‘Santo skatista’? Conheça o espanhol que morreu enfrentando terroristas e pode ser canonizado


Pai de Ignacio Echeverría, morto em atentado de 2017 em Londres tentando salvar vítima, iniciou processo para ser entregue ao Vaticano

Por Bruno Accorsi
Atualização:

Danny León, skatista espanhol top-10 do ranking olímpico, foi até a pequena cidade de Rincón de la Victoria, em janeiro deste ano, para participar de uma competição nacional. Saiu de lá com uma medalha de ouro e outra de prata, após belas manobras executadas nas instalações do Skate Park Ignacio Echeverría. Tal nome batiza mais de 30 pistas de skate na Espanha e até o troféu de uma competição de ondas gigantes. Não se trata, contudo, de uma homenagem a um multicampeão ou fenômeno do esporte, e sim a um potencial santo.

Há um processo em curso neste momento de canonização de Ignacio Echeverría Miralles de Imperial, com apoio da Arquidiocese de Madri. Bancário formado em Direito, era também skatista e usava o pseudônimo Abo - de abogado, advogado em espanhol - nos vídeos que produzia para mostrar suas manobras. Praticar o esporte que amava desde os 11 anos, imerso na cultura de rua, foi um dos últimos atos de Abo em vida.

Ignacio Echeverria é objeto de processo de canonização apoiado pela Arquidiocese de Madri. Foto: Arquivo pessoal
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O espanhol morreu em 3 de junho de 2017, aos 39 anos. Estava em Londres, onde morava, andando de skate com amigos perto do Borough Market, ponto histórico da capital inglesa, quando notou uma movimentação estranha e rostos assustados pela rua.

Entendeu melhor o que acontecia ao ver um policial no chão, esfaqueado por um homem, que em seguida se dirigiu a uma mulher. Ignacio notou o movimento e usou o skate para bater no agressor e defender a vítima, mas acabou atingido por facadas. Abo estava acompanhado de amigos e, embora um deles, Guillermo Sánchez, tenha testemunhado o ato, acabaram se desencontrando no meio da confusão.

Aquilo que acabavam de presenciar era um atentado terrorista responsável pela morte de mais sete pessoas e outros 48 feridos. No dia seguinte, o Estado Islâmico reivindicou a autoria. Os ataques começaram com atropelamentos na London Bridge. Em seguida, três homens que estavam no veículo desceram nas redondezas do Borough Market e iniciaram os esfaqueamentos. Por fim, foram mortos pela polícia.

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Ignacio chegou a ser atendido no local do ataque por um médico que viu a cena de dentro de um restaurante. “Eu disse ‘vocês têm de me deixar sair, sou médico’, afirmou o Dr. Jonathan Moses durante depoimento após o ataque, ao relembrar do momento em que tentou, em vão, salvar o skatista, que teve a morte registrada às 22h58, horário local, naquele dia.

Comoção e homenagens ao herói skatista

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A notícia de que ele estava morto demorou a ser confirmada. Ainda em luto, os companheiros de skate andaram pelos locais favoritos de Abo em Londres, como forma de homenageá-lo e de recuperar a positividade e alegria que ele trazia ao grupo. Foi a esses sentimentos que Joaquín Echeverria, pai de Ignacio, se apegou para seguir em frente.

“Que Ignacio seja patrimônio de todos aqueles que sentem os seus princípios. A bondade, a generosidade, a vontade de fazer bem as coisas, que se traduz na sua alegria de viver, na sua tenacidade e no esforço que fez durante toda a vida para melhorar, sob todos os pontos de vista”, disse Joaquín, em entrevista ao Estadão.

Joaquín Echeverría em homenagem a Ignacio em 2019, ao lado de Ángel Garrido, então presidente da Comunidade de Madri, e José de la Uz, prefeito de Las Rozas. Foto: Divulgação/Comunidad de Madrid
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As palavras carregadas de religiosidade estão relacionadas à empreitada à qual o pai do skatista se dedica neste momento. Ele tem lutado pela campanha de canonização do filho, que já recebeu honrarias como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Civil da Espanha e a Medalha George do Reino Unido.

