Resiliência levou Flávia Saraiva às medalhas após lesões, burnout e desejo de largar a ginástica


Ginasta pensou em desistir após sentir recorrentes dores, mas se recuperou com cinco medalhas no Pan, duas no Mundial e agora almeja o pódio em Paris-2024: ‘Estou trabalhando pelas medalhas’

Por Ricardo Magatti
Foto: Ricardo Bufolin/COB
Entrevista comFlávia Saraivaginasta brasileira

Flávia Saraiva terminou 2023 sorrindo. Foram cinco medalhas no Pan de Santiago e duas no Campeonato Mundial de Ginástica. O ano foi de renascimento para a ginasta de 24 anos, que cogitou se aposentar meses antes. No fim de 2022, a carioca passou por cirurgia no tornozelo e encarou uma dolorida recuperação. Chorava e se queixava das dores que não lhe deixavam treinar. Mas a resiliência, ela diz, a levou às vitórias e à classificação aos Jogos Olímpicos de Paris, sua grande prioridade em 2024.

“Digo que a minha versão atual é a mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições, justifica a atleta, em entrevista exclusiva ao Estadão. “Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados”.

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Ela deu seus primeiros saltos aos 8 anos. São, portanto, 16 temporadas dedicadas à ginástica, histórias, aprendizados e a ansiedade para disputar a sua terceira Olimpíada. “A gente está trabalhando pelas medalhas”, diz ela. “Podem esperar muita alegria, luta, força, foco”. Enquanto almeja o pódio em Paris, Flávia trabalha para inspirar novos talentos na ginástica. Como sua parceira Rebeca Andrade, a garota de 1,45m aconselha as jovens atletas e espera que mais garotas pratiquem ginástica. No ano passado, ela foi eleita Atleta da Torcida no Prêmio Brasil Olímpico.

“Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: ‘a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade’. A gente sabe que muitas portas foram abertas”, afirma. A atleta é uma das embaixadoras da Liga Esportiva Nescau, maior campeonato poliesportivo estudantil e pioneiro em unir as modalidades convencionais e adaptadas. O torneio impactou a vida de mais de 55 mil crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, com a participação de cerca de 2 mil instituições brasileiras.

Flávia Saraiva diz que resiliência o levou às vitórias na ginástica depois de lesões e burnout Foto: Ricardo Bufolin/COB
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Você contou que pensou em parar de treinar por causa das dores que sentia. Como foi esse período?

Depois da minha segunda cirurgia, mexeu muito com meu tornozelo. Foi difícil pra mim, como atleta, ter que treinar todos os dias com essa dor. Sabia que na volta da cirurgia iria doer, mas daquela vez foi diferente. Foi uma cirurgia nova para o esporte. Eu não estava acostumada a sentir aquele tipo de dor nos treinamentos. Mexeu muito comigo, me impactou. Mas eu tenho uma equipe grande e forte para eu conseguir voltar a treinar e ter os melhores resultados. Sou atleta, não tem como falar que não sinto dor. Mas estou muito melhor. Tenho uma equipe multidisciplinar muito grande com médicos, fisioterapeutas, preparador físico. Eles auxiliam a gente em cada fase. A ideia é melhorar cada vez, tanto na preparação física, para evitar as lesões, fortalecer tudo, como na fisioterapia, para cuidar das lesões. Os médicos nos monitoram 100% do tempo.

Nesse sentido, 2023, com as medalhas no Pan e no Mundial, foi um ano de renascimento para você?

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Foi um ano muito importante pra minha carreira. Conquistar esses resultados foi um sonho, não só meu, de toda equipe, da minha família, do Brasil, pode-se dizer. Foi um ano de sonhos realizados para a ginástica brasileira. A gente sabe que tinha total capacidade de conseguir esses resultados antes, a medalha por equipe, o bronze no solo, mas sempre tinha algum impedimento, lesão, algo do tipo. Quando a gente conquistou as medalhas, vi que tudo que aconteceu valeu a pena. Conseguimos continuar e estávamos preparadas, prontas para receber esses resultados também. A gente tem que estar pronta para competir bem e ganhar as medalhas.

Foi difícil pra você encarar desde cedo altas expectativas sobre si?

Eu comecei com 8 anos e aprendi, desde muito cedo, a lidar com a pressão do esporte. Na minha primeira Olimpíada eu tinha 16 anos, era tudo muito novo para uma menina tão jovem que não entendia muito bem onde estava, mas era madura suficiente para competir. Vejo que minha preparação foi boa até eu conseguir conquistar meus resultados estando mais velha e amadurecer cada vez mais em cada competição.

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Considerando todos os aspectos - mental, físico e técnico - depois de tudo que passou na ginástica, essa é a melhor sua melhor versão?

Digo que é a versão mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições. Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados.

Flávia Saraiva exibe uma de suas medalhas conquistas no Pan de Santiago Foto: Alexandre Loureiro/COB
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É também o melhor momento da ginástica brasileira em muito tempo?

A gente já vem construindo esses resultados há muitos anos. Tivemos a Dani (Hypólito), a Daiane (dos Santos), o (Arthur) Zanetti, o Diego (Hypólito), o (Arthur) Nory... Vieram as medalhas olímpicas com eles. As medalhas da Rebeca abriram a porta para a ginástica feminina na Olimpíada. Então, a gente já vem construindo há algum tempo. Obviamente a gente quer ver uma equipe cheia, com bons resultados. Vejo como uma boa fase da ginástica brasileira, mas que pode ser melhor. Queremos melhorar cada vez mais. Agradecemos sempre os atletas que vieram antes e abriram as portas para nós.

