Será que as próximas estrelas globais do tênis estão entre esses pré-adolescentes?


A busca por jogadores de elite é tão competitiva que a IMG, agência que já dominou o tênis, está formando pré-adolescentes para encontrar o próximo prodígio, dando-lhes acesso a representantes dos tours profissionais e da Nike

Por Matthew Futterman

Lá está Dominik Defoe. Dez anos de idade e pouco mais alto que a rede. Cachos dourados na altura dos ombros saltando no ar enquanto ele persegue e rebate as bolas de tênis, coisa que ele faz melhor do que qualquer criança de sua idade.

Defoe adora mexer no GPS do carro de sua mãe, então de manhã, quando eles estão indo para a escola, o mapa os direciona para Roland Garros, local do Aberto da França. Ele faz isso com tanta frequência que sua mãe sabe que Roland Garros fica a 2 horas e 47 minutos de sua casa na Bélgica.

Dominik Defoe, à direita, durante partida no norte de Atenas, Grécia. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times
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Defoe ficou quase às lágrimas no início deste ano quando recebeu um dos 48 convites do conglomerado de esportes e entretenimento IMG para participar do primeiro Torneio das Estrelas do Futuro no elegante Tatoi Club, nos subúrbios ao norte de Atenas. O evento para meninos e meninas com 12 anos ou menos é um torneio e programa de treinamento de uma semana sobre a vida que pode se abrir para Defoe e seus colegas, com seminários liderados por executivos da Nike e profissionais do tênis masculino e feminino, o ATP e o WTA.

A corrida para encontrar as próximas estrelas do esporte chegou aqui: com fortunas de oito dígitos em jogo, agentes e olheiros avaliando e cultivando jogadores com menos de 10 anos que estão apenas começando a competir. O Future Stars é o mais novo e extravagante esforço de recrutamento da IMG, a empresa que essencialmente inventou o negócio de representação esportiva e dominou o tênis por anos.

“Ninguém quer um torneio para crianças de 11 e 12 anos”, disse Max Eisenbud, que lidera a divisão de tênis da empresa. “Eu preferiria esperar, mas a competição nos obrigou encarar esta situação”.

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Durante anos, os agentes da IMG colecionaram futuras estrelas de duas maneiras: ou pré-adolescentes e adolescentes (Maria Sharapova, por exemplo) apareciam em sua academia em Bradenton, Flórida, que já foi o principal campo de treinamento do esporte, procurando uma das abundantes bolsas de estudo; ou os agentes apareciam em Tarbes, na França, para o Les Petit As, o principal torneio do mundo para jogadores com menos de 14 anos. Ali o que eles faziam era basicamente pescar no aquário.

Durante a última década, porém, academias rivais foram abertas em toda a Europa, e a academia da IMG passou a se concentrar mais em lucrar com famílias pagando mensalidades, em vez de fazer apostas de longo prazo em adolescentes. Além disso, nos últimos anos, quando Eisenbud e seus colegas fizeram suas viagens anuais a Les Petit As, descobriram que quase todos os jogadores mais promissores já haviam assinado contratos com outras empresas de gestão, muitas delas operações de elite muito bem financiadas que ofereciam garantias financeiras, às vezes indo muito além de cobrir o custo anual de aproximadamente US$ 50.000 para treinamento e viagens no circuito júnior.

Max Eisenbud, ex-treinador de Maria Sharapova e atual vice-presidente do IMG. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times
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E assim, em um sinal de tempos implacáveis no tênis, a IMG começou a mirar promessas mais jovens, mesmo que prospectar talentos pré-adolescentes possa ser quase impossível e altamente estressante, arriscando aumentar a pressão sobre crianças que já se cobram muito e, em alguns casos, carregam responsabilidades financeiras por suas famílias.

Se estrelas como Naomi Osaka e Bianca Andreescu, que foram campeãs de torneios de Grand Slam ainda na casa dos 20 anos, tiveram de fazer pausas no tênis para cuidar da saúde mental, não é exagero pensar nos riscos de aumentar ainda mais as expectativas sobre crianças pré-púberes. Durante uma palestra para as garotas sobre como se manter física e mentalmente saudável, Saga Shermis, especialista em desenvolvimento de atletas da WTA, disse que espera vê-las no tour nos próximos anos.

“Nesta idade elas ainda estão aprendendo”, disse Adam Molenda, treinador de juniores da federação de tênis da Polônia, depois de assistir a duas de suas jogadoras, Antonina Snochowska e Maja Schweika, se enfrentarem por uma hora na segunda-feira. “Não dá para saber quem vai chegar lá. A vida é cheia de surpresas”.

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E decisões.

Grace Bernstein, jovem sueca de destaque, flutuava pela quadra e rebatia bolas contra um garoto enquanto sua mãe assistia do alambrado. Seja jogando tênis ou cartas, Bernstein compete incansavelmente, disse sua mãe, Catharina, ex-jogadora que chegou a número 286 no ranking de simples em 1991. Ela joga em uma academia dirigida por Magnus Norman, que já foi o segundo melhor jogador de simples do mundo. Ela também é uma grande jogadora de futebol.

“Ela ainda não se decidiu, mas por enquanto é tênis, então ela joga tênis”, disse Catharina Bernstein.

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Para alguns, fama e fortuna realmente podem parecer inevitáveis. Eisenbud assinou com Sharapova quando ela tinha 11 anos, depois de assisti-la rebater por 45 minutos com uma intensidade e perfeição que ele nunca tinha visto antes. Carlos Alcaraz, que completa 19 anos na quinta-feira e já é o jovem mais promissor do tênis masculino, também foi considerado um investimento imperdível quando ainda era um menino de 11 anos. Por outro lado, Eisenbud tinha certeza de que o primeiro jogador que contratou, Horia Tecău, da Romênia, estava destinado à grandeza. Tecau se tornou um especialista em duplas, mas nunca chegou ao top 300 em simples.

Há dezoito meses Eisenbud elaborou seu plano para uma competição luxuosa com a maioria das despesas cobertas e todas as vantagens de um evento profissional – gandulas, árbitros de cadeira, quadras de saibro imaculadas, fones de ouvido Beats e brindes da Nike para todas as crianças.

“Queremos tratá-las como atletas profissionais”, disse Elli Vizantiou, diretora executiva do Tatoi Club.

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Não se esquecendo inteiramente de que são crianças, os organizadores também prepararam uma caça ao tesouro, jantares em grupo todas as noites e um passeio pelo Partenon. A IMG trouxe Alcaraz, recém-saído de sua vitória na final do Barcelona Open, para jogar uma partida de exibição contra Hubert Hurkacz, 14º no ranking de simples.

Montar as chaves do Future Stars exigiu meses de entrevistas com treinadores e dirigentes de federações de tênis do mundo todo, para avaliar currículos e resultados de torneios e vasculhar vídeos atrás de uma combinação mágica de talento e capacidade atlética. Também era importante fazer um torneio globalmente representativo. Encontrar um futuro jogador do top 50 de um país ou grupo demográfico que nunca produziu uma estrela do tênis pode ser inovador e incrivelmente lucrativo.

Os jogadores tinham de vir com um acompanhante, que na maioria dos casos era pai ou mãe e um treinador, dando à IMG a chance de construir relacionamentos.

Eisenbud incentivou os treinadores a ouvir o técnico italiano Riccardo Piatti, que conduziu um seminário de treinamento, descrevendo-o como o “melhor” do mundo.

