Vitor Pereira é uma aposta do Corinthians como foram tantos outros treinadores portugueses que aqui desembarcaram recentemente. Talvez de todos eles, as ideias de Paulo Sousa, que comanda o Flamengo, sejam as mais claras de um técnico antes da contratação. Até mesmo com Jorge Jesus, antes de seu sucesso na Gávea, havia muita desconfiança. Da mesma forma que se provou Abel Ferreira no Palmeiras - ele não tinha nenhuma conquista para mostrar.
Vitor Pereira é mais um treinador português, formado nas escolas e concepções do país descobridor, que tenta a sorte em cenários fora de Portugal. Ficou uma temporada no Porto e isso tem peso porque o clube é um dos mais tradicionais da Europa, com passagens de bons jogadores brasileiros, como Casagrande, Hulk, Deco, para citar apenas alguns em épocas diferentes.
O Corinthians assinou por uma temporada e isso também já mostra maturidade do clube em relação às suas apostas. Ficar até dezembro é tempo suficiente para que as duas partes, treinador e diretoria, possam fazer uma avaliação mútua. No fim do ano, Vitor e o presidente Duílio Monteiro Alves devem se sentar e conversar. Ótimo ter esse tipo de acordo. Os clubes não suportam mais tantas dívidas com contratações e demissões de treinadores.
O cartão de visita de Vitor Pereira, um ex-jogador mediano, é seu currículo, como sempre é na hora da contratação. Mas não pode ser somente isso. O que se espera é que ele tenha apresentado para a diretoria do clube suas propostas de trabalho, de montagem de times, de uso da base, da distribuição tática, do falso 9... e que a diretoria do Corinthians tenha apresentado a ele as características do elenco, dos melhores jogadores, dos jogadores que precisam ser recuperados, dos meninos com potencial nas categorias inferiores, da força e ansiedade da torcida, do alçapão que deveria ser o estádio, das dívidas que o clube tem e terá de pagar em breve e de uma visão de gestão para os próximos anos. É preciso dizer ainda quais são as metas do time em 2022. É ganhar o Paulistão? É buscar um título? Dois? É focar nas competições que mais pagam em cota e premiação? Essas discussões deveriam fazer parte dos acertos desses acordos, para que não haja mentiras nem enganação. Da mesma forma, é preciso ouvir do treinador, mesmo forasteiro, o que ele sabe do futebol brasileiro, do tamanho do Corinthians e de suas necessidades. Faz parte.
Entrando na questão financeira, o novo treinador chega com toda a sua comissão técnica. São cinco profissionais. Há, portanto, um custo mais alto ao clube. Estrangeiro faz contrato no futebol em dólar, que teve uma queda na semana em relação ao real, mas que tem se mantido na casa dos R$ 5. É outro problema. O Corinthians tem de ter dinheiro em caixa para bancar sua comissão técnica para que não haja problemas no futuro. Projetos para pagar suas contratações já se provaram uma barca furada, como ficou claro na história, por exemplo, de Daniel Alves e São Paulo.
A torcida, sempre atrás da porta pronta a arrombá-la, também precisa ser paciente, entender a situação do clube e do próprio treinador que vai chegar ao Brasil deconhecido. Não adianta cobrar resultados imediatamente de um treinador recém-chegado. Também é importante que os líderes do elenco ajudem o novo comandante e não larguem tudo em suas costas, como sempre fazem. Renato Augusto, Cássio, Paulinho, Fágner, Fábio Santos, todos eles têm muita responsabilidade no sucesso do Corinthians agora nas mãos de Vitor Pereira. É preciso ainda agradecer ao trabalho do interino Lázaro.