“Acho que sei que a canonização de uma pessoa não altera o seu status no Céu e que todos conhecemos pessoas que morreram e que são santos e nunca serão canonizados, mas Ignacio tem características pessoais que podem torná-lo muito útil, de ser uma pessoa absolutamente normal, sem nenhuma habilidade excepcional, mas com grande tenacidade e vontade de ser bom”, defende o pai.

Decisão de papa Francisco abriu caminho para tentativa de canonização

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O caminho para tornar Abo santo abriu-se em 2017, cerca de um mês depois de sua morte, quando o papa Francisco publicou em carta apostólica uma “quarta via” para a canonização: oferecer a vida pelo próximo. No ano seguinte, o bispo Don Juan Antonio Martínez Camino, encarregado das causas de santificação do arcebispado de Madri, manifestou a ideia de que Ignacio poderia ser santificado.

Joaquín e sua mulher, Ana Miralles de Imperial, mãe de Ignacio, se encontraram com Martínez Camino e ouviram o religioso propor que tentassem a canonização. “A arquidiocese, na pessoa de Dom Juan Antonio, sugeriu que começássemos a causa porque Ignacio poderia ser muito útil no fortalecimento da fé e da conduta de muitos fiéis, se a causa fosse adiante”, conta o pai.

A família teve de aguardar o período de cinco anos após a morte do postulante, como determina a Igreja, para iniciar os trâmites e conseguiu oficializar o processo no início de 2023. Assim, foi registrada na arquidiocese a Associação para a Canonização de Ignacio Echeverria, que contratou um postulador, como é chamado o responsável por organizar a causa da canonização por meio dos processos judiciais exigidos pela Igreja Católica.

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Estátua de Ignacio acertando um "ollie" com o skate, criada por Marta Salinas. Foto: Arquivo pessoal

“O postulador escreveu ao arcebispado comunicando que pretende apresentar o processo para iniciar a causa, e o arcebispado consultou Roma e o arcebispado de Londres, onde morreu Ignacio. Foi decidido que Madri seria o local competente para receber e iniciar a causa”, explica Joaquín.

Agora, estão sendo reunidos testemunhos de “fama de santidade” e Joaquín afirma que muitos já foram recolhidos. São relatos de pessoas que, de fato, rezam para o “Santo Skatista” e pedem favores. Não há data para o processo ser entregue pelo postulador, mas o pai espera que seja em breve.

Joaquín também criou uma instituição não religiosa com o nome do filho, para “disseminar seus valores”. Além disso, está sempre atento a diferentes homenagens a Ignácio, como uma biografia autorizada lançada neste ano ano, sob o título Héroe del Monopatín, e o espetáculo musical Skate Hero, em cartaz desde 2021, em Las Rozas, onde mora a família do skatista.

Danny León, skatista espanhol top-10 do ranking olímpico, foi até a pequena cidade de Rincón de la Victoria, em janeiro deste ano, para participar de uma competição nacional. Saiu de lá com uma medalha de ouro e outra de prata, após belas manobras executadas nas instalações do Skate Park Ignacio Echeverría. Tal nome batiza mais de 30 pistas de skate na Espanha e até o troféu de uma competição de ondas gigantes. Não se trata, contudo, de uma homenagem a um multicampeão ou fenômeno do esporte, e sim a um potencial santo.

Há um processo em curso neste momento de canonização de Ignacio Echeverría Miralles de Imperial, com apoio da Arquidiocese de Madri. Bancário formado em Direito, era também skatista e usava o pseudônimo Abo - de abogado, advogado em espanhol - nos vídeos que produzia para mostrar suas manobras. Praticar o esporte que amava desde os 11 anos, imerso na cultura de rua, foi um dos últimos atos de Abo em vida.

Ignacio Echeverria é objeto de processo de canonização apoiado pela Arquidiocese de Madri. Foto: Arquivo pessoal

O espanhol morreu em 3 de junho de 2017, aos 39 anos. Estava em Londres, onde morava, andando de skate com amigos perto do Borough Market, ponto histórico da capital inglesa, quando notou uma movimentação estranha e rostos assustados pela rua.

