Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Emboscada contra o ônibus do Fortaleza deveria despertar uma união dos jogadores de futebol


Não existe um ‘futebol brasileiro’: há atletas, clubes, entidades e parceiros na linha ‘cada um por si’

Por Robson Morelli
Atualização:

O desabafo de Marinho após o ataque ao ônibus do Fortaleza nesta semana após jogo contra o Sport pela Copa do Nordeste não pode acabar nele mesmo. Uma frase do atacante martela na minha cabeça e deveria provocar o mesmo sentimento nos colegas de profissão do atleta, sempre bem-humorado, e das entidades esportivas e policiais. Ele disse mais ou menos assim: “quando a gente, atleta, vê esse tipo de notícia com outros clubes, não damos a mínima porque está longe. Mas quando a coisa é com a gente, isso muda. A culpa é nossa também de não fazer nada”. Ele usou outras palavras, mas deixou claro que os jogadores de futebol precisam tomar uma posição, gostem ou não os dirigentes esportivos e as federações.

Já não era sem tempo. O CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, disse que o time não vai jogar enquanto os seus atletas feridos na emboscada de torcedores do Sport não ficarem bem. Pela tabela, o time voltaria a ter compromisso no dia 29, contra o Fluminense-PI, pela Copa do Brasil. As primeiras providências ventiladas foram fechar os portões nos jogos do Sport, time para o qual os baderneiros torcem, e se valer da torcida única no Estado. É brincadeira! Ridículo ninguém ser preso ou não tratar o caso como algo mais grave do que brigas de torcidas. 

Sede da CBF no Rio, chamada por ela mesma de Casa do Futebol Brasileiro Foto: Wilton Junior/ Estadão
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O problema da violência no futebol está na falência das entidades que não dão a devida atenção aos casos, tampouco se preocupam em prender e dar exemplo pelas vias legais. Ora, se ao menos dez torcedores ficassem presos durante dez anos, atrás das grades mesmo, a Justiça daria o exemplo e muitos pensariam duas vezes antes de cometer esses atos criminosos. Então, as polícias precisam bater menos e prender mais. Que sejam capacitadas para resolver os problemas.

Da mesma forma, os clubes precisam cuidar e investir mais em segurança em seus deslocamentos até que todos sejam mais conscientes. Isso vale para aeroportos e traslados, contra torcedores rivais e às vezes do próprio time. As empresas de transporte, assustadas e vítimas de roubos de carga, passaram a ter carros de segurança acompanhando seus caminhões nas estradas. Não é o ideal, mas é um investimento para elas não serem roubadas. O futebol não tem nada disso. Ainda vive daquela meia dúzia de seguranças fortões que só servem para espalhar as pessoas de bem em hotéis e lugares públicos.

Da parte esportiva, como CBF, clubes e entidades regionais e internacionais, já passou da hora de ter o jogo como algo intocável. Por quê uma partida não pode ser desmarcada em caso de problemas dessa natureza? A desculpa esfarrapada é sempre o calendário. Clubes, quando se locomovem, também querem entrar em campo para não ter de voltar em outro dia. Dinheiro é gasto nesse processo. Tempo e condições físicas também. Então, ninguém quer perder nada. E as brigas ou emboscadas ou coisa pior ficam em segundo plano.

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Também não dá mais para ficar lendo esses comunicados de solidariedade aos envolvidos. É nobre, mas não servem para nada. Não movem uma pedra para resolver o problema. Os jogadores, por sua vez, não entram na discussão a não ser quando os estilhaços atingem seus corpos, como ocorreu com o time do Fortaleza. Nenhuma outra equipe se manifestou. Algum jogador de outro time comentou em parar o futebol? CBF? Federações? Nada. Fim de semana tem rodada. Um dia depois da emboscada teve jogo.

