Conheça Naná Silva, a tenista de 14 anos que treinava no asfalto e tem saque de 189 km/h


Brasileira é a mais jovem do ranking da WTA, onde apareceu pela primeira vez na lista atualizada desta segunda-feira

Por Felipe Rosa Mendes
Atualização:

O jeito espontâneo ainda é de criança, o sorriso já lembra uma adolescente. Mas o talento de Nauhany Silva no tênis já é de adulto. Tanto que Naná, como é mais conhecida, estreia nesta segunda-feira no ranking da WTA, aquele mesmo onde aparecem as melhores tenistas do mundo. Com apenas 14 anos e seis meses, a brasileira será a mais jovem da lista mundial nesta semana.

Naná se tornou ainda a segunda mais jovem da história do tênis brasileiro a figurar no ranking, atrás apenas de Helena Bueno. Para efeito de comparação, Beatriz Haddad Maia, melhor tenista do País desde a lenda Maria Esther Bueno, estreou no ranking com 15 anos, um a mais que Naná.

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Assim como Bia, Naná é paulistana e mostra talento desde suas primeiras competições, ainda na infância. A temporada 2024 vem sendo um divisor de águas para a adolescente, que obteve bons resultados em três torneios profissionais nos últimos meses, preenchendo os pré-requisitos para entrar oficialmente no ranking da WTA. Ela também viveu sua primeira experiência em Grand Slam ao disputar a chave juvenil de Roland Garros, em Paris, após vencer a seletiva brasileira, em São Paulo.

Com uma rápida evolução nos últimos meses, Naná já é considerada uma das grandes promessas do tênis brasileiro. “Eu quero ser número do mundo. Mas tem todo um processo ali. Precisa de muita dedicação, de trabalho todos os dias”, diz Naná, em entrevista ao Estadão, já consciente dos desafios que terá pela frente.

A afirmação assertiva é um traço marcante na personalidade da adolescente, que se acostumou a ser precoce no mundo do tênis. Naná começou a “treinar” aos dois anos de idade, com seu pai, professor de tênis. E decidiu virar tenista apenas quatro anos depois.

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Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu tinha seis anos e decidi que era aquilo que eu queria para mim, que eu iria me dedicar muito. Eu tinha perdido um torneio e fiquei muito brava. Eu era muito competitiva. Ainda sou, na verdade”, afirma a tenista, entre risos. “Não gosto de perder nem par ou ímpar. Eu tinha perdido aquele torneio e falei: ‘vou me dedicar porque eu quero ganhar’.”

PAREDÃO NA SALA DE CASA

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O tênis entrou na vida de Naná de forma natural. Seu pai jogava na adolescência e se tornou professor especializado. Seu amor pelo tênis passou a ser compartilhado com a filha mais velha nas primeiras oportunidades.

“No começo, a gente usava bexiga, brincando sobre o tapete. Depois, tirávamos o sofá para ‘bater paredão’ na sala de casa. Era uma bola grande no início, levinha. A Naná tinha dois aninhos e se divertia”, diz Paulinho Silva, pai da adolescente.

A “diversão” logo transbordou o lar da família. E o pai treinador buscava espaços na própria rua de casa para treinar. “Eu nunca tive quadra para jogar e nem material para jogar. Quando a gente achava algum lugar para treinar, a gente ia. Era tudo em cima da hora, não era programado. A gente treinava em quadra pública, principalmente no Parque Villa-Lobos. E também no asfalto, na rua mesmo. A gente pegava uma fita e marcava no chão. Era uma loucura total”, lembra Naná.

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Os treinos adaptados, tanto no asfalto quanto em casa, podem ter sido decisivos na construção do tênis da adolescente. Para o pai treinador, jogar na sala de casa ajudou Naná a se adaptar a espaços pequenos, resolvendo “problemas” dentro de quadra, principalmente com a flexibilidade na empunhadura para bater na bola.

“Ela se desenvolveu bem porque a bola desviava no asfalto, o quique era irregular. A bolinha às vezes pegava numa pedrinha no chão, desviava longe e a Naná tinha que ser rápida para rebater. Precisava se adaptar a cada rebatida. Era um ‘desconforto’. Como dizem os especialistas, o tênis é sempre uma improvisação. Você precisa se virar diante das situações em quadra”, ensina Paulinho.

SAQUE A 189KM/H

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Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

Entre os números que atestam a precocidade de Naná está a velocidade do seu saque. Em janeiro, a tenista de 1,70m de altura disparou um serviço a incríveis 189 km/h, potência só vista entre as profissionais - o recorde pertence à alemã Sabine Lisicki, com 210,8 km/h.

“Eu nem acreditei na hora. Saiu de forma natural, não faço nenhum treino para alcançar essa velocidade. A gente treina o saque, claro, mas eu não achava que poderia chegar a essa velocidade”, conta Naná.

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Para o técnico da adolescente, Danilo Ferraz, o saque forte é resultado de um trabalho de longo prazo. “É a junção da força e da boa técnica que ela tem. E também uma boa ‘intenção’ para sacar. Nem todas as tenistas da idade dela têm essa boa relação com o saque, esse estilo agressivo”, explica o treinador, que acompanha Naná há um ano e meio na Rede Tênis Brasil, entidade sem fins lucrativos que vem fazendo grande investimento na modalidade nos últimos anos.

Os treinos de Paulinho, muitas vezes improvisados, recebem elogios a todo momento de Danilo e do experiente Léo Azevedo, head coach da Rede Tênis Brasil (RTB). “Quando eu a vi batendo bola pela primeira vez, eu já gostei”, diz Azevedo, ao Estadão.