Além das lesões, você teve questões emocionais para administrar. Você contou que passava dias sem dormir e chorava muito. Como fortaleceu sua saúde mental?

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Não foi tanto pela pressão das pessoas, foi mais pela pressão minha mesmo. Tive burnout na época. É um cansaço mental muito grande, uma cobrança que nós atletas fazemos conosco. Eu acabei ficando muito preocupada com meu treinamento, com as competições. Tive uma equipe excelente por trás para passar por isso. A pior cobrança é a nossa. A gente treina muito, sete horas por dia, para nos apresentar em um minuto e meio. É muito detalhe, tem a questão de inspirar atletas, isso gera uma cobrança muito grande. Minha equipe me ajudou a entender que não tem de ser uma cobrança pesada. Eu faço ginástica porque amo, porque gosto de competir. Isso foi importante para que eu desse esse passo, melhorasse e tirasse esse peso das minhas costas.

O debate sobre saúde mental na ginástica e no esporte evoluiu muito depois que a Simone Biles se afastou de quatro finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Com certeza. A Simone Biles abriu muitas portas para os atletas poderem falar, se expressar. Isso já vem sendo falado antes de Tóquio, mas quando a gente vê uma atleta histórica, medalhista olímpica, como ele, a gente consegue falar livremente sobre saúde mental. As pessoas acham que o atleta é um super-herói, mas temos nossos dias bons e ruins.

Como está a preparação para Paris?

A gente está treinando a todo vapor. Sei o quão importante é uma Olimpíada. Tento sempre passar a importância dos Jogos Olímpicos para a nova geração. Estou treinando muito para que chegue lá da melhor forma possível e ter os melhores resultados.

Flávia Saraiva que inspirar jovens ginastas Foto: Divulgação/Nescau

O que dá para esperar da Flávia Saraiva na Olimpíada de Paris?

Podem esperar muita alegria, luta, força, foco. A gente está dando tudo de si para fazer a melhor competição possível. Que a gente brilhe muito na competição. A gente está trabalhando pelas medalhas.

A participação feminina da delegação brasileira e o número de medalhas de atletas mulheres tem aumentado nas últimas edições. Em Tóquio, nove das 21 medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres. Você crê que o protagonismo de vocês, mulheres, em Paris será ainda maior?

Espero que sim. Estamos vendo um grande crescimento das mulheres no esporte. Que a gente possa incentivar cada vez mais meninas a praticar esporte e buscar seus sonhos. Como eu, como a Rebeca, outras meninas também podem acreditar e fazer ginástica. Quero ver o crescimento do esporte brasileiro, não só feminino. Mas eu sou mulher e torço muito para o esporte feminino crescer. Como eu fui ajudada pela Jade (Barbosa), pela Dani (Hypólto), pela Daiane (dos Santos), eu incentivo as mais novas, tento mostrar os sonhos e objetivos que podemos realizar. Mostro a sensação de representar o seu país, competir em Olimpíada, Mundial. Tento sempre passar isso.

Como o Brasil pode produzir e preparar novas Flávias?

O Brasil já vem preparando muitas atletas. Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: “a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade”. A gente sabe que muitas portas foram abertas para que venham outras Rebecas, Flávias, Jades, ou novas Júlias, o nome delas mesmo.

Flávia Saraiva terminou 2023 sorrindo. Foram cinco medalhas no Pan de Santiago e duas no Campeonato Mundial de Ginástica. O ano foi de renascimento para a ginasta de 24 anos, que cogitou se aposentar meses antes. No fim de 2022, a carioca passou por cirurgia no tornozelo e encarou uma dolorida recuperação. Chorava e se queixava das dores que não lhe deixavam treinar. Mas a resiliência, ela diz, a levou às vitórias e à classificação aos Jogos Olímpicos de Paris, sua grande prioridade em 2024.

“Digo que a minha versão atual é a mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições, justifica a atleta, em entrevista exclusiva ao Estadão. “Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados”.

Ela deu seus primeiros saltos aos 8 anos. São, portanto, 16 temporadas dedicadas à ginástica, histórias, aprendizados e a ansiedade para disputar a sua terceira Olimpíada. “A gente está trabalhando pelas medalhas”, diz ela. “Podem esperar muita alegria, luta, força, foco”. Enquanto almeja o pódio em Paris, Flávia trabalha para inspirar novos talentos na ginástica. Como sua parceira Rebeca Andrade, a garota de 1,45m aconselha as jovens atletas e espera que mais garotas pratiquem ginástica. No ano passado, ela foi eleita Atleta da Torcida no Prêmio Brasil Olímpico.

“Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: ‘a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade’. A gente sabe que muitas portas foram abertas”, afirma. A atleta é uma das embaixadoras da Liga Esportiva Nescau, maior campeonato poliesportivo estudantil e pioneiro em unir as modalidades convencionais e adaptadas. O torneio impactou a vida de mais de 55 mil crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, com a participação de cerca de 2 mil instituições brasileiras.

Flávia Saraiva diz que resiliência o levou às vitórias na ginástica depois de lesões e burnout Foto: Ricardo Bufolin/COB

Você contou que pensou em parar de treinar por causa das dores que sentia. Como foi esse período?

