O que está acontecendo com os treinadores no Brasil? Quero citar três aqui que andam passando da conta, estão sempre emburrados e agora deram para fazer o que não sabem: avaliar o trabalho de outros profissionais, da arbitragem e dos jornalistas. Abel Ferreira, do Palmeiras, passou do ponto no domingo em Minas. Ele sabe disso. Tanto sabe que pediu desculpas. Ele não pode tirar nada da mão de ninguém. Parece óbvio isso.
É mais um que vê no trabalho dos outros um “inimigo”. Todos que não são do Palmeiras são inimigos. Essa é uma visão míope de Abel. Nem os torcedores são assim, porque eles fazem associações com outras torcidas. A do Palmeiras, por exemplo, tem na do Vasco uma parceira de longa data, de bons churrascos e de ajuda mútua.
Como alguém tão bom na sua profissão pode ser tão cego a esse ponto? É um treinador sem controle no clube. Ele tomou de um repórter o seu celular. Não houve invasão de privacidade coisa nenhuma, como disse. Já colocam o treinador naquela linha demarcada no campo para que ele não atrapalhe o jogo também, tanto que falam e reclamam. É preciso agora demarcar uma linha nova no vestiário e nos lugares públicos onde trabalham os repórteres. Abel precisa se reeducar. No futebol, há deveres e obrigações. Para todos.
Mano Menezes é outro que anda brigando com tudo e todos no Internacional. Até com a própria sombra. Ele dá entrevistas e diz do que quer falar e do que não quer falar. Isso não existe no futebol, na política ou na economia. Por isso acho a imprensa americana e as personalidades dos EUA bem mais evoluídas nesse aspecto. Lá, se pergunta de tudo e se responde de tudo, como pessoas que devem explicações para a sociedade. Mano não pensa assim. Então, depois de uma derrota ou de uma vitória, que tal falar de bolo de fubá.
Os clubes são responsáveis por isso também. Pagam altos salários e não cobram nada de seus treinadores. Eles, os técnicos, já perceberam esse, digamos, jeito frouxo de comandar e deitam e rolam. São eles que colocam a bandeira do time em lugares abaixo da linha respeitável por vezes. Não pode ser só ganhar ou perder. O cara que ganha pode tudo. O que não ganha, é demitido cedo. Há uma convivência nesse período. No caso de Mano e Abel não tem nem o idioma como desculpa para não entender as coisas. Eles deveriam ser mais bem preparados.
O terceiro esquentadinho à beira do gramado tem sido Eduardo Coudet, do Atlético-MG. Mais educado, ele é outro que se mete nos questionamentos antes mesmo de eles acabarem. Faz questão de falar que ele é o treinador do time de Minas e que manda no elenco e nas escalações. Fala isso com arrogância que não se usa no futebol. Ou não precisaria usar. Todos sabemos a importância do treinador.
A cobrança ou pressão talvez o tenha deixado dessa forma. Não era. Não entende que a torcida cobra o tempo todo e que faz parte do seu trabalho dar explicações para ela. Mas os três não olham para os jornalistas e entendem que eles são o caminho desse contato com a massa. Nem para os árbitros com respeito. Acham que todos são contra seu clube. Alguns dirigentes são despreparados para entender isso também e defendem que as redes sociais oficiais respondem o que o torcedor busca. Claro que não. Redes oficiais, são oficiais. Não há ali nada que, como Abel disse, as pessoas não devam saber. É uma forma baixa e mesquinha de comandar.
Parece que somente seus clubes e jogadores importam. Não é assim. Os três, menos Coudet, falam muito em mudar o futebol e melhorar o futebol brasileiro, cheios de imperfeições. Mas não é dessa forma, olhando para o próprio umbigo, que isso vai acontecer. Como treinadores, o trio tem muito respeito no Brasil. Como líderes e no relacionamento com pessoas, nem tanto.