a medida, que normalmente é adotada por aclamação.

A salão às vezes ficava tenso. O representante da Rússia acusou o Comitê Olímpico de inconsistência e hipocrisia. O representante sírio se juntou a outros para destacar as dificuldades dos atletas palestinos. O representante da França repreendeu a Rússia por ter “politizado” a discussão. No final, 118 países membros, entre eles Belarus, votaram a favor da resolução. Rússia e Síria se abstiveram.

“Não há como separar esporte e política”, disse Ashleigh Huffman, ex-chefe de diplomacia esportiva do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Salientando que a trégua tradicional, em última análise, “não tinha força”, ela disse que poderia, no entanto, servir como “um importante ponto de partida para uma conversa que nos dá uma estrutura a que aspirar”.

Bach parece concordar. No seu discurso na terça-feira, ele reconheceu que a resolução de trégua era “nossa modesta contribuição para a paz”. Mas também disse que as pessoas de todo o mundo estavam “exaustas de todo o antagonismo, hostilidade, ódio e intolerância com que se deparam todos os dias, em todas as áreas da vida”. Era uma imagem pesada. Se ao menos, pareceu sugerir ele, o mundo ouvisse o COI.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

THE NEW YORK TIMES – O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) subiu ao púlpito na última semana no salão de reuniões das Nações Unidas e começou a pintar um quadro sombrio do mundo lá fora. A sociedade estava numa “espiral descendente”, sugeriu o presidente, Thomas Bach. Ele nunca tinha visto tanta “confrontação, divisão e polarização”. Ele lamentou o crescente “flagelo da guerra e da violência”.

Depois, enquanto diplomatas em outros locais do edifício discutiam trocas de prisioneiros na Faixa de Gaza e soldados continuavam morrendo nos campos lamacentos do leste da Ucrânia, Bach ofereceu o que considerou um bálsamo: a trégua olímpica. A resolução, revivida de dois em dois anos pelos líderes olímpicos e adotada com entusiasmo pelos países membros da ONU, apela com otimismo à cessação da violência em todo o mundo durante as semanas dos Jogos Olímpicos, cuja próxima versão será aberta em julho, na França.

“Nestes tempos difíceis”, disse Bach na terça-feira, “esta resolução é nossa oportunidade de mandar um sinal inequívoco ao mundo: Sim, podemos nos unir, mesmo em tempos de guerras e crises. Sim, podemos dar as mãos e trabalhar juntos por um futuro melhor”.

Thomas Bach, presidente do COI, durante pronunciamento na Assembleia Geral da ONU. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

A resolução foi aprovada por esmagadora maioria. Apertos de mão. Tapinhas nas costas. Mas será que as facções beligerantes do mundo vão se sentir motivadas a depor as armas no ano que vem, numa demonstração coletiva de amizade induzida pelo esporte? Melhor não esperar muita coisa.

Enraizada nas tradições da Grécia antiga e reimaginada três décadas atrás para os Jogos modernos, a trégua olímpica se tornou parte do ritual de prelúdio aos eventos tanto quanto o acendimento da tocha e a corrida por quartos de hotel. Mas, apesar da retórica inebriante, ela é em grande medida simbólica, essencialmente não vinculativa e consistentemente ignorada.

No entanto, os idealistas encaram a resolução bienal como um gesto de esperança que promove a harmonia global por meio da linguagem universal da competição atlética. Mas, nos últimos anos, a trégua gerou igual medida de escárnio por parte daqueles que apontam a desconexão entre as suas concepções elevadas e as duras realidades da paisagem geopolítica. “São muitas palavras bonitas que não significam absolutamente nada”, disse David Wallechinsky, membro fundador da Sociedade Internacional de Historiadores Olímpicos. “Qual é o objetivo?”

O objetivo, nos tempos antigos, era simples: sob a trégua, as cidades-estados rivais interrompiam voluntariamente suas guerras para abrir aos atletas uma passagem segura para Olímpia. O Comitê Olímpico Internacional ressuscitou e modernizou o conceito antes dos Jogos de 1994 em Lillehammer, Noruega, e a ONU o adotou como resolução oficial, instando os países a observarem a trégua desde sete dias antes do início da competição até sete dias depois do encerramento. Desde então, a cada dois anos, o país anfitrião elabora uma resolução, sempre com o mesmo título anódino: “Construir um mundo pacífico e melhor por meio do esporte e do ideal olímpico”.