Piatti passou a manhã de terça-feira de olho em Tyson Grant, um dos principais jogadores sub-12, com cuja família ele trabalha há quase sete anos. Piatti também supervisiona o treinamento da irmã de Tyson, Tyra, que aos 14 anos já é cliente da IMG. O pai de Tyson e Tyra, Tyrone Grant, tem quase 1,90m e jogou basquete profissional por uma década na Europa. Com bons genes, início precoce e orientação de um treinador renomado, Tyson Grant pode ser uma bela aposta.

Algumas quadras adiante, Haniya Minhas estava exibindo seus impressionantes backhands, que ela começa com a ponta do cabo da raquete quase apoiado no quadril.

“Meu movimento favorito”, disse ela. “Todo mundo me diz para estender os braços, mas eu gosto do jeito que eu faço”.

Minhas, 11 anos, é paquistanesa e muçulmana. Ela joga de hijab, mangas compridas e meia-calça, e já parece uma promessa publicitária.

Ela vem ganhando torneios desde os 5 anos de idade. Sua busca por uma competição à altura a levou do Paquistão – onde há pouco apoio para esportes femininos e ela venceu todos os meninos de sua idade – para a Turquia. Sua mãe, Annie, disse que ela e sua filha querem provar que alguém que se veste de um jeito diferente da maioria e vem de um país que nunca teve uma estrela do tênis pode vencer qualquer adversária. Elas esperam assinar com um agente quando Haniya completar 12 anos.

“Estamos tentando mudar a mentalidade”, disse Annie Minhas.

Teo Davidov tem um truque na manga. Indiscutivelmente o melhor jogador masculino com menos de 12 anos, Davidov mora na Flórida. Seus pais se mudaram da Bulgária para o Colorado há uma década, quando seu pai ganhou na loteria do green card. Nascido destro, ele acerta os forehands dos dois lados e também pode sacar com as ambas as mãos. Seu pai e treinador, Kalin, começou a transformar Teo em tenista ambidestro quando ele tinha 8 anos porque era um menino hiperativo. Kalin achava que o deixaria mais calmo com exercícios para canhotos para estimular o hemisfério direito do cérebro – que, além do lado esquerdo do corpo, controla a atenção e a memória.

“Espero que isso também ajude seu jogo”, disse Kalin Davidov. A técnica, por enquanto, é devastadora, mas nenhum jogador de ponta jamais conseguiu jogar dessa maneira.

Os Davidov conheceram Eisenbud e a IMG três anos atrás, depois que Kalin postou um vídeo do forehand duplo de seu filho no Facebook. O telefone tocou pouco depois. A Babolat, fabricante francesa de raquetes, é patrocinadora.

Michael Chang, que venceu o Aberto da França em 1989, aos 17 anos, veio com sua filha, Lani, que exibiu um drop shot muito familiar e se enfiou em um romance de Rick Riordan no ônibus entre as quadras e o hotel. Chang disse que o circuito júnior mudou muito desde sua infância, com muito mais viagens e competições internacionais.

Gunther Darkey, ex-profissional da Grã-Bretanha, trouxe seu filho, Denzell, uma grande promessa e um dos poucos jovens negros da elite da Lawn Tennis Association. Alcaraz tem um irmão de 10 anos, Jaime, que se mostrou bom o bastante para receber um convite. Assim como Meghan Knight, filha de um conhecido jogador de críquete da Inglaterra.

“Você tem que ser o tipo de pessoa que a partir dos 9 anos pode melhorar consistentemente enquanto sofre perdas todas as semanas por dez ou quinze anos”, disse Seb Lavie, que trouxe dois jogadores de sua academia em Auckland, Nova Zelândia.

Dominik Defoe insistiu que está preparado para o que for preciso. Ele era o menor das duas dúzias de meninos. Ainda joga com uma raquete de tamanho júnior e sofreu para acompanhar Grant na primeira partida. Todos os seus oponentes tentam rebater com topspin para enterrá-lo no fundo da quadra. Ele corre para rebater antes que a bola pingue na quadra e suba acima da sua cabeça.

Quando criança, Defoe, que é fluente em quatro idiomas, prometeu a si mesmo que venceria o Aberto da França. Ele construiu sua existência em torno da ideia de dar a si mesmo a melhor chance de fazer isso acontecer.

Ele frequenta a escola de manhã para ter aulas de matemática e idiomas, mas trabalha de forma independente no restante de seus estudos para liberar mais horas para o tênis. Estudando os profissionais de perto, ele decidiu não ter um favorito, mas construiu um jogador composto que tem o forehand de Dominic Thiem, o saque de Nick Kyrgios, o backhand de Novak Djokovic, a atitude de Rafael Nadal, o jogo de rede de Roger Federer e o footwork de Felix Auger-Aliassime. Ele pratica a atenção plena escrevendo em um diário.

“Quando estávamos vindo para cá, ele me disse que essa jornada era como uma viagem de trem”, disse sua mãe, Rachel, que foi sua primeira treinadora. “Esta é apenas uma parada, uma estação. Aí o trem segue viagem”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Lá está Dominik Defoe. Dez anos de idade e pouco mais alto que a rede. Cachos dourados na altura dos ombros saltando no ar enquanto ele persegue e rebate as bolas de tênis, coisa que ele faz melhor do que qualquer criança de sua idade.

Defoe adora mexer no GPS do carro de sua mãe, então de manhã, quando eles estão indo para a escola, o mapa os direciona para Roland Garros, local do Aberto da França. Ele faz isso com tanta frequência que sua mãe sabe que Roland Garros fica a 2 horas e 47 minutos de sua casa na Bélgica.

Dominik Defoe, à direita, durante partida no norte de Atenas, Grécia. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

Defoe ficou quase às lágrimas no início deste ano quando recebeu um dos 48 convites do conglomerado de esportes e entretenimento IMG para participar do primeiro Torneio das Estrelas do Futuro no elegante Tatoi Club, nos subúrbios ao norte de Atenas. O evento para meninos e meninas com 12 anos ou menos é um torneio e programa de treinamento de uma semana sobre a vida que pode se abrir para Defoe e seus colegas, com seminários liderados por executivos da Nike e profissionais do tênis masculino e feminino, o ATP e o WTA.

A corrida para encontrar as próximas estrelas do esporte chegou aqui: com fortunas de oito dígitos em jogo, agentes e olheiros avaliando e cultivando jogadores com menos de 10 anos que estão apenas começando a competir. O Future Stars é o mais novo e extravagante esforço de recrutamento da IMG, a empresa que essencialmente inventou o negócio de representação esportiva e dominou o tênis por anos.

“Ninguém quer um torneio para crianças de 11 e 12 anos”, disse Max Eisenbud, que lidera a divisão de tênis da empresa. “Eu preferiria esperar, mas a competição nos obrigou encarar esta situação”.

Durante anos, os agentes da IMG colecionaram futuras estrelas de duas maneiras: ou pré-adolescentes e adolescentes (Maria Sharapova, por exemplo) apareciam em sua academia em Bradenton, Flórida, que já foi o principal campo de treinamento do esporte, procurando uma das abundantes bolsas de estudo; ou os agentes apareciam em Tarbes, na França, para o Les Petit As, o principal torneio do mundo para jogadores com menos de 14 anos. Ali o que eles faziam era basicamente pescar no aquário.

Durante a última década, porém, academias rivais foram abertas em toda a Europa, e a academia da IMG passou a se concentrar mais em lucrar com famílias pagando mensalidades, em vez de fazer apostas de longo prazo em adolescentes. Além disso, nos últimos anos, quando Eisenbud e seus colegas fizeram suas viagens anuais a Les Petit As, descobriram que quase todos os jogadores mais promissores já haviam assinado contratos com outras empresas de gestão, muitas delas operações de elite muito bem financiadas que ofereciam garantias financeiras, às vezes indo muito além de cobrir o custo anual de aproximadamente US$ 50.000 para treinamento e viagens no circuito júnior.

