Por que os skatistas usam fone? Saiba impacto da música no cérebro e veja as preferidas de atletas


Além de motivar os competidores em manobras arriscadas, canções têm ação direta em funções cerebrais e pode influenciar nas partes cognitiva e emocional

Por Rodrigo Sampaio
Atualização:

A ascensão do skate como esporte olímpico tornou a modalidade atrativa para torcedores brasileiros, especialmente após as medalhas conquistadas por Rayssa Leal e Kelvin Hoefler nos Jogos de Tóquio. Os olhares mais atentos nas competições do gênero já puderam perceber uma peculiaridade nos skatistas. Entre bonés e outros acessórios, como capacetes e joelheiras, boa parte dos atletas descem às pistas usando fones de ouvido. Além de motivar os competidores em manobras arriscadas, a música tem ação direta no cérebro e pode influenciar no desempenho.

Segundo a Polyana Vulcano de Toledo Piza, neurologista e coordenadora do Programa de Especialidades Clínicas do Einstein, ouvir música tem impacto significativo nas funções cerebrais, influenciando de diferentes maneiras as partes cognitiva e emocional. A especialista explica que o córtex auditivo é o responsável pelo processamento do som, enquanto áreas como o córtex pré-frontal e o sistema límbico, que inclui estruturas como o hipotálamo e o núcleo accumbens, estão envolvidas no processamento emocional e na resposta à música.

“A música pode desencadear a liberação de neurotransmissores, como dopamina e serotonina, associados ao prazer, recompensa e bem-estar emocional”, diz. “Ouvir música pode melhorar a concentração durante certas atividades cognitivas ou físicas. Pode ajudar a bloquear distrações externas, aumentar o foco e até mesmo induzir um estado de fluxo, no qual a pessoa está totalmente imersa na atividade. No entanto, isso pode variar de pessoa para pessoa e depender do tipo de música e da tarefa em questão. Música sem palavras ou com ritmos consistentes tende a ser mais eficaz para melhorar a concentração”, completa.

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Usando fones de ouvido, Rayssa Leal compete em Paris, na França, no Championship Tour 2024 da Street League Skateboarding (SLS). Foto: Benoit Tessier/ REUTERS

A adrenalina, responsável por preparar o organismo para momentos de agitação, sempre é lembrada quando o assunto são os esportes radicais. De acordo com Polyana Vulcano, a música pode ajudar, sim, a dar um boost do hormônio aos skatistas, aumentando a energia e a excitação. Ainda de acordo com a especialista, músicas com batidas rápidas e agitadas e letras motivadoras podem aumentar a frequência cardíaca, estimular a liberação de adrenalina e melhorar o desempenho atlético. Isso pode contribuir para um aumento da resistência, força e motivação durante o treino ou competição.

“Há diferenças na forma como o cérebro reage a músicas mais suaves em comparação com outras mais agitadas. Músicas mais suaves e calmas tendem a induzir relaxamento e redução do estresse, ativando áreas do cérebro associadas à tranquilidade e ao conforto emocional. A escolha entre música suave ou agitada pode depender do contexto e do objetivo desejado, seja relaxamento, concentração ou aumento da energia”, afirma a especialista.

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Skate, som e ‘ancoragem’

O skate se popularizou no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, nos Estados Unidos — John Textor, magnata americano dono da SAF do Botafogo, integrou o The Sims Skateboarders, um dos grupos mais conceituados da época. O esporte ganhou espaço entre os fãs de punk, metal e o hardcore, subgêneros do rock, e passou a ter bandas destes gêneros como trilhas sonoras de competições na década de 1990. A combinação ficou marcada, por exemplo, na franquia de jogos de videogame Tony Hawk’s Pro Skater, que leva o nome do lendário atleta californiano, imortalizado por ser o primeiro a realizar o giro aéreo de 900 graus.