Entendeu melhor o que acontecia ao ver um policial no chão, esfaqueado por um homem, que em seguida se dirigiu a uma mulher. Ignacio notou o movimento e usou o skate para bater no agressor e defender a vítima, mas acabou atingido por facadas. Abo estava acompanhado de amigos e, embora um deles, Guillermo Sánchez, tenha testemunhado o ato, acabaram se desencontrando no meio da confusão.

Aquilo que acabavam de presenciar era um atentado terrorista responsável pela morte de mais sete pessoas e outros 48 feridos. No dia seguinte, o Estado Islâmico reivindicou a autoria. Os ataques começaram com atropelamentos na London Bridge. Em seguida, três homens que estavam no veículo desceram nas redondezas do Borough Market e iniciaram os esfaqueamentos. Por fim, foram mortos pela polícia.

Ignacio chegou a ser atendido no local do ataque por um médico que viu a cena de dentro de um restaurante. “Eu disse ‘vocês têm de me deixar sair, sou médico’, afirmou o Dr. Jonathan Moses durante depoimento após o ataque, ao relembrar do momento em que tentou, em vão, salvar o skatista, que teve a morte registrada às 22h58, horário local, naquele dia.

Comoção e homenagens ao herói skatista

A notícia de que ele estava morto demorou a ser confirmada. Ainda em luto, os companheiros de skate andaram pelos locais favoritos de Abo em Londres, como forma de homenageá-lo e de recuperar a positividade e alegria que ele trazia ao grupo. Foi a esses sentimentos que Joaquín Echeverria, pai de Ignacio, se apegou para seguir em frente.

“Que Ignacio seja patrimônio de todos aqueles que sentem os seus princípios. A bondade, a generosidade, a vontade de fazer bem as coisas, que se traduz na sua alegria de viver, na sua tenacidade e no esforço que fez durante toda a vida para melhorar, sob todos os pontos de vista”, disse Joaquín, em entrevista ao Estadão.

Joaquín Echeverría em homenagem a Ignacio em 2019, ao lado de Ángel Garrido, então presidente da Comunidade de Madri, e José de la Uz, prefeito de Las Rozas. Foto: Divulgação/Comunidad de Madrid

As palavras carregadas de religiosidade estão relacionadas à empreitada à qual o pai do skatista se dedica neste momento. Ele tem lutado pela campanha de canonização do filho, que já recebeu honrarias como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Civil da Espanha e a Medalha George do Reino Unido.

“Acho que sei que a canonização de uma pessoa não altera o seu status no Céu e que todos conhecemos pessoas que morreram e que são santos e nunca serão canonizados, mas Ignacio tem características pessoais que podem torná-lo muito útil, de ser uma pessoa absolutamente normal, sem nenhuma habilidade excepcional, mas com grande tenacidade e vontade de ser bom”, defende o pai.

Decisão de papa Francisco abriu caminho para tentativa de canonização

O caminho para tornar Abo santo abriu-se em 2017, cerca de um mês depois de sua morte, quando o papa Francisco publicou em carta apostólica uma “quarta via” para a canonização: oferecer a vida pelo próximo. No ano seguinte, o bispo Don Juan Antonio Martínez Camino, encarregado das causas de santificação do arcebispado de Madri, manifestou a ideia de que Ignacio poderia ser santificado.

Joaquín e sua mulher, Ana Miralles de Imperial, mãe de Ignacio, se encontraram com Martínez Camino e ouviram o religioso propor que tentassem a canonização. “A arquidiocese, na pessoa de Dom Juan Antonio, sugeriu que começássemos a causa porque Ignacio poderia ser muito útil no fortalecimento da fé e da conduta de muitos fiéis, se a causa fosse adiante”, conta o pai.

A família teve de aguardar o período de cinco anos após a morte do postulante, como determina a Igreja, para iniciar os trâmites e conseguiu oficializar o processo no início de 2023. Assim, foi registrada na arquidiocese a Associação para a Canonização de Ignacio Echeverria, que contratou um postulador, como é chamado o responsável por organizar a causa da canonização por meio dos processos judiciais exigidos pela Igreja Católica.