Naná passou a treinar na RTB aos 12 anos. “Ela já chegou aqui com uma técnica muito boa. E a bola era forte, já andava acima da velocidade média da idade. O que me chamou a atenção foi a técnica do saque. Nessa idade, não é muito normal uma menina ter essa técnica de saque tão sólida. Isso me surpreendeu. O processo de formação dela todo foi o pai que fez”, reconhece Léo Azevedo

Com seu tênis potente e o sorriso largo no rosto, Naná foi bem recebida num grupo que já tinha estrelas como a própria Bia Haddad e a medalhista olímpica Luisa Stefani. “Ela era mirradinha, tímida, mas aberta para ouvir tudo o que falávamos. É muito bom trabalhar com ela e o pai porque eles são muito gratos. E a gente vê isso cada vez menos no mundo. Ela é muito espontânea, algo também difícil de achar hoje em dia, num mundo em que todos parecem programados para tudo, principalmente nas redes sociais.”

FUTURO

Oficialmente presente no ranking da WTA, Naná ainda tem vida de adolescente, que sua equipe quer preservar ao máximo. Ela estuda, com aulas e provas online, enquanto viaja pelo mundo em competições. Já são mais de 20 nações visitadas somente no último ano.

Entre uma aula e os treinos, ela aproveita o pouco tempo livre para as redes sociais e os jogos de tênis na TV. “Tenho uma hora e meia por dia para usar a rede social. Bastante até, né? É regra do técnico. Gosto de assistir TV, filmes e séries. E vejo muitos jogos de tênis também, além da série Break Point. É legal ver os bastidores do circuito, os tenistas profissionais pensam como nós (juvenis), são as mesmas frustrações, o mesmo dia a dia. Eu já me identifico com o jeito de pensar deles.”

Ao mesmo tempo, os técnicos e o pai são cautelosos quanto ao futuro da atleta. “Apesar de estar no ranking, ela ainda não é profissional porque ser profissional é viver do tênis, ter dedicação exclusiva. A Naná ainda estuda, é adolescente, faz várias coisas. precisa ser assim. Ela tem potencial para se tornar uma bela jogadora de tênis. Agora, dizer o quão boa ela será, aí vira exercício de adivinhação. Eu não gosto muito de fazer isso. Vai chegar uma hora que o tênis vai nos dar a resposta”, pondera Léo Azevedo.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

IRMÃS WILLIAMS BRASILEIRAS?

Responsável pela formação técnica de Naná, Paulinho hoje atua mais como conselheiro da filha, sem deixar de bater bola com ela ocasionalmente. Com a adolescente encaminhada, o pai lembra das dificuldades vividas, desde a falta de recursos até o aperto no coração quando deixava a filha com a mãe de outras tenistas para bancar a inscrição nos torneios com aulas particulares.

“Se eu pudesse, eu faria tudo de novo, igualzinho”, diz Paulinho, não por acaso. De fato, o pai de Naná está fazendo tudo de novo, desta vez com Natália, irmã mais nova da tenista de 14 anos. A caçula da família, de sete anos, segue exatamente os mesmos passos que a irmã mais velha.

“Treinamos nos mesmos lugares: no asfaltinho, em casa, no Parque Villa-Lobos. Vamos nos adaptando, como aconteceu com a Naná. Quero que a Natália se divirta tanto como a Naná. E é incrível a semelhança entre as duas. Parece que estou vendo a Naná de novo”, afirma o pai, ainda tenso, se acostumando com as entrevistas.

Paulinho reconhece que sua vida lembra muito a de Richard Williams, o pai das irmãs Serena e Venus Williams. A história da família foi retratada no filme “King Richard: Criando campeãs”, estrelado pelo ator Will Smith.

“Quando eu vi o filme, comecei a chorar porque parecia a gente, né? Eu não acompanhava a história das Williams. Você vê tudo o que a Naná passou na história…”, diz Paulinho, entre risos e lágrimas. “Eu me senti exatamente como ele. Parecia a nossa história, o filme tem conversas que a gente teve em nossa família. Toda a superação da família, tudo o que o pai fazia pelas filhas…”

O jeito espontâneo ainda é de criança, o sorriso já lembra uma adolescente. Mas o talento de Nauhany Silva no tênis já é de adulto. Tanto que Naná, como é mais conhecida, estreia nesta segunda-feira no ranking da WTA, aquele mesmo onde aparecem as melhores tenistas do mundo. Com apenas 14 anos e seis meses, a brasileira será a mais jovem da lista mundial nesta semana.

Naná se tornou ainda a segunda mais jovem da história do tênis brasileiro a figurar no ranking, atrás apenas de Helena Bueno. Para efeito de comparação, Beatriz Haddad Maia, melhor tenista do País desde a lenda Maria Esther Bueno, estreou no ranking com 15 anos, um a mais que Naná.

Assim como Bia, Naná é paulistana e mostra talento desde suas primeiras competições, ainda na infância. A temporada 2024 vem sendo um divisor de águas para a adolescente, que obteve bons resultados em três torneios profissionais nos últimos meses, preenchendo os pré-requisitos para entrar oficialmente no ranking da WTA. Ela também viveu sua primeira experiência em Grand Slam ao disputar a chave juvenil de Roland Garros, em Paris, após vencer a seletiva brasileira, em São Paulo.

Com uma rápida evolução nos últimos meses, Naná já é considerada uma das grandes promessas do tênis brasileiro. “Eu quero ser número do mundo. Mas tem todo um processo ali. Precisa de muita dedicação, de trabalho todos os dias”, diz Naná, em entrevista ao Estadão, já consciente dos desafios que terá pela frente.

A afirmação assertiva é um traço marcante na personalidade da adolescente, que se acostumou a ser precoce no mundo do tênis. Naná começou a “treinar” aos dois anos de idade, com seu pai, professor de tênis. E decidiu virar tenista apenas quatro anos depois.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu tinha seis anos e decidi que era aquilo que eu queria para mim, que eu iria me dedicar muito. Eu tinha perdido um torneio e fiquei muito brava. Eu era muito competitiva. Ainda sou, na verdade”, afirma a tenista, entre risos. “Não gosto de perder nem par ou ímpar. Eu tinha perdido aquele torneio e falei: ‘vou me dedicar porque eu quero ganhar’.”