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Depois de fazer parte da programação nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanjing, na China, em 2014, o skate foi um dos cinco esportes a fazer sua estreia na Olimpíada de Tóquio-2020, realizada no ano seguinte por causa da pandemia de covid-19. Uma das representantes do Brasil no evento, na categoria park, foi a catarinense Yndiara Asp, que está firma na briga por uma vaga em Paris-2024. Assim como seus colegas, ela recorre à música durante as competições e afirma que as canções influenciam em diferentes ocasiões da disputa.

“Eu usufruo bastante da música, de diversas formas, direcionando para cada momento. Como exemplo: para me animar, energizar, ou então para me manter focada e concentrada e abstrair do externo”, diz. “Tem algumas músicas que são como hinos para mim. Uma delas é ‘Dias de luta, Dias de Glória’, do Charlie Brown Jr, que já usei em vários momentos e funciona como ancoragem”, revela.

Skatista brasileira Yndiara Asp está na luta por vaga olímpica e curte ouvir Charlie Brown durante as competições.  Foto: Julio Detefon/CBSk
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Segundo João Ricardo Cozac, Pós-Doutor em Psicologia do esporte e Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, a “ancoragem” citada por Yndiara Asp é a capacidade de o atleta “poder estar no tempo e no espaço, no aqui e no agora, de forma plena”. Ou seja, consciente de suas ações, do momento em que está vivendo e completamente imerso no tempo presente. O especialista explica que a música funciona como uma âncora para o competidor vivenciar tudo que está acontecendo e desempenhar tudo o que foi treinado mental, física e tecnicamente.

“Além da ancoragem, algumas músicas têm atribuições afetivas e emocionais para o bem-estar do atleta. As músicas têm ocupado um espaço cada vez maior para atletas de diferentes modalidades. É uma questão de silenciar o ambiente externo e focar em si. A música faz uma ponte interessante do indivíduo para ele mesmo”, comenta Cozac.

Rayssal Leal tem a companhia de seu fone de ouvido em provas que compete. Foto: Pedro Piegas/Prefeitura de Porto Alegre
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Diferentemente das competições de alto nível, é importante destacar que o uso de fones de ouvido não é bem-visto na cultura do skate quando a prancha é utilizada como transporte ou quando o indivíduo está praticando em um local com um número grande de pessoas por causa do risco de acidentes. Confira abaixo algumas das músicas preferidas de alguns dos principais skatistas brasileiros para as competições.

Yndiara Asp

  • “Gratidão”, L7nnon
  • “Samba Makossa”, Charlie Brown Jr. e Marcelo D2
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  • “Sonho Possivel”, Mc Rah e Dj Tripa
  • “Renasci das Cinzas”, Mc Daniel e Mc Paulin da Capital
  • “Seek & Destroy”, Metallica

Felipe Nunes

  • “On the River”, Offset
  • “Love Songs”, Kaash Paige
  • “What To Do?”, Jackboys e Travis Scott ft. Don Toliver
  • “Metal Health”, Quiet Riot
  • “Paranoid”, Black Sabbath

Augusto Akio

  • “Calma Aí, Coração”, Zeca Baleiro
  • “Возможно”, My
  • “Ainda Gosto Dela”, Skank
  • “Kung Fu Fighting”, Carl Douglas
  • “Fat Lip”, Sum 41

A ascensão do skate como esporte olímpico tornou a modalidade atrativa para torcedores brasileiros, especialmente após as medalhas conquistadas por Rayssa Leal e Kelvin Hoefler nos Jogos de Tóquio. Os olhares mais atentos nas competições do gênero já puderam perceber uma peculiaridade nos skatistas. Entre bonés e outros acessórios, como capacetes e joelheiras, boa parte dos atletas descem às pistas usando fones de ouvido. Além de motivar os competidores em manobras arriscadas, a música tem ação direta no cérebro e pode influenciar no desempenho.