Max Eisenbud, ex-treinador de Maria Sharapova e atual vice-presidente do IMG. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

E assim, em um sinal de tempos implacáveis no tênis, a IMG começou a mirar promessas mais jovens, mesmo que prospectar talentos pré-adolescentes possa ser quase impossível e altamente estressante, arriscando aumentar a pressão sobre crianças que já se cobram muito e, em alguns casos, carregam responsabilidades financeiras por suas famílias.

Se estrelas como Naomi Osaka e Bianca Andreescu, que foram campeãs de torneios de Grand Slam ainda na casa dos 20 anos, tiveram de fazer pausas no tênis para cuidar da saúde mental, não é exagero pensar nos riscos de aumentar ainda mais as expectativas sobre crianças pré-púberes. Durante uma palestra para as garotas sobre como se manter física e mentalmente saudável, Saga Shermis, especialista em desenvolvimento de atletas da WTA, disse que espera vê-las no tour nos próximos anos.

“Nesta idade elas ainda estão aprendendo”, disse Adam Molenda, treinador de juniores da federação de tênis da Polônia, depois de assistir a duas de suas jogadoras, Antonina Snochowska e Maja Schweika, se enfrentarem por uma hora na segunda-feira. “Não dá para saber quem vai chegar lá. A vida é cheia de surpresas”.

E decisões.

Grace Bernstein, jovem sueca de destaque, flutuava pela quadra e rebatia bolas contra um garoto enquanto sua mãe assistia do alambrado. Seja jogando tênis ou cartas, Bernstein compete incansavelmente, disse sua mãe, Catharina, ex-jogadora que chegou a número 286 no ranking de simples em 1991. Ela joga em uma academia dirigida por Magnus Norman, que já foi o segundo melhor jogador de simples do mundo. Ela também é uma grande jogadora de futebol.

“Ela ainda não se decidiu, mas por enquanto é tênis, então ela joga tênis”, disse Catharina Bernstein.

Para alguns, fama e fortuna realmente podem parecer inevitáveis. Eisenbud assinou com Sharapova quando ela tinha 11 anos, depois de assisti-la rebater por 45 minutos com uma intensidade e perfeição que ele nunca tinha visto antes. Carlos Alcaraz, que completa 19 anos na quinta-feira e já é o jovem mais promissor do tênis masculino, também foi considerado um investimento imperdível quando ainda era um menino de 11 anos. Por outro lado, Eisenbud tinha certeza de que o primeiro jogador que contratou, Horia Tecău, da Romênia, estava destinado à grandeza. Tecau se tornou um especialista em duplas, mas nunca chegou ao top 300 em simples.

Há dezoito meses Eisenbud elaborou seu plano para uma competição luxuosa com a maioria das despesas cobertas e todas as vantagens de um evento profissional – gandulas, árbitros de cadeira, quadras de saibro imaculadas, fones de ouvido Beats e brindes da Nike para todas as crianças.

“Queremos tratá-las como atletas profissionais”, disse Elli Vizantiou, diretora executiva do Tatoi Club.

Não se esquecendo inteiramente de que são crianças, os organizadores também prepararam uma caça ao tesouro, jantares em grupo todas as noites e um passeio pelo Partenon. A IMG trouxe Alcaraz, recém-saído de sua vitória na final do Barcelona Open, para jogar uma partida de exibição contra Hubert Hurkacz, 14º no ranking de simples.

Montar as chaves do Future Stars exigiu meses de entrevistas com treinadores e dirigentes de federações de tênis do mundo todo, para avaliar currículos e resultados de torneios e vasculhar vídeos atrás de uma combinação mágica de talento e capacidade atlética. Também era importante fazer um torneio globalmente representativo. Encontrar um futuro jogador do top 50 de um país ou grupo demográfico que nunca produziu uma estrela do tênis pode ser inovador e incrivelmente lucrativo.

Os jogadores tinham de vir com um acompanhante, que na maioria dos casos era pai ou mãe e um treinador, dando à IMG a chance de construir relacionamentos.

Eisenbud incentivou os treinadores a ouvir o técnico italiano Riccardo Piatti, que conduziu um seminário de treinamento, descrevendo-o como o “melhor” do mundo.

Piatti passou a manhã de terça-feira de olho em Tyson Grant, um dos principais jogadores sub-12, com cuja família ele trabalha há quase sete anos. Piatti também supervisiona o treinamento da irmã de Tyson, Tyra, que aos 14 anos já é cliente da IMG. O pai de Tyson e Tyra, Tyrone Grant, tem quase 1,90m e jogou basquete profissional por uma década na Europa. Com bons genes, início precoce e orientação de um treinador renomado, Tyson Grant pode ser uma bela aposta.

Algumas quadras adiante, Haniya Minhas estava exibindo seus impressionantes backhands, que ela começa com a ponta do cabo da raquete quase apoiado no quadril.

“Meu movimento favorito”, disse ela. “Todo mundo me diz para estender os braços, mas eu gosto do jeito que eu faço”.

Minhas, 11 anos, é paquistanesa e muçulmana. Ela joga de hijab, mangas compridas e meia-calça, e já parece uma promessa publicitária.

Ela vem ganhando torneios desde os 5 anos de idade. Sua busca por uma competição à altura a levou do Paquistão – onde há pouco apoio para esportes femininos e ela venceu todos os meninos de sua idade – para a Turquia. Sua mãe, Annie, disse que ela e sua filha querem provar que alguém que se veste de um jeito diferente da maioria e vem de um país que nunca teve uma estrela do tênis pode vencer qualquer adversária. Elas esperam assinar com um agente quando Haniya completar 12 anos.

“Estamos tentando mudar a mentalidade”, disse Annie Minhas.

Teo Davidov tem um truque na manga. Indiscutivelmente o melhor jogador masculino com menos de 12 anos, Davidov mora na Flórida. Seus pais se mudaram da Bulgária para o Colorado há uma década, quando seu pai ganhou na loteria do green card. Nascido destro, ele acerta os forehands dos dois lados e também pode sacar com as ambas as mãos. Seu pai e treinador, Kalin, começou a transformar Teo em tenista ambidestro quando ele tinha 8 anos porque era um menino hiperativo. Kalin achava que o deixaria mais calmo com exercícios para canhotos para estimular o hemisfério direito do cérebro – que, além do lado esquerdo do corpo, controla a atenção e a memória.

“Espero que isso também ajude seu jogo”, disse Kalin Davidov. A técnica, por enquanto, é devastadora, mas nenhum jogador de ponta jamais conseguiu jogar dessa maneira.

Os Davidov conheceram Eisenbud e a IMG três anos atrás, depois que Kalin postou um vídeo do forehand duplo de seu filho no Facebook. O telefone tocou pouco depois. A Babolat, fabricante francesa de raquetes, é patrocinadora.

Michael Chang, que venceu o Aberto da França em 1989, aos 17 anos, veio com sua filha, Lani, que exibiu um drop shot muito familiar e se enfiou em um romance de Rick Riordan no ônibus entre as quadras e o hotel. Chang disse que o circuito júnior mudou muito desde sua infância, com muito mais viagens e competições internacionais.

Gunther Darkey, ex-profissional da Grã-Bretanha, trouxe seu filho, Denzell, uma grande promessa e um dos poucos jovens negros da elite da Lawn Tennis Association. Alcaraz tem um irmão de 10 anos, Jaime, que se mostrou bom o bastante para receber um convite. Assim como Meghan Knight, filha de um conhecido jogador de críquete da Inglaterra.