PAREDÃO NA SALA DE CASA

O tênis entrou na vida de Naná de forma natural. Seu pai jogava na adolescência e se tornou professor especializado. Seu amor pelo tênis passou a ser compartilhado com a filha mais velha nas primeiras oportunidades.

“No começo, a gente usava bexiga, brincando sobre o tapete. Depois, tirávamos o sofá para ‘bater paredão’ na sala de casa. Era uma bola grande no início, levinha. A Naná tinha dois aninhos e se divertia”, diz Paulinho Silva, pai da adolescente.

A “diversão” logo transbordou o lar da família. E o pai treinador buscava espaços na própria rua de casa para treinar. “Eu nunca tive quadra para jogar e nem material para jogar. Quando a gente achava algum lugar para treinar, a gente ia. Era tudo em cima da hora, não era programado. A gente treinava em quadra pública, principalmente no Parque Villa-Lobos. E também no asfalto, na rua mesmo. A gente pegava uma fita e marcava no chão. Era uma loucura total”, lembra Naná.

Os treinos adaptados, tanto no asfalto quanto em casa, podem ter sido decisivos na construção do tênis da adolescente. Para o pai treinador, jogar na sala de casa ajudou Naná a se adaptar a espaços pequenos, resolvendo “problemas” dentro de quadra, principalmente com a flexibilidade na empunhadura para bater na bola.

“Ela se desenvolveu bem porque a bola desviava no asfalto, o quique era irregular. A bolinha às vezes pegava numa pedrinha no chão, desviava longe e a Naná tinha que ser rápida para rebater. Precisava se adaptar a cada rebatida. Era um ‘desconforto’. Como dizem os especialistas, o tênis é sempre uma improvisação. Você precisa se virar diante das situações em quadra”, ensina Paulinho.

SAQUE A 189KM/H

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

Entre os números que atestam a precocidade de Naná está a velocidade do seu saque. Em janeiro, a tenista de 1,70m de altura disparou um serviço a incríveis 189 km/h, potência só vista entre as profissionais - o recorde pertence à alemã Sabine Lisicki, com 210,8 km/h.

“Eu nem acreditei na hora. Saiu de forma natural, não faço nenhum treino para alcançar essa velocidade. A gente treina o saque, claro, mas eu não achava que poderia chegar a essa velocidade”, conta Naná.

Para o técnico da adolescente, Danilo Ferraz, o saque forte é resultado de um trabalho de longo prazo. “É a junção da força e da boa técnica que ela tem. E também uma boa ‘intenção’ para sacar. Nem todas as tenistas da idade dela têm essa boa relação com o saque, esse estilo agressivo”, explica o treinador, que acompanha Naná há um ano e meio na Rede Tênis Brasil, entidade sem fins lucrativos que vem fazendo grande investimento na modalidade nos últimos anos.

Os treinos de Paulinho, muitas vezes improvisados, recebem elogios a todo momento de Danilo e do experiente Léo Azevedo, head coach da Rede Tênis Brasil (RTB). “Quando eu a vi batendo bola pela primeira vez, eu já gostei”, diz Azevedo, ao Estadão.

Naná passou a treinar na RTB aos 12 anos. “Ela já chegou aqui com uma técnica muito boa. E a bola era forte, já andava acima da velocidade média da idade. O que me chamou a atenção foi a técnica do saque. Nessa idade, não é muito normal uma menina ter essa técnica de saque tão sólida. Isso me surpreendeu. O processo de formação dela todo foi o pai que fez”, reconhece Léo Azevedo

Com seu tênis potente e o sorriso largo no rosto, Naná foi bem recebida num grupo que já tinha estrelas como a própria Bia Haddad e a medalhista olímpica Luisa Stefani. “Ela era mirradinha, tímida, mas aberta para ouvir tudo o que falávamos. É muito bom trabalhar com ela e o pai porque eles são muito gratos. E a gente vê isso cada vez menos no mundo. Ela é muito espontânea, algo também difícil de achar hoje em dia, num mundo em que todos parecem programados para tudo, principalmente nas redes sociais.”

FUTURO

Oficialmente presente no ranking da WTA, Naná ainda tem vida de adolescente, que sua equipe quer preservar ao máximo. Ela estuda, com aulas e provas online, enquanto viaja pelo mundo em competições. Já são mais de 20 nações visitadas somente no último ano.

Entre uma aula e os treinos, ela aproveita o pouco tempo livre para as redes sociais e os jogos de tênis na TV. “Tenho uma hora e meia por dia para usar a rede social. Bastante até, né? É regra do técnico. Gosto de assistir TV, filmes e séries. E vejo muitos jogos de tênis também, além da série Break Point. É legal ver os bastidores do circuito, os tenistas profissionais pensam como nós (juvenis), são as mesmas frustrações, o mesmo dia a dia. Eu já me identifico com o jeito de pensar deles.”

Ao mesmo tempo, os técnicos e o pai são cautelosos quanto ao futuro da atleta. “Apesar de estar no ranking, ela ainda não é profissional porque ser profissional é viver do tênis, ter dedicação exclusiva. A Naná ainda estuda, é adolescente, faz várias coisas. precisa ser assim. Ela tem potencial para se tornar uma bela jogadora de tênis. Agora, dizer o quão boa ela será, aí vira exercício de adivinhação. Eu não gosto muito de fazer isso. Vai chegar uma hora que o tênis vai nos dar a resposta”, pondera Léo Azevedo.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

IRMÃS WILLIAMS BRASILEIRAS?

Responsável pela formação técnica de Naná, Paulinho hoje atua mais como conselheiro da filha, sem deixar de bater bola com ela ocasionalmente. Com a adolescente encaminhada, o pai lembra das dificuldades vividas, desde a falta de recursos até o aperto no coração quando deixava a filha com a mãe de outras tenistas para bancar a inscrição nos torneios com aulas particulares.