Segundo a Polyana Vulcano de Toledo Piza, neurologista e coordenadora do Programa de Especialidades Clínicas do Einstein, ouvir música tem impacto significativo nas funções cerebrais, influenciando de diferentes maneiras as partes cognitiva e emocional. A especialista explica que o córtex auditivo é o responsável pelo processamento do som, enquanto áreas como o córtex pré-frontal e o sistema límbico, que inclui estruturas como o hipotálamo e o núcleo accumbens, estão envolvidas no processamento emocional e na resposta à música.

“A música pode desencadear a liberação de neurotransmissores, como dopamina e serotonina, associados ao prazer, recompensa e bem-estar emocional”, diz. “Ouvir música pode melhorar a concentração durante certas atividades cognitivas ou físicas. Pode ajudar a bloquear distrações externas, aumentar o foco e até mesmo induzir um estado de fluxo, no qual a pessoa está totalmente imersa na atividade. No entanto, isso pode variar de pessoa para pessoa e depender do tipo de música e da tarefa em questão. Música sem palavras ou com ritmos consistentes tende a ser mais eficaz para melhorar a concentração”, completa.

Usando fones de ouvido, Rayssa Leal compete em Paris, na França, no Championship Tour 2024 da Street League Skateboarding (SLS). Foto: Benoit Tessier/ REUTERS

A adrenalina, responsável por preparar o organismo para momentos de agitação, sempre é lembrada quando o assunto são os esportes radicais. De acordo com Polyana Vulcano, a música pode ajudar, sim, a dar um boost do hormônio aos skatistas, aumentando a energia e a excitação. Ainda de acordo com a especialista, músicas com batidas rápidas e agitadas e letras motivadoras podem aumentar a frequência cardíaca, estimular a liberação de adrenalina e melhorar o desempenho atlético. Isso pode contribuir para um aumento da resistência, força e motivação durante o treino ou competição.

“Há diferenças na forma como o cérebro reage a músicas mais suaves em comparação com outras mais agitadas. Músicas mais suaves e calmas tendem a induzir relaxamento e redução do estresse, ativando áreas do cérebro associadas à tranquilidade e ao conforto emocional. A escolha entre música suave ou agitada pode depender do contexto e do objetivo desejado, seja relaxamento, concentração ou aumento da energia”, afirma a especialista.

Skate, som e ‘ancoragem’

O skate se popularizou no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, nos Estados Unidos — John Textor, magnata americano dono da SAF do Botafogo, integrou o The Sims Skateboarders, um dos grupos mais conceituados da época. O esporte ganhou espaço entre os fãs de punk, metal e o hardcore, subgêneros do rock, e passou a ter bandas destes gêneros como trilhas sonoras de competições na década de 1990. A combinação ficou marcada, por exemplo, na franquia de jogos de videogame Tony Hawk’s Pro Skater, que leva o nome do lendário atleta californiano, imortalizado por ser o primeiro a realizar o giro aéreo de 900 graus.

Depois de fazer parte da programação nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanjing, na China, em 2014, o skate foi um dos cinco esportes a fazer sua estreia na Olimpíada de Tóquio-2020, realizada no ano seguinte por causa da pandemia de covid-19. Uma das representantes do Brasil no evento, na categoria park, foi a catarinense Yndiara Asp, que está firma na briga por uma vaga em Paris-2024. Assim como seus colegas, ela recorre à música durante as competições e afirma que as canções influenciam em diferentes ocasiões da disputa.

“Eu usufruo bastante da música, de diversas formas, direcionando para cada momento. Como exemplo: para me animar, energizar, ou então para me manter focada e concentrada e abstrair do externo”, diz. “Tem algumas músicas que são como hinos para mim. Uma delas é ‘Dias de luta, Dias de Glória’, do Charlie Brown Jr, que já usei em vários momentos e funciona como ancoragem”, revela.

