Autógrafos, rotina diária pesada de treinamentos, cuidados com a alimentação, acompanhamento psicológico e uma carreira relativamente curta. A descrição bate tranquilamente com o dia a dia de qualquer atleta, mas estamos falando da vida de um pro player de eSports, aqueles profissionais que lotam ginásios e locais de jogos finais e têm milhões de seguidores nas redes sociais.
Segundo Rafael Queiroz, gerente geral no Brasil do Team Liquid, os atletas iniciam sua jornada nas competições em jogos com amigos, que evoluem para times formado por eles com outras pessoas próximas para torneios locais e jogos ranqueados, onde olheiros detectam esses talentos e os trazem para as equipes iniciais e torneios menores.
Dedicação na rotina de treinos e campeonatos é apontada por Aline Maryama, Head de parcerias da equipe Furia eSports, como o ponto de partida para uma carreira dedicada aos games. “É viver do sonho, mas enxergar que isso também é extremamente profissional, exige dedicação e abrir mão de algumas coisas também”, afirmou.
Ela cita como exemplo o time internacional de Counter-Strike: Global Offensive, que está em Estocolmo, na Suécia, jogando classificatórias para a Major do Rio de Janeiro, que acontece no final de outubro deste ano. Os integrantes da equipe estão há alguns meses sem ver a família, namoradas e concentrados no objetivo maior da classificação e o sonho do reconhecimento como atletas mundiais da categoria.
Ex-jogador e atualmente streamer e organizador de campeonatos, Rafael “rakin” Knittel conta como foi o processo de aceitação da família, em uma época em que os torneios e a vida como pro player não passava de uma utopia. “Os primeiros campeonatos eram feitos em garagens, não tinha nada disso que temos hoje”, afirmou.
Rakin fala ainda da relação com o pai militar no início de carreira. “Meu pai ameaçava jogar o PC pela janela, escondia o cabo do carregar”, lembra. Mas diz que hoje é um dos maiores incentivadores e inclusive ajuda o filho com a organização financeira de sua empresa e assiste aos seus vídeos.
O início da carreira, que geralmente se dá entre os 14 e 16 anos, é uma das preocupações presentes nas games houses, local onde os atletas passam longos períodos.
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Como é a vida de um jogador profissional de games, saiba tudo sobre essa galera que tem uma rotina diária tão pesada quanto a de um atleta esportivo
Furia e Liquid têm processos de acompanhamento escolar e psicológico para os atletas e suas famílias. Aline e Rafael enfatizam que as obrigações acadêmicas fazem parte do treinamento e da participação em eventos, atrelando o “passar de ano” para competir em qualquer categoria.
O acompanhamento psicológico da família, segundo Rafael Queiroz e Aline Maryama, é essencial em diversas situações, inclusive financeiras, porque o jovem se vê na situação de ter mais renda que os pais e essa orientação ajuda a não perder o senso de realidade.
Leonardo “frttt” Braz começou na carreira de gamer em 2008. À época, existia uma estrutura precária, muito distante da atual realidade do cenário. Ele conta que até viajou para competir sem o conhecimento da família, algo que hoje não existe mais. “Eles ficaram de boa, me apoiaram. A única cobrança foi quanto ao estudo. Eu trabalhava e treinava nas horas vagas”, afirmou.
O tempo de carreira de um pro player é variado e tem diversas influências que vão além da idade. Alguns como “frttt” tiveram de parar de jogar profissionalmente por causa de trabalho e dos estudos, voltando dez anos depois para o cenário gamer como streamer. Já Rakin sentia falta da interação com o público e se sentia extenuado com a rotina de treinos até perceber que não “encaixava” mais com essa carreira.
Aline Maryama lembra que muitos dos que “aposentaram o mouse” no time Furia continuam trabalhando na organização em diversas funções, como de backoffice, na retaguarda, como ela mesma. Esses profissionais ganham uma sobrevida na carreira justamente por tudo que mostraram quando eram pro players, recebendo oportunidades até melhores agora.