“Se eu pudesse, eu faria tudo de novo, igualzinho”, diz Paulinho, não por acaso. De fato, o pai de Naná está fazendo tudo de novo, desta vez com Natália, irmã mais nova da tenista de 14 anos. A caçula da família, de sete anos, segue exatamente os mesmos passos que a irmã mais velha.

“Treinamos nos mesmos lugares: no asfaltinho, em casa, no Parque Villa-Lobos. Vamos nos adaptando, como aconteceu com a Naná. Quero que a Natália se divirta tanto como a Naná. E é incrível a semelhança entre as duas. Parece que estou vendo a Naná de novo”, afirma o pai, ainda tenso, se acostumando com as entrevistas.

Paulinho reconhece que sua vida lembra muito a de Richard Williams, o pai das irmãs Serena e Venus Williams. A história da família foi retratada no filme “King Richard: Criando campeãs”, estrelado pelo ator Will Smith.

“Quando eu vi o filme, comecei a chorar porque parecia a gente, né? Eu não acompanhava a história das Williams. Você vê tudo o que a Naná passou na história…”, diz Paulinho, entre risos e lágrimas. “Eu me senti exatamente como ele. Parecia a nossa história, o filme tem conversas que a gente teve em nossa família. Toda a superação da família, tudo o que o pai fazia pelas filhas…”

O jeito espontâneo ainda é de criança, o sorriso já lembra uma adolescente. Mas o talento de Nauhany Silva no tênis já é de adulto. Tanto que Naná, como é mais conhecida, estreia nesta segunda-feira no ranking da WTA, aquele mesmo onde aparecem as melhores tenistas do mundo. Com apenas 14 anos e seis meses, a brasileira será a mais jovem da lista mundial nesta semana.

Naná se tornou ainda a segunda mais jovem da história do tênis brasileiro a figurar no ranking, atrás apenas de Helena Bueno. Para efeito de comparação, Beatriz Haddad Maia, melhor tenista do País desde a lenda Maria Esther Bueno, estreou no ranking com 15 anos, um a mais que Naná.

Assim como Bia, Naná é paulistana e mostra talento desde suas primeiras competições, ainda na infância. A temporada 2024 vem sendo um divisor de águas para a adolescente, que obteve bons resultados em três torneios profissionais nos últimos meses, preenchendo os pré-requisitos para entrar oficialmente no ranking da WTA. Ela também viveu sua primeira experiência em Grand Slam ao disputar a chave juvenil de Roland Garros, em Paris, após vencer a seletiva brasileira, em São Paulo.

Com uma rápida evolução nos últimos meses, Naná já é considerada uma das grandes promessas do tênis brasileiro. “Eu quero ser número do mundo. Mas tem todo um processo ali. Precisa de muita dedicação, de trabalho todos os dias”, diz Naná, em entrevista ao Estadão, já consciente dos desafios que terá pela frente.

A afirmação assertiva é um traço marcante na personalidade da adolescente, que se acostumou a ser precoce no mundo do tênis. Naná começou a “treinar” aos dois anos de idade, com seu pai, professor de tênis. E decidiu virar tenista apenas quatro anos depois.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu tinha seis anos e decidi que era aquilo que eu queria para mim, que eu iria me dedicar muito. Eu tinha perdido um torneio e fiquei muito brava. Eu era muito competitiva. Ainda sou, na verdade”, afirma a tenista, entre risos. “Não gosto de perder nem par ou ímpar. Eu tinha perdido aquele torneio e falei: ‘vou me dedicar porque eu quero ganhar’.”

PAREDÃO NA SALA DE CASA

O tênis entrou na vida de Naná de forma natural. Seu pai jogava na adolescência e se tornou professor especializado. Seu amor pelo tênis passou a ser compartilhado com a filha mais velha nas primeiras oportunidades.

“No começo, a gente usava bexiga, brincando sobre o tapete. Depois, tirávamos o sofá para ‘bater paredão’ na sala de casa. Era uma bola grande no início, levinha. A Naná tinha dois aninhos e se divertia”, diz Paulinho Silva, pai da adolescente.

A “diversão” logo transbordou o lar da família. E o pai treinador buscava espaços na própria rua de casa para treinar. “Eu nunca tive quadra para jogar e nem material para jogar. Quando a gente achava algum lugar para treinar, a gente ia. Era tudo em cima da hora, não era programado. A gente treinava em quadra pública, principalmente no Parque Villa-Lobos. E também no asfalto, na rua mesmo. A gente pegava uma fita e marcava no chão. Era uma loucura total”, lembra Naná.

Os treinos adaptados, tanto no asfalto quanto em casa, podem ter sido decisivos na construção do tênis da adolescente. Para o pai treinador, jogar na sala de casa ajudou Naná a se adaptar a espaços pequenos, resolvendo “problemas” dentro de quadra, principalmente com a flexibilidade na empunhadura para bater na bola.

“Ela se desenvolveu bem porque a bola desviava no asfalto, o quique era irregular. A bolinha às vezes pegava numa pedrinha no chão, desviava longe e a Naná tinha que ser rápida para rebater. Precisava se adaptar a cada rebatida. Era um ‘desconforto’. Como dizem os especialistas, o tênis é sempre uma improvisação. Você precisa se virar diante das situações em quadra”, ensina Paulinho.

SAQUE A 189KM/H

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

Entre os números que atestam a precocidade de Naná está a velocidade do seu saque. Em janeiro, a tenista de 1,70m de altura disparou um serviço a incríveis 189 km/h, potência só vista entre as profissionais - o recorde pertence à alemã Sabine Lisicki, com 210,8 km/h.

“Eu nem acreditei na hora. Saiu de forma natural, não faço nenhum treino para alcançar essa velocidade. A gente treina o saque, claro, mas eu não achava que poderia chegar a essa velocidade”, conta Naná.