Skatista brasileira Yndiara Asp está na luta por vaga olímpica e curte ouvir Charlie Brown durante as competições.  Foto: Julio Detefon/CBSk

Segundo João Ricardo Cozac, Pós-Doutor em Psicologia do esporte e Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, a “ancoragem” citada por Yndiara Asp é a capacidade de o atleta “poder estar no tempo e no espaço, no aqui e no agora, de forma plena”. Ou seja, consciente de suas ações, do momento em que está vivendo e completamente imerso no tempo presente. O especialista explica que a música funciona como uma âncora para o competidor vivenciar tudo que está acontecendo e desempenhar tudo o que foi treinado mental, física e tecnicamente.

“Além da ancoragem, algumas músicas têm atribuições afetivas e emocionais para o bem-estar do atleta. As músicas têm ocupado um espaço cada vez maior para atletas de diferentes modalidades. É uma questão de silenciar o ambiente externo e focar em si. A música faz uma ponte interessante do indivíduo para ele mesmo”, comenta Cozac.

Rayssal Leal tem a companhia de seu fone de ouvido em provas que compete. Foto: Pedro Piegas/Prefeitura de Porto Alegre

Diferentemente das competições de alto nível, é importante destacar que o uso de fones de ouvido não é bem-visto na cultura do skate quando a prancha é utilizada como transporte ou quando o indivíduo está praticando em um local com um número grande de pessoas por causa do risco de acidentes. Confira abaixo algumas das músicas preferidas de alguns dos principais skatistas brasileiros para as competições.

Yndiara Asp

  • “Gratidão”, L7nnon
  • “Samba Makossa”, Charlie Brown Jr. e Marcelo D2
  • “Sonho Possivel”, Mc Rah e Dj Tripa
  • “Renasci das Cinzas”, Mc Daniel e Mc Paulin da Capital
  • “Seek & Destroy”, Metallica

Felipe Nunes

  • “On the River”, Offset
  • “Love Songs”, Kaash Paige
  • “What To Do?”, Jackboys e Travis Scott ft. Don Toliver
  • “Metal Health”, Quiet Riot
  • “Paranoid”, Black Sabbath

Augusto Akio

  • “Calma Aí, Coração”, Zeca Baleiro
  • “Возможно”, My
  • “Ainda Gosto Dela”, Skank
  • “Kung Fu Fighting”, Carl Douglas
  • “Fat Lip”, Sum 41

A ascensão do skate como esporte olímpico tornou a modalidade atrativa para torcedores brasileiros, especialmente após as medalhas conquistadas por Rayssa Leal e Kelvin Hoefler nos Jogos de Tóquio. Os olhares mais atentos nas competições do gênero já puderam perceber uma peculiaridade nos skatistas. Entre bonés e outros acessórios, como capacetes e joelheiras, boa parte dos atletas descem às pistas usando fones de ouvido. Além de motivar os competidores em manobras arriscadas, a música tem ação direta no cérebro e pode influenciar no desempenho.

Segundo a Polyana Vulcano de Toledo Piza, neurologista e coordenadora do Programa de Especialidades Clínicas do Einstein, ouvir música tem impacto significativo nas funções cerebrais, influenciando de diferentes maneiras as partes cognitiva e emocional. A especialista explica que o córtex auditivo é o responsável pelo processamento do som, enquanto áreas como o córtex pré-frontal e o sistema límbico, que inclui estruturas como o hipotálamo e o núcleo accumbens, estão envolvidas no processamento emocional e na resposta à música.

“A música pode desencadear a liberação de neurotransmissores, como dopamina e serotonina, associados ao prazer, recompensa e bem-estar emocional”, diz. “Ouvir música pode melhorar a concentração durante certas atividades cognitivas ou físicas. Pode ajudar a bloquear distrações externas, aumentar o foco e até mesmo induzir um estado de fluxo, no qual a pessoa está totalmente imersa na atividade. No entanto, isso pode variar de pessoa para pessoa e depender do tipo de música e da tarefa em questão. Música sem palavras ou com ritmos consistentes tende a ser mais eficaz para melhorar a concentração”, completa.