Estátua de Ignacio acertando um "ollie" com o skate, criada por Marta Salinas. Foto: Arquivo pessoal

“O postulador escreveu ao arcebispado comunicando que pretende apresentar o processo para iniciar a causa, e o arcebispado consultou Roma e o arcebispado de Londres, onde morreu Ignacio. Foi decidido que Madri seria o local competente para receber e iniciar a causa”, explica Joaquín.

Agora, estão sendo reunidos testemunhos de “fama de santidade” e Joaquín afirma que muitos já foram recolhidos. São relatos de pessoas que, de fato, rezam para o “Santo Skatista” e pedem favores. Não há data para o processo ser entregue pelo postulador, mas o pai espera que seja em breve.

Joaquín também criou uma instituição não religiosa com o nome do filho, para “disseminar seus valores”. Além disso, está sempre atento a diferentes homenagens a Ignácio, como uma biografia autorizada lançada neste ano ano, sob o título Héroe del Monopatín, e o espetáculo musical Skate Hero, em cartaz desde 2021, em Las Rozas, onde mora a família do skatista.

Danny León, skatista espanhol top-10 do ranking olímpico, foi até a pequena cidade de Rincón de la Victoria, em janeiro deste ano, para participar de uma competição nacional. Saiu de lá com uma medalha de ouro e outra de prata, após belas manobras executadas nas instalações do Skate Park Ignacio Echeverría. Tal nome batiza mais de 30 pistas de skate na Espanha e até o troféu de uma competição de ondas gigantes. Não se trata, contudo, de uma homenagem a um multicampeão ou fenômeno do esporte, e sim a um potencial santo.

Há um processo em curso neste momento de canonização de Ignacio Echeverría Miralles de Imperial, com apoio da Arquidiocese de Madri. Bancário formado em Direito, era também skatista e usava o pseudônimo Abo - de abogado, advogado em espanhol - nos vídeos que produzia para mostrar suas manobras. Praticar o esporte que amava desde os 11 anos, imerso na cultura de rua, foi um dos últimos atos de Abo em vida.

Ignacio Echeverria é objeto de processo de canonização apoiado pela Arquidiocese de Madri. Foto: Arquivo pessoal

O espanhol morreu em 3 de junho de 2017, aos 39 anos. Estava em Londres, onde morava, andando de skate com amigos perto do Borough Market, ponto histórico da capital inglesa, quando notou uma movimentação estranha e rostos assustados pela rua.

Entendeu melhor o que acontecia ao ver um policial no chão, esfaqueado por um homem, que em seguida se dirigiu a uma mulher. Ignacio notou o movimento e usou o skate para bater no agressor e defender a vítima, mas acabou atingido por facadas. Abo estava acompanhado de amigos e, embora um deles, Guillermo Sánchez, tenha testemunhado o ato, acabaram se desencontrando no meio da confusão.

Aquilo que acabavam de presenciar era um atentado terrorista responsável pela morte de mais sete pessoas e outros 48 feridos. No dia seguinte, o Estado Islâmico reivindicou a autoria. Os ataques começaram com atropelamentos na London Bridge. Em seguida, três homens que estavam no veículo desceram nas redondezas do Borough Market e iniciaram os esfaqueamentos. Por fim, foram mortos pela polícia.

Ignacio chegou a ser atendido no local do ataque por um médico que viu a cena de dentro de um restaurante. “Eu disse ‘vocês têm de me deixar sair, sou médico’, afirmou o Dr. Jonathan Moses durante depoimento após o ataque, ao relembrar do momento em que tentou, em vão, salvar o skatista, que teve a morte registrada às 22h58, horário local, naquele dia.

Comoção e homenagens ao herói skatista

A notícia de que ele estava morto demorou a ser confirmada. Ainda em luto, os companheiros de skate andaram pelos locais favoritos de Abo em Londres, como forma de homenageá-lo e de recuperar a positividade e alegria que ele trazia ao grupo. Foi a esses sentimentos que Joaquín Echeverria, pai de Ignacio, se apegou para seguir em frente.