Depois da minha segunda cirurgia, mexeu muito com meu tornozelo. Foi difícil pra mim, como atleta, ter que treinar todos os dias com essa dor. Sabia que na volta da cirurgia iria doer, mas daquela vez foi diferente. Foi uma cirurgia nova para o esporte. Eu não estava acostumada a sentir aquele tipo de dor nos treinamentos. Mexeu muito comigo, me impactou. Mas eu tenho uma equipe grande e forte para eu conseguir voltar a treinar e ter os melhores resultados. Sou atleta, não tem como falar que não sinto dor. Mas estou muito melhor. Tenho uma equipe multidisciplinar muito grande com médicos, fisioterapeutas, preparador físico. Eles auxiliam a gente em cada fase. A ideia é melhorar cada vez, tanto na preparação física, para evitar as lesões, fortalecer tudo, como na fisioterapia, para cuidar das lesões. Os médicos nos monitoram 100% do tempo.

Nesse sentido, 2023, com as medalhas no Pan e no Mundial, foi um ano de renascimento para você?

Foi um ano muito importante pra minha carreira. Conquistar esses resultados foi um sonho, não só meu, de toda equipe, da minha família, do Brasil, pode-se dizer. Foi um ano de sonhos realizados para a ginástica brasileira. A gente sabe que tinha total capacidade de conseguir esses resultados antes, a medalha por equipe, o bronze no solo, mas sempre tinha algum impedimento, lesão, algo do tipo. Quando a gente conquistou as medalhas, vi que tudo que aconteceu valeu a pena. Conseguimos continuar e estávamos preparadas, prontas para receber esses resultados também. A gente tem que estar pronta para competir bem e ganhar as medalhas.

Foi difícil pra você encarar desde cedo altas expectativas sobre si?

Eu comecei com 8 anos e aprendi, desde muito cedo, a lidar com a pressão do esporte. Na minha primeira Olimpíada eu tinha 16 anos, era tudo muito novo para uma menina tão jovem que não entendia muito bem onde estava, mas era madura suficiente para competir. Vejo que minha preparação foi boa até eu conseguir conquistar meus resultados estando mais velha e amadurecer cada vez mais em cada competição.

Considerando todos os aspectos - mental, físico e técnico - depois de tudo que passou na ginástica, essa é a melhor sua melhor versão?

Digo que é a versão mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições. Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados.

Flávia Saraiva exibe uma de suas medalhas conquistas no Pan de Santiago Foto: Alexandre Loureiro/COB

É também o melhor momento da ginástica brasileira em muito tempo?

A gente já vem construindo esses resultados há muitos anos. Tivemos a Dani (Hypólito), a Daiane (dos Santos), o (Arthur) Zanetti, o Diego (Hypólito), o (Arthur) Nory... Vieram as medalhas olímpicas com eles. As medalhas da Rebeca abriram a porta para a ginástica feminina na Olimpíada. Então, a gente já vem construindo há algum tempo. Obviamente a gente quer ver uma equipe cheia, com bons resultados. Vejo como uma boa fase da ginástica brasileira, mas que pode ser melhor. Queremos melhorar cada vez mais. Agradecemos sempre os atletas que vieram antes e abriram as portas para nós.

Além das lesões, você teve questões emocionais para administrar. Você contou que passava dias sem dormir e chorava muito. Como fortaleceu sua saúde mental?

Não foi tanto pela pressão das pessoas, foi mais pela pressão minha mesmo. Tive burnout na época. É um cansaço mental muito grande, uma cobrança que nós atletas fazemos conosco. Eu acabei ficando muito preocupada com meu treinamento, com as competições. Tive uma equipe excelente por trás para passar por isso. A pior cobrança é a nossa. A gente treina muito, sete horas por dia, para nos apresentar em um minuto e meio. É muito detalhe, tem a questão de inspirar atletas, isso gera uma cobrança muito grande. Minha equipe me ajudou a entender que não tem de ser uma cobrança pesada. Eu faço ginástica porque amo, porque gosto de competir. Isso foi importante para que eu desse esse passo, melhorasse e tirasse esse peso das minhas costas.

O debate sobre saúde mental na ginástica e no esporte evoluiu muito depois que a Simone Biles se afastou de quatro finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Com certeza. A Simone Biles abriu muitas portas para os atletas poderem falar, se expressar. Isso já vem sendo falado antes de Tóquio, mas quando a gente vê uma atleta histórica, medalhista olímpica, como ele, a gente consegue falar livremente sobre saúde mental. As pessoas acham que o atleta é um super-herói, mas temos nossos dias bons e ruins.

Como está a preparação para Paris?

A gente está treinando a todo vapor. Sei o quão importante é uma Olimpíada. Tento sempre passar a importância dos Jogos Olímpicos para a nova geração. Estou treinando muito para que chegue lá da melhor forma possível e ter os melhores resultados.

Flávia Saraiva que inspirar jovens ginastas Foto: Divulgação/Nescau

O que dá para esperar da Flávia Saraiva na Olimpíada de Paris?

Podem esperar muita alegria, luta, força, foco. A gente está dando tudo de si para fazer a melhor competição possível. Que a gente brilhe muito na competição. A gente está trabalhando pelas medalhas.

A participação feminina da delegação brasileira e o número de medalhas de atletas mulheres tem aumentado nas últimas edições. Em Tóquio, nove das 21 medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres. Você crê que o protagonismo de vocês, mulheres, em Paris será ainda maior?

