Campeonato de Tapa na Cara de dono do UFC resulta em danos cerebrais nos lutadores, aponta estudo


Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh analisaram vídeos de lutas de tapa para apontar sinais de concussões entre os participantes

Por Ingrid Gonzaga e Murillo César Alves
Atualização:

A música brasileira pode até afirmar que um tapinha não dói — mas, a depender do contexto, um tapa pode causar graves danos cerebrais. É isso o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, feito com o objetivo de identificar sinais de concussão entre participantes de competições de tapa.

Publicado na revista JAMA Surgery, o Video Analysis of Concussion Among Slap Fighting Athletes (Análise de vídeo de concussão entre atletas que praticam tapa, em português) reuniu estudiosos da área da neurocirurgia e apresentou resultados que preocupam, sobretudo considerando o aumento da popularidade desse tipo de campeonato.

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Power Slap?

Separados nas mesmas categorias de peso do MMA, os combatentes se enfrentam em batalhas de um contra um. Um sorteio determina quem inicia como o atacante e quem deve receber as pancadas. De frente um para o outro, separados por uma mesa, os participantes devem atacar o rosto do adversário com o objetivo de causar um nocaute.

É proibido a quem recebe o tapa tentar se defender ou evitar o impacto. Os únicos equipamentos de segurança são protetores bucais e protetores auriculares de algodão.

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O mais famoso promotor desse tipo de competição é um nome já bem conhecido no universo das artes marciais: Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC). É ele quem comanda também o Power Slap, uma organização que desde 2022 está à frente dos principais eventos que envolvem as lutas de tapas.

Assim como foi o UFC, o Power Slap é um negócio em ascensão. “Comecei a acompanhar em 2017 e desde então entrei de cabeça nesse esporte. Pensei comigo: ‘Isso é interessante e está ganhando um enorme engajamento nas redes sociais’. Então, quis participar. E deu resultados. Nosso último evento superou as finais de conferência da NHL, com dois milhões de espectadores”, afirmou o empresário ao Estadão, no ano passado.

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A modalidade ganhou força após conseguir autorização para operar dentro do estado de Nevada, em 2022. Desde então, conquista fãs e lutadores ao redor do mundo. “O Power Slap tem sido enorme para nós e estou extremamente feliz e satisfeito com o resultado. A ideia é expandir para outras partes do mundo, como fizemos recentemente com o México”, contou White.

E ainda revelou: “Nós utilizamos o conteúdo do Power Slap em nossas plataformas do UFC. Dos cinco vídeos mais assistidos, quatro são sobre tapas na cara. Quando revelei os números para a imprensa, eles pensaram que eu estava mentindo”.

Mesmo que tenha obtido o aval e seja divulgado pelo UFC, o Power Slap não é bem visto por todos os lutadores de MMA. Questionado recentemente sobre sua opinião a respeito da competição, Sean O’Malley, ex-campeão mundial do peso-galo, preferiu ficar em silêncio. “Próxima pergunta. Eu amo o Dana White, mas…”, dando a entender que não gosta da ideia proposta pela modalidade.

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Arnold Allen, outro lutador do UFC, prefere “se enfiar em um buraco” do que assistir ou participar do Power Slap.

Números que assustam

Os pesquisadores de Pittsburgh analisaram, no total, 78 lutas. Nelas, foi observado que quase um terço dos tapas dados nessa competição acabam causando sinais de concussão, enquanto mais da metade da sequência de tapas tem o mesmo efeito. 56 concorrentes participaram das batalhas estudadas — deles, quase 80% apresentou ao menos um sinal de concussão.

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“Pensamos que seria muito interessante aplicar uma metodologia que já foi aplicada em outros esportes para documentar o quão ruins são as concussões no Power Slap. Seria importante entender melhor essa carga de concussão e conscientizar sobre seus riscos”, afirma Nitin Agarwal, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, ao Estadão. “Não cabe a mim decidir se essa atividade continua ou não. Nosso objetivo é conscientizar sobre os riscos aos participantes e à nossa juventude.”

Competidor acerta um adversário em campeonato organizado pelo Power Slap, de Dana White Foto: @powerslap via X

Entre os sinais mais comuns estão a falta de coordenação motora, a lentidão ao levantar e o olhar vago. Menos frequentes são a amnésia, a convulsão e os ferimentos visíveis, como sangramentos e hematomas.

