O Brasil é o país das inversões de valores. O futebol é campeão desse tipo de comportamento equivocado em função dos resultados do jogo e dos três pontos válidos a cada rodada. O vale-tudo pela vitória tem limites, assim como as manobras de dirigentes, treinadores e atletas para ganhar uma partida. Digo isso porque já há nas redes sociais e na voz de alguns personagens esportivos manifestações contrárias, por exemplo, à pressão imposta a Cuca por causa de seu passado e que gerou sua saída relâmpago do Corinthians, assunto explorado com exaustão na semana passada.
Há quem defenda, numa total mudança de valores e miopia acentuada, que a demissão de Cuca foi um erro porque agora o time está sem comando, perdeu para o rival Palmeiras e corre risco de ficar fora da Libertadores em caso de novo tropeço na competição.
O Estadão publicou no seu site reportagem em que as jogadoras do time feminino do Corinthians estão sendo ameaçadas porque elas se posicionaram contrárias à permanência de Cuca. Sua presença no clube jogava por terra a disposição de ‘respeita as minas’, uma das principais campanhas recentes no futebol feminino.
Elas estão sendo acusadas e responsabilizadas pelo mau momento do time masculino sem Cuca, da falta de gestão e da dificuldade de encontra outro treinador para o seu lugar.
Para esses, dane-se que Cuca não combinava com a evolução da sociedade, com os projetos e tradição do Corinthians e que tinha contas a esclarecer por estupro. O que vale para esses é a bola na rede, como foi a classificação diante do Remo na Copa do Brasil, e uma sequência de bons resultados no Campeonato Brasileiro.
É como se os fins justificassem os meios. E não o contrário. No futebol, esse fim é a taça nas mãos, independentemente dos caminhos, lícitos ou ilícitos, que o clube tome.
Ora. O mundo mudou e com ele essa gente ficará para trás, como já está ficando. O futebol brasileiro e seus personagens insistem em viver numa bolha e ter suas próprias regras. Não é assim que banda toca. Não mais. Vejam os casos de Robinho, de Daniel Alves (que ainda não foi julgado, portanto, não cometeu crime perante a Justiça da Espanha), de Pedrinho, cujo contrato com o São Paulo foi rescindido porque ele agrediu sua namorada, e de tantos outros que estão sendo questionados, por motivos parecidos ou não, mas que ferem os comportamentos da sociedade no nosso tempo.
O futebol não pode se render ou ficar à margem dessa evolução, porque senão, daqui a pouco, vai valer roubar para ganhar jogos. E não mais o árbitro terá a pecha (falsa) de ladrão. As instituições estão aí para não deixar que isso aconteça, assim como clubes e presidentes. O torcedor não quer que seu time ganhe torneios de forma manchada. Se pensa assim, está equivocado.