Guga diz que teria carreira mais difícil na era das redes sociais: ‘Nível de julgamento desregulado’


Lenda do tênis conversou com o Estadão, refletiu sobre a carreira e falou sobre documentário que estreia dia 10/9 no Disney+

Por Gustavo Faldon
Foto: Bruno Nogueirão/Estadão
Entrevista comGuga KuertenLenda do tênis

Um dos maiores atletas da história do Brasil, Gustavo Kuerten, aos 47 anos, vive uma nova fase na vida. Nem sempre nos holofotes, mas frequentemente lembrado por seus feitos dentro das quadras de tênis. A lenda do esporte terá pela primeira vez sua vida e carreira documentadas na série “Guga por Kuerten”, que estreia no Disney+ no dia 10 de setembro, data em que o catarinense completa 48 anos de idade.

Guga conversou com o Estadão sobre o documentário, além do tênis brasileiro atual e outros assuntos, também relatando que seria difícil ser atleta nos dias de hoje, com as redes sociais fervendo e tendo mensagens de ódio destiladas a cada segundo com um resultado negativo.

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Veja como foi a entrevista de Guga ao Estadão.

Quem já acompanhou a sua carreira vai ver neste documentário alguma coisa que não havia visto antes?

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Talvez, eu diria que com mais profundidade. Principalmente no que era a vivência daquelas maluquices todas, o episódio de cabeça pra baixo já em 97 em Roland Garros. No início já a perda do pai, tem momentos emblemáticos, dificuldades que são bem humanas nas vidas das pessoas, e o cara que é numero 1 do mundo convive da mesma forma que as pessoas. Tem uma vontade linda de depurar os assuntos, de contar história, está super complementado, até mesmo a participação desses deuses do olimpo, Federer, Nadal e Djoko e aí também vem uma alegria pela generosidade que as pessoas têm, que deu pra fazer na carreira.

Guga Kuerten durante entrevista ao Estadão Foto: Bruno Nogueirão/Estadão

Resumindo, é fácil de dizer que vale a pena tanto revisitar, quando contar, montar a história, quanto indicar pras pessoas verem, é bonita. Aquele desejo mais do que qualquer um, do improvável, impossível e o Larri (Passos) me convenceu de que tinha que ser assim. É um mérito nosso como brasileiro e é um dever espalhar mais pras pessoas”.

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Nos tempos de hoje, onde atletas têm que lidar cada vez mais com mensagens de ódio nas redes sociais, como você acha que teria sido pra você nessa época?

A gente seria completamente diferente. Até além das redes sociais, o nível de liberdade que tínhamos, era outro mundo. A gente jantava nos restaurantes, se encontrava num bar, numa festa. Hoje é um isolamento por necessidade obrigatório. Pra mim seria muito mais difícil porque eu sempre fui aberto porque precisava dessa espontaneidade pra viver.

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado

Guga Kuerten

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Você gostava de surfar quando sobrava um tempo livre, imagina fazer isso na era das redes sociais?

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado. Tanto é que pessoalmente eu nem uso Instagram, porque eu não consigo. Pra mim esse universo que hoje existe é intrafegável pra conseguir lidar com essas situações e ao mesmo tempo real e super rentável porque na outra perspectiva o atleta virou uma potência de mídia multinacional. Sou muito feliz porque a gente conseguiu usufruir de várias experiências e muitas sensações que estão disponíveis pras pessoas, só aconteceram pelo ambiente, que era prolifero. E também não dá pra enxergar como vilão porque tem uma perspectiva de visão, recursos financeiros que trazem melhores capacidades para o atleta pra ter essa longevidade, então contribui na mesma proporção.

O Joãozinho (Fonseca) é um cara muito fora da curva. A hora que ele bate na bola é lindo de ver.

Guga Kuerten

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Se você pudesse usar sua experiência de circuito para dar conselhos a João Fonseca e Bia Haddad Maia, as duas principais estrelas do tênis brasileiro atualmente, o que diria?