Espero que sim. Estamos vendo um grande crescimento das mulheres no esporte. Que a gente possa incentivar cada vez mais meninas a praticar esporte e buscar seus sonhos. Como eu, como a Rebeca, outras meninas também podem acreditar e fazer ginástica. Quero ver o crescimento do esporte brasileiro, não só feminino. Mas eu sou mulher e torço muito para o esporte feminino crescer. Como eu fui ajudada pela Jade (Barbosa), pela Dani (Hypólto), pela Daiane (dos Santos), eu incentivo as mais novas, tento mostrar os sonhos e objetivos que podemos realizar. Mostro a sensação de representar o seu país, competir em Olimpíada, Mundial. Tento sempre passar isso.

Como o Brasil pode produzir e preparar novas Flávias?

O Brasil já vem preparando muitas atletas. Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: “a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade”. A gente sabe que muitas portas foram abertas para que venham outras Rebecas, Flávias, Jades, ou novas Júlias, o nome delas mesmo.

Flávia Saraiva terminou 2023 sorrindo. Foram cinco medalhas no Pan de Santiago e duas no Campeonato Mundial de Ginástica. O ano foi de renascimento para a ginasta de 24 anos, que cogitou se aposentar meses antes. No fim de 2022, a carioca passou por cirurgia no tornozelo e encarou uma dolorida recuperação. Chorava e se queixava das dores que não lhe deixavam treinar. Mas a resiliência, ela diz, a levou às vitórias e à classificação aos Jogos Olímpicos de Paris, sua grande prioridade em 2024.

“Digo que a minha versão atual é a mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições, justifica a atleta, em entrevista exclusiva ao Estadão. “Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados”.

Ela deu seus primeiros saltos aos 8 anos. São, portanto, 16 temporadas dedicadas à ginástica, histórias, aprendizados e a ansiedade para disputar a sua terceira Olimpíada. “A gente está trabalhando pelas medalhas”, diz ela. “Podem esperar muita alegria, luta, força, foco”. Enquanto almeja o pódio em Paris, Flávia trabalha para inspirar novos talentos na ginástica. Como sua parceira Rebeca Andrade, a garota de 1,45m aconselha as jovens atletas e espera que mais garotas pratiquem ginástica. No ano passado, ela foi eleita Atleta da Torcida no Prêmio Brasil Olímpico.

“Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: ‘a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade’. A gente sabe que muitas portas foram abertas”, afirma. A atleta é uma das embaixadoras da Liga Esportiva Nescau, maior campeonato poliesportivo estudantil e pioneiro em unir as modalidades convencionais e adaptadas. O torneio impactou a vida de mais de 55 mil crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, com a participação de cerca de 2 mil instituições brasileiras.

Flávia Saraiva diz que resiliência o levou às vitórias na ginástica depois de lesões e burnout Foto: Ricardo Bufolin/COB

Você contou que pensou em parar de treinar por causa das dores que sentia. Como foi esse período?

Depois da minha segunda cirurgia, mexeu muito com meu tornozelo. Foi difícil pra mim, como atleta, ter que treinar todos os dias com essa dor. Sabia que na volta da cirurgia iria doer, mas daquela vez foi diferente. Foi uma cirurgia nova para o esporte. Eu não estava acostumada a sentir aquele tipo de dor nos treinamentos. Mexeu muito comigo, me impactou. Mas eu tenho uma equipe grande e forte para eu conseguir voltar a treinar e ter os melhores resultados. Sou atleta, não tem como falar que não sinto dor. Mas estou muito melhor. Tenho uma equipe multidisciplinar muito grande com médicos, fisioterapeutas, preparador físico. Eles auxiliam a gente em cada fase. A ideia é melhorar cada vez, tanto na preparação física, para evitar as lesões, fortalecer tudo, como na fisioterapia, para cuidar das lesões. Os médicos nos monitoram 100% do tempo.

Nesse sentido, 2023, com as medalhas no Pan e no Mundial, foi um ano de renascimento para você?

Foi um ano muito importante pra minha carreira. Conquistar esses resultados foi um sonho, não só meu, de toda equipe, da minha família, do Brasil, pode-se dizer. Foi um ano de sonhos realizados para a ginástica brasileira. A gente sabe que tinha total capacidade de conseguir esses resultados antes, a medalha por equipe, o bronze no solo, mas sempre tinha algum impedimento, lesão, algo do tipo. Quando a gente conquistou as medalhas, vi que tudo que aconteceu valeu a pena. Conseguimos continuar e estávamos preparadas, prontas para receber esses resultados também. A gente tem que estar pronta para competir bem e ganhar as medalhas.

Foi difícil pra você encarar desde cedo altas expectativas sobre si?

Eu comecei com 8 anos e aprendi, desde muito cedo, a lidar com a pressão do esporte. Na minha primeira Olimpíada eu tinha 16 anos, era tudo muito novo para uma menina tão jovem que não entendia muito bem onde estava, mas era madura suficiente para competir. Vejo que minha preparação foi boa até eu conseguir conquistar meus resultados estando mais velha e amadurecer cada vez mais em cada competição.

Considerando todos os aspectos - mental, físico e técnico - depois de tudo que passou na ginástica, essa é a melhor sua melhor versão?

Digo que é a versão mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições. Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados.

Flávia Saraiva exibe uma de suas medalhas conquistas no Pan de Santiago Foto: Alexandre Loureiro/COB

É também o melhor momento da ginástica brasileira em muito tempo?