Para o técnico da adolescente, Danilo Ferraz, o saque forte é resultado de um trabalho de longo prazo. “É a junção da força e da boa técnica que ela tem. E também uma boa ‘intenção’ para sacar. Nem todas as tenistas da idade dela têm essa boa relação com o saque, esse estilo agressivo”, explica o treinador, que acompanha Naná há um ano e meio na Rede Tênis Brasil, entidade sem fins lucrativos que vem fazendo grande investimento na modalidade nos últimos anos.

Os treinos de Paulinho, muitas vezes improvisados, recebem elogios a todo momento de Danilo e do experiente Léo Azevedo, head coach da Rede Tênis Brasil (RTB). “Quando eu a vi batendo bola pela primeira vez, eu já gostei”, diz Azevedo, ao Estadão.

Naná passou a treinar na RTB aos 12 anos. “Ela já chegou aqui com uma técnica muito boa. E a bola era forte, já andava acima da velocidade média da idade. O que me chamou a atenção foi a técnica do saque. Nessa idade, não é muito normal uma menina ter essa técnica de saque tão sólida. Isso me surpreendeu. O processo de formação dela todo foi o pai que fez”, reconhece Léo Azevedo

Com seu tênis potente e o sorriso largo no rosto, Naná foi bem recebida num grupo que já tinha estrelas como a própria Bia Haddad e a medalhista olímpica Luisa Stefani. “Ela era mirradinha, tímida, mas aberta para ouvir tudo o que falávamos. É muito bom trabalhar com ela e o pai porque eles são muito gratos. E a gente vê isso cada vez menos no mundo. Ela é muito espontânea, algo também difícil de achar hoje em dia, num mundo em que todos parecem programados para tudo, principalmente nas redes sociais.”

FUTURO

Oficialmente presente no ranking da WTA, Naná ainda tem vida de adolescente, que sua equipe quer preservar ao máximo. Ela estuda, com aulas e provas online, enquanto viaja pelo mundo em competições. Já são mais de 20 nações visitadas somente no último ano.

Entre uma aula e os treinos, ela aproveita o pouco tempo livre para as redes sociais e os jogos de tênis na TV. “Tenho uma hora e meia por dia para usar a rede social. Bastante até, né? É regra do técnico. Gosto de assistir TV, filmes e séries. E vejo muitos jogos de tênis também, além da série Break Point. É legal ver os bastidores do circuito, os tenistas profissionais pensam como nós (juvenis), são as mesmas frustrações, o mesmo dia a dia. Eu já me identifico com o jeito de pensar deles.”

Ao mesmo tempo, os técnicos e o pai são cautelosos quanto ao futuro da atleta. “Apesar de estar no ranking, ela ainda não é profissional porque ser profissional é viver do tênis, ter dedicação exclusiva. A Naná ainda estuda, é adolescente, faz várias coisas. precisa ser assim. Ela tem potencial para se tornar uma bela jogadora de tênis. Agora, dizer o quão boa ela será, aí vira exercício de adivinhação. Eu não gosto muito de fazer isso. Vai chegar uma hora que o tênis vai nos dar a resposta”, pondera Léo Azevedo.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

IRMÃS WILLIAMS BRASILEIRAS?

Responsável pela formação técnica de Naná, Paulinho hoje atua mais como conselheiro da filha, sem deixar de bater bola com ela ocasionalmente. Com a adolescente encaminhada, o pai lembra das dificuldades vividas, desde a falta de recursos até o aperto no coração quando deixava a filha com a mãe de outras tenistas para bancar a inscrição nos torneios com aulas particulares.

“Se eu pudesse, eu faria tudo de novo, igualzinho”, diz Paulinho, não por acaso. De fato, o pai de Naná está fazendo tudo de novo, desta vez com Natália, irmã mais nova da tenista de 14 anos. A caçula da família, de sete anos, segue exatamente os mesmos passos que a irmã mais velha.

“Treinamos nos mesmos lugares: no asfaltinho, em casa, no Parque Villa-Lobos. Vamos nos adaptando, como aconteceu com a Naná. Quero que a Natália se divirta tanto como a Naná. E é incrível a semelhança entre as duas. Parece que estou vendo a Naná de novo”, afirma o pai, ainda tenso, se acostumando com as entrevistas.

Paulinho reconhece que sua vida lembra muito a de Richard Williams, o pai das irmãs Serena e Venus Williams. A história da família foi retratada no filme “King Richard: Criando campeãs”, estrelado pelo ator Will Smith.

“Quando eu vi o filme, comecei a chorar porque parecia a gente, né? Eu não acompanhava a história das Williams. Você vê tudo o que a Naná passou na história…”, diz Paulinho, entre risos e lágrimas. “Eu me senti exatamente como ele. Parecia a nossa história, o filme tem conversas que a gente teve em nossa família. Toda a superação da família, tudo o que o pai fazia pelas filhas…”

O jeito espontâneo ainda é de criança, o sorriso já lembra uma adolescente. Mas o talento de Nauhany Silva no tênis já é de adulto. Tanto que Naná, como é mais conhecida, estreia nesta segunda-feira no ranking da WTA, aquele mesmo onde aparecem as melhores tenistas do mundo. Com apenas 14 anos e seis meses, a brasileira será a mais jovem da lista mundial nesta semana.

Naná se tornou ainda a segunda mais jovem da história do tênis brasileiro a figurar no ranking, atrás apenas de Helena Bueno. Para efeito de comparação, Beatriz Haddad Maia, melhor tenista do País desde a lenda Maria Esther Bueno, estreou no ranking com 15 anos, um a mais que Naná.

Assim como Bia, Naná é paulistana e mostra talento desde suas primeiras competições, ainda na infância. A temporada 2024 vem sendo um divisor de águas para a adolescente, que obteve bons resultados em três torneios profissionais nos últimos meses, preenchendo os pré-requisitos para entrar oficialmente no ranking da WTA. Ela também viveu sua primeira experiência em Grand Slam ao disputar a chave juvenil de Roland Garros, em Paris, após vencer a seletiva brasileira, em São Paulo.