Usando fones de ouvido, Rayssa Leal compete em Paris, na França, no Championship Tour 2024 da Street League Skateboarding (SLS). Foto: Benoit Tessier/ REUTERS

A adrenalina, responsável por preparar o organismo para momentos de agitação, sempre é lembrada quando o assunto são os esportes radicais. De acordo com Polyana Vulcano, a música pode ajudar, sim, a dar um boost do hormônio aos skatistas, aumentando a energia e a excitação. Ainda de acordo com a especialista, músicas com batidas rápidas e agitadas e letras motivadoras podem aumentar a frequência cardíaca, estimular a liberação de adrenalina e melhorar o desempenho atlético. Isso pode contribuir para um aumento da resistência, força e motivação durante o treino ou competição.

“Há diferenças na forma como o cérebro reage a músicas mais suaves em comparação com outras mais agitadas. Músicas mais suaves e calmas tendem a induzir relaxamento e redução do estresse, ativando áreas do cérebro associadas à tranquilidade e ao conforto emocional. A escolha entre música suave ou agitada pode depender do contexto e do objetivo desejado, seja relaxamento, concentração ou aumento da energia”, afirma a especialista.

Skate, som e ‘ancoragem’

O skate se popularizou no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, nos Estados Unidos — John Textor, magnata americano dono da SAF do Botafogo, integrou o The Sims Skateboarders, um dos grupos mais conceituados da época. O esporte ganhou espaço entre os fãs de punk, metal e o hardcore, subgêneros do rock, e passou a ter bandas destes gêneros como trilhas sonoras de competições na década de 1990. A combinação ficou marcada, por exemplo, na franquia de jogos de videogame Tony Hawk’s Pro Skater, que leva o nome do lendário atleta californiano, imortalizado por ser o primeiro a realizar o giro aéreo de 900 graus.

Depois de fazer parte da programação nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanjing, na China, em 2014, o skate foi um dos cinco esportes a fazer sua estreia na Olimpíada de Tóquio-2020, realizada no ano seguinte por causa da pandemia de covid-19. Uma das representantes do Brasil no evento, na categoria park, foi a catarinense Yndiara Asp, que está firma na briga por uma vaga em Paris-2024. Assim como seus colegas, ela recorre à música durante as competições e afirma que as canções influenciam em diferentes ocasiões da disputa.

“Eu usufruo bastante da música, de diversas formas, direcionando para cada momento. Como exemplo: para me animar, energizar, ou então para me manter focada e concentrada e abstrair do externo”, diz. “Tem algumas músicas que são como hinos para mim. Uma delas é ‘Dias de luta, Dias de Glória’, do Charlie Brown Jr, que já usei em vários momentos e funciona como ancoragem”, revela.

Skatista brasileira Yndiara Asp está na luta por vaga olímpica e curte ouvir Charlie Brown durante as competições.  Foto: Julio Detefon/CBSk

Segundo João Ricardo Cozac, Pós-Doutor em Psicologia do esporte e Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, a “ancoragem” citada por Yndiara Asp é a capacidade de o atleta “poder estar no tempo e no espaço, no aqui e no agora, de forma plena”. Ou seja, consciente de suas ações, do momento em que está vivendo e completamente imerso no tempo presente. O especialista explica que a música funciona como uma âncora para o competidor vivenciar tudo que está acontecendo e desempenhar tudo o que foi treinado mental, física e tecnicamente.

“Além da ancoragem, algumas músicas têm atribuições afetivas e emocionais para o bem-estar do atleta. As músicas têm ocupado um espaço cada vez maior para atletas de diferentes modalidades. É uma questão de silenciar o ambiente externo e focar em si. A música faz uma ponte interessante do indivíduo para ele mesmo”, comenta Cozac.

Rayssal Leal tem a companhia de seu fone de ouvido em provas que compete. Foto: Pedro Piegas/Prefeitura de Porto Alegre

Diferentemente das competições de alto nível, é importante destacar que o uso de fones de ouvido não é bem-visto na cultura do skate quando a prancha é utilizada como transporte ou quando o indivíduo está praticando em um local com um número grande de pessoas por causa do risco de acidentes. Confira abaixo algumas das músicas preferidas de alguns dos principais skatistas brasileiros para as competições.