“Você tem que ser o tipo de pessoa que a partir dos 9 anos pode melhorar consistentemente enquanto sofre perdas todas as semanas por dez ou quinze anos”, disse Seb Lavie, que trouxe dois jogadores de sua academia em Auckland, Nova Zelândia.

Dominik Defoe insistiu que está preparado para o que for preciso. Ele era o menor das duas dúzias de meninos. Ainda joga com uma raquete de tamanho júnior e sofreu para acompanhar Grant na primeira partida. Todos os seus oponentes tentam rebater com topspin para enterrá-lo no fundo da quadra. Ele corre para rebater antes que a bola pingue na quadra e suba acima da sua cabeça.

Quando criança, Defoe, que é fluente em quatro idiomas, prometeu a si mesmo que venceria o Aberto da França. Ele construiu sua existência em torno da ideia de dar a si mesmo a melhor chance de fazer isso acontecer.

Ele frequenta a escola de manhã para ter aulas de matemática e idiomas, mas trabalha de forma independente no restante de seus estudos para liberar mais horas para o tênis. Estudando os profissionais de perto, ele decidiu não ter um favorito, mas construiu um jogador composto que tem o forehand de Dominic Thiem, o saque de Nick Kyrgios, o backhand de Novak Djokovic, a atitude de Rafael Nadal, o jogo de rede de Roger Federer e o footwork de Felix Auger-Aliassime. Ele pratica a atenção plena escrevendo em um diário.

“Quando estávamos vindo para cá, ele me disse que essa jornada era como uma viagem de trem”, disse sua mãe, Rachel, que foi sua primeira treinadora. “Esta é apenas uma parada, uma estação. Aí o trem segue viagem”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Lá está Dominik Defoe. Dez anos de idade e pouco mais alto que a rede. Cachos dourados na altura dos ombros saltando no ar enquanto ele persegue e rebate as bolas de tênis, coisa que ele faz melhor do que qualquer criança de sua idade.

Defoe adora mexer no GPS do carro de sua mãe, então de manhã, quando eles estão indo para a escola, o mapa os direciona para Roland Garros, local do Aberto da França. Ele faz isso com tanta frequência que sua mãe sabe que Roland Garros fica a 2 horas e 47 minutos de sua casa na Bélgica.

Dominik Defoe, à direita, durante partida no norte de Atenas, Grécia. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

Defoe ficou quase às lágrimas no início deste ano quando recebeu um dos 48 convites do conglomerado de esportes e entretenimento IMG para participar do primeiro Torneio das Estrelas do Futuro no elegante Tatoi Club, nos subúrbios ao norte de Atenas. O evento para meninos e meninas com 12 anos ou menos é um torneio e programa de treinamento de uma semana sobre a vida que pode se abrir para Defoe e seus colegas, com seminários liderados por executivos da Nike e profissionais do tênis masculino e feminino, o ATP e o WTA.

A corrida para encontrar as próximas estrelas do esporte chegou aqui: com fortunas de oito dígitos em jogo, agentes e olheiros avaliando e cultivando jogadores com menos de 10 anos que estão apenas começando a competir. O Future Stars é o mais novo e extravagante esforço de recrutamento da IMG, a empresa que essencialmente inventou o negócio de representação esportiva e dominou o tênis por anos.

“Ninguém quer um torneio para crianças de 11 e 12 anos”, disse Max Eisenbud, que lidera a divisão de tênis da empresa. “Eu preferiria esperar, mas a competição nos obrigou encarar esta situação”.

Durante anos, os agentes da IMG colecionaram futuras estrelas de duas maneiras: ou pré-adolescentes e adolescentes (Maria Sharapova, por exemplo) apareciam em sua academia em Bradenton, Flórida, que já foi o principal campo de treinamento do esporte, procurando uma das abundantes bolsas de estudo; ou os agentes apareciam em Tarbes, na França, para o Les Petit As, o principal torneio do mundo para jogadores com menos de 14 anos. Ali o que eles faziam era basicamente pescar no aquário.

Durante a última década, porém, academias rivais foram abertas em toda a Europa, e a academia da IMG passou a se concentrar mais em lucrar com famílias pagando mensalidades, em vez de fazer apostas de longo prazo em adolescentes. Além disso, nos últimos anos, quando Eisenbud e seus colegas fizeram suas viagens anuais a Les Petit As, descobriram que quase todos os jogadores mais promissores já haviam assinado contratos com outras empresas de gestão, muitas delas operações de elite muito bem financiadas que ofereciam garantias financeiras, às vezes indo muito além de cobrir o custo anual de aproximadamente US$ 50.000 para treinamento e viagens no circuito júnior.

Max Eisenbud, ex-treinador de Maria Sharapova e atual vice-presidente do IMG. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

E assim, em um sinal de tempos implacáveis no tênis, a IMG começou a mirar promessas mais jovens, mesmo que prospectar talentos pré-adolescentes possa ser quase impossível e altamente estressante, arriscando aumentar a pressão sobre crianças que já se cobram muito e, em alguns casos, carregam responsabilidades financeiras por suas famílias.

Se estrelas como Naomi Osaka e Bianca Andreescu, que foram campeãs de torneios de Grand Slam ainda na casa dos 20 anos, tiveram de fazer pausas no tênis para cuidar da saúde mental, não é exagero pensar nos riscos de aumentar ainda mais as expectativas sobre crianças pré-púberes. Durante uma palestra para as garotas sobre como se manter física e mentalmente saudável, Saga Shermis, especialista em desenvolvimento de atletas da WTA, disse que espera vê-las no tour nos próximos anos.

“Nesta idade elas ainda estão aprendendo”, disse Adam Molenda, treinador de juniores da federação de tênis da Polônia, depois de assistir a duas de suas jogadoras, Antonina Snochowska e Maja Schweika, se enfrentarem por uma hora na segunda-feira. “Não dá para saber quem vai chegar lá. A vida é cheia de surpresas”.

E decisões.

Grace Bernstein, jovem sueca de destaque, flutuava pela quadra e rebatia bolas contra um garoto enquanto sua mãe assistia do alambrado. Seja jogando tênis ou cartas, Bernstein compete incansavelmente, disse sua mãe, Catharina, ex-jogadora que chegou a número 286 no ranking de simples em 1991. Ela joga em uma academia dirigida por Magnus Norman, que já foi o segundo melhor jogador de simples do mundo. Ela também é uma grande jogadora de futebol.

“Ela ainda não se decidiu, mas por enquanto é tênis, então ela joga tênis”, disse Catharina Bernstein.

Para alguns, fama e fortuna realmente podem parecer inevitáveis. Eisenbud assinou com Sharapova quando ela tinha 11 anos, depois de assisti-la rebater por 45 minutos com uma intensidade e perfeição que ele nunca tinha visto antes. Carlos Alcaraz, que completa 19 anos na quinta-feira e já é o jovem mais promissor do tênis masculino, também foi considerado um investimento imperdível quando ainda era um menino de 11 anos. Por outro lado, Eisenbud tinha certeza de que o primeiro jogador que contratou, Horia Tecău, da Romênia, estava destinado à grandeza. Tecau se tornou um especialista em duplas, mas nunca chegou ao top 300 em simples.

Há dezoito meses Eisenbud elaborou seu plano para uma competição luxuosa com a maioria das despesas cobertas e todas as vantagens de um evento profissional – gandulas, árbitros de cadeira, quadras de saibro imaculadas, fones de ouvido Beats e brindes da Nike para todas as crianças.

“Queremos tratá-las como atletas profissionais”, disse Elli Vizantiou, diretora executiva do Tatoi Club.