“Que Ignacio seja patrimônio de todos aqueles que sentem os seus princípios. A bondade, a generosidade, a vontade de fazer bem as coisas, que se traduz na sua alegria de viver, na sua tenacidade e no esforço que fez durante toda a vida para melhorar, sob todos os pontos de vista”, disse Joaquín, em entrevista ao Estadão.

Joaquín Echeverría em homenagem a Ignacio em 2019, ao lado de Ángel Garrido, então presidente da Comunidade de Madri, e José de la Uz, prefeito de Las Rozas. Foto: Divulgação/Comunidad de Madrid

As palavras carregadas de religiosidade estão relacionadas à empreitada à qual o pai do skatista se dedica neste momento. Ele tem lutado pela campanha de canonização do filho, que já recebeu honrarias como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Civil da Espanha e a Medalha George do Reino Unido.

“Acho que sei que a canonização de uma pessoa não altera o seu status no Céu e que todos conhecemos pessoas que morreram e que são santos e nunca serão canonizados, mas Ignacio tem características pessoais que podem torná-lo muito útil, de ser uma pessoa absolutamente normal, sem nenhuma habilidade excepcional, mas com grande tenacidade e vontade de ser bom”, defende o pai.

Decisão de papa Francisco abriu caminho para tentativa de canonização

O caminho para tornar Abo santo abriu-se em 2017, cerca de um mês depois de sua morte, quando o papa Francisco publicou em carta apostólica uma “quarta via” para a canonização: oferecer a vida pelo próximo. No ano seguinte, o bispo Don Juan Antonio Martínez Camino, encarregado das causas de santificação do arcebispado de Madri, manifestou a ideia de que Ignacio poderia ser santificado.

Joaquín e sua mulher, Ana Miralles de Imperial, mãe de Ignacio, se encontraram com Martínez Camino e ouviram o religioso propor que tentassem a canonização. “A arquidiocese, na pessoa de Dom Juan Antonio, sugeriu que começássemos a causa porque Ignacio poderia ser muito útil no fortalecimento da fé e da conduta de muitos fiéis, se a causa fosse adiante”, conta o pai.

A família teve de aguardar o período de cinco anos após a morte do postulante, como determina a Igreja, para iniciar os trâmites e conseguiu oficializar o processo no início de 2023. Assim, foi registrada na arquidiocese a Associação para a Canonização de Ignacio Echeverria, que contratou um postulador, como é chamado o responsável por organizar a causa da canonização por meio dos processos judiciais exigidos pela Igreja Católica.

Estátua de Ignacio acertando um "ollie" com o skate, criada por Marta Salinas. Foto: Arquivo pessoal

“O postulador escreveu ao arcebispado comunicando que pretende apresentar o processo para iniciar a causa, e o arcebispado consultou Roma e o arcebispado de Londres, onde morreu Ignacio. Foi decidido que Madri seria o local competente para receber e iniciar a causa”, explica Joaquín.

Agora, estão sendo reunidos testemunhos de “fama de santidade” e Joaquín afirma que muitos já foram recolhidos. São relatos de pessoas que, de fato, rezam para o “Santo Skatista” e pedem favores. Não há data para o processo ser entregue pelo postulador, mas o pai espera que seja em breve.

Joaquín também criou uma instituição não religiosa com o nome do filho, para “disseminar seus valores”. Além disso, está sempre atento a diferentes homenagens a Ignácio, como uma biografia autorizada lançada neste ano ano, sob o título Héroe del Monopatín, e o espetáculo musical Skate Hero, em cartaz desde 2021, em Las Rozas, onde mora a família do skatista.

Danny León, skatista espanhol top-10 do ranking olímpico, foi até a pequena cidade de Rincón de la Victoria, em janeiro deste ano, para participar de uma competição nacional. Saiu de lá com uma medalha de ouro e outra de prata, após belas manobras executadas nas instalações do Skate Park Ignacio Echeverría. Tal nome batiza mais de 30 pistas de skate na Espanha e até o troféu de uma competição de ondas gigantes. Não se trata, contudo, de uma homenagem a um multicampeão ou fenômeno do esporte, e sim a um potencial santo.

