A presidente do Palmeiras tem falado duro nas reuniões dos clubes para a formação de uma liga e na escolha de uma empresa capaz de representar o futebol brasileiro nas transmissões das partidas do Brasileirão, cujo contrato em vigência termina em dezembro deste ano. Se depender de Leila Pereira, o novo contrato com a TV será assinado com a Globo, mantendo a transmissão no canal aberto da emissora do Rio e nos canais fechados do SporTV e Premiere.
Leila puxa a fila e faz a cabeça de outros presidentes para esse caminho, o da renovação por mais três ou quatro anos com a emissora carioca. ”O Palmeiras sempre deixou claro que não venderá em hipótese alguma percentual de qualquer direito (de transmissão dos jogos) para algum Fundo. Então, dentre as propostas que nos foram apresentadas, o Palmeiras decide por prosseguir com a da TV Globo”, disse ao colunista a dirigente palmeirense. A decisão está tomada. Leila entende que esse é o melhor caminho para o clube e para o torcedor. Corinthians e São Paulo pensam da mesma forma.
Leila entende que as reuniões sobre a criação de uma liga no futebol brasileiro não avançam e só se arrastam nesse quesito, tampouco sobre a divisão do dinheiro que cada clube das Séries A e B deve receber. Todos querem mais do que merecem. Todos olham para os mais bem pagos, como Flamengo e Corinthians, e se acham no direito de ganhar igual.
Os dois grupos empresariais que tentam seduzir os clubes com mais dinheiro para a formação da liga emperraram em seus argumentos e começam a gerar dúvidas e desconfianças. A Libra “fechou” com 19 times nas divisões. Ela negocia com a Mubadala Capital (de um Fundo de Abu Dabi) para ter o investimento. É assessorada pela BTG Pactual. Já a Liga Forte União, com 26 clubes firmados, é assessorada pela XP Investimentos.
A Globo entra nessas negociações com sua expertise nas transmissões, de modo a ser acionada por uma dessas empresas que querem tomar conta do futebol brasileiro. A CBF já deu sinal verde para isso faz tempo, mas até agora as conversas só caminharam para a divisão e não para uma união dos clubes. Como o tempo urge, agora há pressa.
Os clubes só pensam no valor que vão receber agora, incapazes que são de olhar um palmo à frente do nariz, pavimentar um caminho que possa dar ao futebol brasileiro mais autonomia financeira em cinco, dez anos. Atualmente, todos têm dívidas que nunca são pagas.
Esse dinheiro de TV representa de 10% a 15% da receita anual dos clubes. Para alguns pode ser até mais do que isso. Os valores são sedutores, na casa dos bilhões de reais para repartir aos times, com cotas de até R$ 280 milhões por ano para o mais bem pago. Há uma concepção por parte dessas empresas que o futebol brasileiro tem poder gigantesco e ainda não explorado de venda de transmissões, principalmente fora do Brasil. As cifras estão nos R$ 2,5 bilhões. Podem chegar aos R$ 6 bilhões por ano. Há uma pretensão de bater nos R$ 25 bilhões por temporada em dez anos, o que encheria os times de dinheiro. Mas tudo isso ainda é um sonho longe de acontecer.
A presidente do Palmeiras é contrária a entregar os direitos de transmissão do clube que preside nas mãos de um fundo de origem internacional por 50 anos, como querem os investidores. Ou por 20 anos, que seja. Nas discussões que Leila tem sobre o assunto, ela vem conseguindo convencer outros pares, como Julio Casares e Augusto Melo, de São Paulo e Corinthians, respectivamente, dessa condição.
O que está no centro desse furacão não é nem deixar de ganhar dinheiro, mas sim perder o controle das partidas e lá na frente se sentir prejudicado. Atualmente, os clubes ganham mais dinheiro com as transmissões dos jogos do que no passado. O Uol divulgou recentemente os valores das transmissões do futebol nacional pela Globo no ano passado. Na TV aberta, o valor foi de R$ 869,4 milhões, um pouco maior do que o investimento na TV fechada, que foi de R$ 724,5 milhões. No pay-per-view, a receita paga aos clubes foi de R$ 541,9 milhões, totalizando na temporada R$ 2,13 bilhões, de acordo com a reportagem.
O montante foi dividido pelos 20 clubes da Série A do Brasileiro, de modo a pagar mais para quem tem os jogos mais transmitidos e pela classificação final do torneio. Há, portanto, critérios para cada real dado aos clubes. A lista dos mais bem pagos também foi mostrada pela reportagem do site. Veja:
1. Flamengo (R$ 275,2 milhões)
2. Corinthians (R$ 187,2 milhões)
3. Grêmio (R$ 170,1 milhões)
4. Palmeiras (R$ 162,6 milhões)
5. Atlético-MG (R$ 121,2 milhões)
6. Botafogo (R$ 112,5 milhões)
7. São Paulo (R$ 111,7 milhões)
8. Fluminense (R$ 105,7 milhões)
9. Internacional (R$ 105,5 milhões)
10. Cruzeiro (R$ 98,5 milhões)
11. Vasco (R$ 97,6 milhões)
12. Red Bull Bragantino (R$ 85,8 milhões)
13. Fortaleza (R$ 73,6 milhões)
14. Bahia (R$ 72,1 milhões)
15. Cuiabá (R$ 66 milhões)
16. Santos (R$ 64,2 milhões)
17. Coritiba (R$ 49,9 milhões)
18. Goiás (R$ 49,4 milhões)
19. América-MG (R$ 42,8 milhões)
20. Athletico-PR (R$ 41,8 milhões)
Quem está no pé da lista quer ganhar mais, assim como quem está no topo. Ou seja: todos os presidentes olham para os direitos de transmissão como uma galinha dos ovos de ouro. Muitos não admitem que a distância de um para o outro seja tão longa. Há os que temem a tal da “espanholização” do futebol brasileiro, que seria a disputa de títulos somente entre os mais bem pagos e que fazem mais dinheiro por temporada. É um ponto a se pensar. Quem tem mais dinheiro, contrata melhor e segura seus bons jogadores.
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Mas esse pensamento é apenas meia verdade, porque os torneios no Brasil não são vencidos pelos mesmos times. Numa conta de padeiro, daria para apontar como candidatos ao título do Brasileirão 2024 os seguintes times: Flamengo, Fluminense, Palmeiras, Grêmio, Atlético-MG, Botafogo, São Paulo e Bragantino. São oito equipes, uns com mais, outros com menos dinheiro, mas todos com competência para chegar.
Há uma outra discussão que é a pulverização dos jogos nas TVs abertas, fechadas e streamings do ponto de vista do torcedor. A Audiência não é somente boa para os canais. Ela é importante também para os próprios clubes, que conseguem ter seus times mostradas duas ou mais vezes na semana, de modo a despertar nos torcedores o desejo de ir ao estádio e de consumir os produtos da marca. Os clubes pretendem intensificar as reuniões até o meio do ano para poder fechar o acordo de transmissão do Brasileirão para as próximas temporadas.