A gente já vem construindo esses resultados há muitos anos. Tivemos a Dani (Hypólito), a Daiane (dos Santos), o (Arthur) Zanetti, o Diego (Hypólito), o (Arthur) Nory... Vieram as medalhas olímpicas com eles. As medalhas da Rebeca abriram a porta para a ginástica feminina na Olimpíada. Então, a gente já vem construindo há algum tempo. Obviamente a gente quer ver uma equipe cheia, com bons resultados. Vejo como uma boa fase da ginástica brasileira, mas que pode ser melhor. Queremos melhorar cada vez mais. Agradecemos sempre os atletas que vieram antes e abriram as portas para nós.

Além das lesões, você teve questões emocionais para administrar. Você contou que passava dias sem dormir e chorava muito. Como fortaleceu sua saúde mental?

Não foi tanto pela pressão das pessoas, foi mais pela pressão minha mesmo. Tive burnout na época. É um cansaço mental muito grande, uma cobrança que nós atletas fazemos conosco. Eu acabei ficando muito preocupada com meu treinamento, com as competições. Tive uma equipe excelente por trás para passar por isso. A pior cobrança é a nossa. A gente treina muito, sete horas por dia, para nos apresentar em um minuto e meio. É muito detalhe, tem a questão de inspirar atletas, isso gera uma cobrança muito grande. Minha equipe me ajudou a entender que não tem de ser uma cobrança pesada. Eu faço ginástica porque amo, porque gosto de competir. Isso foi importante para que eu desse esse passo, melhorasse e tirasse esse peso das minhas costas.

O debate sobre saúde mental na ginástica e no esporte evoluiu muito depois que a Simone Biles se afastou de quatro finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Com certeza. A Simone Biles abriu muitas portas para os atletas poderem falar, se expressar. Isso já vem sendo falado antes de Tóquio, mas quando a gente vê uma atleta histórica, medalhista olímpica, como ele, a gente consegue falar livremente sobre saúde mental. As pessoas acham que o atleta é um super-herói, mas temos nossos dias bons e ruins.

Como está a preparação para Paris?

A gente está treinando a todo vapor. Sei o quão importante é uma Olimpíada. Tento sempre passar a importância dos Jogos Olímpicos para a nova geração. Estou treinando muito para que chegue lá da melhor forma possível e ter os melhores resultados.

Flávia Saraiva que inspirar jovens ginastas Foto: Divulgação/Nescau

O que dá para esperar da Flávia Saraiva na Olimpíada de Paris?

Podem esperar muita alegria, luta, força, foco. A gente está dando tudo de si para fazer a melhor competição possível. Que a gente brilhe muito na competição. A gente está trabalhando pelas medalhas.

A participação feminina da delegação brasileira e o número de medalhas de atletas mulheres tem aumentado nas últimas edições. Em Tóquio, nove das 21 medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres. Você crê que o protagonismo de vocês, mulheres, em Paris será ainda maior?

Espero que sim. Estamos vendo um grande crescimento das mulheres no esporte. Que a gente possa incentivar cada vez mais meninas a praticar esporte e buscar seus sonhos. Como eu, como a Rebeca, outras meninas também podem acreditar e fazer ginástica. Quero ver o crescimento do esporte brasileiro, não só feminino. Mas eu sou mulher e torço muito para o esporte feminino crescer. Como eu fui ajudada pela Jade (Barbosa), pela Dani (Hypólto), pela Daiane (dos Santos), eu incentivo as mais novas, tento mostrar os sonhos e objetivos que podemos realizar. Mostro a sensação de representar o seu país, competir em Olimpíada, Mundial. Tento sempre passar isso.

Como o Brasil pode produzir e preparar novas Flávias?

O Brasil já vem preparando muitas atletas. Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: “a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade”. A gente sabe que muitas portas foram abertas para que venham outras Rebecas, Flávias, Jades, ou novas Júlias, o nome delas mesmo.

Flávia Saraiva terminou 2023 sorrindo. Foram cinco medalhas no Pan de Santiago e duas no Campeonato Mundial de Ginástica. O ano foi de renascimento para a ginasta de 24 anos, que cogitou se aposentar meses antes. No fim de 2022, a carioca passou por cirurgia no tornozelo e encarou uma dolorida recuperação. Chorava e se queixava das dores que não lhe deixavam treinar. Mas a resiliência, ela diz, a levou às vitórias e à classificação aos Jogos Olímpicos de Paris, sua grande prioridade em 2024.

“Digo que a minha versão atual é a mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições, justifica a atleta, em entrevista exclusiva ao Estadão. “Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados”.

Ela deu seus primeiros saltos aos 8 anos. São, portanto, 16 temporadas dedicadas à ginástica, histórias, aprendizados e a ansiedade para disputar a sua terceira Olimpíada. “A gente está trabalhando pelas medalhas”, diz ela. “Podem esperar muita alegria, luta, força, foco”. Enquanto almeja o pódio em Paris, Flávia trabalha para inspirar novos talentos na ginástica. Como sua parceira Rebeca Andrade, a garota de 1,45m aconselha as jovens atletas e espera que mais garotas pratiquem ginástica. No ano passado, ela foi eleita Atleta da Torcida no Prêmio Brasil Olímpico.

“Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: ‘a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade’. A gente sabe que muitas portas foram abertas”, afirma. A atleta é uma das embaixadoras da Liga Esportiva Nescau, maior campeonato poliesportivo estudantil e pioneiro em unir as modalidades convencionais e adaptadas. O torneio impactou a vida de mais de 55 mil crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, com a participação de cerca de 2 mil instituições brasileiras.

Flávia Saraiva diz que resiliência o levou às vitórias na ginástica depois de lesões e burnout Foto: Ricardo Bufolin/COB

Você contou que pensou em parar de treinar por causa das dores que sentia. Como foi esse período?

Depois da minha segunda cirurgia, mexeu muito com meu tornozelo. Foi difícil pra mim, como atleta, ter que treinar todos os dias com essa dor. Sabia que na volta da cirurgia iria doer, mas daquela vez foi diferente. Foi uma cirurgia nova para o esporte. Eu não estava acostumada a sentir aquele tipo de dor nos treinamentos. Mexeu muito comigo, me impactou. Mas eu tenho uma equipe grande e forte para eu conseguir voltar a treinar e ter os melhores resultados. Sou atleta, não tem como falar que não sinto dor. Mas estou muito melhor. Tenho uma equipe multidisciplinar muito grande com médicos, fisioterapeutas, preparador físico. Eles auxiliam a gente em cada fase. A ideia é melhorar cada vez, tanto na preparação física, para evitar as lesões, fortalecer tudo, como na fisioterapia, para cuidar das lesões. Os médicos nos monitoram 100% do tempo.

Nesse sentido, 2023, com as medalhas no Pan e no Mundial, foi um ano de renascimento para você?

Foi um ano muito importante pra minha carreira. Conquistar esses resultados foi um sonho, não só meu, de toda equipe, da minha família, do Brasil, pode-se dizer. Foi um ano de sonhos realizados para a ginástica brasileira. A gente sabe que tinha total capacidade de conseguir esses resultados antes, a medalha por equipe, o bronze no solo, mas sempre tinha algum impedimento, lesão, algo do tipo. Quando a gente conquistou as medalhas, vi que tudo que aconteceu valeu a pena. Conseguimos continuar e estávamos preparadas, prontas para receber esses resultados também. A gente tem que estar pronta para competir bem e ganhar as medalhas.

Foi difícil pra você encarar desde cedo altas expectativas sobre si?

Eu comecei com 8 anos e aprendi, desde muito cedo, a lidar com a pressão do esporte. Na minha primeira Olimpíada eu tinha 16 anos, era tudo muito novo para uma menina tão jovem que não entendia muito bem onde estava, mas era madura suficiente para competir. Vejo que minha preparação foi boa até eu conseguir conquistar meus resultados estando mais velha e amadurecer cada vez mais em cada competição.

Considerando todos os aspectos - mental, físico e técnico - depois de tudo que passou na ginástica, essa é a melhor sua melhor versão?

Digo que é a versão mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições. Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados.

Flávia Saraiva exibe uma de suas medalhas conquistas no Pan de Santiago Foto: Alexandre Loureiro/COB

É também o melhor momento da ginástica brasileira em muito tempo?

A gente já vem construindo esses resultados há muitos anos. Tivemos a Dani (Hypólito), a Daiane (dos Santos), o (Arthur) Zanetti, o Diego (Hypólito), o (Arthur) Nory... Vieram as medalhas olímpicas com eles. As medalhas da Rebeca abriram a porta para a ginástica feminina na Olimpíada. Então, a gente já vem construindo há algum tempo. Obviamente a gente quer ver uma equipe cheia, com bons resultados. Vejo como uma boa fase da ginástica brasileira, mas que pode ser melhor. Queremos melhorar cada vez mais. Agradecemos sempre os atletas que vieram antes e abriram as portas para nós.

Além das lesões, você teve questões emocionais para administrar. Você contou que passava dias sem dormir e chorava muito. Como fortaleceu sua saúde mental?

Não foi tanto pela pressão das pessoas, foi mais pela pressão minha mesmo. Tive burnout na época. É um cansaço mental muito grande, uma cobrança que nós atletas fazemos conosco. Eu acabei ficando muito preocupada com meu treinamento, com as competições. Tive uma equipe excelente por trás para passar por isso. A pior cobrança é a nossa. A gente treina muito, sete horas por dia, para nos apresentar em um minuto e meio. É muito detalhe, tem a questão de inspirar atletas, isso gera uma cobrança muito grande. Minha equipe me ajudou a entender que não tem de ser uma cobrança pesada. Eu faço ginástica porque amo, porque gosto de competir. Isso foi importante para que eu desse esse passo, melhorasse e tirasse esse peso das minhas costas.

O debate sobre saúde mental na ginástica e no esporte evoluiu muito depois que a Simone Biles se afastou de quatro finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Com certeza. A Simone Biles abriu muitas portas para os atletas poderem falar, se expressar. Isso já vem sendo falado antes de Tóquio, mas quando a gente vê uma atleta histórica, medalhista olímpica, como ele, a gente consegue falar livremente sobre saúde mental. As pessoas acham que o atleta é um super-herói, mas temos nossos dias bons e ruins.

Como está a preparação para Paris?

A gente está treinando a todo vapor. Sei o quão importante é uma Olimpíada. Tento sempre passar a importância dos Jogos Olímpicos para a nova geração. Estou treinando muito para que chegue lá da melhor forma possível e ter os melhores resultados.

