O paradeiro da tenista chinesa Peng Shuai ainda é um mistério. A ex-número 1 do mundo do ranking de duplas está desaparecida desde 11 de novembro, poucos dias após acusar Zhang Gaoli, ex-vice-primeiro-ministro da China de 75 anos, de abuso sexual. A denúncia foi relatada nas redes sociais da atleta, mas a publicação foi deletada pouco tempo após ela expor o caso. Desde então, o mundo não tem mais notícias da estrela chinesa do tênis.
Peng fez o relato em sua conta na Weibo, rede social chinesa equivalente ao Facebook, que é fortemente fiscalizada pelo Partido Comunista Chinês. Todos os seus posts foram derrubados cerca de 20 minutos após a denúncia e o termo "tênis" foi censurado da plataforma, bem como os nomes da tenista ou de Zhang.
Na segunda-feira, dia 15, a Associação de Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês) cobrou publicamente as autoridades chinesas por uma investigação da denúncia por abuso sexual. Steve Simon, diretor executivo da entidade, demonstrou preocupação com a situação da tenista.
"Tentei em várias ocasiões contactá-la por meio de diferentes canais de comunicação, mas sem sucesso", disse. "Peng Shuai demonstrou uma coragem incrível ao denunciar a violência sexual da qual afirma ter sido vítima por um alto dirigente do país."
O que disse Peng Shuai?
A agressão teria ocorrido em 2018, segundo Peng. Ela teria sido coagida pelo político, casado, a fazer sexo. A tenista conta que resistiu e chorou antes de acabar cedendo. Nos três anos seguintes, ambos viveram um caso extraconjugal descrito como "desagradável" pela jogadora de 35 anos. Na publicação, a tenista disse que não poderia apresentar evidências que sustentassem sua afirmação pois a relação de ambos era muito restrita.
Peng e Zhang se começaram a se relacionar em 2011, quando se conheceram em Tianjin. Segundo a tenista, eles tiveram uma única relação, consensual, no decorrer daquele ano. Deixa a entender também que houve uma segunda relação pouco antes dele ser promovido e se ver obrigado a cortar relações com a atleta.
Suposto e-mail levanta ainda mais suspeita
O canal estatal CGTN divulgou nos últimos dias uma captura de tela no Twitter de um e-mail atribuído a Peng e supostamente destinado a Simon e outros dirigentes da WTA. Na mensagem, a atleta supostamente afirma que as acusações de abusos sexuais "não eram verdadeiras" e que está "descansado em casa e está tudo bem".
O "e-mail" não acalmou a situação e provocou ainda mais dúvidas pela linguagem supostamente utilizada por Peng e pelo fato de que aparece um cursor de edição no corpo do texto. As autoridades chinesas permanecem em silêncio diante da crescente preocupação com a tenista. O nome de Peng também segue censurado na internet do país.
Vários tenistas, incluindo a japonesa Naomi Osaka e o sérvio Novak Djokovic, expressaram preocupação com a situação de Peng Shuai. A hashtag #WhereIsPengShuai ("Onde está Peng Shuai" em tradução livre) foi levantada no Twitter para jogar luz no assunto. "Fui informada recentemente que uma amiga tenista desapareceu pouco depois de revelar que sofreu abuso sexual. A censura nunca é OK a qualquer custo, espero que Shuai Peng e sua família estejam bem e bem. Estou em choque com a situação atual e estou enviando amor e luz para ela", escreveu Osaka.
Quem é Peng Shuai?
Peng se tornou uma referência do esporte na China depois de conquistar, em parceria com a taiwanesa Hsieh Su-wei, os torneios de duplas de Wimbledon (2013) e Roland Garros (2014). Após a vitória em Paris, as duas permaneceram 20 semanas na liderança do ranking mundial de duplas. No mesmo ano, Peng Shuai também conseguiu o melhor resultado em um Grand Slam de simples ao alcançar as semifinais do Aberto dos Estados Unidos.
Em sua carreira, ela conquistou 23 torneios WTA de duplas e dois de simples, com uma premiação de quase 10 milhões de dólares. Atualmente, Peng é tenista número 191 no ranking de duplas e não disputa um torneio WTA desde o Aberto do Catar em fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia interromper as competições durante quase cinco meses.