Há um processo em curso neste momento de canonização de Ignacio Echeverría Miralles de Imperial, com apoio da Arquidiocese de Madri. Bancário formado em Direito, era também skatista e usava o pseudônimo Abo - de abogado, advogado em espanhol - nos vídeos que produzia para mostrar suas manobras. Praticar o esporte que amava desde os 11 anos, imerso na cultura de rua, foi um dos últimos atos de Abo em vida.

Ignacio Echeverria é objeto de processo de canonização apoiado pela Arquidiocese de Madri. Foto: Arquivo pessoal

O espanhol morreu em 3 de junho de 2017, aos 39 anos. Estava em Londres, onde morava, andando de skate com amigos perto do Borough Market, ponto histórico da capital inglesa, quando notou uma movimentação estranha e rostos assustados pela rua.

Entendeu melhor o que acontecia ao ver um policial no chão, esfaqueado por um homem, que em seguida se dirigiu a uma mulher. Ignacio notou o movimento e usou o skate para bater no agressor e defender a vítima, mas acabou atingido por facadas. Abo estava acompanhado de amigos e, embora um deles, Guillermo Sánchez, tenha testemunhado o ato, acabaram se desencontrando no meio da confusão.

Aquilo que acabavam de presenciar era um atentado terrorista responsável pela morte de mais sete pessoas e outros 48 feridos. No dia seguinte, o Estado Islâmico reivindicou a autoria. Os ataques começaram com atropelamentos na London Bridge. Em seguida, três homens que estavam no veículo desceram nas redondezas do Borough Market e iniciaram os esfaqueamentos. Por fim, foram mortos pela polícia.

Ignacio chegou a ser atendido no local do ataque por um médico que viu a cena de dentro de um restaurante. “Eu disse ‘vocês têm de me deixar sair, sou médico’, afirmou o Dr. Jonathan Moses durante depoimento após o ataque, ao relembrar do momento em que tentou, em vão, salvar o skatista, que teve a morte registrada às 22h58, horário local, naquele dia.

Comoção e homenagens ao herói skatista

A notícia de que ele estava morto demorou a ser confirmada. Ainda em luto, os companheiros de skate andaram pelos locais favoritos de Abo em Londres, como forma de homenageá-lo e de recuperar a positividade e alegria que ele trazia ao grupo. Foi a esses sentimentos que Joaquín Echeverria, pai de Ignacio, se apegou para seguir em frente.

“Que Ignacio seja patrimônio de todos aqueles que sentem os seus princípios. A bondade, a generosidade, a vontade de fazer bem as coisas, que se traduz na sua alegria de viver, na sua tenacidade e no esforço que fez durante toda a vida para melhorar, sob todos os pontos de vista”, disse Joaquín, em entrevista ao Estadão.

Joaquín Echeverría em homenagem a Ignacio em 2019, ao lado de Ángel Garrido, então presidente da Comunidade de Madri, e José de la Uz, prefeito de Las Rozas. Foto: Divulgação/Comunidad de Madrid

As palavras carregadas de religiosidade estão relacionadas à empreitada à qual o pai do skatista se dedica neste momento. Ele tem lutado pela campanha de canonização do filho, que já recebeu honrarias como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Civil da Espanha e a Medalha George do Reino Unido.

“Acho que sei que a canonização de uma pessoa não altera o seu status no Céu e que todos conhecemos pessoas que morreram e que são santos e nunca serão canonizados, mas Ignacio tem características pessoais que podem torná-lo muito útil, de ser uma pessoa absolutamente normal, sem nenhuma habilidade excepcional, mas com grande tenacidade e vontade de ser bom”, defende o pai.

Decisão de papa Francisco abriu caminho para tentativa de canonização

O caminho para tornar Abo santo abriu-se em 2017, cerca de um mês depois de sua morte, quando o papa Francisco publicou em carta apostólica uma “quarta via” para a canonização: oferecer a vida pelo próximo. No ano seguinte, o bispo Don Juan Antonio Martínez Camino, encarregado das causas de santificação do arcebispado de Madri, manifestou a ideia de que Ignacio poderia ser santificado.