Sempre relacionado ao time e as relações que eles têm que cuidar e zelar. A gente fala da Bia mais experiente, mas é uma ‘criança’, com 28 anos...e olha que hoje é muito mais generoso. Na nossa época essa idade era meio que o precipício. Por isso as pessoas que estão ao teu lado valem muito, tem que escolher bem e aí é só jogar. O Joãozinho, ele tem que jogar tênis, é um cara muito fora da curva. Se ele passa do qualy do US Open e pega o 15 do mundo, tem chance de vencer. A hora que ele bate na bola é lindo de ver. É cuidar das relações, o resto se aprende. E os dois estão muito bem amparados. Pra Bia foi fundamental esse resultado porque ela precisa se encaixar, agora é o momento de ficar regular nesse ranking. Ela esteve lá em Floripa no início do ano e eu falei ‘terminar o ano 15, 20, 25 do ranking, tudo é bom’.

O perigo é dar dois passos pra trás. A gente já sabe tudo que vem pela frente, ainda é muito novo pra ela, uma série de experiências, por isso natural a oscilação. No caso do João, é um jovem num nível que a gente nunca teve, que requer um cuidado pra ele poder se descobrir nas quadras. As coisas estão lá, mas o caminho ainda é longo. A grande vantagem que vejo atualmente é que o nível de trabalho, da confederação, entre outros, é muito melhor do que era em 97 quando venci Roland Garros, eu diria que a gente está pronto pra dar um grande salto. Acho que é uma questão de tempo. Ter o número 1 do mundo não garante nada, é lindo, sensacional, mas só isso não foi suficiente pra virar o tênis. Outros agentes ainda são fundamentais.

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Se você pudesse voltar no tempo e falar com o Guga de 20 anos, prestes a embarcar para Paris em 1997, o que diria?

Ia ser igual ‘De Volta Para o Futuro’ (risos), não ia deixar nem me olhar, não mexe que tá lindo assim (risos). É nítido que não vale a pena arriscar, já foi muito melhor do que teria possibilidades reais de ser, então vamos ficar com aquele ensinamento do ‘De Volta Para o Futuro’, só espiando. ‘Esse aí nem imagina o que vai acontecer nas próximas duas semanas’ (risos).

Quem você acha que é o Guga do tênis atual?

Difícil dizer porque era uma figura muito única, até mesmo pelo fator país. Tem o Djokovic, que vem de uma escola não tradicional, mas está muito próximo da Europa. Mas também a técnica não tem nada similar, a esquerda de uma mão não tem nem um pouco do Federer, mas a soltura dentro de quadra, eu muito mais emocional, ele bem mais contido. É muita pretensão, mas um pouco deles em mim eu vejo, a força do Nadal de encontrar um jeito, da luta, da batalha. É verdadeiro um pouco de mim neles, porque eles vão observando como podem fazer melhor. Olha o Djokovic, como ele foi acreditar que dava pra superar os 2 depois de perder 8 anos seguidos. Isso eu acho que é lindo, fascinante, e a gente tem que guardar pras nossas vidas.

Um dos maiores atletas da história do Brasil, Gustavo Kuerten, aos 47 anos, vive uma nova fase na vida. Nem sempre nos holofotes, mas frequentemente lembrado por seus feitos dentro das quadras de tênis. A lenda do esporte terá pela primeira vez sua vida e carreira documentadas na série “Guga por Kuerten”, que estreia no Disney+ no dia 10 de setembro, data em que o catarinense completa 48 anos de idade.

Guga conversou com o Estadão sobre o documentário, além do tênis brasileiro atual e outros assuntos, também relatando que seria difícil ser atleta nos dias de hoje, com as redes sociais fervendo e tendo mensagens de ódio destiladas a cada segundo com um resultado negativo.

Veja como foi a entrevista de Guga ao Estadão.