O futebol, então, também é vítima de sua fraqueza e desorganização de classe. Cada time é um time e não há uma unidade que chamamos de “futebol brasileiro”. Os técnicos são desunidos, os jogadores são amigos, mas ninguém toma a dor do outro, os presidentes olham somente para seus próprios clubes e temem as ordens das instituições e as entidades são reféns do dinheiro dos patrocinadores e dos contratos de transmissão. É uma dependência generalizada em que todas as partes parecem fracas e sem disposição para mexer no vespeiro. Há muitas desculpas e ninguém faz nada.

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Ou seja, não vai mudar nunca. É preciso começar de alguma forma. É preciso de profissionais sérios, competentes e com coragem. Jogadores e clubes são maiores do que qualquer um no futebol brasileiro. Se eles não se mexerem, nada vai acontecer. E vão continuar ameaçados no trabalho. Esperar de onde não vem nada, como já se provou dos órgãos de polícia e dos promotores, é insistir no erro de décadas. Parece chover no molhada, mas é assim que é no Brasil.

Mais pessoas vão ser feridas, mais emboscadas vão acontecer e mais mortes estão por vir nessa guerra do futebol com ataques e revides. É uma triste constatação. Gostaria de estar errado.

O desabafo de Marinho após o ataque ao ônibus do Fortaleza nesta semana após jogo contra o Sport pela Copa do Nordeste não pode acabar nele mesmo. Uma frase do atacante martela na minha cabeça e deveria provocar o mesmo sentimento nos colegas de profissão do atleta, sempre bem-humorado, e das entidades esportivas e policiais. Ele disse mais ou menos assim: “quando a gente, atleta, vê esse tipo de notícia com outros clubes, não damos a mínima porque está longe. Mas quando a coisa é com a gente, isso muda. A culpa é nossa também de não fazer nada”. Ele usou outras palavras, mas deixou claro que os jogadores de futebol precisam tomar uma posição, gostem ou não os dirigentes esportivos e as federações.

Já não era sem tempo. O CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, disse que o time não vai jogar enquanto os seus atletas feridos na emboscada de torcedores do Sport não ficarem bem. Pela tabela, o time voltaria a ter compromisso no dia 29, contra o Fluminense-PI, pela Copa do Brasil. As primeiras providências ventiladas foram fechar os portões nos jogos do Sport, time para o qual os baderneiros torcem, e se valer da torcida única no Estado. É brincadeira! Ridículo ninguém ser preso ou não tratar o caso como algo mais grave do que brigas de torcidas. 

Sede da CBF no Rio, chamada por ela mesma de Casa do Futebol Brasileiro Foto: Wilton Junior/ Estadão

O problema da violência no futebol está na falência das entidades que não dão a devida atenção aos casos, tampouco se preocupam em prender e dar exemplo pelas vias legais. Ora, se ao menos dez torcedores ficassem presos durante dez anos, atrás das grades mesmo, a Justiça daria o exemplo e muitos pensariam duas vezes antes de cometer esses atos criminosos. Então, as polícias precisam bater menos e prender mais. Que sejam capacitadas para resolver os problemas.

Da mesma forma, os clubes precisam cuidar e investir mais em segurança em seus deslocamentos até que todos sejam mais conscientes. Isso vale para aeroportos e traslados, contra torcedores rivais e às vezes do próprio time. As empresas de transporte, assustadas e vítimas de roubos de carga, passaram a ter carros de segurança acompanhando seus caminhões nas estradas. Não é o ideal, mas é um investimento para elas não serem roubadas. O futebol não tem nada disso. Ainda vive daquela meia dúzia de seguranças fortões que só servem para espalhar as pessoas de bem em hotéis e lugares públicos.

Da parte esportiva, como CBF, clubes e entidades regionais e internacionais, já passou da hora de ter o jogo como algo intocável. Por quê uma partida não pode ser desmarcada em caso de problemas dessa natureza? A desculpa esfarrapada é sempre o calendário. Clubes, quando se locomovem, também querem entrar em campo para não ter de voltar em outro dia. Dinheiro é gasto nesse processo. Tempo e condições físicas também. Então, ninguém quer perder nada. E as brigas ou emboscadas ou coisa pior ficam em segundo plano.