Yndiara Asp

  • “Gratidão”, L7nnon
  • “Samba Makossa”, Charlie Brown Jr. e Marcelo D2
  • “Sonho Possivel”, Mc Rah e Dj Tripa
  • “Renasci das Cinzas”, Mc Daniel e Mc Paulin da Capital
  • “Seek & Destroy”, Metallica

Felipe Nunes

  • “On the River”, Offset
  • “Love Songs”, Kaash Paige
  • “What To Do?”, Jackboys e Travis Scott ft. Don Toliver
  • “Metal Health”, Quiet Riot
  • “Paranoid”, Black Sabbath

Augusto Akio

  • “Calma Aí, Coração”, Zeca Baleiro
  • “Возможно”, My
  • “Ainda Gosto Dela”, Skank
  • “Kung Fu Fighting”, Carl Douglas
  • “Fat Lip”, Sum 41

A ascensão do skate como esporte olímpico tornou a modalidade atrativa para torcedores brasileiros, especialmente após as medalhas conquistadas por Rayssa Leal e Kelvin Hoefler nos Jogos de Tóquio. Os olhares mais atentos nas competições do gênero já puderam perceber uma peculiaridade nos skatistas. Entre bonés e outros acessórios, como capacetes e joelheiras, boa parte dos atletas descem às pistas usando fones de ouvido. Além de motivar os competidores em manobras arriscadas, a música tem ação direta no cérebro e pode influenciar no desempenho.

Segundo a Polyana Vulcano de Toledo Piza, neurologista e coordenadora do Programa de Especialidades Clínicas do Einstein, ouvir música tem impacto significativo nas funções cerebrais, influenciando de diferentes maneiras as partes cognitiva e emocional. A especialista explica que o córtex auditivo é o responsável pelo processamento do som, enquanto áreas como o córtex pré-frontal e o sistema límbico, que inclui estruturas como o hipotálamo e o núcleo accumbens, estão envolvidas no processamento emocional e na resposta à música.

“A música pode desencadear a liberação de neurotransmissores, como dopamina e serotonina, associados ao prazer, recompensa e bem-estar emocional”, diz. “Ouvir música pode melhorar a concentração durante certas atividades cognitivas ou físicas. Pode ajudar a bloquear distrações externas, aumentar o foco e até mesmo induzir um estado de fluxo, no qual a pessoa está totalmente imersa na atividade. No entanto, isso pode variar de pessoa para pessoa e depender do tipo de música e da tarefa em questão. Música sem palavras ou com ritmos consistentes tende a ser mais eficaz para melhorar a concentração”, completa.

Usando fones de ouvido, Rayssa Leal compete em Paris, na França, no Championship Tour 2024 da Street League Skateboarding (SLS). Foto: Benoit Tessier/ REUTERS

A adrenalina, responsável por preparar o organismo para momentos de agitação, sempre é lembrada quando o assunto são os esportes radicais. De acordo com Polyana Vulcano, a música pode ajudar, sim, a dar um boost do hormônio aos skatistas, aumentando a energia e a excitação. Ainda de acordo com a especialista, músicas com batidas rápidas e agitadas e letras motivadoras podem aumentar a frequência cardíaca, estimular a liberação de adrenalina e melhorar o desempenho atlético. Isso pode contribuir para um aumento da resistência, força e motivação durante o treino ou competição.

“Há diferenças na forma como o cérebro reage a músicas mais suaves em comparação com outras mais agitadas. Músicas mais suaves e calmas tendem a induzir relaxamento e redução do estresse, ativando áreas do cérebro associadas à tranquilidade e ao conforto emocional. A escolha entre música suave ou agitada pode depender do contexto e do objetivo desejado, seja relaxamento, concentração ou aumento da energia”, afirma a especialista.