Flávia Saraiva que inspirar jovens ginastas Foto: Divulgação/Nescau

O que dá para esperar da Flávia Saraiva na Olimpíada de Paris?

Podem esperar muita alegria, luta, força, foco. A gente está dando tudo de si para fazer a melhor competição possível. Que a gente brilhe muito na competição. A gente está trabalhando pelas medalhas.

A participação feminina da delegação brasileira e o número de medalhas de atletas mulheres tem aumentado nas últimas edições. Em Tóquio, nove das 21 medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres. Você crê que o protagonismo de vocês, mulheres, em Paris será ainda maior?

Espero que sim. Estamos vendo um grande crescimento das mulheres no esporte. Que a gente possa incentivar cada vez mais meninas a praticar esporte e buscar seus sonhos. Como eu, como a Rebeca, outras meninas também podem acreditar e fazer ginástica. Quero ver o crescimento do esporte brasileiro, não só feminino. Mas eu sou mulher e torço muito para o esporte feminino crescer. Como eu fui ajudada pela Jade (Barbosa), pela Dani (Hypólto), pela Daiane (dos Santos), eu incentivo as mais novas, tento mostrar os sonhos e objetivos que podemos realizar. Mostro a sensação de representar o seu país, competir em Olimpíada, Mundial. Tento sempre passar isso.

Como o Brasil pode produzir e preparar novas Flávias?

O Brasil já vem preparando muitas atletas. Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: “a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade”. A gente sabe que muitas portas foram abertas para que venham outras Rebecas, Flávias, Jades, ou novas Júlias, o nome delas mesmo.

Flávia Saraiva terminou 2023 sorrindo. Foram cinco medalhas no Pan de Santiago e duas no Campeonato Mundial de Ginástica. O ano foi de renascimento para a ginasta de 24 anos, que cogitou se aposentar meses antes. No fim de 2022, a carioca passou por cirurgia no tornozelo e encarou uma dolorida recuperação. Chorava e se queixava das dores que não lhe deixavam treinar. Mas a resiliência, ela diz, a levou às vitórias e à classificação aos Jogos Olímpicos de Paris, sua grande prioridade em 2024.

“Digo que a minha versão atual é a mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições, justifica a atleta, em entrevista exclusiva ao Estadão. “Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados”.

Ela deu seus primeiros saltos aos 8 anos. São, portanto, 16 temporadas dedicadas à ginástica, histórias, aprendizados e a ansiedade para disputar a sua terceira Olimpíada. “A gente está trabalhando pelas medalhas”, diz ela. “Podem esperar muita alegria, luta, força, foco”. Enquanto almeja o pódio em Paris, Flávia trabalha para inspirar novos talentos na ginástica. Como sua parceira Rebeca Andrade, a garota de 1,45m aconselha as jovens atletas e espera que mais garotas pratiquem ginástica. No ano passado, ela foi eleita Atleta da Torcida no Prêmio Brasil Olímpico.

“Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: ‘a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade’. A gente sabe que muitas portas foram abertas”, afirma. A atleta é uma das embaixadoras da Liga Esportiva Nescau, maior campeonato poliesportivo estudantil e pioneiro em unir as modalidades convencionais e adaptadas. O torneio impactou a vida de mais de 55 mil crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, com a participação de cerca de 2 mil instituições brasileiras.

Flávia Saraiva diz que resiliência o levou às vitórias na ginástica depois de lesões e burnout Foto: Ricardo Bufolin/COB

Você contou que pensou em parar de treinar por causa das dores que sentia. Como foi esse período?

Depois da minha segunda cirurgia, mexeu muito com meu tornozelo. Foi difícil pra mim, como atleta, ter que treinar todos os dias com essa dor. Sabia que na volta da cirurgia iria doer, mas daquela vez foi diferente. Foi uma cirurgia nova para o esporte. Eu não estava acostumada a sentir aquele tipo de dor nos treinamentos. Mexeu muito comigo, me impactou. Mas eu tenho uma equipe grande e forte para eu conseguir voltar a treinar e ter os melhores resultados. Sou atleta, não tem como falar que não sinto dor. Mas estou muito melhor. Tenho uma equipe multidisciplinar muito grande com médicos, fisioterapeutas, preparador físico. Eles auxiliam a gente em cada fase. A ideia é melhorar cada vez, tanto na preparação física, para evitar as lesões, fortalecer tudo, como na fisioterapia, para cuidar das lesões. Os médicos nos monitoram 100% do tempo.

Nesse sentido, 2023, com as medalhas no Pan e no Mundial, foi um ano de renascimento para você?

Foi um ano muito importante pra minha carreira. Conquistar esses resultados foi um sonho, não só meu, de toda equipe, da minha família, do Brasil, pode-se dizer. Foi um ano de sonhos realizados para a ginástica brasileira. A gente sabe que tinha total capacidade de conseguir esses resultados antes, a medalha por equipe, o bronze no solo, mas sempre tinha algum impedimento, lesão, algo do tipo. Quando a gente conquistou as medalhas, vi que tudo que aconteceu valeu a pena. Conseguimos continuar e estávamos preparadas, prontas para receber esses resultados também. A gente tem que estar pronta para competir bem e ganhar as medalhas.

Foi difícil pra você encarar desde cedo altas expectativas sobre si?