Também não dá mais para ficar lendo esses comunicados de solidariedade aos envolvidos. É nobre, mas não servem para nada. Não movem uma pedra para resolver o problema. Os jogadores, por sua vez, não entram na discussão a não ser quando os estilhaços atingem seus corpos, como ocorreu com o time do Fortaleza. Nenhuma outra equipe se manifestou. Algum jogador de outro time comentou em parar o futebol? CBF? Federações? Nada. Fim de semana tem rodada. Um dia depois da emboscada teve jogo.

O futebol, então, também é vítima de sua fraqueza e desorganização de classe. Cada time é um time e não há uma unidade que chamamos de “futebol brasileiro”. Os técnicos são desunidos, os jogadores são amigos, mas ninguém toma a dor do outro, os presidentes olham somente para seus próprios clubes e temem as ordens das instituições e as entidades são reféns do dinheiro dos patrocinadores e dos contratos de transmissão. É uma dependência generalizada em que todas as partes parecem fracas e sem disposição para mexer no vespeiro. Há muitas desculpas e ninguém faz nada.

Ou seja, não vai mudar nunca. É preciso começar de alguma forma. É preciso de profissionais sérios, competentes e com coragem. Jogadores e clubes são maiores do que qualquer um no futebol brasileiro. Se eles não se mexerem, nada vai acontecer. E vão continuar ameaçados no trabalho. Esperar de onde não vem nada, como já se provou dos órgãos de polícia e dos promotores, é insistir no erro de décadas. Parece chover no molhada, mas é assim que é no Brasil.

Mais pessoas vão ser feridas, mais emboscadas vão acontecer e mais mortes estão por vir nessa guerra do futebol com ataques e revides. É uma triste constatação. Gostaria de estar errado.

O desabafo de Marinho após o ataque ao ônibus do Fortaleza nesta semana após jogo contra o Sport pela Copa do Nordeste não pode acabar nele mesmo. Uma frase do atacante martela na minha cabeça e deveria provocar o mesmo sentimento nos colegas de profissão do atleta, sempre bem-humorado, e das entidades esportivas e policiais. Ele disse mais ou menos assim: “quando a gente, atleta, vê esse tipo de notícia com outros clubes, não damos a mínima porque está longe. Mas quando a coisa é com a gente, isso muda. A culpa é nossa também de não fazer nada”. Ele usou outras palavras, mas deixou claro que os jogadores de futebol precisam tomar uma posição, gostem ou não os dirigentes esportivos e as federações.

Já não era sem tempo. O CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, disse que o time não vai jogar enquanto os seus atletas feridos na emboscada de torcedores do Sport não ficarem bem. Pela tabela, o time voltaria a ter compromisso no dia 29, contra o Fluminense-PI, pela Copa do Brasil. As primeiras providências ventiladas foram fechar os portões nos jogos do Sport, time para o qual os baderneiros torcem, e se valer da torcida única no Estado. É brincadeira! Ridículo ninguém ser preso ou não tratar o caso como algo mais grave do que brigas de torcidas. 

Sede da CBF no Rio, chamada por ela mesma de Casa do Futebol Brasileiro Foto: Wilton Junior/ Estadão

O problema da violência no futebol está na falência das entidades que não dão a devida atenção aos casos, tampouco se preocupam em prender e dar exemplo pelas vias legais. Ora, se ao menos dez torcedores ficassem presos durante dez anos, atrás das grades mesmo, a Justiça daria o exemplo e muitos pensariam duas vezes antes de cometer esses atos criminosos. Então, as polícias precisam bater menos e prender mais. Que sejam capacitadas para resolver os problemas.

Da mesma forma, os clubes precisam cuidar e investir mais em segurança em seus deslocamentos até que todos sejam mais conscientes. Isso vale para aeroportos e traslados, contra torcedores rivais e às vezes do próprio time. As empresas de transporte, assustadas e vítimas de roubos de carga, passaram a ter carros de segurança acompanhando seus caminhões nas estradas. Não é o ideal, mas é um investimento para elas não serem roubadas. O futebol não tem nada disso. Ainda vive daquela meia dúzia de seguranças fortões que só servem para espalhar as pessoas de bem em hotéis e lugares públicos.

