Valeu a pena para os torcedores do São Paulo rodar 585 quilômetros de São Paulo a Belo Horizonte para ver seu time ganhar a primeira taça do ano, a Supercopa do Rei Pelé, festejada após 90 minutos de um bom e disputado futebol (0 a 0) e das cobranças de pênaltis contra o Palmeiras: 4 a 2. O jogo num Mineirão dividido entre as torcidas colocou frente a frente o campeão do Brasileirão e o da Copa do Brasil. No tempo normal, nenhum dos 22 jogadores se destacou na partida bastante travada. Coube então nas cobranças de pênaltis aparecer um herói. Um herói e dois vilões, essas condições que o futebol faz em finais. Foi uma festa bonita e bem preparada.
Os vilões foram os batedores palmeirenses Murilo e Piquerez, dois dois melhores jogadores do futebol brasileiro, mas que erraram nos chutes. O herói foi o goleiro Rafael, coroado por Clodoaldo, ex-Santos e que representava o Rei, após levar o São Paulo ao inédito título. Ele defendeu as duas cobranças. Foi carregado pelos companheiros. Ao Palmeiras restou reconhecer a conquista do rival. Foi também o primeiro título de Thiago Carpini ao assumir o posto de Dorival Junior, presente no estádio em nome do seu novo trabalho na seleção.
Havia muita qualidade dentro do Mineirão para a decisão da Supercopa. Houve muita catimba dos dois lados, muitas reclamações e algumas simulações na tentativa de enganar o árbitro. Também não faltaram cartões amarelos e discussões por causa desses cartões. Os goleiros foram acionados o tempo todo pelos zagueiros, fizeram poucas, mas importantes defesas. Os craques não deram o ar da graça. Nem Raphael Veiga nem Luciano. Nem Rony nem Calleri. O jogo foi uma disputa de espaço e pela bola.
Não houve refresco, apesar da baixa produção dos atacantes. Nem por isso, diga-se, a partida foi ruim, como na cobrança de falta de Galoppo aos 35 do segundo tempo ou ainda na boa jogada de Mayke pela direita com arremate forte.
Era proibido piscar. Olhar para a bola e para a movimentação dos adversários resume o que foi Palmeiras e São Paulo num Mineirão bem dividido e bonito, com as duas torcidas tremulando suas bandeiras e levando fé. Houve um incidente na véspera, dois torcedores são-paulinos se acharam no direito de jogar garrafas no ônibus do estafe do Palmeiras, que, orientado pela organização da partida, entenda-se CBF, passou em frente ao hotel onde estava a delegação do Morumbi. Visível erro de estratégia.
Nenhuma outra confusão foi registrada na ida nem no estádio. Isso é bom porque abre ao menos a possibilidade de repensar a lei de torcida única nos clássicos paulistas.
Nem mesmo o cansaço dos jogadores e as trocas dos técnicos foram capazes de tirar a atenção dos rivais em campo. O nível de concentração dos dois lados foi altíssimo. Em uma singela comparação entre as equipes e seus respectivos treinadores, assim como as opções de banco dos dois lados, não seria demais afirmar que o São Paulo está no nível do Palmeiras em qualidade do elenco, composição tática, entrosamento e disposição.
Diferentemente de anos anteriores e validado pela conquista da Copa do Brasil, dá para afirmar ainda que o São Paulo amadureceu e aprendeu a fazer partidas decisivas. Não “afina” mais, como diziam seus torcedores.
Pênaltis e um novo herói
Os são-paulinos vibraram mais com os gols marcados. Estavam próximos de sua torcida, no calor e no apetite pela conquista inédita. Mereceram a vitória após dois erros do Palmeiras, nas cobranças de Murilo e Piquerez e nas defesas de Rafael, o herói da nova conquista tricolor.