Eu comecei com 8 anos e aprendi, desde muito cedo, a lidar com a pressão do esporte. Na minha primeira Olimpíada eu tinha 16 anos, era tudo muito novo para uma menina tão jovem que não entendia muito bem onde estava, mas era madura suficiente para competir. Vejo que minha preparação foi boa até eu conseguir conquistar meus resultados estando mais velha e amadurecer cada vez mais em cada competição.

Considerando todos os aspectos - mental, físico e técnico - depois de tudo que passou na ginástica, essa é a melhor sua melhor versão?

Digo que é a versão mais resiliente que tenho. Aprendi a entender os momentos e fases. Quando a gente passa por cirurgia ou dificuldades no treinamento, aprende todas as fases. Isso me ensinou a querer muito mais do que sempre quis e ter mais sabedoria nos treinamentos e competições. Hoje converso mais com a minha equipe para entender todos os aspectos de uma competição. Aprendi a ser mais sábia na minha rotina. Acho que isso abriu portas para os bons resultados.

Flávia Saraiva exibe uma de suas medalhas conquistas no Pan de Santiago Foto: Alexandre Loureiro/COB

É também o melhor momento da ginástica brasileira em muito tempo?

A gente já vem construindo esses resultados há muitos anos. Tivemos a Dani (Hypólito), a Daiane (dos Santos), o (Arthur) Zanetti, o Diego (Hypólito), o (Arthur) Nory... Vieram as medalhas olímpicas com eles. As medalhas da Rebeca abriram a porta para a ginástica feminina na Olimpíada. Então, a gente já vem construindo há algum tempo. Obviamente a gente quer ver uma equipe cheia, com bons resultados. Vejo como uma boa fase da ginástica brasileira, mas que pode ser melhor. Queremos melhorar cada vez mais. Agradecemos sempre os atletas que vieram antes e abriram as portas para nós.

Além das lesões, você teve questões emocionais para administrar. Você contou que passava dias sem dormir e chorava muito. Como fortaleceu sua saúde mental?

Não foi tanto pela pressão das pessoas, foi mais pela pressão minha mesmo. Tive burnout na época. É um cansaço mental muito grande, uma cobrança que nós atletas fazemos conosco. Eu acabei ficando muito preocupada com meu treinamento, com as competições. Tive uma equipe excelente por trás para passar por isso. A pior cobrança é a nossa. A gente treina muito, sete horas por dia, para nos apresentar em um minuto e meio. É muito detalhe, tem a questão de inspirar atletas, isso gera uma cobrança muito grande. Minha equipe me ajudou a entender que não tem de ser uma cobrança pesada. Eu faço ginástica porque amo, porque gosto de competir. Isso foi importante para que eu desse esse passo, melhorasse e tirasse esse peso das minhas costas.

O debate sobre saúde mental na ginástica e no esporte evoluiu muito depois que a Simone Biles se afastou de quatro finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Com certeza. A Simone Biles abriu muitas portas para os atletas poderem falar, se expressar. Isso já vem sendo falado antes de Tóquio, mas quando a gente vê uma atleta histórica, medalhista olímpica, como ele, a gente consegue falar livremente sobre saúde mental. As pessoas acham que o atleta é um super-herói, mas temos nossos dias bons e ruins.

Como está a preparação para Paris?

A gente está treinando a todo vapor. Sei o quão importante é uma Olimpíada. Tento sempre passar a importância dos Jogos Olímpicos para a nova geração. Estou treinando muito para que chegue lá da melhor forma possível e ter os melhores resultados.

Flávia Saraiva que inspirar jovens ginastas Foto: Divulgação/Nescau

O que dá para esperar da Flávia Saraiva na Olimpíada de Paris?

Podem esperar muita alegria, luta, força, foco. A gente está dando tudo de si para fazer a melhor competição possível. Que a gente brilhe muito na competição. A gente está trabalhando pelas medalhas.

A participação feminina da delegação brasileira e o número de medalhas de atletas mulheres tem aumentado nas últimas edições. Em Tóquio, nove das 21 medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres. Você crê que o protagonismo de vocês, mulheres, em Paris será ainda maior?

Espero que sim. Estamos vendo um grande crescimento das mulheres no esporte. Que a gente possa incentivar cada vez mais meninas a praticar esporte e buscar seus sonhos. Como eu, como a Rebeca, outras meninas também podem acreditar e fazer ginástica. Quero ver o crescimento do esporte brasileiro, não só feminino. Mas eu sou mulher e torço muito para o esporte feminino crescer. Como eu fui ajudada pela Jade (Barbosa), pela Dani (Hypólto), pela Daiane (dos Santos), eu incentivo as mais novas, tento mostrar os sonhos e objetivos que podemos realizar. Mostro a sensação de representar o seu país, competir em Olimpíada, Mundial. Tento sempre passar isso.

Como o Brasil pode produzir e preparar novas Flávias?

O Brasil já vem preparando muitas atletas. Temos uma escola boa de ginástica. Existe um crescimento, a gente vê mais garotas praticando ginástica hoje depois das medalhas da Rebeca. As pessoas passam na rua e falam: “a ginástica da Daiane, da Rebeca, da Flavinha, da Jade”. A gente sabe que muitas portas foram abertas para que venham outras Rebecas, Flávias, Jades, ou novas Júlias, o nome delas mesmo.

Entrevista por Ricardo Magatti

Repórter da editoria de Esportes desde 2018. Formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Multimídias pela Universidade Anhembi Morumbi. Cobriu a Copa do Mundo do Catar, em 2022, e a Olimpíada de Paris, em 2024.

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