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O estudo conclui que a luta de tapas pode induzir os participantes a terem lesões traumáticas graves, inclusive a longo prazo. A falta de defesa, imposta pelas regras da competição, podem aumentar o risco de concussões.

Após revelados os primeiros números do estudo, alguns lutadores do Power Slap chamaram os pesquisadores de “fracos”, por se preocuparem com os riscos da modalidade. “Nós não fomos contatados por nenhuma pessoa próxima ao Dana White ou ao Power Slap, mas algum desses comentários tentando nos atacar são bem engraçados”, diz Raj Lavadi, outro pesquisador envolvido no estudo.

‘Nós estamos muito preocupados’

Não é a primeira vez que estudiosos alertam para os riscos das competições de tapa. Ainda em 2023, pouco tempo depois de o estado de Nevada permitir a realização dos campeonatos em seu território, a Brain Injury Association of America (BIAA), associação que trata sobre lesões cerebrais no país, lançou uma carta pedindo à Comissão Atlética de Nevada que a permissão fosse revogada.

“Muitos na comunidade médica levantaram questões sobre como este esporte foi aprovado pela sua comissão. Até o momento, não foram divulgados os nomes ou informações de nenhum profissional médico envolvido no processo de aprovação”, escreveu à época. “Mas você não precisa ser um profissional para ver os danos que o ‘Slap Fighting’ causa”.

A associação encerrava com um apelo: “Pedimos que use sua autoridade para pôr fim a esta atividade antes que ocorram mais lesões cerebrais traumáticas aos seus participantes”.

É um receio acertado. Em 2021, o polonês Artur “Waluś” Walczak teve que passar por uma cirurgia e ser induzido ao coma após um tapa recebido em uma dessas competições, realizada na Polônia. O impacto gerou uma hemorragia cerebral. O lutador não resistiu às lesões e morreu, por múltipla falência de órgãos, aos 46 anos.

De fato, outros esportes como boxe e futebol americano podem causar traumas semelhantes — não à toa, a Encefalopatia Traumática Crônica, uma doença neurodegenerativa, também é conhecida como “Demência do Pugilista”. Para os pesquisadores, porém, os impactos da luta de tapas são piores.

“Existe literatura sobre as taxas de concussão no boxe. Um estudo anterior analisou 545 lutadores na Austrália. Aquele estudo descobriu que 11,7% de todas as lesões foram concussões, enquanto no nosso estudo quase um um terço dos tapas resultou em uma concussão visível”, explica Lavadi.

Apesar de outras modalidades também oferecerem perigo de lesões cerebrais, o risco aumentado trazido pelo Power Slap faz com que Agarwal sequer o considere um esporte. “Qualquer esporte de contato ou combate terá um risco de concussão. Isso não é um esporte, é só ficar parado e esperar para ser acertado no rosto. É como pedir por um sinal invisível de lesão toda vez que você participa”, conclui.

Questionados sobre os riscos a longo prazo que a prática pode oferecer, os estudiosos respondem que não podem afirmar com certeza, e por isso querem estudar o assunto mais a fundo. No entanto, tendo como base o que já foi visto em outras modalidades, eles dizem que o resultado será muito ruim. Eles pedem para que a reportagem ensine uma única frase em português a eles: “Nós estamos muito preocupados”.

A música brasileira pode até afirmar que um tapinha não dói — mas, a depender do contexto, um tapa pode causar graves danos cerebrais. É isso o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, feito com o objetivo de identificar sinais de concussão entre participantes de competições de tapa.

Publicado na revista JAMA Surgery, o Video Analysis of Concussion Among Slap Fighting Athletes (Análise de vídeo de concussão entre atletas que praticam tapa, em português) reuniu estudiosos da área da neurocirurgia e apresentou resultados que preocupam, sobretudo considerando o aumento da popularidade desse tipo de campeonato.

Power Slap?

Separados nas mesmas categorias de peso do MMA, os combatentes se enfrentam em batalhas de um contra um. Um sorteio determina quem inicia como o atacante e quem deve receber as pancadas. De frente um para o outro, separados por uma mesa, os participantes devem atacar o rosto do adversário com o objetivo de causar um nocaute.