Da parte esportiva, como CBF, clubes e entidades regionais e internacionais, já passou da hora de ter o jogo como algo intocável. Por quê uma partida não pode ser desmarcada em caso de problemas dessa natureza? A desculpa esfarrapada é sempre o calendário. Clubes, quando se locomovem, também querem entrar em campo para não ter de voltar em outro dia. Dinheiro é gasto nesse processo. Tempo e condições físicas também. Então, ninguém quer perder nada. E as brigas ou emboscadas ou coisa pior ficam em segundo plano.

Também não dá mais para ficar lendo esses comunicados de solidariedade aos envolvidos. É nobre, mas não servem para nada. Não movem uma pedra para resolver o problema. Os jogadores, por sua vez, não entram na discussão a não ser quando os estilhaços atingem seus corpos, como ocorreu com o time do Fortaleza. Nenhuma outra equipe se manifestou. Algum jogador de outro time comentou em parar o futebol? CBF? Federações? Nada. Fim de semana tem rodada. Um dia depois da emboscada teve jogo.

O futebol, então, também é vítima de sua fraqueza e desorganização de classe. Cada time é um time e não há uma unidade que chamamos de “futebol brasileiro”. Os técnicos são desunidos, os jogadores são amigos, mas ninguém toma a dor do outro, os presidentes olham somente para seus próprios clubes e temem as ordens das instituições e as entidades são reféns do dinheiro dos patrocinadores e dos contratos de transmissão. É uma dependência generalizada em que todas as partes parecem fracas e sem disposição para mexer no vespeiro. Há muitas desculpas e ninguém faz nada.

Ou seja, não vai mudar nunca. É preciso começar de alguma forma. É preciso de profissionais sérios, competentes e com coragem. Jogadores e clubes são maiores do que qualquer um no futebol brasileiro. Se eles não se mexerem, nada vai acontecer. E vão continuar ameaçados no trabalho. Esperar de onde não vem nada, como já se provou dos órgãos de polícia e dos promotores, é insistir no erro de décadas. Parece chover no molhada, mas é assim que é no Brasil.

Mais pessoas vão ser feridas, mais emboscadas vão acontecer e mais mortes estão por vir nessa guerra do futebol com ataques e revides. É uma triste constatação. Gostaria de estar errado.

O desabafo de Marinho após o ataque ao ônibus do Fortaleza nesta semana após jogo contra o Sport pela Copa do Nordeste não pode acabar nele mesmo. Uma frase do atacante martela na minha cabeça e deveria provocar o mesmo sentimento nos colegas de profissão do atleta, sempre bem-humorado, e das entidades esportivas e policiais. Ele disse mais ou menos assim: “quando a gente, atleta, vê esse tipo de notícia com outros clubes, não damos a mínima porque está longe. Mas quando a coisa é com a gente, isso muda. A culpa é nossa também de não fazer nada”. Ele usou outras palavras, mas deixou claro que os jogadores de futebol precisam tomar uma posição, gostem ou não os dirigentes esportivos e as federações.

Já não era sem tempo. O CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, disse que o time não vai jogar enquanto os seus atletas feridos na emboscada de torcedores do Sport não ficarem bem. Pela tabela, o time voltaria a ter compromisso no dia 29, contra o Fluminense-PI, pela Copa do Brasil. As primeiras providências ventiladas foram fechar os portões nos jogos do Sport, time para o qual os baderneiros torcem, e se valer da torcida única no Estado. É brincadeira! Ridículo ninguém ser preso ou não tratar o caso como algo mais grave do que brigas de torcidas. 