Quem já acompanhou a sua carreira vai ver neste documentário alguma coisa que não havia visto antes?

Talvez, eu diria que com mais profundidade. Principalmente no que era a vivência daquelas maluquices todas, o episódio de cabeça pra baixo já em 97 em Roland Garros. No início já a perda do pai, tem momentos emblemáticos, dificuldades que são bem humanas nas vidas das pessoas, e o cara que é numero 1 do mundo convive da mesma forma que as pessoas. Tem uma vontade linda de depurar os assuntos, de contar história, está super complementado, até mesmo a participação desses deuses do olimpo, Federer, Nadal e Djoko e aí também vem uma alegria pela generosidade que as pessoas têm, que deu pra fazer na carreira.

Guga Kuerten durante entrevista ao Estadão Foto: Bruno Nogueirão/Estadão

Resumindo, é fácil de dizer que vale a pena tanto revisitar, quando contar, montar a história, quanto indicar pras pessoas verem, é bonita. Aquele desejo mais do que qualquer um, do improvável, impossível e o Larri (Passos) me convenceu de que tinha que ser assim. É um mérito nosso como brasileiro e é um dever espalhar mais pras pessoas”.

Nos tempos de hoje, onde atletas têm que lidar cada vez mais com mensagens de ódio nas redes sociais, como você acha que teria sido pra você nessa época?

A gente seria completamente diferente. Até além das redes sociais, o nível de liberdade que tínhamos, era outro mundo. A gente jantava nos restaurantes, se encontrava num bar, numa festa. Hoje é um isolamento por necessidade obrigatório. Pra mim seria muito mais difícil porque eu sempre fui aberto porque precisava dessa espontaneidade pra viver.

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado

Guga Kuerten

Você gostava de surfar quando sobrava um tempo livre, imagina fazer isso na era das redes sociais?

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado. Tanto é que pessoalmente eu nem uso Instagram, porque eu não consigo. Pra mim esse universo que hoje existe é intrafegável pra conseguir lidar com essas situações e ao mesmo tempo real e super rentável porque na outra perspectiva o atleta virou uma potência de mídia multinacional. Sou muito feliz porque a gente conseguiu usufruir de várias experiências e muitas sensações que estão disponíveis pras pessoas, só aconteceram pelo ambiente, que era prolifero. E também não dá pra enxergar como vilão porque tem uma perspectiva de visão, recursos financeiros que trazem melhores capacidades para o atleta pra ter essa longevidade, então contribui na mesma proporção.

O Joãozinho (Fonseca) é um cara muito fora da curva. A hora que ele bate na bola é lindo de ver.

Guga Kuerten

Se você pudesse usar sua experiência de circuito para dar conselhos a João Fonseca e Bia Haddad Maia, as duas principais estrelas do tênis brasileiro atualmente, o que diria?

Sempre relacionado ao time e as relações que eles têm que cuidar e zelar. A gente fala da Bia mais experiente, mas é uma ‘criança’, com 28 anos...e olha que hoje é muito mais generoso. Na nossa época essa idade era meio que o precipício. Por isso as pessoas que estão ao teu lado valem muito, tem que escolher bem e aí é só jogar. O Joãozinho, ele tem que jogar tênis, é um cara muito fora da curva. Se ele passa do qualy do US Open e pega o 15 do mundo, tem chance de vencer. A hora que ele bate na bola é lindo de ver. É cuidar das relações, o resto se aprende. E os dois estão muito bem amparados. Pra Bia foi fundamental esse resultado porque ela precisa se encaixar, agora é o momento de ficar regular nesse ranking. Ela esteve lá em Floripa no início do ano e eu falei ‘terminar o ano 15, 20, 25 do ranking, tudo é bom’.

