É o fundo do poço. Não conseguimos organizar um jogo de futebol, como se viu nesse confronto entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa. Ninguém se deu conta da rivalidade entre brasileiros e argentinos, duas das maiores seleções do mundo, donas de oito títulos mundiais. Uma rivalidade de longa data e difícil de ser controlada, em todas as competições, de seleções e também de clubes. A ganância falou mais alto, não havia separação dos torcedores no Maracanã, não havia policiamento adequado e preparado.
Houve ganância de vender ingressos e de ganhar dinheiro - R$ 20 milhões. Muitos brasileiros e argentinos poderiam ter sido pisoteados e sabe-se lá o que mais poderia acontecer com o torcedor. Eles foram pressionados e alguns tiveram de pular para dentro do campo ou para outro setor do estádio. Quem organiza tudo isso é a CBF, maior responsável pela confusão.
Eram quase 70 mil pessoas no Maracanã. Os argentinos, todo mundo sabe, estão malucos com sua seleção desde o tricampeonato mundial no Catar. Todo mês eles festejam a conquista desde janeiro. Então, era para se prever isso. Era para pensar que milhares de argentinos estariam no Rio, como estavam na partida final da Libertadores entre Boca Juniors e Fluminense. Como também estiveram na Copa do Mundo de 2014, quando a Argentina perdeu na final para a Alemanha.
A federação local é sempre responsável por organizar a partida. A Conmebol delega para o país mandante todo esse serviço. Portanto, tudo o que ocorreu está no colo da CBF. Não teve um único cidadão dentro da entidade capaz de pensar em prever tal confusão. O torcedor foi esquecido. Tratado como gado em pleno século 21. O policiamento, despreparado como sempre, obedece ordens e separa as confusões soltando a borracha.
Trâmite
Há delegados da partida escalados para relatar todos os fatos, quando necessários, para a Fifa. Esse relatório vai para o Comitê Disciplinar da Fifa. E aí há uma análise na entidade. Eliminatórias são jogos de Copa, portanto, jogo com a chancela da Fifa. Esses delegados são, na maioria, sul-americanos. Eles ficam de olho nas questões disciplinares do jogo. Isso não tira da CBF sua responsabilidade. O mandante é sempre o organizador. No caso desse jogo, o delegado era o colombiano Óscar Astudillo. A Conmebol faz essa ponte entre a Fifa e a CBF.
Os jogadores argentinos foram proteger seus torcedores. Nunca tinha visto algo parecido antes. Messi disse inicialmente que não iria jogar. Voltou atrás por respeito à sua seleção e aos pedidos dos delegados do jogo para que jogasse. Sua vontade era de não jogar. Ele tirou seu time de campo antes de voltar.
Havia mulheres e crianças no estádio naquele setor. Somente argentinos foram atendidos nos postos médicos, inicialmente oito pessoas. Nenhum brasileiro.
O Brasil é o maior derrotado nessa confusão. Os 90 minutos do jogo não apagam a vergonha que passamos. Sim, foi vergonhoso. Um vexame. Não me venha com “os argentinos merecem” porque não é assim que funciona. Sempre fomos bons anfitriões. Mas dessa vez, pisamos na bola. Essas imagens vão correr o mundo. Não há desculpas. Semana passada, uma menina morreu num show musical no Rio também porque não havia água para beber num calor de 40 graus. Pessoas passavam mal. E ninguém pensou que aquilo poderia acontecer.
Estamos diante da falência das instituições no Brasil, mesmo as esportivas. E olha que há bem pouco tempo, o País recebeu uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, sem contar eventos de outros segmentos. O pior de tudo é saber que dava para ser evitado, tanto a morte da menina no show musical quanto essa confusão lamentável no Maracanã, templo maior do futebol nacional e mundial. É preciso que se punam os envolvidos para que isso não aconteça nunca mais. É preciso que os responsáveis apareçam. O Brasil perdeu por 1 a 0 e desceu para a sexta colocação nas Eliminatórias. Outra vergonha.