No entanto, os países membros do COI – um círculo que em boa medida reflete os membros da ONU – nunca pareceram muito preocupados em aderir à trégua, e a organização raramente fez alarido sobre aparentes infracções. As prolongadas intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, por exemplo, abrangeram vários Jogos sem merecer muita repreensão por parte do comitê olímpico. O mesmo aconteceu com os conflitos de longa data na África, na Ásia e no Oriente Médio.

Mais recentemente, a Rússia se tornou o principal transgressor da trégua, criando um hábito estranho de invadir países durante ou logo após os Jogos Olímpicos: em 2008 (Geórgia), 2014 (Ucrânia) e 2022 (Ucrânia, de novo).

A Torre Eiffel será uma das mais frequentes paisagens dos eventos dos Jogos de Paris, em 2024. Foto: Gonzalo Fuentes/ Reuters

Os Jogos de Paris no ano que vem muito provavelmente vão acontecer em um contexto de duas guerras importantes, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia chegando a um impasse e o conflito entre Israel e o Hamas suscitando receios de um conflito regional mais amplo.

A confusão nas tentativas de fazer cumprir os termos da trégua está patente desde o ano passado, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia dias após a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. Esse ato acabou por provocar a primeira resposta oficial a uma aparente violação da trégua olímpica.

No dia da invasão, os líderes olímpicos condenaram a Rússia por violar a resolução. Ao longo dos dias e semanas que se seguiram, o COI apelou a todas as organizações esportivas internacionais para barrarem atletas da Rússia e de sua aliada, Belarus; e, sob pressão de outros países, expulsarem atletas russos e belarussos dos Jogos Paralímpicos.

No mês passado, o comitê reiterou que Rússia e Belarus ainda estavam barradas por violarem a trégua. Mas também observou que a organização havia criado uma exceção permitindo que atletas desses países tentem se classificar para os Jogos Olímpicos como competidores neutros e não afiliados.

Thomas Bach, presidente do COI, usou o púlpito das Nações Unidas para fazer um pronunciamento em defesa da paz. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

Bach, que ocupa a presidência do COI desde 2013, repetidas vezes lamentou os momentos em que a política internacional, como ele os define, atacam a trégua olímpica e os Jogos em geral. Mas esses ataques parecem estar se multiplicando.

Por exemplo, em 2022, antes dos Jogos de Inverno em Pequim, os Estados Unidos se juntaram a um punhado de países que se recusaram a copatrocinar a resolução de trégua elaborada pela China. E na terça-feira, a Rússia, expressando descontentamento com o tratamento geral dado pelas autoridades olímpicas, apelou a uma votação incomum sobre a medida, que normalmente é adotada por aclamação.

A salão às vezes ficava tenso. O representante da Rússia acusou o Comitê Olímpico de inconsistência e hipocrisia. O representante sírio se juntou a outros para destacar as dificuldades dos atletas palestinos. O representante da França repreendeu a Rússia por ter “politizado” a discussão. No final, 118 países membros, entre eles Belarus, votaram a favor da resolução. Rússia e Síria se abstiveram.

“Não há como separar esporte e política”, disse Ashleigh Huffman, ex-chefe de diplomacia esportiva do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Salientando que a trégua tradicional, em última análise, “não tinha força”, ela disse que poderia, no entanto, servir como “um importante ponto de partida para uma conversa que nos dá uma estrutura a que aspirar”.

Bach parece concordar. No seu discurso na terça-feira, ele reconheceu que a resolução de trégua era “nossa modesta contribuição para a paz”. Mas também disse que as pessoas de todo o mundo estavam “exaustas de todo o antagonismo, hostilidade, ódio e intolerância com que se deparam todos os dias, em todas as áreas da vida”. Era uma imagem pesada. Se ao menos, pareceu sugerir ele, o mundo ouvisse o COI.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

THE NEW YORK TIMES – O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) subiu ao púlpito na última semana no salão de reuniões das Nações Unidas e começou a pintar um quadro sombrio do mundo lá fora. A sociedade estava numa “espiral descendente”, sugeriu o presidente, Thomas Bach. Ele nunca tinha visto tanta “confrontação, divisão e polarização”. Ele lamentou o crescente “flagelo da guerra e da violência”.

Depois, enquanto diplomatas em outros locais do edifício discutiam trocas de prisioneiros na Faixa de Gaza e soldados continuavam morrendo nos campos lamacentos do leste da Ucrânia, Bach ofereceu o que considerou um bálsamo: a trégua olímpica. A resolução, revivida de dois em dois anos pelos líderes olímpicos e adotada com entusiasmo pelos países membros da ONU, apela com otimismo à cessação da violência em todo o mundo durante as semanas dos Jogos Olímpicos, cuja próxima versão será aberta em julho, na França.