Skate, som e ‘ancoragem’

O skate se popularizou no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, nos Estados Unidos — John Textor, magnata americano dono da SAF do Botafogo, integrou o The Sims Skateboarders, um dos grupos mais conceituados da época. O esporte ganhou espaço entre os fãs de punk, metal e o hardcore, subgêneros do rock, e passou a ter bandas destes gêneros como trilhas sonoras de competições na década de 1990. A combinação ficou marcada, por exemplo, na franquia de jogos de videogame Tony Hawk’s Pro Skater, que leva o nome do lendário atleta californiano, imortalizado por ser o primeiro a realizar o giro aéreo de 900 graus.

Depois de fazer parte da programação nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanjing, na China, em 2014, o skate foi um dos cinco esportes a fazer sua estreia na Olimpíada de Tóquio-2020, realizada no ano seguinte por causa da pandemia de covid-19. Uma das representantes do Brasil no evento, na categoria park, foi a catarinense Yndiara Asp, que está firma na briga por uma vaga em Paris-2024. Assim como seus colegas, ela recorre à música durante as competições e afirma que as canções influenciam em diferentes ocasiões da disputa.

“Eu usufruo bastante da música, de diversas formas, direcionando para cada momento. Como exemplo: para me animar, energizar, ou então para me manter focada e concentrada e abstrair do externo”, diz. “Tem algumas músicas que são como hinos para mim. Uma delas é ‘Dias de luta, Dias de Glória’, do Charlie Brown Jr, que já usei em vários momentos e funciona como ancoragem”, revela.

Skatista brasileira Yndiara Asp está na luta por vaga olímpica e curte ouvir Charlie Brown durante as competições.  Foto: Julio Detefon/CBSk

Segundo João Ricardo Cozac, Pós-Doutor em Psicologia do esporte e Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, a “ancoragem” citada por Yndiara Asp é a capacidade de o atleta “poder estar no tempo e no espaço, no aqui e no agora, de forma plena”. Ou seja, consciente de suas ações, do momento em que está vivendo e completamente imerso no tempo presente. O especialista explica que a música funciona como uma âncora para o competidor vivenciar tudo que está acontecendo e desempenhar tudo o que foi treinado mental, física e tecnicamente.

“Além da ancoragem, algumas músicas têm atribuições afetivas e emocionais para o bem-estar do atleta. As músicas têm ocupado um espaço cada vez maior para atletas de diferentes modalidades. É uma questão de silenciar o ambiente externo e focar em si. A música faz uma ponte interessante do indivíduo para ele mesmo”, comenta Cozac.

Rayssal Leal tem a companhia de seu fone de ouvido em provas que compete. Foto: Pedro Piegas/Prefeitura de Porto Alegre

Diferentemente das competições de alto nível, é importante destacar que o uso de fones de ouvido não é bem-visto na cultura do skate quando a prancha é utilizada como transporte ou quando o indivíduo está praticando em um local com um número grande de pessoas por causa do risco de acidentes. Confira abaixo algumas das músicas preferidas de alguns dos principais skatistas brasileiros para as competições.

Yndiara Asp

  • “Gratidão”, L7nnon
  • “Samba Makossa”, Charlie Brown Jr. e Marcelo D2
  • “Sonho Possivel”, Mc Rah e Dj Tripa
  • “Renasci das Cinzas”, Mc Daniel e Mc Paulin da Capital
  • “Seek & Destroy”, Metallica

Felipe Nunes

  • “On the River”, Offset
  • “Love Songs”, Kaash Paige
  • “What To Do?”, Jackboys e Travis Scott ft. Don Toliver
  • “Metal Health”, Quiet Riot
  • “Paranoid”, Black Sabbath

Augusto Akio

  • “Calma Aí, Coração”, Zeca Baleiro
  • “Возможно”, My
  • “Ainda Gosto Dela”, Skank
  • “Kung Fu Fighting”, Carl Douglas
  • “Fat Lip”, Sum 41

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