A Mancha Alvi Verde não estava presente na rua Padre Antônio Tomás, onde a palmeirense Gabriela Anelli foi atingida por uma garrafa atirada por um torcedor do Flamengo. A menina de 23 anos também não estava em nenhuma confusão de torcida ou situação que pudesse colocá-la em risco. Eram 18h20 de sábado quando ela foi atingida, quase três horas antes da partida entre Palmeiras e Flamengo. Ela entraria no estádio pelo portão C, que fica naquela mesma rua. Não havia briga nem movimentação da torcida organizada palmeirense por perto. Eram pessoas transitando pela rua e calçadas à espera do jogo, como é em qualquer lugar do mundo. Ela morreu na manhã de segunda-feira.
Já estive nessa situação com meus filhos, pais e amigos. Andando para entrar nos estádios. Não sou de ficar do lado de fora, gosto de pegar meu lugar dentro das arenas logo. A garrafada poderia ter atingido qualquer um do outro lado da proteção de metal que separava palmeirenses de flamenguistas. Quem atirou a garrafa, como disse o delegado do caso, correu o risco de acertar alguém. Acertou Gabriela Anelli no pescoço. Ele perdeu muito sangue. As imagens da menina sentada no chão sendo socorrida, imóvel e, aparentemente, desacordada, chocam.
Deu para ver pelas imagens que circularam nas redes e TVs que havia poucas pessoas naquela rua naquele horário. Era cedo para o começo do jogo. Mesmo os que ajudaram a socorrer Gabriela, eles estavam com camisas comuns do time. Alguns poucos provocaram os flamenguistas.
O presidente da Mancha, Jorge Luís, mobiliza a parte jurídica da entidade contra quem acusa a torcida de envolvimento na morte da menina. “Não houve briga”, diz. Ele questiona ainda a falta de proteção do policiamento naquele setor do estádio, onde a torcida do Flamengo entraria e por onde entram todos os visitantes no Allianz Parque. Segundo ele, deveria haver mais policiamento, mesmo três horas antes da partida. As ruas ao redor da arena já estavam fechadas.
Jorge Luís condena também a entrega de garrafas de vidros aos torcedores nos bares. Há um bar que atende aos visitantes naquela rua. Mas poderia ter sido em qualquer outro lugar. Nem sempre aquele bar está aberto. “Não deveria ter garrafas circulando. Na rua Palestra Itália, em frente ao portal principal, o vasilhame fica na mão do vendedor e a cerveja, por exemplo, é servida em copos de papelão, latas ou plástico”, diz. São detalhes que poderiam ter evitado a morte de Gabriela. Porque foi uma dessas garrafas que matou a torcedora do Palmeiras, sócia da Mancha e que tinha nos jogos do time de Dudu uma de suas principais diversões.
“Preciso esclarecer que a Mancha não estava naquela rua. Até porque se a gente estivesse, haveria flamenguistas feridos. Íamos revidar. Mas não estávamos. Alguns poucos atiraram as garrafas sem saber quem iriam atingir do outro lado da divisória. Havia uma divisória alta, de metal. Mas onde estava o policiamento? Isso aconteceu por vota das 18h20, 18h30. O jogo estava marcado para 21h. Foi um erro grotesco da organização. E a menina morreu.”
Ele não negou a confusão da torcida no portão principal do estádio, quando a polícia usou bombas de gás para dispersar os torcedores do Palmeiras na rua Caraíbas com a Palestra Itália. Não sabe explicar o motivo da confusão, mas diz que essa foi outra situação. “Houve uma confusão das pessoas e da mídia em relação aos dois episódios. Quando saiu a briga na rua Palestra Itália, já estava circulando a história da Gabriela. A Mancha estava no setor Norte do estádio, lá dentro, o jogo estava rolando. O gás da polícia chegou a parar a partida”, lembra.
Jorge Luís disse que a rua onde Gabriela foi atingida é “calma” e de “família”. Também disse para a coluna que a torcida organizada do Flamengo não havia chegado ao estádio naquele momento. O rapaz preso e identificado como Leonardo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, estaria sozinho, por conta própria. Ele está preso. A polícia ainda procura outros envolvidos. Ela esteve na rua na tarde desta segunda-feira atrás de novas imagens.