Não se esquecendo inteiramente de que são crianças, os organizadores também prepararam uma caça ao tesouro, jantares em grupo todas as noites e um passeio pelo Partenon. A IMG trouxe Alcaraz, recém-saído de sua vitória na final do Barcelona Open, para jogar uma partida de exibição contra Hubert Hurkacz, 14º no ranking de simples.

Montar as chaves do Future Stars exigiu meses de entrevistas com treinadores e dirigentes de federações de tênis do mundo todo, para avaliar currículos e resultados de torneios e vasculhar vídeos atrás de uma combinação mágica de talento e capacidade atlética. Também era importante fazer um torneio globalmente representativo. Encontrar um futuro jogador do top 50 de um país ou grupo demográfico que nunca produziu uma estrela do tênis pode ser inovador e incrivelmente lucrativo.

Os jogadores tinham de vir com um acompanhante, que na maioria dos casos era pai ou mãe e um treinador, dando à IMG a chance de construir relacionamentos.

Eisenbud incentivou os treinadores a ouvir o técnico italiano Riccardo Piatti, que conduziu um seminário de treinamento, descrevendo-o como o “melhor” do mundo.

Piatti passou a manhã de terça-feira de olho em Tyson Grant, um dos principais jogadores sub-12, com cuja família ele trabalha há quase sete anos. Piatti também supervisiona o treinamento da irmã de Tyson, Tyra, que aos 14 anos já é cliente da IMG. O pai de Tyson e Tyra, Tyrone Grant, tem quase 1,90m e jogou basquete profissional por uma década na Europa. Com bons genes, início precoce e orientação de um treinador renomado, Tyson Grant pode ser uma bela aposta.

Algumas quadras adiante, Haniya Minhas estava exibindo seus impressionantes backhands, que ela começa com a ponta do cabo da raquete quase apoiado no quadril.

“Meu movimento favorito”, disse ela. “Todo mundo me diz para estender os braços, mas eu gosto do jeito que eu faço”.

Minhas, 11 anos, é paquistanesa e muçulmana. Ela joga de hijab, mangas compridas e meia-calça, e já parece uma promessa publicitária.

Ela vem ganhando torneios desde os 5 anos de idade. Sua busca por uma competição à altura a levou do Paquistão – onde há pouco apoio para esportes femininos e ela venceu todos os meninos de sua idade – para a Turquia. Sua mãe, Annie, disse que ela e sua filha querem provar que alguém que se veste de um jeito diferente da maioria e vem de um país que nunca teve uma estrela do tênis pode vencer qualquer adversária. Elas esperam assinar com um agente quando Haniya completar 12 anos.

“Estamos tentando mudar a mentalidade”, disse Annie Minhas.

Teo Davidov tem um truque na manga. Indiscutivelmente o melhor jogador masculino com menos de 12 anos, Davidov mora na Flórida. Seus pais se mudaram da Bulgária para o Colorado há uma década, quando seu pai ganhou na loteria do green card. Nascido destro, ele acerta os forehands dos dois lados e também pode sacar com as ambas as mãos. Seu pai e treinador, Kalin, começou a transformar Teo em tenista ambidestro quando ele tinha 8 anos porque era um menino hiperativo. Kalin achava que o deixaria mais calmo com exercícios para canhotos para estimular o hemisfério direito do cérebro – que, além do lado esquerdo do corpo, controla a atenção e a memória.

“Espero que isso também ajude seu jogo”, disse Kalin Davidov. A técnica, por enquanto, é devastadora, mas nenhum jogador de ponta jamais conseguiu jogar dessa maneira.

Os Davidov conheceram Eisenbud e a IMG três anos atrás, depois que Kalin postou um vídeo do forehand duplo de seu filho no Facebook. O telefone tocou pouco depois. A Babolat, fabricante francesa de raquetes, é patrocinadora.

Michael Chang, que venceu o Aberto da França em 1989, aos 17 anos, veio com sua filha, Lani, que exibiu um drop shot muito familiar e se enfiou em um romance de Rick Riordan no ônibus entre as quadras e o hotel. Chang disse que o circuito júnior mudou muito desde sua infância, com muito mais viagens e competições internacionais.

Gunther Darkey, ex-profissional da Grã-Bretanha, trouxe seu filho, Denzell, uma grande promessa e um dos poucos jovens negros da elite da Lawn Tennis Association. Alcaraz tem um irmão de 10 anos, Jaime, que se mostrou bom o bastante para receber um convite. Assim como Meghan Knight, filha de um conhecido jogador de críquete da Inglaterra.

“Você tem que ser o tipo de pessoa que a partir dos 9 anos pode melhorar consistentemente enquanto sofre perdas todas as semanas por dez ou quinze anos”, disse Seb Lavie, que trouxe dois jogadores de sua academia em Auckland, Nova Zelândia.

Dominik Defoe insistiu que está preparado para o que for preciso. Ele era o menor das duas dúzias de meninos. Ainda joga com uma raquete de tamanho júnior e sofreu para acompanhar Grant na primeira partida. Todos os seus oponentes tentam rebater com topspin para enterrá-lo no fundo da quadra. Ele corre para rebater antes que a bola pingue na quadra e suba acima da sua cabeça.

Quando criança, Defoe, que é fluente em quatro idiomas, prometeu a si mesmo que venceria o Aberto da França. Ele construiu sua existência em torno da ideia de dar a si mesmo a melhor chance de fazer isso acontecer.

Ele frequenta a escola de manhã para ter aulas de matemática e idiomas, mas trabalha de forma independente no restante de seus estudos para liberar mais horas para o tênis. Estudando os profissionais de perto, ele decidiu não ter um favorito, mas construiu um jogador composto que tem o forehand de Dominic Thiem, o saque de Nick Kyrgios, o backhand de Novak Djokovic, a atitude de Rafael Nadal, o jogo de rede de Roger Federer e o footwork de Felix Auger-Aliassime. Ele pratica a atenção plena escrevendo em um diário.

“Quando estávamos vindo para cá, ele me disse que essa jornada era como uma viagem de trem”, disse sua mãe, Rachel, que foi sua primeira treinadora. “Esta é apenas uma parada, uma estação. Aí o trem segue viagem”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Lá está Dominik Defoe. Dez anos de idade e pouco mais alto que a rede. Cachos dourados na altura dos ombros saltando no ar enquanto ele persegue e rebate as bolas de tênis, coisa que ele faz melhor do que qualquer criança de sua idade.

Defoe adora mexer no GPS do carro de sua mãe, então de manhã, quando eles estão indo para a escola, o mapa os direciona para Roland Garros, local do Aberto da França. Ele faz isso com tanta frequência que sua mãe sabe que Roland Garros fica a 2 horas e 47 minutos de sua casa na Bélgica.

Dominik Defoe, à direita, durante partida no norte de Atenas, Grécia. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

Defoe ficou quase às lágrimas no início deste ano quando recebeu um dos 48 convites do conglomerado de esportes e entretenimento IMG para participar do primeiro Torneio das Estrelas do Futuro no elegante Tatoi Club, nos subúrbios ao norte de Atenas. O evento para meninos e meninas com 12 anos ou menos é um torneio e programa de treinamento de uma semana sobre a vida que pode se abrir para Defoe e seus colegas, com seminários liderados por executivos da Nike e profissionais do tênis masculino e feminino, o ATP e o WTA.

A corrida para encontrar as próximas estrelas do esporte chegou aqui: com fortunas de oito dígitos em jogo, agentes e olheiros avaliando e cultivando jogadores com menos de 10 anos que estão apenas começando a competir. O Future Stars é o mais novo e extravagante esforço de recrutamento da IMG, a empresa que essencialmente inventou o negócio de representação esportiva e dominou o tênis por anos.