Com uma rápida evolução nos últimos meses, Naná já é considerada uma das grandes promessas do tênis brasileiro. “Eu quero ser número do mundo. Mas tem todo um processo ali. Precisa de muita dedicação, de trabalho todos os dias”, diz Naná, em entrevista ao Estadão, já consciente dos desafios que terá pela frente.

A afirmação assertiva é um traço marcante na personalidade da adolescente, que se acostumou a ser precoce no mundo do tênis. Naná começou a “treinar” aos dois anos de idade, com seu pai, professor de tênis. E decidiu virar tenista apenas quatro anos depois.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu tinha seis anos e decidi que era aquilo que eu queria para mim, que eu iria me dedicar muito. Eu tinha perdido um torneio e fiquei muito brava. Eu era muito competitiva. Ainda sou, na verdade”, afirma a tenista, entre risos. “Não gosto de perder nem par ou ímpar. Eu tinha perdido aquele torneio e falei: ‘vou me dedicar porque eu quero ganhar’.”

PAREDÃO NA SALA DE CASA

O tênis entrou na vida de Naná de forma natural. Seu pai jogava na adolescência e se tornou professor especializado. Seu amor pelo tênis passou a ser compartilhado com a filha mais velha nas primeiras oportunidades.

“No começo, a gente usava bexiga, brincando sobre o tapete. Depois, tirávamos o sofá para ‘bater paredão’ na sala de casa. Era uma bola grande no início, levinha. A Naná tinha dois aninhos e se divertia”, diz Paulinho Silva, pai da adolescente.

A “diversão” logo transbordou o lar da família. E o pai treinador buscava espaços na própria rua de casa para treinar. “Eu nunca tive quadra para jogar e nem material para jogar. Quando a gente achava algum lugar para treinar, a gente ia. Era tudo em cima da hora, não era programado. A gente treinava em quadra pública, principalmente no Parque Villa-Lobos. E também no asfalto, na rua mesmo. A gente pegava uma fita e marcava no chão. Era uma loucura total”, lembra Naná.

Os treinos adaptados, tanto no asfalto quanto em casa, podem ter sido decisivos na construção do tênis da adolescente. Para o pai treinador, jogar na sala de casa ajudou Naná a se adaptar a espaços pequenos, resolvendo “problemas” dentro de quadra, principalmente com a flexibilidade na empunhadura para bater na bola.

“Ela se desenvolveu bem porque a bola desviava no asfalto, o quique era irregular. A bolinha às vezes pegava numa pedrinha no chão, desviava longe e a Naná tinha que ser rápida para rebater. Precisava se adaptar a cada rebatida. Era um ‘desconforto’. Como dizem os especialistas, o tênis é sempre uma improvisação. Você precisa se virar diante das situações em quadra”, ensina Paulinho.

SAQUE A 189KM/H

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

Entre os números que atestam a precocidade de Naná está a velocidade do seu saque. Em janeiro, a tenista de 1,70m de altura disparou um serviço a incríveis 189 km/h, potência só vista entre as profissionais - o recorde pertence à alemã Sabine Lisicki, com 210,8 km/h.

“Eu nem acreditei na hora. Saiu de forma natural, não faço nenhum treino para alcançar essa velocidade. A gente treina o saque, claro, mas eu não achava que poderia chegar a essa velocidade”, conta Naná.

Para o técnico da adolescente, Danilo Ferraz, o saque forte é resultado de um trabalho de longo prazo. “É a junção da força e da boa técnica que ela tem. E também uma boa ‘intenção’ para sacar. Nem todas as tenistas da idade dela têm essa boa relação com o saque, esse estilo agressivo”, explica o treinador, que acompanha Naná há um ano e meio na Rede Tênis Brasil, entidade sem fins lucrativos que vem fazendo grande investimento na modalidade nos últimos anos.

Os treinos de Paulinho, muitas vezes improvisados, recebem elogios a todo momento de Danilo e do experiente Léo Azevedo, head coach da Rede Tênis Brasil (RTB). “Quando eu a vi batendo bola pela primeira vez, eu já gostei”, diz Azevedo, ao Estadão.

Naná passou a treinar na RTB aos 12 anos. “Ela já chegou aqui com uma técnica muito boa. E a bola era forte, já andava acima da velocidade média da idade. O que me chamou a atenção foi a técnica do saque. Nessa idade, não é muito normal uma menina ter essa técnica de saque tão sólida. Isso me surpreendeu. O processo de formação dela todo foi o pai que fez”, reconhece Léo Azevedo

Com seu tênis potente e o sorriso largo no rosto, Naná foi bem recebida num grupo que já tinha estrelas como a própria Bia Haddad e a medalhista olímpica Luisa Stefani. “Ela era mirradinha, tímida, mas aberta para ouvir tudo o que falávamos. É muito bom trabalhar com ela e o pai porque eles são muito gratos. E a gente vê isso cada vez menos no mundo. Ela é muito espontânea, algo também difícil de achar hoje em dia, num mundo em que todos parecem programados para tudo, principalmente nas redes sociais.”

FUTURO

Oficialmente presente no ranking da WTA, Naná ainda tem vida de adolescente, que sua equipe quer preservar ao máximo. Ela estuda, com aulas e provas online, enquanto viaja pelo mundo em competições. Já são mais de 20 nações visitadas somente no último ano.

Entre uma aula e os treinos, ela aproveita o pouco tempo livre para as redes sociais e os jogos de tênis na TV. “Tenho uma hora e meia por dia para usar a rede social. Bastante até, né? É regra do técnico. Gosto de assistir TV, filmes e séries. E vejo muitos jogos de tênis também, além da série Break Point. É legal ver os bastidores do circuito, os tenistas profissionais pensam como nós (juvenis), são as mesmas frustrações, o mesmo dia a dia. Eu já me identifico com o jeito de pensar deles.”