O perigo é dar dois passos pra trás. A gente já sabe tudo que vem pela frente, ainda é muito novo pra ela, uma série de experiências, por isso natural a oscilação. No caso do João, é um jovem num nível que a gente nunca teve, que requer um cuidado pra ele poder se descobrir nas quadras. As coisas estão lá, mas o caminho ainda é longo. A grande vantagem que vejo atualmente é que o nível de trabalho, da confederação, entre outros, é muito melhor do que era em 97 quando venci Roland Garros, eu diria que a gente está pronto pra dar um grande salto. Acho que é uma questão de tempo. Ter o número 1 do mundo não garante nada, é lindo, sensacional, mas só isso não foi suficiente pra virar o tênis. Outros agentes ainda são fundamentais.

Se você pudesse voltar no tempo e falar com o Guga de 20 anos, prestes a embarcar para Paris em 1997, o que diria?

Ia ser igual ‘De Volta Para o Futuro’ (risos), não ia deixar nem me olhar, não mexe que tá lindo assim (risos). É nítido que não vale a pena arriscar, já foi muito melhor do que teria possibilidades reais de ser, então vamos ficar com aquele ensinamento do ‘De Volta Para o Futuro’, só espiando. ‘Esse aí nem imagina o que vai acontecer nas próximas duas semanas’ (risos).

Quem você acha que é o Guga do tênis atual?

Difícil dizer porque era uma figura muito única, até mesmo pelo fator país. Tem o Djokovic, que vem de uma escola não tradicional, mas está muito próximo da Europa. Mas também a técnica não tem nada similar, a esquerda de uma mão não tem nem um pouco do Federer, mas a soltura dentro de quadra, eu muito mais emocional, ele bem mais contido. É muita pretensão, mas um pouco deles em mim eu vejo, a força do Nadal de encontrar um jeito, da luta, da batalha. É verdadeiro um pouco de mim neles, porque eles vão observando como podem fazer melhor. Olha o Djokovic, como ele foi acreditar que dava pra superar os 2 depois de perder 8 anos seguidos. Isso eu acho que é lindo, fascinante, e a gente tem que guardar pras nossas vidas.

Um dos maiores atletas da história do Brasil, Gustavo Kuerten, aos 47 anos, vive uma nova fase na vida. Nem sempre nos holofotes, mas frequentemente lembrado por seus feitos dentro das quadras de tênis. A lenda do esporte terá pela primeira vez sua vida e carreira documentadas na série “Guga por Kuerten”, que estreia no Disney+ no dia 10 de setembro, data em que o catarinense completa 48 anos de idade.

Guga conversou com o Estadão sobre o documentário, além do tênis brasileiro atual e outros assuntos, também relatando que seria difícil ser atleta nos dias de hoje, com as redes sociais fervendo e tendo mensagens de ódio destiladas a cada segundo com um resultado negativo.

Veja como foi a entrevista de Guga ao Estadão.

Quem já acompanhou a sua carreira vai ver neste documentário alguma coisa que não havia visto antes?

Talvez, eu diria que com mais profundidade. Principalmente no que era a vivência daquelas maluquices todas, o episódio de cabeça pra baixo já em 97 em Roland Garros. No início já a perda do pai, tem momentos emblemáticos, dificuldades que são bem humanas nas vidas das pessoas, e o cara que é numero 1 do mundo convive da mesma forma que as pessoas. Tem uma vontade linda de depurar os assuntos, de contar história, está super complementado, até mesmo a participação desses deuses do olimpo, Federer, Nadal e Djoko e aí também vem uma alegria pela generosidade que as pessoas têm, que deu pra fazer na carreira.

Guga Kuerten durante entrevista ao Estadão Foto: Bruno Nogueirão/Estadão

Resumindo, é fácil de dizer que vale a pena tanto revisitar, quando contar, montar a história, quanto indicar pras pessoas verem, é bonita. Aquele desejo mais do que qualquer um, do improvável, impossível e o Larri (Passos) me convenceu de que tinha que ser assim. É um mérito nosso como brasileiro e é um dever espalhar mais pras pessoas”.