Joaquín e sua mulher, Ana Miralles de Imperial, mãe de Ignacio, se encontraram com Martínez Camino e ouviram o religioso propor que tentassem a canonização. “A arquidiocese, na pessoa de Dom Juan Antonio, sugeriu que começássemos a causa porque Ignacio poderia ser muito útil no fortalecimento da fé e da conduta de muitos fiéis, se a causa fosse adiante”, conta o pai.

A família teve de aguardar o período de cinco anos após a morte do postulante, como determina a Igreja, para iniciar os trâmites e conseguiu oficializar o processo no início de 2023. Assim, foi registrada na arquidiocese a Associação para a Canonização de Ignacio Echeverria, que contratou um postulador, como é chamado o responsável por organizar a causa da canonização por meio dos processos judiciais exigidos pela Igreja Católica.

Estátua de Ignacio acertando um "ollie" com o skate, criada por Marta Salinas. Foto: Arquivo pessoal

“O postulador escreveu ao arcebispado comunicando que pretende apresentar o processo para iniciar a causa, e o arcebispado consultou Roma e o arcebispado de Londres, onde morreu Ignacio. Foi decidido que Madri seria o local competente para receber e iniciar a causa”, explica Joaquín.

Agora, estão sendo reunidos testemunhos de “fama de santidade” e Joaquín afirma que muitos já foram recolhidos. São relatos de pessoas que, de fato, rezam para o “Santo Skatista” e pedem favores. Não há data para o processo ser entregue pelo postulador, mas o pai espera que seja em breve.

Joaquín também criou uma instituição não religiosa com o nome do filho, para “disseminar seus valores”. Além disso, está sempre atento a diferentes homenagens a Ignácio, como uma biografia autorizada lançada neste ano ano, sob o título Héroe del Monopatín, e o espetáculo musical Skate Hero, em cartaz desde 2021, em Las Rozas, onde mora a família do skatista.

Danny León, skatista espanhol top-10 do ranking olímpico, foi até a pequena cidade de Rincón de la Victoria, em janeiro deste ano, para participar de uma competição nacional. Saiu de lá com uma medalha de ouro e outra de prata, após belas manobras executadas nas instalações do Skate Park Ignacio Echeverría. Tal nome batiza mais de 30 pistas de skate na Espanha e até o troféu de uma competição de ondas gigantes. Não se trata, contudo, de uma homenagem a um multicampeão ou fenômeno do esporte, e sim a um potencial santo.

Há um processo em curso neste momento de canonização de Ignacio Echeverría Miralles de Imperial, com apoio da Arquidiocese de Madri. Bancário formado em Direito, era também skatista e usava o pseudônimo Abo - de abogado, advogado em espanhol - nos vídeos que produzia para mostrar suas manobras. Praticar o esporte que amava desde os 11 anos, imerso na cultura de rua, foi um dos últimos atos de Abo em vida.

Ignacio Echeverria é objeto de processo de canonização apoiado pela Arquidiocese de Madri. Foto: Arquivo pessoal

O espanhol morreu em 3 de junho de 2017, aos 39 anos. Estava em Londres, onde morava, andando de skate com amigos perto do Borough Market, ponto histórico da capital inglesa, quando notou uma movimentação estranha e rostos assustados pela rua.

Entendeu melhor o que acontecia ao ver um policial no chão, esfaqueado por um homem, que em seguida se dirigiu a uma mulher. Ignacio notou o movimento e usou o skate para bater no agressor e defender a vítima, mas acabou atingido por facadas. Abo estava acompanhado de amigos e, embora um deles, Guillermo Sánchez, tenha testemunhado o ato, acabaram se desencontrando no meio da confusão.

Aquilo que acabavam de presenciar era um atentado terrorista responsável pela morte de mais sete pessoas e outros 48 feridos. No dia seguinte, o Estado Islâmico reivindicou a autoria. Os ataques começaram com atropelamentos na London Bridge. Em seguida, três homens que estavam no veículo desceram nas redondezas do Borough Market e iniciaram os esfaqueamentos. Por fim, foram mortos pela polícia.

Ignacio chegou a ser atendido no local do ataque por um médico que viu a cena de dentro de um restaurante. “Eu disse ‘vocês têm de me deixar sair, sou médico’, afirmou o Dr. Jonathan Moses durante depoimento após o ataque, ao relembrar do momento em que tentou, em vão, salvar o skatista, que teve a morte registrada às 22h58, horário local, naquele dia.