“Nestes tempos difíceis”, disse Bach na terça-feira, “esta resolução é nossa oportunidade de mandar um sinal inequívoco ao mundo: Sim, podemos nos unir, mesmo em tempos de guerras e crises. Sim, podemos dar as mãos e trabalhar juntos por um futuro melhor”.

Thomas Bach, presidente do COI, durante pronunciamento na Assembleia Geral da ONU. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

A resolução foi aprovada por esmagadora maioria. Apertos de mão. Tapinhas nas costas. Mas será que as facções beligerantes do mundo vão se sentir motivadas a depor as armas no ano que vem, numa demonstração coletiva de amizade induzida pelo esporte? Melhor não esperar muita coisa.

Enraizada nas tradições da Grécia antiga e reimaginada três décadas atrás para os Jogos modernos, a trégua olímpica se tornou parte do ritual de prelúdio aos eventos tanto quanto o acendimento da tocha e a corrida por quartos de hotel. Mas, apesar da retórica inebriante, ela é em grande medida simbólica, essencialmente não vinculativa e consistentemente ignorada.

No entanto, os idealistas encaram a resolução bienal como um gesto de esperança que promove a harmonia global por meio da linguagem universal da competição atlética. Mas, nos últimos anos, a trégua gerou igual medida de escárnio por parte daqueles que apontam a desconexão entre as suas concepções elevadas e as duras realidades da paisagem geopolítica. “São muitas palavras bonitas que não significam absolutamente nada”, disse David Wallechinsky, membro fundador da Sociedade Internacional de Historiadores Olímpicos. “Qual é o objetivo?”

O objetivo, nos tempos antigos, era simples: sob a trégua, as cidades-estados rivais interrompiam voluntariamente suas guerras para abrir aos atletas uma passagem segura para Olímpia. O Comitê Olímpico Internacional ressuscitou e modernizou o conceito antes dos Jogos de 1994 em Lillehammer, Noruega, e a ONU o adotou como resolução oficial, instando os países a observarem a trégua desde sete dias antes do início da competição até sete dias depois do encerramento. Desde então, a cada dois anos, o país anfitrião elabora uma resolução, sempre com o mesmo título anódino: “Construir um mundo pacífico e melhor por meio do esporte e do ideal olímpico”.

No entanto, os países membros do COI – um círculo que em boa medida reflete os membros da ONU – nunca pareceram muito preocupados em aderir à trégua, e a organização raramente fez alarido sobre aparentes infracções. As prolongadas intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, por exemplo, abrangeram vários Jogos sem merecer muita repreensão por parte do comitê olímpico. O mesmo aconteceu com os conflitos de longa data na África, na Ásia e no Oriente Médio.

Mais recentemente, a Rússia se tornou o principal transgressor da trégua, criando um hábito estranho de invadir países durante ou logo após os Jogos Olímpicos: em 2008 (Geórgia), 2014 (Ucrânia) e 2022 (Ucrânia, de novo).

A Torre Eiffel será uma das mais frequentes paisagens dos eventos dos Jogos de Paris, em 2024. Foto: Gonzalo Fuentes/ Reuters

Os Jogos de Paris no ano que vem muito provavelmente vão acontecer em um contexto de duas guerras importantes, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia chegando a um impasse e o conflito entre Israel e o Hamas suscitando receios de um conflito regional mais amplo.

A confusão nas tentativas de fazer cumprir os termos da trégua está patente desde o ano passado, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia dias após a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. Esse ato acabou por provocar a primeira resposta oficial a uma aparente violação da trégua olímpica.

No dia da invasão, os líderes olímpicos condenaram a Rússia por violar a resolução. Ao longo dos dias e semanas que se seguiram, o COI apelou a todas as organizações esportivas internacionais para barrarem atletas da Rússia e de sua aliada, Belarus; e, sob pressão de outros países, expulsarem atletas russos e belarussos dos Jogos Paralímpicos.

No mês passado, o comitê reiterou que Rússia e Belarus ainda estavam barradas por violarem a trégua. Mas também observou que a organização havia criado uma exceção permitindo que atletas desses países tentem se classificar para os Jogos Olímpicos como competidores neutros e não afiliados.