Nos tempos de hoje, onde atletas têm que lidar cada vez mais com mensagens de ódio nas redes sociais, como você acha que teria sido pra você nessa época?

A gente seria completamente diferente. Até além das redes sociais, o nível de liberdade que tínhamos, era outro mundo. A gente jantava nos restaurantes, se encontrava num bar, numa festa. Hoje é um isolamento por necessidade obrigatório. Pra mim seria muito mais difícil porque eu sempre fui aberto porque precisava dessa espontaneidade pra viver.

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado

Guga Kuerten

Você gostava de surfar quando sobrava um tempo livre, imagina fazer isso na era das redes sociais?

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado. Tanto é que pessoalmente eu nem uso Instagram, porque eu não consigo. Pra mim esse universo que hoje existe é intrafegável pra conseguir lidar com essas situações e ao mesmo tempo real e super rentável porque na outra perspectiva o atleta virou uma potência de mídia multinacional. Sou muito feliz porque a gente conseguiu usufruir de várias experiências e muitas sensações que estão disponíveis pras pessoas, só aconteceram pelo ambiente, que era prolifero. E também não dá pra enxergar como vilão porque tem uma perspectiva de visão, recursos financeiros que trazem melhores capacidades para o atleta pra ter essa longevidade, então contribui na mesma proporção.

O Joãozinho (Fonseca) é um cara muito fora da curva. A hora que ele bate na bola é lindo de ver.

Guga Kuerten

Se você pudesse usar sua experiência de circuito para dar conselhos a João Fonseca e Bia Haddad Maia, as duas principais estrelas do tênis brasileiro atualmente, o que diria?

Sempre relacionado ao time e as relações que eles têm que cuidar e zelar. A gente fala da Bia mais experiente, mas é uma ‘criança’, com 28 anos...e olha que hoje é muito mais generoso. Na nossa época essa idade era meio que o precipício. Por isso as pessoas que estão ao teu lado valem muito, tem que escolher bem e aí é só jogar. O Joãozinho, ele tem que jogar tênis, é um cara muito fora da curva. Se ele passa do qualy do US Open e pega o 15 do mundo, tem chance de vencer. A hora que ele bate na bola é lindo de ver. É cuidar das relações, o resto se aprende. E os dois estão muito bem amparados. Pra Bia foi fundamental esse resultado porque ela precisa se encaixar, agora é o momento de ficar regular nesse ranking. Ela esteve lá em Floripa no início do ano e eu falei ‘terminar o ano 15, 20, 25 do ranking, tudo é bom’.

O perigo é dar dois passos pra trás. A gente já sabe tudo que vem pela frente, ainda é muito novo pra ela, uma série de experiências, por isso natural a oscilação. No caso do João, é um jovem num nível que a gente nunca teve, que requer um cuidado pra ele poder se descobrir nas quadras. As coisas estão lá, mas o caminho ainda é longo. A grande vantagem que vejo atualmente é que o nível de trabalho, da confederação, entre outros, é muito melhor do que era em 97 quando venci Roland Garros, eu diria que a gente está pronto pra dar um grande salto. Acho que é uma questão de tempo. Ter o número 1 do mundo não garante nada, é lindo, sensacional, mas só isso não foi suficiente pra virar o tênis. Outros agentes ainda são fundamentais.

Se você pudesse voltar no tempo e falar com o Guga de 20 anos, prestes a embarcar para Paris em 1997, o que diria?

Ia ser igual ‘De Volta Para o Futuro’ (risos), não ia deixar nem me olhar, não mexe que tá lindo assim (risos). É nítido que não vale a pena arriscar, já foi muito melhor do que teria possibilidades reais de ser, então vamos ficar com aquele ensinamento do ‘De Volta Para o Futuro’, só espiando. ‘Esse aí nem imagina o que vai acontecer nas próximas duas semanas’ (risos).

Quem você acha que é o Guga do tênis atual?