Ao mesmo tempo, os técnicos e o pai são cautelosos quanto ao futuro da atleta. “Apesar de estar no ranking, ela ainda não é profissional porque ser profissional é viver do tênis, ter dedicação exclusiva. A Naná ainda estuda, é adolescente, faz várias coisas. precisa ser assim. Ela tem potencial para se tornar uma bela jogadora de tênis. Agora, dizer o quão boa ela será, aí vira exercício de adivinhação. Eu não gosto muito de fazer isso. Vai chegar uma hora que o tênis vai nos dar a resposta”, pondera Léo Azevedo.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

IRMÃS WILLIAMS BRASILEIRAS?

Responsável pela formação técnica de Naná, Paulinho hoje atua mais como conselheiro da filha, sem deixar de bater bola com ela ocasionalmente. Com a adolescente encaminhada, o pai lembra das dificuldades vividas, desde a falta de recursos até o aperto no coração quando deixava a filha com a mãe de outras tenistas para bancar a inscrição nos torneios com aulas particulares.

“Se eu pudesse, eu faria tudo de novo, igualzinho”, diz Paulinho, não por acaso. De fato, o pai de Naná está fazendo tudo de novo, desta vez com Natália, irmã mais nova da tenista de 14 anos. A caçula da família, de sete anos, segue exatamente os mesmos passos que a irmã mais velha.

“Treinamos nos mesmos lugares: no asfaltinho, em casa, no Parque Villa-Lobos. Vamos nos adaptando, como aconteceu com a Naná. Quero que a Natália se divirta tanto como a Naná. E é incrível a semelhança entre as duas. Parece que estou vendo a Naná de novo”, afirma o pai, ainda tenso, se acostumando com as entrevistas.

Paulinho reconhece que sua vida lembra muito a de Richard Williams, o pai das irmãs Serena e Venus Williams. A história da família foi retratada no filme “King Richard: Criando campeãs”, estrelado pelo ator Will Smith.

“Quando eu vi o filme, comecei a chorar porque parecia a gente, né? Eu não acompanhava a história das Williams. Você vê tudo o que a Naná passou na história…”, diz Paulinho, entre risos e lágrimas. “Eu me senti exatamente como ele. Parecia a nossa história, o filme tem conversas que a gente teve em nossa família. Toda a superação da família, tudo o que o pai fazia pelas filhas…”

O jeito espontâneo ainda é de criança, o sorriso já lembra uma adolescente. Mas o talento de Nauhany Silva no tênis já é de adulto. Tanto que Naná, como é mais conhecida, estreia nesta segunda-feira no ranking da WTA, aquele mesmo onde aparecem as melhores tenistas do mundo. Com apenas 14 anos e seis meses, a brasileira será a mais jovem da lista mundial nesta semana.

Naná se tornou ainda a segunda mais jovem da história do tênis brasileiro a figurar no ranking, atrás apenas de Helena Bueno. Para efeito de comparação, Beatriz Haddad Maia, melhor tenista do País desde a lenda Maria Esther Bueno, estreou no ranking com 15 anos, um a mais que Naná.

Assim como Bia, Naná é paulistana e mostra talento desde suas primeiras competições, ainda na infância. A temporada 2024 vem sendo um divisor de águas para a adolescente, que obteve bons resultados em três torneios profissionais nos últimos meses, preenchendo os pré-requisitos para entrar oficialmente no ranking da WTA. Ela também viveu sua primeira experiência em Grand Slam ao disputar a chave juvenil de Roland Garros, em Paris, após vencer a seletiva brasileira, em São Paulo.

Com uma rápida evolução nos últimos meses, Naná já é considerada uma das grandes promessas do tênis brasileiro. “Eu quero ser número do mundo. Mas tem todo um processo ali. Precisa de muita dedicação, de trabalho todos os dias”, diz Naná, em entrevista ao Estadão, já consciente dos desafios que terá pela frente.

A afirmação assertiva é um traço marcante na personalidade da adolescente, que se acostumou a ser precoce no mundo do tênis. Naná começou a “treinar” aos dois anos de idade, com seu pai, professor de tênis. E decidiu virar tenista apenas quatro anos depois.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu tinha seis anos e decidi que era aquilo que eu queria para mim, que eu iria me dedicar muito. Eu tinha perdido um torneio e fiquei muito brava. Eu era muito competitiva. Ainda sou, na verdade”, afirma a tenista, entre risos. “Não gosto de perder nem par ou ímpar. Eu tinha perdido aquele torneio e falei: ‘vou me dedicar porque eu quero ganhar’.”

PAREDÃO NA SALA DE CASA

O tênis entrou na vida de Naná de forma natural. Seu pai jogava na adolescência e se tornou professor especializado. Seu amor pelo tênis passou a ser compartilhado com a filha mais velha nas primeiras oportunidades.

“No começo, a gente usava bexiga, brincando sobre o tapete. Depois, tirávamos o sofá para ‘bater paredão’ na sala de casa. Era uma bola grande no início, levinha. A Naná tinha dois aninhos e se divertia”, diz Paulinho Silva, pai da adolescente.

A “diversão” logo transbordou o lar da família. E o pai treinador buscava espaços na própria rua de casa para treinar. “Eu nunca tive quadra para jogar e nem material para jogar. Quando a gente achava algum lugar para treinar, a gente ia. Era tudo em cima da hora, não era programado. A gente treinava em quadra pública, principalmente no Parque Villa-Lobos. E também no asfalto, na rua mesmo. A gente pegava uma fita e marcava no chão. Era uma loucura total”, lembra Naná.

Os treinos adaptados, tanto no asfalto quanto em casa, podem ter sido decisivos na construção do tênis da adolescente. Para o pai treinador, jogar na sala de casa ajudou Naná a se adaptar a espaços pequenos, resolvendo “problemas” dentro de quadra, principalmente com a flexibilidade na empunhadura para bater na bola.

