As redes sociais sentiram a falta de Neymar na cerimônia do prêmio Bola de Ouro, em Paris, promovido pela revista France Football. Não foram as únicas. O presidente Lula não se privou de comentar a oitava conquista de Messi. Fez isso com certa indignação. No meu entendimento, contra os jogadores brasileiros que só pensam em zoar e não se entregam ao esporte como deveriam, com alma e dedicação, ou o fazem apenas por um período de tempo.
Disse Lula: “Isso é para mexer com a cabeça do nosso jovem (a premiação de Messi aos 36 anos). Quem quiser ganhar a Bola de Ouro tem de ser profissional, tem de se dedicar. Não combina com farra, com noitada. Ser profissional significa se dedicar, ser ídolo. Se você não é exemplo, não serve para muita coisa”, comentou.
Ao falar o óbvio na vida de um esportista, ele aponta o dedo para atletas brasileiros que não estão nessa pegada, principalmente depois da fama. Há muitos. Não fala de Neymar, mas a carapuça poderia servir. Seria injusto? Talvez não. Neymar poderia estar em Paris e ser um dos escolhidos para alguns dos prêmios da noite e figurar entre os melhores ou entre os artilheiros ou ainda no melhor time da temporada. Sua ausência foi sentida por todos os brasileiros. Essa frustração tem explicação.
Neymar é melhor do que muitos dos jogadores que estavam naquele auditório. Mas não soube gerir sua carreira. Não estou falando de dinheiro ou de fama ou de todas as suas conquistas em outras áreas. Refiro-me ao cenário em que ele deveria estar na primeira fila. E não estava. Uma festa do futebol e para o futebol.
Talvez seja isso que mais pega nos brasileiros. Vinícius Júnior estava lá, ainda não na condição que gostaria (ele ganhou o Prêmio Sócrates por seu Instituto no Rio com crianças), mas estava lá. Se fez ser ouvido e deu um passo a mais na carreira. O presidente do Brasil comentou ainda sobre a vaidade dos jogadores brasileiros, desde as categorias de base. Mais uma vez ele usou a premiação de Messi como exemplo.
Disse Lula: “Um cara com 36 anos de idade, campeão do mundo, ganhou a Bola de Ouro esse ano jogando nos Estados Unidos. O Messi devia ser inspiração para essa molecada que aparece na televisão, que a gente acha que vai ser craque e daqui a pouco desaparece. Talvez a vaidade, talvez não tenha estrutura psicológica para crescer. Aparece a meninada pintada de ouro, daqui a pouco desaparece. Aparece um menino de 17 anos, daqui a pouco está vendido. A gente não consegue mais criar. Há quantos anos o Brasil não tem um ídolo de verdade?… "
A falta de um ídolo no esporte é um ponto sensível no Brasil. E não é somente no futebol, embora tenha Neymar e uma série de bons jogadores atuando na Europa, o centro do mundo esportivo. Nenhum deles, é verdade, enche os olhos do torcedor. Há muitas dúvidas sobre todos. Em outras modalidades, o esportista brasileiro também vai mal. O País não tem mais um piloto na F-1. Nossos atletas são comuns em outras modalidades coletivas, como basquete e vôlei. Há promessas no atletismo. Há Rebeca Andrade na ginástica, é verdade. E Bia Haddad no tênis.
Posso estar sendo muito injusto com alguns atletas brasileiros, mas sinto falta de nomes acima da média, muito acima da média. Entendem? Há bons competidores, mas talvez nenhum deles seja unanimidade, como outros já foram, como Senna, Piquet, Ronaldo, Romário, Ronaldinho, Kaká, Oscar, Hortência...
O futebol é a modalidade de maior vitrine, e sempre será. E numa premiação especial, importante, que o mundo acompanha, é frustrante não ter mais representantes. É isso que fica. Neymar é o mais cobrado porque é o melhor de todos no Brasil. Por ora, não há outro. Quem mais se aproxima desse trono é Vini Jr., mesmo assim ainda longe de conduzir multidões por partidas seguidas e ser referenciado pelos concorrentes. Foi mais uma noite frustrante para o torcedor brasileiro.