Difícil dizer porque era uma figura muito única, até mesmo pelo fator país. Tem o Djokovic, que vem de uma escola não tradicional, mas está muito próximo da Europa. Mas também a técnica não tem nada similar, a esquerda de uma mão não tem nem um pouco do Federer, mas a soltura dentro de quadra, eu muito mais emocional, ele bem mais contido. É muita pretensão, mas um pouco deles em mim eu vejo, a força do Nadal de encontrar um jeito, da luta, da batalha. É verdadeiro um pouco de mim neles, porque eles vão observando como podem fazer melhor. Olha o Djokovic, como ele foi acreditar que dava pra superar os 2 depois de perder 8 anos seguidos. Isso eu acho que é lindo, fascinante, e a gente tem que guardar pras nossas vidas.

Um dos maiores atletas da história do Brasil, Gustavo Kuerten, aos 47 anos, vive uma nova fase na vida. Nem sempre nos holofotes, mas frequentemente lembrado por seus feitos dentro das quadras de tênis. A lenda do esporte terá pela primeira vez sua vida e carreira documentadas na série “Guga por Kuerten”, que estreia no Disney+ no dia 10 de setembro, data em que o catarinense completa 48 anos de idade.

Guga conversou com o Estadão sobre o documentário, além do tênis brasileiro atual e outros assuntos, também relatando que seria difícil ser atleta nos dias de hoje, com as redes sociais fervendo e tendo mensagens de ódio destiladas a cada segundo com um resultado negativo.

Veja como foi a entrevista de Guga ao Estadão.

Quem já acompanhou a sua carreira vai ver neste documentário alguma coisa que não havia visto antes?

Talvez, eu diria que com mais profundidade. Principalmente no que era a vivência daquelas maluquices todas, o episódio de cabeça pra baixo já em 97 em Roland Garros. No início já a perda do pai, tem momentos emblemáticos, dificuldades que são bem humanas nas vidas das pessoas, e o cara que é numero 1 do mundo convive da mesma forma que as pessoas. Tem uma vontade linda de depurar os assuntos, de contar história, está super complementado, até mesmo a participação desses deuses do olimpo, Federer, Nadal e Djoko e aí também vem uma alegria pela generosidade que as pessoas têm, que deu pra fazer na carreira.

Guga Kuerten durante entrevista ao Estadão Foto: Bruno Nogueirão/Estadão

Resumindo, é fácil de dizer que vale a pena tanto revisitar, quando contar, montar a história, quanto indicar pras pessoas verem, é bonita. Aquele desejo mais do que qualquer um, do improvável, impossível e o Larri (Passos) me convenceu de que tinha que ser assim. É um mérito nosso como brasileiro e é um dever espalhar mais pras pessoas”.

Nos tempos de hoje, onde atletas têm que lidar cada vez mais com mensagens de ódio nas redes sociais, como você acha que teria sido pra você nessa época?

A gente seria completamente diferente. Até além das redes sociais, o nível de liberdade que tínhamos, era outro mundo. A gente jantava nos restaurantes, se encontrava num bar, numa festa. Hoje é um isolamento por necessidade obrigatório. Pra mim seria muito mais difícil porque eu sempre fui aberto porque precisava dessa espontaneidade pra viver.

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado

Guga Kuerten

Você gostava de surfar quando sobrava um tempo livre, imagina fazer isso na era das redes sociais?

Eu não consigo me enxergar dentro dessa realidade, ganhando ou perdendo. Pra mim é normal acabando um jogo eu querer ir na rua, e hoje tem que ser muito calculado porque tem um nível de julgamento que está desregulado. Tanto é que pessoalmente eu nem uso Instagram, porque eu não consigo. Pra mim esse universo que hoje existe é intrafegável pra conseguir lidar com essas situações e ao mesmo tempo real e super rentável porque na outra perspectiva o atleta virou uma potência de mídia multinacional. Sou muito feliz porque a gente conseguiu usufruir de várias experiências e muitas sensações que estão disponíveis pras pessoas, só aconteceram pelo ambiente, que era prolifero. E também não dá pra enxergar como vilão porque tem uma perspectiva de visão, recursos financeiros que trazem melhores capacidades para o atleta pra ter essa longevidade, então contribui na mesma proporção.