“Ninguém quer um torneio para crianças de 11 e 12 anos”, disse Max Eisenbud, que lidera a divisão de tênis da empresa. “Eu preferiria esperar, mas a competição nos obrigou encarar esta situação”.

Durante anos, os agentes da IMG colecionaram futuras estrelas de duas maneiras: ou pré-adolescentes e adolescentes (Maria Sharapova, por exemplo) apareciam em sua academia em Bradenton, Flórida, que já foi o principal campo de treinamento do esporte, procurando uma das abundantes bolsas de estudo; ou os agentes apareciam em Tarbes, na França, para o Les Petit As, o principal torneio do mundo para jogadores com menos de 14 anos. Ali o que eles faziam era basicamente pescar no aquário.

Durante a última década, porém, academias rivais foram abertas em toda a Europa, e a academia da IMG passou a se concentrar mais em lucrar com famílias pagando mensalidades, em vez de fazer apostas de longo prazo em adolescentes. Além disso, nos últimos anos, quando Eisenbud e seus colegas fizeram suas viagens anuais a Les Petit As, descobriram que quase todos os jogadores mais promissores já haviam assinado contratos com outras empresas de gestão, muitas delas operações de elite muito bem financiadas que ofereciam garantias financeiras, às vezes indo muito além de cobrir o custo anual de aproximadamente US$ 50.000 para treinamento e viagens no circuito júnior.

Max Eisenbud, ex-treinador de Maria Sharapova e atual vice-presidente do IMG. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

E assim, em um sinal de tempos implacáveis no tênis, a IMG começou a mirar promessas mais jovens, mesmo que prospectar talentos pré-adolescentes possa ser quase impossível e altamente estressante, arriscando aumentar a pressão sobre crianças que já se cobram muito e, em alguns casos, carregam responsabilidades financeiras por suas famílias.

Se estrelas como Naomi Osaka e Bianca Andreescu, que foram campeãs de torneios de Grand Slam ainda na casa dos 20 anos, tiveram de fazer pausas no tênis para cuidar da saúde mental, não é exagero pensar nos riscos de aumentar ainda mais as expectativas sobre crianças pré-púberes. Durante uma palestra para as garotas sobre como se manter física e mentalmente saudável, Saga Shermis, especialista em desenvolvimento de atletas da WTA, disse que espera vê-las no tour nos próximos anos.

“Nesta idade elas ainda estão aprendendo”, disse Adam Molenda, treinador de juniores da federação de tênis da Polônia, depois de assistir a duas de suas jogadoras, Antonina Snochowska e Maja Schweika, se enfrentarem por uma hora na segunda-feira. “Não dá para saber quem vai chegar lá. A vida é cheia de surpresas”.

E decisões.

Grace Bernstein, jovem sueca de destaque, flutuava pela quadra e rebatia bolas contra um garoto enquanto sua mãe assistia do alambrado. Seja jogando tênis ou cartas, Bernstein compete incansavelmente, disse sua mãe, Catharina, ex-jogadora que chegou a número 286 no ranking de simples em 1991. Ela joga em uma academia dirigida por Magnus Norman, que já foi o segundo melhor jogador de simples do mundo. Ela também é uma grande jogadora de futebol.

“Ela ainda não se decidiu, mas por enquanto é tênis, então ela joga tênis”, disse Catharina Bernstein.

Para alguns, fama e fortuna realmente podem parecer inevitáveis. Eisenbud assinou com Sharapova quando ela tinha 11 anos, depois de assisti-la rebater por 45 minutos com uma intensidade e perfeição que ele nunca tinha visto antes. Carlos Alcaraz, que completa 19 anos na quinta-feira e já é o jovem mais promissor do tênis masculino, também foi considerado um investimento imperdível quando ainda era um menino de 11 anos. Por outro lado, Eisenbud tinha certeza de que o primeiro jogador que contratou, Horia Tecău, da Romênia, estava destinado à grandeza. Tecau se tornou um especialista em duplas, mas nunca chegou ao top 300 em simples.

Há dezoito meses Eisenbud elaborou seu plano para uma competição luxuosa com a maioria das despesas cobertas e todas as vantagens de um evento profissional – gandulas, árbitros de cadeira, quadras de saibro imaculadas, fones de ouvido Beats e brindes da Nike para todas as crianças.

“Queremos tratá-las como atletas profissionais”, disse Elli Vizantiou, diretora executiva do Tatoi Club.

Não se esquecendo inteiramente de que são crianças, os organizadores também prepararam uma caça ao tesouro, jantares em grupo todas as noites e um passeio pelo Partenon. A IMG trouxe Alcaraz, recém-saído de sua vitória na final do Barcelona Open, para jogar uma partida de exibição contra Hubert Hurkacz, 14º no ranking de simples.

Montar as chaves do Future Stars exigiu meses de entrevistas com treinadores e dirigentes de federações de tênis do mundo todo, para avaliar currículos e resultados de torneios e vasculhar vídeos atrás de uma combinação mágica de talento e capacidade atlética. Também era importante fazer um torneio globalmente representativo. Encontrar um futuro jogador do top 50 de um país ou grupo demográfico que nunca produziu uma estrela do tênis pode ser inovador e incrivelmente lucrativo.

Os jogadores tinham de vir com um acompanhante, que na maioria dos casos era pai ou mãe e um treinador, dando à IMG a chance de construir relacionamentos.

Eisenbud incentivou os treinadores a ouvir o técnico italiano Riccardo Piatti, que conduziu um seminário de treinamento, descrevendo-o como o “melhor” do mundo.

Piatti passou a manhã de terça-feira de olho em Tyson Grant, um dos principais jogadores sub-12, com cuja família ele trabalha há quase sete anos. Piatti também supervisiona o treinamento da irmã de Tyson, Tyra, que aos 14 anos já é cliente da IMG. O pai de Tyson e Tyra, Tyrone Grant, tem quase 1,90m e jogou basquete profissional por uma década na Europa. Com bons genes, início precoce e orientação de um treinador renomado, Tyson Grant pode ser uma bela aposta.

Algumas quadras adiante, Haniya Minhas estava exibindo seus impressionantes backhands, que ela começa com a ponta do cabo da raquete quase apoiado no quadril.

“Meu movimento favorito”, disse ela. “Todo mundo me diz para estender os braços, mas eu gosto do jeito que eu faço”.

Minhas, 11 anos, é paquistanesa e muçulmana. Ela joga de hijab, mangas compridas e meia-calça, e já parece uma promessa publicitária.

Ela vem ganhando torneios desde os 5 anos de idade. Sua busca por uma competição à altura a levou do Paquistão – onde há pouco apoio para esportes femininos e ela venceu todos os meninos de sua idade – para a Turquia. Sua mãe, Annie, disse que ela e sua filha querem provar que alguém que se veste de um jeito diferente da maioria e vem de um país que nunca teve uma estrela do tênis pode vencer qualquer adversária. Elas esperam assinar com um agente quando Haniya completar 12 anos.

“Estamos tentando mudar a mentalidade”, disse Annie Minhas.

Teo Davidov tem um truque na manga. Indiscutivelmente o melhor jogador masculino com menos de 12 anos, Davidov mora na Flórida. Seus pais se mudaram da Bulgária para o Colorado há uma década, quando seu pai ganhou na loteria do green card. Nascido destro, ele acerta os forehands dos dois lados e também pode sacar com as ambas as mãos. Seu pai e treinador, Kalin, começou a transformar Teo em tenista ambidestro quando ele tinha 8 anos porque era um menino hiperativo. Kalin achava que o deixaria mais calmo com exercícios para canhotos para estimular o hemisfério direito do cérebro – que, além do lado esquerdo do corpo, controla a atenção e a memória.

