Os últimos meses foram de recordes e marcas históricas para Beatriz Haddad Maia. A tenista número 1 do Brasil emplacou vitórias sobre rivais de peso e títulos em série, além de uma boa subida no ranking. E as comparações com Maria Esther Bueno e Gustavo Kuerten se tornaram comuns. Em entrevista ao Estadão, pediu cautela quanto às expectativas para o futuro, mas admitiu sonhar com “voos mais altos”. “Nunca vou me comparar à Maria Esther. Para mim, ela e o Guga são fora da curva. Por tudo o que fizeram e pelo que foram ou são, como ídolos, eles são incomparáveis”, disse Bia, em conversa por vídeo de Nova York, onde disputará o US Open a partir desta segunda-feira.
Encontrar Bia e Maria Esther numa mesma frase se tornou algo recorrente nas últimas semanas. E não por acaso. A tenista de 26 anos vem alcançando marcas apenas atingidas pela lenda do tênis brasileiro, nas décadas de 50 e 60. Bia disputou uma final de Grand Slam nas duplas femininas em janeiro, venceu torneios em sequência em junho e despontou no ranking, como fizera a “bailarina do tênis”.
A jovem tenista alcançou o 15º lugar da WTA na última segunda-feira, a melhor marca de uma brasileira na história. O feito é simbólico porque Maria Esther, falecida em 2018, chegou a ocupar o topo da lista numa época em que o ranking não era oficial. Mas confirma o peso das conquistas recentes de Bia.
“Os resultados, o ranking e tudo o que estou conquistando é resultado de muito trabalho. Não é mágica, não é nada que vem da noite para o dia. É muita entrega de todos de mim e da minha equipe”, afirmou a tenista, que realiza um “sonho de criança” com a entrada no Top 15 mundial.
Essa ascensão foi impulsionada por ótimos resultados neste ano. Ela foi campeã em Sydney nas duplas, brilhou na grama inglesa com três troféus em duas semanas, com títulos em Nottingham, em simples e duplas, e em Birmingham, em simples. Foi vice-campeã do WTA 1000 de Toronto, em sua primeira final deste nível, abaixo apenas dos Grand Slams.
Nada disso foi surpresa para Bia, que derrubou a número 1 do mundo, a polonesa Iga Switek, e a atual campeã olímpica, a suíça Belinda Bencic, no torneio canadense. “Eu trabalho muito duro e sei bem o que é o circuito, sei onde estou. Conheço minhas qualidades e defeitos. E sei a equipe que eu tenho. Então, nada disso me surpreendeu”, admitiu.
O sucesso, contudo, cobra seu preço. Bia não é mais surpresa para nenhuma rival. “Vou te falar que quanto melhor o ranking, maior o nosso nível de cobrança, responsabilidade e profissionalismo. Tudo aumenta. A atenção e a concentração precisam ser maiores. Outras pessoas do circuito já te conhecem, já sabem como você joga. Ser Top 15 dá mais trabalho”, brincou. “Para conseguir se sustentar em alto nível, precisamos buscar evolução eternamente.”
A meta, ela admite, é entrar no sonhado Top 10 do ranking. A posição de destaque, além de prestígio, pode trazer até cachê para disputar torneios de menor expressão no circuito. “Da forma como estamos trabalhando, dá para sonhar com voos mais altos”, revelou. “Sabemos que coisas maiores podem acontecer. Depende muito do que eu me propor a fazer, a trabalhar duro em quadra e se eu for corajosa.” A “coragem”, no mundo do tênis, se traduz numa palavra muito repetida por Bia na entrevista: agressividade. “Para as jogadoras que estão no topo, ser agressiva é algo inegociável. Preciso enfrentar o meu conservadorismo”, reiterou, antes de apontar a principal responsável pelo seu crescimento no circuito. “A mudança na mentalidade de como jogar, de como executar os golpes, de escolher qual jogada em cada momento e de correr um pouco mais de risco.” O US Open é a grande meta para Bia neste momento. Ela estreará contra a croata Ana Konjuh na segunda-feira em busca da primeira vitória na chave principal do Grand Slam americano. Também quer brilhar também nas duplas, ao lado da casaque Anna Danilina. Se somar bons pontos no ranking, a brasileira tem chances de se classificar para o WTA Finals tanto em simples quanto nas duplas, o que seria um novo feito para o tênis feminino brasileiro. O Finals é o torneio que encerra a temporada ao reunir as oito melhores tenistas e as oito melhores parcerias do ano. No momento, Bia está em 15º nesta disputa em simples, portanto ainda fora da zona de classificação. Mas figura em 7º nas duplas, com Danilina. Logo, uma boa performance com a casaque em Nova York praticamente garantirá Bia no torneio mais restrito do circuito pela primeira vez em sua carreira.