O que pode acontecer na CBF com a destituição do presidente Ednaldo Rodrigues e a chegada de um interventor para mandar na entidade e convocar eleições em 30 dias? O dirigente foi destituído na quinta-feira, dia 7, pela Justiça do Rio, em consequência da anulação de uma série de assembleias da entidade, entre elas a que elegeu o dirigente baiano, todas elas baseadas em regras, segundo a Justiça, ilegais. Ou seja, Ednaldo não poderia ser eleito. O interventor é o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), José Perdiz. Ednaldo vai recorrer.
Na prática, isso quer dizer que tudo o que a CBF planejou para o próximo ano está parado, desde jogos amistosos, possibilidade de novos contratos de patrocínio, balanço do ano e até a escolha do novo treinador da seleção brasileira, cujo nome indicado por Ednaldo é Carlo Ancelotti, italiano do Real Madrid. A queda do presidente neste momento não é um tema finalizado. Haverá disputas nos bastidores e fora dele também para deixar o cartola no poder até a Copa do Mundo de 2026, como era seu projeto.
Fernando Diniz tem contrato até junho de 2024. O Brasil tem dois amistosos em março, já marcados, contra Inglaterra e Espanha. Há contratos nesse sentido, mas não há mais certeza de que os jogos vão acontecer. Tudo dependerá do andamento do processo na Justiça do Rio.
A CBF anunciou faturamento em 2022 de R$ 1,2 bilhão, pouco mais de R$ 200 milhões em relação ao ano anterior. O lucro foi de R$ 143 milhões.
A CBF comanda o futebol brasileiro. Ela nunca foi uma entidade transparente, cujas prestações de contas estavam abertas a quem quisesse ver. Pelo contrário. Seus números e transações foram sempre protocolares. Ednaldo sofre ataques desde semana passada de dois colegas que já estiveram no cargo: Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero, ambos envolvidos no ‘Fifagate’, como foi batizada a série de falcatruas desvendada pela inteligência dos EUA em 2015. Muita gente foi presa. E o presidente da Fifa, Joseph Blatter, caiu.
O que está em jogo nas manobras no Rio e das 27 federações estaduais esportivas é o novo comando da CBF, e tudo o que isso representa financeiramente no futebol brasileiro. E também como fonte de poder em Brasília. Sem o presidente, até mesmo a escolha do novo treinador da seleção está em jogo. Já não há um coordenador de seleções, e isso é uma queixa de alguns cartolas.
Carlo Ancelotti era o nome da vez para assumir o cargo que pertencia a Tite a Copa do Catar. Mas não se sabe mais se isso vai ocorrer com o técnico do Real Madrid. Mesmo que a Justiça mantenha Ednaldo no poder, a bagunça de governança da entidade pode fazer com que o treinador italiano pule fora.
Fernando Diniz também não está seguro no cargo. O técnico pode ser demitido pelo novo presidente, em caso de nova eleição na CBF. Ninguém tem certeza de nada sobre os rumos da entidade. Diniz voltaria a trabalhar na seleção em março, em dois amistosos na Europa, se acontecer.
Há ainda a definição da liga para gerir o fute bol nacional. Foi Ednaldo que abriu caminho para a sua oficialização entre os clubes das séries A e B. São 40 bandeiras. O presidente pediu o voto dos clubes em troca de liberar a liga para que eles pudessem se organizar sem passar pelo crivo da CBF. A liga cuidararia de todo o dinheiro e divisão desse dinheiro das transmissões de TV de 2025, 2026 e 2026, inicialmente. Estima-se R$ 4 bilhões. Um novo cartola, seja quem for, pode mudar isso. A liga também não está mais segura.
Um terceiro ponto imediato é saber como a mãe Fifa, seguido pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), pode entender essa disputa na Justiça brasileira pelo comando da CBF. Não está descartada punição aos clubes filiados à CBF nas competições sul-americanas e internacionais. O Fluminense, ao que tudo indica e pela proximidade da data, está garantido no Mundial que começa dia 12. Mas Palmeiras e Flamengo podem ser punidos nas edições de 2025, no novo formato com mais clubes de todos os continentes.
O assunto está aberto e vale lembrar que todos os últimos presidentes da CBF foram arrancados do poder por corrupção ou questões criminais. Ricardo Teixeira foi acusado de corrupção, assim como Marco Polo de Nero e José Maria Marin, que ficou preso nos EUA. Depois veio Rogério Caboclo, acusado de assédio moral e sexual e que, depois, foi julgado inocente. E agora há esse caso envolvendo as regras que elegeram Ednaldo.