“Espero que isso também ajude seu jogo”, disse Kalin Davidov. A técnica, por enquanto, é devastadora, mas nenhum jogador de ponta jamais conseguiu jogar dessa maneira.

Os Davidov conheceram Eisenbud e a IMG três anos atrás, depois que Kalin postou um vídeo do forehand duplo de seu filho no Facebook. O telefone tocou pouco depois. A Babolat, fabricante francesa de raquetes, é patrocinadora.

Michael Chang, que venceu o Aberto da França em 1989, aos 17 anos, veio com sua filha, Lani, que exibiu um drop shot muito familiar e se enfiou em um romance de Rick Riordan no ônibus entre as quadras e o hotel. Chang disse que o circuito júnior mudou muito desde sua infância, com muito mais viagens e competições internacionais.

Gunther Darkey, ex-profissional da Grã-Bretanha, trouxe seu filho, Denzell, uma grande promessa e um dos poucos jovens negros da elite da Lawn Tennis Association. Alcaraz tem um irmão de 10 anos, Jaime, que se mostrou bom o bastante para receber um convite. Assim como Meghan Knight, filha de um conhecido jogador de críquete da Inglaterra.

“Você tem que ser o tipo de pessoa que a partir dos 9 anos pode melhorar consistentemente enquanto sofre perdas todas as semanas por dez ou quinze anos”, disse Seb Lavie, que trouxe dois jogadores de sua academia em Auckland, Nova Zelândia.

Dominik Defoe insistiu que está preparado para o que for preciso. Ele era o menor das duas dúzias de meninos. Ainda joga com uma raquete de tamanho júnior e sofreu para acompanhar Grant na primeira partida. Todos os seus oponentes tentam rebater com topspin para enterrá-lo no fundo da quadra. Ele corre para rebater antes que a bola pingue na quadra e suba acima da sua cabeça.

Quando criança, Defoe, que é fluente em quatro idiomas, prometeu a si mesmo que venceria o Aberto da França. Ele construiu sua existência em torno da ideia de dar a si mesmo a melhor chance de fazer isso acontecer.

Ele frequenta a escola de manhã para ter aulas de matemática e idiomas, mas trabalha de forma independente no restante de seus estudos para liberar mais horas para o tênis. Estudando os profissionais de perto, ele decidiu não ter um favorito, mas construiu um jogador composto que tem o forehand de Dominic Thiem, o saque de Nick Kyrgios, o backhand de Novak Djokovic, a atitude de Rafael Nadal, o jogo de rede de Roger Federer e o footwork de Felix Auger-Aliassime. Ele pratica a atenção plena escrevendo em um diário.

“Quando estávamos vindo para cá, ele me disse que essa jornada era como uma viagem de trem”, disse sua mãe, Rachel, que foi sua primeira treinadora. “Esta é apenas uma parada, uma estação. Aí o trem segue viagem”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Lá está Dominik Defoe. Dez anos de idade e pouco mais alto que a rede. Cachos dourados na altura dos ombros saltando no ar enquanto ele persegue e rebate as bolas de tênis, coisa que ele faz melhor do que qualquer criança de sua idade.

Defoe adora mexer no GPS do carro de sua mãe, então de manhã, quando eles estão indo para a escola, o mapa os direciona para Roland Garros, local do Aberto da França. Ele faz isso com tanta frequência que sua mãe sabe que Roland Garros fica a 2 horas e 47 minutos de sua casa na Bélgica.

Dominik Defoe, à direita, durante partida no norte de Atenas, Grécia. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

Defoe ficou quase às lágrimas no início deste ano quando recebeu um dos 48 convites do conglomerado de esportes e entretenimento IMG para participar do primeiro Torneio das Estrelas do Futuro no elegante Tatoi Club, nos subúrbios ao norte de Atenas. O evento para meninos e meninas com 12 anos ou menos é um torneio e programa de treinamento de uma semana sobre a vida que pode se abrir para Defoe e seus colegas, com seminários liderados por executivos da Nike e profissionais do tênis masculino e feminino, o ATP e o WTA.

A corrida para encontrar as próximas estrelas do esporte chegou aqui: com fortunas de oito dígitos em jogo, agentes e olheiros avaliando e cultivando jogadores com menos de 10 anos que estão apenas começando a competir. O Future Stars é o mais novo e extravagante esforço de recrutamento da IMG, a empresa que essencialmente inventou o negócio de representação esportiva e dominou o tênis por anos.

“Ninguém quer um torneio para crianças de 11 e 12 anos”, disse Max Eisenbud, que lidera a divisão de tênis da empresa. “Eu preferiria esperar, mas a competição nos obrigou encarar esta situação”.

Durante anos, os agentes da IMG colecionaram futuras estrelas de duas maneiras: ou pré-adolescentes e adolescentes (Maria Sharapova, por exemplo) apareciam em sua academia em Bradenton, Flórida, que já foi o principal campo de treinamento do esporte, procurando uma das abundantes bolsas de estudo; ou os agentes apareciam em Tarbes, na França, para o Les Petit As, o principal torneio do mundo para jogadores com menos de 14 anos. Ali o que eles faziam era basicamente pescar no aquário.

Durante a última década, porém, academias rivais foram abertas em toda a Europa, e a academia da IMG passou a se concentrar mais em lucrar com famílias pagando mensalidades, em vez de fazer apostas de longo prazo em adolescentes. Além disso, nos últimos anos, quando Eisenbud e seus colegas fizeram suas viagens anuais a Les Petit As, descobriram que quase todos os jogadores mais promissores já haviam assinado contratos com outras empresas de gestão, muitas delas operações de elite muito bem financiadas que ofereciam garantias financeiras, às vezes indo muito além de cobrir o custo anual de aproximadamente US$ 50.000 para treinamento e viagens no circuito júnior.

Max Eisenbud, ex-treinador de Maria Sharapova e atual vice-presidente do IMG. Foto: Myrto Papadopoulos / The New York Times

E assim, em um sinal de tempos implacáveis no tênis, a IMG começou a mirar promessas mais jovens, mesmo que prospectar talentos pré-adolescentes possa ser quase impossível e altamente estressante, arriscando aumentar a pressão sobre crianças que já se cobram muito e, em alguns casos, carregam responsabilidades financeiras por suas famílias.

Se estrelas como Naomi Osaka e Bianca Andreescu, que foram campeãs de torneios de Grand Slam ainda na casa dos 20 anos, tiveram de fazer pausas no tênis para cuidar da saúde mental, não é exagero pensar nos riscos de aumentar ainda mais as expectativas sobre crianças pré-púberes. Durante uma palestra para as garotas sobre como se manter física e mentalmente saudável, Saga Shermis, especialista em desenvolvimento de atletas da WTA, disse que espera vê-las no tour nos próximos anos.

“Nesta idade elas ainda estão aprendendo”, disse Adam Molenda, treinador de juniores da federação de tênis da Polônia, depois de assistir a duas de suas jogadoras, Antonina Snochowska e Maja Schweika, se enfrentarem por uma hora na segunda-feira. “Não dá para saber quem vai chegar lá. A vida é cheia de surpresas”.

E decisões.

Grace Bernstein, jovem sueca de destaque, flutuava pela quadra e rebatia bolas contra um garoto enquanto sua mãe assistia do alambrado. Seja jogando tênis ou cartas, Bernstein compete incansavelmente, disse sua mãe, Catharina, ex-jogadora que chegou a número 286 no ranking de simples em 1991. Ela joga em uma academia dirigida por Magnus Norman, que já foi o segundo melhor jogador de simples do mundo. Ela também é uma grande jogadora de futebol.

