A quarta edição do Fight Music Show (FMS) realizada no último sábado foi um sucesso. O embate entre o tetracampeão de boxe Acelino Popó Freitas e o campeão da primeira edição do Big Brother Brasil, Kleber Bambam, gerou alta expectativa no público de que o artista realmente pudesse chocar o planeta ao nocautear o boxeador.
O resultado gerado com o interesse do público foi o sucesso absoluto do evento com casa cheia, diversas menções sobre o show nas redes sociais, alto consumo de pay-per-view e bons índices de audiência na televisão. A curiosidade em torno da luta foi tanta que Bambam afirmou na última segunda-feira ter faturado R$ 10 milhões — incluindo bolsa e patrocínio —, enquanto Popó teria recebido algo em torno dos R$ 5 milhões.
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Se a expectativa pelo improvável cresceu entre o público, nas principais casas de apostas do Brasil, como Esportes da Sorte, Onabet, Reals, Galera.bet, Casa de Apostas, Odds&Scouts e Bet7k, contudo, a vitória do ex-bbb pagava cinco vezes mais que o triunfo do ex-campeão mundial já dando indícios de que uma surpresa seria algo improvável, o que se confirmou mais tarde com uma vitória acachapante por nocaute de Popó sobre o rival aos 36 segundos do primeiro round. Depois disso, a pergunta passou a ser qual será o caminho que o Fight Music Show tomará em suas próximas edições?
É inegável que esportivamente há muitas diferenças entre os participantes. “Para cada modalidade esportiva há uma variável que deve ser explorada nos trabalhos de condicionamento. Entre elas estão potência muscular, velocidade, agilidade, resistência, potência aeróbica, mobilidade. O atleta amador não possui as mesmas condições técnicas e físicas de um atleta de alta performance”, afirmou a Dra. Flávia Magalhães, médica, nutricionista, especialista em gestão de saúde e performance de atletas. “A diferença é de fato grande e reflete no desempenho. Em uma competição de combate irá refletir desde o tempo de reação aos golpes, à resistência para a luta, integrados e coordenados pelo Sistema Nervoso Central”, completou.
Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, acredita que esse tipo de espetáculo tem como visão principal o entretenimento com foco em comunicação nas redes sociais, além de ajudar a proporcionar experiência diferenciada para quem está presencialmente no evento. “O conteúdo esportivo não é o mais importante. Mas é óbvio que quando essas lutas são terminadas de forma tão rápida, como aconteceu, isso vai saturando o público, que quer ver algo mais consistente. Uma luta do Vitor Belfort contra o Popó faz muito mais sentido que Popó versus Bambam”, afirmou.
Danielle Vilhena, head de marcas da agência End to End, empresa que conecta o torcedor à sua paixão e é um hub de soluções e engajamento para o mercado esportivo, por sua vez, acredita que a fórmula ainda pode render. “Apesar de algumas lutas serem mais rápidas e garantirem o resultado esperado, já que se trata de um lutador profissional contra figuras públicas que estão construindo sua participação no esporte, o consumo do produto e a curiosidade do combate ainda se mantém aquecidos. Isso é reafirmado com o buzz e os números expressivos de engajamento que o FMS gerou”, disse a especialista, que faz uma ressalva: “Contudo, outras oportunidades podem ser criadas também, como lutas entre celebridades e entre ex-lutadores em desafios especiais, gerando novos formatos de disputa e outra forma de entretenimento entre os espectadores. Abrindo mais frentes de audiência e propriedades para marcas.”
Ex-campeão do meio-pesado e do torneio pesado do UFC, Vitor Belfort não perdeu tempo e desafiou Popó. Belfort criticou o boxeador por enfrentar adversários de um nível mais fraco e se colocou à disposição para trazer mais equilíbrio para o evento na próxima luta principal. A ideia de lutar contra alguém do MMA, por hora, foi refutada por Popó. Nos planos do pugilista, a ideia é repetir os embates que teve contra seus últimos três desafiantes: Júnior Dublê, Pelé Landy e Bambam. Em todos, Popó venceu por nocaute. O objetivo agora é enfrentar os três no mesmo evento. “Eu quero pegar os três que nocauteei no mesmo dia. Vou nocautear os três de novo”, falou durante participação no programa Encontro, da TV Globo.
Ainda que de forma embrionária, a ideia é algo que pode ganhar corpo e ser trabalhada. A principal dúvida, contudo, é se o público ainda terá interesse em assistir confrontos que já se sabe, Popó não terá a mínima dificuldade de vencer. Para Renê Salviano, diretor da empresa de marketing esportivo Heatmap, uma opção para o evento seria dar o poder de ‘matchmaker’ para o público, ou seja, através de ações e enquetes permitir que as pessoas possam escolher os futuros confrontos da organização. “Esporte é entretenimento e acredito que o próximo passo é gerar engajamento com o público participando, inclusive, na escolha dos participantes. Já está claro para os espectadores que se trata de um evento, agora é colocá-los para participar em vários momentos do show, mas sempre respeitando-os para não parecer brincadeira de ganhar dinheiro. O projeto tem tudo para se tornar um sucesso ainda maior e já demonstrou isto com as primeiras edições”, disse.
Inspiração do FSM veio dos EUA
Essa onda proposta pelo Fight Music Show começou com Jake Paul, nos Estados Unidos. Por lá, contudo, o influenciador e ex-ator da Disney conquistou vitórias importantes que mantiveram a fórmula utilizada em alta. Com mais de 50 milhões de seguidores em suas redes sociais, Paul despontou para o boxe, em novembro de 2020, roubando a cena nas preliminares da luta principal que contou com Mike Tyson contra Roy Jones Jr. em Los Angeles.
Jake Paul nocauteou o ex-jogador de basquete do New York Knicks, Nate Robinson, no segundo round. Paul, então, passou a faturar milhões a cada vez que subia no ringue, e derrubou nomes importantes do MMA, como os ex-campeões do UFC, Tyron Woodley e Anderson Silva. Seu irmão, Logan, também se aproveitou da fama e dos milhões de seguidores para desafiar - e não fazer feio - um dos maiores da história, Floyd Mayweather.
No Brasil, a primeira edição do Fight Music Show chegou em 2022 com o embate principal sendo protagonizado entre Popó e o comediante Whindersson Nunes. O evento, que já havia sido um sucesso na edição inicial, seguiu com outras três edições.
Após duas lutas principais com menor interesse midiático na segunda e terceira edição, a quarta voltou com tudo graças ao excelente trabalho de trash talk - termo em inglês utilizado para se referir aos insultos falados por uma pessoa a outra e geralmente utilizado em eventos esportivos - promovido por Bambam.