Comoção e homenagens ao herói skatista

A notícia de que ele estava morto demorou a ser confirmada. Ainda em luto, os companheiros de skate andaram pelos locais favoritos de Abo em Londres, como forma de homenageá-lo e de recuperar a positividade e alegria que ele trazia ao grupo. Foi a esses sentimentos que Joaquín Echeverria, pai de Ignacio, se apegou para seguir em frente.

“Que Ignacio seja patrimônio de todos aqueles que sentem os seus princípios. A bondade, a generosidade, a vontade de fazer bem as coisas, que se traduz na sua alegria de viver, na sua tenacidade e no esforço que fez durante toda a vida para melhorar, sob todos os pontos de vista”, disse Joaquín, em entrevista ao Estadão.

Joaquín Echeverría em homenagem a Ignacio em 2019, ao lado de Ángel Garrido, então presidente da Comunidade de Madri, e José de la Uz, prefeito de Las Rozas. Foto: Divulgação/Comunidad de Madrid

As palavras carregadas de religiosidade estão relacionadas à empreitada à qual o pai do skatista se dedica neste momento. Ele tem lutado pela campanha de canonização do filho, que já recebeu honrarias como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Civil da Espanha e a Medalha George do Reino Unido.

“Acho que sei que a canonização de uma pessoa não altera o seu status no Céu e que todos conhecemos pessoas que morreram e que são santos e nunca serão canonizados, mas Ignacio tem características pessoais que podem torná-lo muito útil, de ser uma pessoa absolutamente normal, sem nenhuma habilidade excepcional, mas com grande tenacidade e vontade de ser bom”, defende o pai.

Decisão de papa Francisco abriu caminho para tentativa de canonização

O caminho para tornar Abo santo abriu-se em 2017, cerca de um mês depois de sua morte, quando o papa Francisco publicou em carta apostólica uma “quarta via” para a canonização: oferecer a vida pelo próximo. No ano seguinte, o bispo Don Juan Antonio Martínez Camino, encarregado das causas de santificação do arcebispado de Madri, manifestou a ideia de que Ignacio poderia ser santificado.

Joaquín e sua mulher, Ana Miralles de Imperial, mãe de Ignacio, se encontraram com Martínez Camino e ouviram o religioso propor que tentassem a canonização. “A arquidiocese, na pessoa de Dom Juan Antonio, sugeriu que começássemos a causa porque Ignacio poderia ser muito útil no fortalecimento da fé e da conduta de muitos fiéis, se a causa fosse adiante”, conta o pai.

A família teve de aguardar o período de cinco anos após a morte do postulante, como determina a Igreja, para iniciar os trâmites e conseguiu oficializar o processo no início de 2023. Assim, foi registrada na arquidiocese a Associação para a Canonização de Ignacio Echeverria, que contratou um postulador, como é chamado o responsável por organizar a causa da canonização por meio dos processos judiciais exigidos pela Igreja Católica.

Estátua de Ignacio acertando um "ollie" com o skate, criada por Marta Salinas. Foto: Arquivo pessoal

“O postulador escreveu ao arcebispado comunicando que pretende apresentar o processo para iniciar a causa, e o arcebispado consultou Roma e o arcebispado de Londres, onde morreu Ignacio. Foi decidido que Madri seria o local competente para receber e iniciar a causa”, explica Joaquín.

Agora, estão sendo reunidos testemunhos de “fama de santidade” e Joaquín afirma que muitos já foram recolhidos. São relatos de pessoas que, de fato, rezam para o “Santo Skatista” e pedem favores. Não há data para o processo ser entregue pelo postulador, mas o pai espera que seja em breve.

Joaquín também criou uma instituição não religiosa com o nome do filho, para “disseminar seus valores”. Além disso, está sempre atento a diferentes homenagens a Ignácio, como uma biografia autorizada lançada neste ano ano, sob o título Héroe del Monopatín, e o espetáculo musical Skate Hero, em cartaz desde 2021, em Las Rozas, onde mora a família do skatista.

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