O Joãozinho (Fonseca) é um cara muito fora da curva. A hora que ele bate na bola é lindo de ver.

Guga Kuerten

Se você pudesse usar sua experiência de circuito para dar conselhos a João Fonseca e Bia Haddad Maia, as duas principais estrelas do tênis brasileiro atualmente, o que diria?

Sempre relacionado ao time e as relações que eles têm que cuidar e zelar. A gente fala da Bia mais experiente, mas é uma ‘criança’, com 28 anos...e olha que hoje é muito mais generoso. Na nossa época essa idade era meio que o precipício. Por isso as pessoas que estão ao teu lado valem muito, tem que escolher bem e aí é só jogar. O Joãozinho, ele tem que jogar tênis, é um cara muito fora da curva. Se ele passa do qualy do US Open e pega o 15 do mundo, tem chance de vencer. A hora que ele bate na bola é lindo de ver. É cuidar das relações, o resto se aprende. E os dois estão muito bem amparados. Pra Bia foi fundamental esse resultado porque ela precisa se encaixar, agora é o momento de ficar regular nesse ranking. Ela esteve lá em Floripa no início do ano e eu falei ‘terminar o ano 15, 20, 25 do ranking, tudo é bom’.

O perigo é dar dois passos pra trás. A gente já sabe tudo que vem pela frente, ainda é muito novo pra ela, uma série de experiências, por isso natural a oscilação. No caso do João, é um jovem num nível que a gente nunca teve, que requer um cuidado pra ele poder se descobrir nas quadras. As coisas estão lá, mas o caminho ainda é longo. A grande vantagem que vejo atualmente é que o nível de trabalho, da confederação, entre outros, é muito melhor do que era em 97 quando venci Roland Garros, eu diria que a gente está pronto pra dar um grande salto. Acho que é uma questão de tempo. Ter o número 1 do mundo não garante nada, é lindo, sensacional, mas só isso não foi suficiente pra virar o tênis. Outros agentes ainda são fundamentais.

Se você pudesse voltar no tempo e falar com o Guga de 20 anos, prestes a embarcar para Paris em 1997, o que diria?

Ia ser igual ‘De Volta Para o Futuro’ (risos), não ia deixar nem me olhar, não mexe que tá lindo assim (risos). É nítido que não vale a pena arriscar, já foi muito melhor do que teria possibilidades reais de ser, então vamos ficar com aquele ensinamento do ‘De Volta Para o Futuro’, só espiando. ‘Esse aí nem imagina o que vai acontecer nas próximas duas semanas’ (risos).

Quem você acha que é o Guga do tênis atual?

Difícil dizer porque era uma figura muito única, até mesmo pelo fator país. Tem o Djokovic, que vem de uma escola não tradicional, mas está muito próximo da Europa. Mas também a técnica não tem nada similar, a esquerda de uma mão não tem nem um pouco do Federer, mas a soltura dentro de quadra, eu muito mais emocional, ele bem mais contido. É muita pretensão, mas um pouco deles em mim eu vejo, a força do Nadal de encontrar um jeito, da luta, da batalha. É verdadeiro um pouco de mim neles, porque eles vão observando como podem fazer melhor. Olha o Djokovic, como ele foi acreditar que dava pra superar os 2 depois de perder 8 anos seguidos. Isso eu acho que é lindo, fascinante, e a gente tem que guardar pras nossas vidas.

Entrevista por Gustavo Faldon

Editor de Esportes do Estadão. Já cobriu Copas do Mundo, Olimpíadas, Super Bowls, UFC, Fórmula 1, NBA e muitos outros esportes. É jornalista formado pelo Mackenzie e com MBA em Gestão e Marketing Esportivo

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