João Bosco Lacerda - Seleção Universitária - especial para o Estado
BRASÍLIA - Um estádio para 71 mil pessoas, ao custo de 1,2 bilhões de reais. Este é o único legado que a Copa das Confederações deixa para os brasilienses, em uma cidade que sofre com graves problemas de mobilidade e transporte público, além de contar com estruturas precárias para o desenvolvimento do esporte local.
Incluso inicialmente na matriz de responsabilidade para a Copa do Mundo de 2014, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), metrô de superfície que ligaria o aeroporto de Brasília à região central da cidade, com pontos de parada distantes cerca de um quilômetro e meio do Estádio Mané Garrincha, não ficará pronto até o início do evento, por conta do cancelamento de todas as licitações do projeto.
O embargo, em abril de 2011, se deu por acusações de fraude no processo licitatório. O objetivo seria beneficiar o consórcio formado pelas empresas Daclon, Altran/TCBR e Veja Engenharia, ligadas ao então presidente da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF), José Gaspar de Souza.
A obra foi então inclusa no Programa de Aceleração de Crescimento Mobilidade Grandes Cidades (PAC-Mobilidade) e, de acordo com a Metrô-DF, encontra-se em fase de pré-qualificação para a licitação. O primeiro trecho da obra tem previsão de término para o segundo semestre de 2015, mas a parada mais próxima ficará a 7 km da arena.
Apesar de não fazer parte da matriz de responsabilidade da Copa, o Veículo Leve sobre Pneus (VLP), chamado oficialmente de Expresso DF, era a outra grande obra de mobilidade de Brasília, prometida para a Copa das Confederações. Não ficou pronto.
O Expresso ligará as cidades satélites do Gama e Santa Maria ao centro de Brasília, em um trajeto total de 35 km. De acordo com o governo do Distrito Federal, as obras atrasaram por problemas com o financiamento do projeto, demora no acerto de convênios com órgãos federais e excesso de chuvas. O governador Agnelo Queiroz estipulou para dezembro de 2013 o novo prazo para que o a obra entre em funcionamento, ainda que apenas em um trecho de 5,3 km.
Para o professor Paulo César Marques, mestre em engenharia de trânsito da Universidade de Brasília (UnB), a cidade perdeu uma ótima chance de melhorar a qualidade de vida da população. "Durante a Copa, haverá esquemas especiais de transporte, mas isso não resolve o problema do trabalhador que perde 3 horas por dia no trajeto casa trabalho", explica Marques. "O grande número de carros e ônibus nas vias diminui a produtividade do trabalhador e favorece o consumo excessivo de combustível, causando sérios prejuízos à sociedade", completa.
Estrutura esportiva precária
O Estádio Nacional é certamente um dos mais modernos em todo o mundo. Todos os 71 mil espectadores que a arena comporta ficam confortavelmente sentados, com boa visão de toda a arena. No entanto, as estruturas esportivas abertas para a população em torno do estádio estão depredadas. Em passeio no Complexo Esportivo Ayrton Senna, que circula a arena, é possível encontrar tabelas quebradas, lixo entulhado e detritos perigosos à população. Reformas só estão previstas para depois da Copa do Mundo - veja mais no link http://blogs.estadao.com.br/selecao-universitaria/em-brasilia-abandono-em-centro-esportivo-contrasta-com-luxo-do-estadio-nacional/.
A pista de atletismo da UnB, local onde treinou o campeão olímpico Joaquim Cruz, está abandonada, sem qualquer condição de uso. A falta de estruturas esportivas da universidade fez com que a cidade perdesse a oportunidade de sediar os Jogos Universitários de 2017 - veja mais no link http://blogs.estadao.com.br/selecao-universitaria/brasilia-espera-pelos-jogos-escolares/.
Para José Cruz, membro da comissão de turismo e desporto da Câmara dos Deputados cujo principal tema de estudo é a estrutura esportiva do DF, as falhas estruturais não são causadas por falta de verba. "Entre 2008 e 2012 foram investidos 6 bilhões de reais só no esporte de alto rendimento. O que falta no Brasil é uma política de esportes, com um planejamento claro", pontua Cruz. "O problema é que nos preocupamos com estádios, não com estruturas de formação de atletas", completa.