Sede da CBF no Rio, chamada por ela mesma de Casa do Futebol Brasileiro Foto: Wilton Junior/ Estadão

O problema da violência no futebol está na falência das entidades que não dão a devida atenção aos casos, tampouco se preocupam em prender e dar exemplo pelas vias legais. Ora, se ao menos dez torcedores ficassem presos durante dez anos, atrás das grades mesmo, a Justiça daria o exemplo e muitos pensariam duas vezes antes de cometer esses atos criminosos. Então, as polícias precisam bater menos e prender mais. Que sejam capacitadas para resolver os problemas.

Da mesma forma, os clubes precisam cuidar e investir mais em segurança em seus deslocamentos até que todos sejam mais conscientes. Isso vale para aeroportos e traslados, contra torcedores rivais e às vezes do próprio time. As empresas de transporte, assustadas e vítimas de roubos de carga, passaram a ter carros de segurança acompanhando seus caminhões nas estradas. Não é o ideal, mas é um investimento para elas não serem roubadas. O futebol não tem nada disso. Ainda vive daquela meia dúzia de seguranças fortões que só servem para espalhar as pessoas de bem em hotéis e lugares públicos.

Da parte esportiva, como CBF, clubes e entidades regionais e internacionais, já passou da hora de ter o jogo como algo intocável. Por quê uma partida não pode ser desmarcada em caso de problemas dessa natureza? A desculpa esfarrapada é sempre o calendário. Clubes, quando se locomovem, também querem entrar em campo para não ter de voltar em outro dia. Dinheiro é gasto nesse processo. Tempo e condições físicas também. Então, ninguém quer perder nada. E as brigas ou emboscadas ou coisa pior ficam em segundo plano.

Também não dá mais para ficar lendo esses comunicados de solidariedade aos envolvidos. É nobre, mas não servem para nada. Não movem uma pedra para resolver o problema. Os jogadores, por sua vez, não entram na discussão a não ser quando os estilhaços atingem seus corpos, como ocorreu com o time do Fortaleza. Nenhuma outra equipe se manifestou. Algum jogador de outro time comentou em parar o futebol? CBF? Federações? Nada. Fim de semana tem rodada. Um dia depois da emboscada teve jogo.

O futebol, então, também é vítima de sua fraqueza e desorganização de classe. Cada time é um time e não há uma unidade que chamamos de “futebol brasileiro”. Os técnicos são desunidos, os jogadores são amigos, mas ninguém toma a dor do outro, os presidentes olham somente para seus próprios clubes e temem as ordens das instituições e as entidades são reféns do dinheiro dos patrocinadores e dos contratos de transmissão. É uma dependência generalizada em que todas as partes parecem fracas e sem disposição para mexer no vespeiro. Há muitas desculpas e ninguém faz nada.

Ou seja, não vai mudar nunca. É preciso começar de alguma forma. É preciso de profissionais sérios, competentes e com coragem. Jogadores e clubes são maiores do que qualquer um no futebol brasileiro. Se eles não se mexerem, nada vai acontecer. E vão continuar ameaçados no trabalho. Esperar de onde não vem nada, como já se provou dos órgãos de polícia e dos promotores, é insistir no erro de décadas. Parece chover no molhada, mas é assim que é no Brasil.

Mais pessoas vão ser feridas, mais emboscadas vão acontecer e mais mortes estão por vir nessa guerra do futebol com ataques e revides. É uma triste constatação. Gostaria de estar errado.

O desabafo de Marinho após o ataque ao ônibus do Fortaleza nesta semana após jogo contra o Sport pela Copa do Nordeste não pode acabar nele mesmo. Uma frase do atacante martela na minha cabeça e deveria provocar o mesmo sentimento nos colegas de profissão do atleta, sempre bem-humorado, e das entidades esportivas e policiais. Ele disse mais ou menos assim: “quando a gente, atleta, vê esse tipo de notícia com outros clubes, não damos a mínima porque está longe. Mas quando a coisa é com a gente, isso muda. A culpa é nossa também de não fazer nada”. Ele usou outras palavras, mas deixou claro que os jogadores de futebol precisam tomar uma posição, gostem ou não os dirigentes esportivos e as federações.

