Todos querem saber se Abel Ferreira vai embora ou se fica no Palmeiras, consequentemente no futebol brasileiro por mais uma temporada. Todos que me encontram perguntam sobre isso É assunto nas rodas de futebol, confraternizações de fim de ano, bares e padarias. Até o palmeirense da casa de carnes me perguntou do Abel. Os torcedores do Palmeiras estão mais interessados por motivos óbvios, mas não são os únicos. Em São Paulo, o questionamento vem de corintianos, são-paulinos e santistas. Até flamenguistas querem saber.
A resposta está com o próprio Abel. Nem a presidente Leila Pereira tem o que fazer desta vez. Ela já prolongou o contrato do treinador até dezembro de 2024. Ofereceu aumento salarial, algumas vantagens, como usar seu avião para levar a família Ferreira para cima e para baixo, e trata o treinador e sua comissão com atenção e carinho, mas a decisão está mesmo nas motivações dentro do coração de Abel. Ficar ou sair do Palmeiras nada tem a ver somente com dinheiro. Há muitas coisas envolvidas.
Mas por que o assunto sobre Abel é tão discutido no Brasil? O que ele trouxe consigo e, se partir, o que vai deixar no futebol brasileiro?
Esse é o ponto. Abel tem seguidores cegos no País, aqueles que reconhecem seus feitos no futebol brasileiro e os que não vão com a sua cara, mas mesmo esses admitem seu sucesso, sua competência, sua gestão produtiva e seu total controle do elenco palmeirense. Não diria que Abel causa ciumeira porque há bons treinadores no futebol e o futebol, como uma mãe, resgata esses técnicos de tempos em tempos. Ora eles não dão certo em um clube e ora arrebentam em outro.
Cito dois exemplos: Felipão e Renato Gaúcho, com altos e baixos e acertos e erros. A diferença para Abel é que ele acerta mais do que os outros e seus erros são menos visíveis. Sua gestão faz com que Palmeiras nunca desista de buscar o resultado de uma partida. a exemplo do que aconteceu recentemente contra o Fortaleza.
Rejeição zero no Palmeiras
Seu legado no futebol brasileiro diz respeito à forma com que ganhou o controle do time e do clube, dos torcedores e dos rivais. Outros já fizeram isso em épocas diferentes e com métodos diferentes. Tite, por exemplo, tinha o controle nas mãos do Corinthians antes de ir para a seleção. Abel consegue transformar seu trabalho em conquistas e isso o torna diferente. Desde que chegou, ele nunca deixou de ganhar. Não é fácil. Isso o ajuda no dia a dia. Dá confiança e crédito quando coloca suas ideias aos demais. As taças conquistaram os palmeirenses, que ele chamou de ‘palmeiristas’ quando chegou. Sua rejeição no clube é zero, assim como na torcida, o que é raro no futebol nacional.
Então, mesmo chegando sem nada ao Brasil, sem troféus e vindo do futebol grego, que não diz nada para os brasileiros, Abel trouxe na bagagem um método de trabalho, ideias frescas, confiança, cobranças, vontade de aprender e sua experiência como jogador e dos cursos que fez na Uefa para exercer a profissão. Olha para o seu time, mas também para os oponentes.
Ele não começou de baixo porque começou no Palmeiras, mas sempre soube da instabilidade dos dirigentes e da impaciência da torcida no futebol brasileiro. Fez bem o seu trabalho para escapar dessas iras. O que ele conseguiu em três anos, em todos os sentidos, há técnicos que não conseguem a vida inteira.
Legado de Abel
Nesta quarta-feira, o que todos esperam é sua resposta, seja ela qual for. Leila já tem essa informação, até porque o Palmeiras precisa seguir com ou sem o seu treinador. Se ele for embora ou ficar por mais um tempo, o futebol brasieiro precisa tirar lições o quanto antes do seu trabalho, do modo de gerir, das reclamações assertivas sobre organização, de como monta seu time, das decisões tomadas... Esse seria o maior legado do português.