“Ela ainda não se decidiu, mas por enquanto é tênis, então ela joga tênis”, disse Catharina Bernstein.

Para alguns, fama e fortuna realmente podem parecer inevitáveis. Eisenbud assinou com Sharapova quando ela tinha 11 anos, depois de assisti-la rebater por 45 minutos com uma intensidade e perfeição que ele nunca tinha visto antes. Carlos Alcaraz, que completa 19 anos na quinta-feira e já é o jovem mais promissor do tênis masculino, também foi considerado um investimento imperdível quando ainda era um menino de 11 anos. Por outro lado, Eisenbud tinha certeza de que o primeiro jogador que contratou, Horia Tecău, da Romênia, estava destinado à grandeza. Tecau se tornou um especialista em duplas, mas nunca chegou ao top 300 em simples.

Há dezoito meses Eisenbud elaborou seu plano para uma competição luxuosa com a maioria das despesas cobertas e todas as vantagens de um evento profissional – gandulas, árbitros de cadeira, quadras de saibro imaculadas, fones de ouvido Beats e brindes da Nike para todas as crianças.

“Queremos tratá-las como atletas profissionais”, disse Elli Vizantiou, diretora executiva do Tatoi Club.

Não se esquecendo inteiramente de que são crianças, os organizadores também prepararam uma caça ao tesouro, jantares em grupo todas as noites e um passeio pelo Partenon. A IMG trouxe Alcaraz, recém-saído de sua vitória na final do Barcelona Open, para jogar uma partida de exibição contra Hubert Hurkacz, 14º no ranking de simples.

Montar as chaves do Future Stars exigiu meses de entrevistas com treinadores e dirigentes de federações de tênis do mundo todo, para avaliar currículos e resultados de torneios e vasculhar vídeos atrás de uma combinação mágica de talento e capacidade atlética. Também era importante fazer um torneio globalmente representativo. Encontrar um futuro jogador do top 50 de um país ou grupo demográfico que nunca produziu uma estrela do tênis pode ser inovador e incrivelmente lucrativo.

Os jogadores tinham de vir com um acompanhante, que na maioria dos casos era pai ou mãe e um treinador, dando à IMG a chance de construir relacionamentos.

Eisenbud incentivou os treinadores a ouvir o técnico italiano Riccardo Piatti, que conduziu um seminário de treinamento, descrevendo-o como o “melhor” do mundo.

Piatti passou a manhã de terça-feira de olho em Tyson Grant, um dos principais jogadores sub-12, com cuja família ele trabalha há quase sete anos. Piatti também supervisiona o treinamento da irmã de Tyson, Tyra, que aos 14 anos já é cliente da IMG. O pai de Tyson e Tyra, Tyrone Grant, tem quase 1,90m e jogou basquete profissional por uma década na Europa. Com bons genes, início precoce e orientação de um treinador renomado, Tyson Grant pode ser uma bela aposta.

Algumas quadras adiante, Haniya Minhas estava exibindo seus impressionantes backhands, que ela começa com a ponta do cabo da raquete quase apoiado no quadril.

“Meu movimento favorito”, disse ela. “Todo mundo me diz para estender os braços, mas eu gosto do jeito que eu faço”.

Minhas, 11 anos, é paquistanesa e muçulmana. Ela joga de hijab, mangas compridas e meia-calça, e já parece uma promessa publicitária.

Ela vem ganhando torneios desde os 5 anos de idade. Sua busca por uma competição à altura a levou do Paquistão – onde há pouco apoio para esportes femininos e ela venceu todos os meninos de sua idade – para a Turquia. Sua mãe, Annie, disse que ela e sua filha querem provar que alguém que se veste de um jeito diferente da maioria e vem de um país que nunca teve uma estrela do tênis pode vencer qualquer adversária. Elas esperam assinar com um agente quando Haniya completar 12 anos.

“Estamos tentando mudar a mentalidade”, disse Annie Minhas.

Teo Davidov tem um truque na manga. Indiscutivelmente o melhor jogador masculino com menos de 12 anos, Davidov mora na Flórida. Seus pais se mudaram da Bulgária para o Colorado há uma década, quando seu pai ganhou na loteria do green card. Nascido destro, ele acerta os forehands dos dois lados e também pode sacar com as ambas as mãos. Seu pai e treinador, Kalin, começou a transformar Teo em tenista ambidestro quando ele tinha 8 anos porque era um menino hiperativo. Kalin achava que o deixaria mais calmo com exercícios para canhotos para estimular o hemisfério direito do cérebro – que, além do lado esquerdo do corpo, controla a atenção e a memória.

“Espero que isso também ajude seu jogo”, disse Kalin Davidov. A técnica, por enquanto, é devastadora, mas nenhum jogador de ponta jamais conseguiu jogar dessa maneira.

Os Davidov conheceram Eisenbud e a IMG três anos atrás, depois que Kalin postou um vídeo do forehand duplo de seu filho no Facebook. O telefone tocou pouco depois. A Babolat, fabricante francesa de raquetes, é patrocinadora.

Michael Chang, que venceu o Aberto da França em 1989, aos 17 anos, veio com sua filha, Lani, que exibiu um drop shot muito familiar e se enfiou em um romance de Rick Riordan no ônibus entre as quadras e o hotel. Chang disse que o circuito júnior mudou muito desde sua infância, com muito mais viagens e competições internacionais.

Gunther Darkey, ex-profissional da Grã-Bretanha, trouxe seu filho, Denzell, uma grande promessa e um dos poucos jovens negros da elite da Lawn Tennis Association. Alcaraz tem um irmão de 10 anos, Jaime, que se mostrou bom o bastante para receber um convite. Assim como Meghan Knight, filha de um conhecido jogador de críquete da Inglaterra.

“Você tem que ser o tipo de pessoa que a partir dos 9 anos pode melhorar consistentemente enquanto sofre perdas todas as semanas por dez ou quinze anos”, disse Seb Lavie, que trouxe dois jogadores de sua academia em Auckland, Nova Zelândia.

Dominik Defoe insistiu que está preparado para o que for preciso. Ele era o menor das duas dúzias de meninos. Ainda joga com uma raquete de tamanho júnior e sofreu para acompanhar Grant na primeira partida. Todos os seus oponentes tentam rebater com topspin para enterrá-lo no fundo da quadra. Ele corre para rebater antes que a bola pingue na quadra e suba acima da sua cabeça.

Quando criança, Defoe, que é fluente em quatro idiomas, prometeu a si mesmo que venceria o Aberto da França. Ele construiu sua existência em torno da ideia de dar a si mesmo a melhor chance de fazer isso acontecer.

Ele frequenta a escola de manhã para ter aulas de matemática e idiomas, mas trabalha de forma independente no restante de seus estudos para liberar mais horas para o tênis. Estudando os profissionais de perto, ele decidiu não ter um favorito, mas construiu um jogador composto que tem o forehand de Dominic Thiem, o saque de Nick Kyrgios, o backhand de Novak Djokovic, a atitude de Rafael Nadal, o jogo de rede de Roger Federer e o footwork de Felix Auger-Aliassime. Ele pratica a atenção plena escrevendo em um diário.

“Quando estávamos vindo para cá, ele me disse que essa jornada era como uma viagem de trem”, disse sua mãe, Rachel, que foi sua primeira treinadora. “Esta é apenas uma parada, uma estação. Aí o trem segue viagem”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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