“Ela se desenvolveu bem porque a bola desviava no asfalto, o quique era irregular. A bolinha às vezes pegava numa pedrinha no chão, desviava longe e a Naná tinha que ser rápida para rebater. Precisava se adaptar a cada rebatida. Era um ‘desconforto’. Como dizem os especialistas, o tênis é sempre uma improvisação. Você precisa se virar diante das situações em quadra”, ensina Paulinho.

SAQUE A 189KM/H

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

Entre os números que atestam a precocidade de Naná está a velocidade do seu saque. Em janeiro, a tenista de 1,70m de altura disparou um serviço a incríveis 189 km/h, potência só vista entre as profissionais - o recorde pertence à alemã Sabine Lisicki, com 210,8 km/h.

“Eu nem acreditei na hora. Saiu de forma natural, não faço nenhum treino para alcançar essa velocidade. A gente treina o saque, claro, mas eu não achava que poderia chegar a essa velocidade”, conta Naná.

Para o técnico da adolescente, Danilo Ferraz, o saque forte é resultado de um trabalho de longo prazo. “É a junção da força e da boa técnica que ela tem. E também uma boa ‘intenção’ para sacar. Nem todas as tenistas da idade dela têm essa boa relação com o saque, esse estilo agressivo”, explica o treinador, que acompanha Naná há um ano e meio na Rede Tênis Brasil, entidade sem fins lucrativos que vem fazendo grande investimento na modalidade nos últimos anos.

Os treinos de Paulinho, muitas vezes improvisados, recebem elogios a todo momento de Danilo e do experiente Léo Azevedo, head coach da Rede Tênis Brasil (RTB). “Quando eu a vi batendo bola pela primeira vez, eu já gostei”, diz Azevedo, ao Estadão.

Naná passou a treinar na RTB aos 12 anos. “Ela já chegou aqui com uma técnica muito boa. E a bola era forte, já andava acima da velocidade média da idade. O que me chamou a atenção foi a técnica do saque. Nessa idade, não é muito normal uma menina ter essa técnica de saque tão sólida. Isso me surpreendeu. O processo de formação dela todo foi o pai que fez”, reconhece Léo Azevedo

Com seu tênis potente e o sorriso largo no rosto, Naná foi bem recebida num grupo que já tinha estrelas como a própria Bia Haddad e a medalhista olímpica Luisa Stefani. “Ela era mirradinha, tímida, mas aberta para ouvir tudo o que falávamos. É muito bom trabalhar com ela e o pai porque eles são muito gratos. E a gente vê isso cada vez menos no mundo. Ela é muito espontânea, algo também difícil de achar hoje em dia, num mundo em que todos parecem programados para tudo, principalmente nas redes sociais.”

FUTURO

Oficialmente presente no ranking da WTA, Naná ainda tem vida de adolescente, que sua equipe quer preservar ao máximo. Ela estuda, com aulas e provas online, enquanto viaja pelo mundo em competições. Já são mais de 20 nações visitadas somente no último ano.

Entre uma aula e os treinos, ela aproveita o pouco tempo livre para as redes sociais e os jogos de tênis na TV. “Tenho uma hora e meia por dia para usar a rede social. Bastante até, né? É regra do técnico. Gosto de assistir TV, filmes e séries. E vejo muitos jogos de tênis também, além da série Break Point. É legal ver os bastidores do circuito, os tenistas profissionais pensam como nós (juvenis), são as mesmas frustrações, o mesmo dia a dia. Eu já me identifico com o jeito de pensar deles.”

Ao mesmo tempo, os técnicos e o pai são cautelosos quanto ao futuro da atleta. “Apesar de estar no ranking, ela ainda não é profissional porque ser profissional é viver do tênis, ter dedicação exclusiva. A Naná ainda estuda, é adolescente, faz várias coisas. precisa ser assim. Ela tem potencial para se tornar uma bela jogadora de tênis. Agora, dizer o quão boa ela será, aí vira exercício de adivinhação. Eu não gosto muito de fazer isso. Vai chegar uma hora que o tênis vai nos dar a resposta”, pondera Léo Azevedo.

Jovem tenista Nauhany Silva, de 14 anos na quadra em São Paulo onde treina Foto: Felipe Rau/Estadão

IRMÃS WILLIAMS BRASILEIRAS?

Responsável pela formação técnica de Naná, Paulinho hoje atua mais como conselheiro da filha, sem deixar de bater bola com ela ocasionalmente. Com a adolescente encaminhada, o pai lembra das dificuldades vividas, desde a falta de recursos até o aperto no coração quando deixava a filha com a mãe de outras tenistas para bancar a inscrição nos torneios com aulas particulares.

“Se eu pudesse, eu faria tudo de novo, igualzinho”, diz Paulinho, não por acaso. De fato, o pai de Naná está fazendo tudo de novo, desta vez com Natália, irmã mais nova da tenista de 14 anos. A caçula da família, de sete anos, segue exatamente os mesmos passos que a irmã mais velha.

“Treinamos nos mesmos lugares: no asfaltinho, em casa, no Parque Villa-Lobos. Vamos nos adaptando, como aconteceu com a Naná. Quero que a Natália se divirta tanto como a Naná. E é incrível a semelhança entre as duas. Parece que estou vendo a Naná de novo”, afirma o pai, ainda tenso, se acostumando com as entrevistas.

Paulinho reconhece que sua vida lembra muito a de Richard Williams, o pai das irmãs Serena e Venus Williams. A história da família foi retratada no filme “King Richard: Criando campeãs”, estrelado pelo ator Will Smith.

“Quando eu vi o filme, comecei a chorar porque parecia a gente, né? Eu não acompanhava a história das Williams. Você vê tudo o que a Naná passou na história…”, diz Paulinho, entre risos e lágrimas. “Eu me senti exatamente como ele. Parecia a nossa história, o filme tem conversas que a gente teve em nossa família. Toda a superação da família, tudo o que o pai fazia pelas filhas…”

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