Thomas Bach, presidente do COI, usou o púlpito das Nações Unidas para fazer um pronunciamento em defesa da paz. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

Bach, que ocupa a presidência do COI desde 2013, repetidas vezes lamentou os momentos em que a política internacional, como ele os define, atacam a trégua olímpica e os Jogos em geral. Mas esses ataques parecem estar se multiplicando.

Por exemplo, em 2022, antes dos Jogos de Inverno em Pequim, os Estados Unidos se juntaram a um punhado de países que se recusaram a copatrocinar a resolução de trégua elaborada pela China. E na terça-feira, a Rússia, expressando descontentamento com o tratamento geral dado pelas autoridades olímpicas, apelou a uma votação incomum sobre a medida, que normalmente é adotada por aclamação.

A salão às vezes ficava tenso. O representante da Rússia acusou o Comitê Olímpico de inconsistência e hipocrisia. O representante sírio se juntou a outros para destacar as dificuldades dos atletas palestinos. O representante da França repreendeu a Rússia por ter “politizado” a discussão. No final, 118 países membros, entre eles Belarus, votaram a favor da resolução. Rússia e Síria se abstiveram.

“Não há como separar esporte e política”, disse Ashleigh Huffman, ex-chefe de diplomacia esportiva do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Salientando que a trégua tradicional, em última análise, “não tinha força”, ela disse que poderia, no entanto, servir como “um importante ponto de partida para uma conversa que nos dá uma estrutura a que aspirar”.

Bach parece concordar. No seu discurso na terça-feira, ele reconheceu que a resolução de trégua era “nossa modesta contribuição para a paz”. Mas também disse que as pessoas de todo o mundo estavam “exaustas de todo o antagonismo, hostilidade, ódio e intolerância com que se deparam todos os dias, em todas as áreas da vida”. Era uma imagem pesada. Se ao menos, pareceu sugerir ele, o mundo ouvisse o COI.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

THE NEW YORK TIMES – O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) subiu ao púlpito na última semana no salão de reuniões das Nações Unidas e começou a pintar um quadro sombrio do mundo lá fora. A sociedade estava numa “espiral descendente”, sugeriu o presidente, Thomas Bach. Ele nunca tinha visto tanta “confrontação, divisão e polarização”. Ele lamentou o crescente “flagelo da guerra e da violência”.

Depois, enquanto diplomatas em outros locais do edifício discutiam trocas de prisioneiros na Faixa de Gaza e soldados continuavam morrendo nos campos lamacentos do leste da Ucrânia, Bach ofereceu o que considerou um bálsamo: a trégua olímpica. A resolução, revivida de dois em dois anos pelos líderes olímpicos e adotada com entusiasmo pelos países membros da ONU, apela com otimismo à cessação da violência em todo o mundo durante as semanas dos Jogos Olímpicos, cuja próxima versão será aberta em julho, na França.

“Nestes tempos difíceis”, disse Bach na terça-feira, “esta resolução é nossa oportunidade de mandar um sinal inequívoco ao mundo: Sim, podemos nos unir, mesmo em tempos de guerras e crises. Sim, podemos dar as mãos e trabalhar juntos por um futuro melhor”.

Thomas Bach, presidente do COI, durante pronunciamento na Assembleia Geral da ONU. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

A resolução foi aprovada por esmagadora maioria. Apertos de mão. Tapinhas nas costas. Mas será que as facções beligerantes do mundo vão se sentir motivadas a depor as armas no ano que vem, numa demonstração coletiva de amizade induzida pelo esporte? Melhor não esperar muita coisa.

Enraizada nas tradições da Grécia antiga e reimaginada três décadas atrás para os Jogos modernos, a trégua olímpica se tornou parte do ritual de prelúdio aos eventos tanto quanto o acendimento da tocha e a corrida por quartos de hotel. Mas, apesar da retórica inebriante, ela é em grande medida simbólica, essencialmente não vinculativa e consistentemente ignorada.

No entanto, os idealistas encaram a resolução bienal como um gesto de esperança que promove a harmonia global por meio da linguagem universal da competição atlética. Mas, nos últimos anos, a trégua gerou igual medida de escárnio por parte daqueles que apontam a desconexão entre as suas concepções elevadas e as duras realidades da paisagem geopolítica. “São muitas palavras bonitas que não significam absolutamente nada”, disse David Wallechinsky, membro fundador da Sociedade Internacional de Historiadores Olímpicos. “Qual é o objetivo?”

