Na véspera de sua decisão de jogar no Catar, Róger Guedes recebeu informações de que o Corinthians não criaria problemas para sua saída. Vanderlei Luxemburgo fez com o camisa 10 (antes 9) o mesmo que já havia feito com Luizão em passagem anterior do treinador pelo Parque São Jorge, quando o atacante estava prestes a aceitar uma oferta do futebol alemão. Naquela época, década de 1990, o dinheiro era menor. Mas tanto no passado quanto no presente, o dinheiro sempre fala alto na escolha de um jogador. Estou para ver quando as condições de trabalho, a boa fase, a organização do futebol brasileiro, um calendário mais humano e tudo mais que envolve o esporte vai conseguir segurar um atleta no País.
O fato é que não dá para criticar a decisão de Guedes no seu melhor momento no time e também no melhor momento da equipe na temporada, prestes a se garantir numa final de Copa do Brasil e avançar na Sul-Americana. Jogador não pensa dessa forma. Ele sempre vai avaliar a possibilidade do momento, sempre terá dúvidas se uma nova chance vai aparecer em seu caminho. Na véspera, escrevi com todas as letras que a oferta vinha dos sauditas, mas ela acabou vindo do Catar, do Al-Rayyan. A verdade é que havia mais de uma proposta na mesa do jogador de 26 anos.
Róger Guedes deixa o Corinthians no mesmo dia em que seu rival, o São Paulo, apresenta e confirma dois reforços importantes: James Rodríguez e Lucas Moura. Menos mal para o futebol brasileiro, que perde um bom atleta, mas ganha dois outros do mesmo nível. O torcedor corintiano há de entender também o momento de Guedes e a chance de o clube ganhar um dinheiro e tentar pagar parte de suas contas. É dinheiro pouco perto da dívida de R$ 900 milhões.
Além de Róger Guedes, quem também deve estar feliz é Luxemburgo, afinal, ele ajudou a resgatar o futebol do atacante e a recolocá-lo na vitrine, tanto no Brasil quanto no exterior. O problema é saber como o time vai se virar sem um de seus principais jogadores. Não há outro no elenco como ele. Olhar para a base é sempre um caminho, mas também há muita distância para os meninos criados na casa e o atacante já consagrado.
Certamente a saída enfraquece o Corinthians em sua retomada do Brasileirão e também na decisão que terá em 15 dias com o São Paulo por um lugar na final da Copa do Brasil. Para mim, o time de Dorival já era mais forte mesmo depois da derrota de 2 a 1, agora parece muito mais com a chegada de reforços e a ausência do rival corintiano. Mas eu sempre penso que há maneiras de ao menos terminar a temporada, aceitar a oferta, mas só se apresentar meses mais para frente. Fosse Guedes, teria feito isso. Nem sempre é possível. E ficaria no Corinthians até dezembro. A torcida iria aplaudir sua atitude.
Mas todos nós sabemos que a decisão é muito pessoal. Lembro que no caso do atacante Luizão, ele teve uma contusão e colocou tudo a perder na negociação com os alemães porque continuou jogando. A carreira do jogador é curta. Só há um caminho para segurar os bons atletas nos times daqui, é fortalecendo cada vez mais o futebol brasileiro, de modo a dar opções para os jogadores dentro do País e, assim, evitar que ele faça as malas para atuar fora. Róger Guedes fará falta aos corintianos e ao futebol nacional.