Já não era sem tempo. O CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, disse que o time não vai jogar enquanto os seus atletas feridos na emboscada de torcedores do Sport não ficarem bem. Pela tabela, o time voltaria a ter compromisso no dia 29, contra o Fluminense-PI, pela Copa do Brasil. As primeiras providências ventiladas foram fechar os portões nos jogos do Sport, time para o qual os baderneiros torcem, e se valer da torcida única no Estado. É brincadeira! Ridículo ninguém ser preso ou não tratar o caso como algo mais grave do que brigas de torcidas. 

Sede da CBF no Rio, chamada por ela mesma de Casa do Futebol Brasileiro Foto: Wilton Junior/ Estadão

O problema da violência no futebol está na falência das entidades que não dão a devida atenção aos casos, tampouco se preocupam em prender e dar exemplo pelas vias legais. Ora, se ao menos dez torcedores ficassem presos durante dez anos, atrás das grades mesmo, a Justiça daria o exemplo e muitos pensariam duas vezes antes de cometer esses atos criminosos. Então, as polícias precisam bater menos e prender mais. Que sejam capacitadas para resolver os problemas.

Da mesma forma, os clubes precisam cuidar e investir mais em segurança em seus deslocamentos até que todos sejam mais conscientes. Isso vale para aeroportos e traslados, contra torcedores rivais e às vezes do próprio time. As empresas de transporte, assustadas e vítimas de roubos de carga, passaram a ter carros de segurança acompanhando seus caminhões nas estradas. Não é o ideal, mas é um investimento para elas não serem roubadas. O futebol não tem nada disso. Ainda vive daquela meia dúzia de seguranças fortões que só servem para espalhar as pessoas de bem em hotéis e lugares públicos.

Da parte esportiva, como CBF, clubes e entidades regionais e internacionais, já passou da hora de ter o jogo como algo intocável. Por quê uma partida não pode ser desmarcada em caso de problemas dessa natureza? A desculpa esfarrapada é sempre o calendário. Clubes, quando se locomovem, também querem entrar em campo para não ter de voltar em outro dia. Dinheiro é gasto nesse processo. Tempo e condições físicas também. Então, ninguém quer perder nada. E as brigas ou emboscadas ou coisa pior ficam em segundo plano.

Também não dá mais para ficar lendo esses comunicados de solidariedade aos envolvidos. É nobre, mas não servem para nada. Não movem uma pedra para resolver o problema. Os jogadores, por sua vez, não entram na discussão a não ser quando os estilhaços atingem seus corpos, como ocorreu com o time do Fortaleza. Nenhuma outra equipe se manifestou. Algum jogador de outro time comentou em parar o futebol? CBF? Federações? Nada. Fim de semana tem rodada. Um dia depois da emboscada teve jogo.

O futebol, então, também é vítima de sua fraqueza e desorganização de classe. Cada time é um time e não há uma unidade que chamamos de “futebol brasileiro”. Os técnicos são desunidos, os jogadores são amigos, mas ninguém toma a dor do outro, os presidentes olham somente para seus próprios clubes e temem as ordens das instituições e as entidades são reféns do dinheiro dos patrocinadores e dos contratos de transmissão. É uma dependência generalizada em que todas as partes parecem fracas e sem disposição para mexer no vespeiro. Há muitas desculpas e ninguém faz nada.

Ou seja, não vai mudar nunca. É preciso começar de alguma forma. É preciso de profissionais sérios, competentes e com coragem. Jogadores e clubes são maiores do que qualquer um no futebol brasileiro. Se eles não se mexerem, nada vai acontecer. E vão continuar ameaçados no trabalho. Esperar de onde não vem nada, como já se provou dos órgãos de polícia e dos promotores, é insistir no erro de décadas. Parece chover no molhada, mas é assim que é no Brasil.

Mais pessoas vão ser feridas, mais emboscadas vão acontecer e mais mortes estão por vir nessa guerra do futebol com ataques e revides. É uma triste constatação. Gostaria de estar errado.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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