O objetivo, nos tempos antigos, era simples: sob a trégua, as cidades-estados rivais interrompiam voluntariamente suas guerras para abrir aos atletas uma passagem segura para Olímpia. O Comitê Olímpico Internacional ressuscitou e modernizou o conceito antes dos Jogos de 1994 em Lillehammer, Noruega, e a ONU o adotou como resolução oficial, instando os países a observarem a trégua desde sete dias antes do início da competição até sete dias depois do encerramento. Desde então, a cada dois anos, o país anfitrião elabora uma resolução, sempre com o mesmo título anódino: “Construir um mundo pacífico e melhor por meio do esporte e do ideal olímpico”.

No entanto, os países membros do COI – um círculo que em boa medida reflete os membros da ONU – nunca pareceram muito preocupados em aderir à trégua, e a organização raramente fez alarido sobre aparentes infracções. As prolongadas intervenções dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, por exemplo, abrangeram vários Jogos sem merecer muita repreensão por parte do comitê olímpico. O mesmo aconteceu com os conflitos de longa data na África, na Ásia e no Oriente Médio.

Mais recentemente, a Rússia se tornou o principal transgressor da trégua, criando um hábito estranho de invadir países durante ou logo após os Jogos Olímpicos: em 2008 (Geórgia), 2014 (Ucrânia) e 2022 (Ucrânia, de novo).

A Torre Eiffel será uma das mais frequentes paisagens dos eventos dos Jogos de Paris, em 2024. Foto: Gonzalo Fuentes/ Reuters

Os Jogos de Paris no ano que vem muito provavelmente vão acontecer em um contexto de duas guerras importantes, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia chegando a um impasse e o conflito entre Israel e o Hamas suscitando receios de um conflito regional mais amplo.

A confusão nas tentativas de fazer cumprir os termos da trégua está patente desde o ano passado, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia dias após a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. Esse ato acabou por provocar a primeira resposta oficial a uma aparente violação da trégua olímpica.

No dia da invasão, os líderes olímpicos condenaram a Rússia por violar a resolução. Ao longo dos dias e semanas que se seguiram, o COI apelou a todas as organizações esportivas internacionais para barrarem atletas da Rússia e de sua aliada, Belarus; e, sob pressão de outros países, expulsarem atletas russos e belarussos dos Jogos Paralímpicos.

No mês passado, o comitê reiterou que Rússia e Belarus ainda estavam barradas por violarem a trégua. Mas também observou que a organização havia criado uma exceção permitindo que atletas desses países tentem se classificar para os Jogos Olímpicos como competidores neutros e não afiliados.

Thomas Bach, presidente do COI, usou o púlpito das Nações Unidas para fazer um pronunciamento em defesa da paz. Foto: Brendan McDermid/ Reuters

Bach, que ocupa a presidência do COI desde 2013, repetidas vezes lamentou os momentos em que a política internacional, como ele os define, atacam a trégua olímpica e os Jogos em geral. Mas esses ataques parecem estar se multiplicando.

Por exemplo, em 2022, antes dos Jogos de Inverno em Pequim, os Estados Unidos se juntaram a um punhado de países que se recusaram a copatrocinar a resolução de trégua elaborada pela China. E na terça-feira, a Rússia, expressando descontentamento com o tratamento geral dado pelas autoridades olímpicas, apelou a uma votação incomum sobre a medida, que normalmente é adotada por aclamação.

A salão às vezes ficava tenso. O representante da Rússia acusou o Comitê Olímpico de inconsistência e hipocrisia. O representante sírio se juntou a outros para destacar as dificuldades dos atletas palestinos. O representante da França repreendeu a Rússia por ter “politizado” a discussão. No final, 118 países membros, entre eles Belarus, votaram a favor da resolução. Rússia e Síria se abstiveram.

“Não há como separar esporte e política”, disse Ashleigh Huffman, ex-chefe de diplomacia esportiva do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Salientando que a trégua tradicional, em última análise, “não tinha força”, ela disse que poderia, no entanto, servir como “um importante ponto de partida para uma conversa que nos dá uma estrutura a que aspirar”.

Bach parece concordar. No seu discurso na terça-feira, ele reconheceu que a resolução de trégua era “nossa modesta contribuição para a paz”. Mas também disse que as pessoas de todo o mundo estavam “exaustas de todo o antagonismo, hostilidade, ódio e intolerância com que se deparam todos os dias, em todas as áreas da vida”. Era uma imagem pesada. Se ao menos, pareceu sugerir ele, o mundo ouvisse o COI.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

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