É proibido a quem recebe o tapa tentar se defender ou evitar o impacto. Os únicos equipamentos de segurança são protetores bucais e protetores auriculares de algodão.

O mais famoso promotor desse tipo de competição é um nome já bem conhecido no universo das artes marciais: Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC). É ele quem comanda também o Power Slap, uma organização que desde 2022 está à frente dos principais eventos que envolvem as lutas de tapas.

Assim como foi o UFC, o Power Slap é um negócio em ascensão. “Comecei a acompanhar em 2017 e desde então entrei de cabeça nesse esporte. Pensei comigo: ‘Isso é interessante e está ganhando um enorme engajamento nas redes sociais’. Então, quis participar. E deu resultados. Nosso último evento superou as finais de conferência da NHL, com dois milhões de espectadores”, afirmou o empresário ao Estadão, no ano passado.

A modalidade ganhou força após conseguir autorização para operar dentro do estado de Nevada, em 2022. Desde então, conquista fãs e lutadores ao redor do mundo. “O Power Slap tem sido enorme para nós e estou extremamente feliz e satisfeito com o resultado. A ideia é expandir para outras partes do mundo, como fizemos recentemente com o México”, contou White.

E ainda revelou: “Nós utilizamos o conteúdo do Power Slap em nossas plataformas do UFC. Dos cinco vídeos mais assistidos, quatro são sobre tapas na cara. Quando revelei os números para a imprensa, eles pensaram que eu estava mentindo”.

Mesmo que tenha obtido o aval e seja divulgado pelo UFC, o Power Slap não é bem visto por todos os lutadores de MMA. Questionado recentemente sobre sua opinião a respeito da competição, Sean O’Malley, ex-campeão mundial do peso-galo, preferiu ficar em silêncio. “Próxima pergunta. Eu amo o Dana White, mas…”, dando a entender que não gosta da ideia proposta pela modalidade.

Arnold Allen, outro lutador do UFC, prefere “se enfiar em um buraco” do que assistir ou participar do Power Slap.

Números que assustam

Os pesquisadores de Pittsburgh analisaram, no total, 78 lutas. Nelas, foi observado que quase um terço dos tapas dados nessa competição acabam causando sinais de concussão, enquanto mais da metade da sequência de tapas tem o mesmo efeito. 56 concorrentes participaram das batalhas estudadas — deles, quase 80% apresentou ao menos um sinal de concussão.

“Pensamos que seria muito interessante aplicar uma metodologia que já foi aplicada em outros esportes para documentar o quão ruins são as concussões no Power Slap. Seria importante entender melhor essa carga de concussão e conscientizar sobre seus riscos”, afirma Nitin Agarwal, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, ao Estadão. “Não cabe a mim decidir se essa atividade continua ou não. Nosso objetivo é conscientizar sobre os riscos aos participantes e à nossa juventude.”

Competidor acerta um adversário em campeonato organizado pelo Power Slap, de Dana White Foto: @powerslap via X

Entre os sinais mais comuns estão a falta de coordenação motora, a lentidão ao levantar e o olhar vago. Menos frequentes são a amnésia, a convulsão e os ferimentos visíveis, como sangramentos e hematomas.

O estudo conclui que a luta de tapas pode induzir os participantes a terem lesões traumáticas graves, inclusive a longo prazo. A falta de defesa, imposta pelas regras da competição, podem aumentar o risco de concussões.

Após revelados os primeiros números do estudo, alguns lutadores do Power Slap chamaram os pesquisadores de “fracos”, por se preocuparem com os riscos da modalidade. “Nós não fomos contatados por nenhuma pessoa próxima ao Dana White ou ao Power Slap, mas algum desses comentários tentando nos atacar são bem engraçados”, diz Raj Lavadi, outro pesquisador envolvido no estudo.

‘Nós estamos muito preocupados’

Não é a primeira vez que estudiosos alertam para os riscos das competições de tapa. Ainda em 2023, pouco tempo depois de o estado de Nevada permitir a realização dos campeonatos em seu território, a Brain Injury Association of America (BIAA), associação que trata sobre lesões cerebrais no país, lançou uma carta pedindo à Comissão Atlética de Nevada que a permissão fosse revogada.

“Muitos na comunidade médica levantaram questões sobre como este esporte foi aprovado pela sua comissão. Até o momento, não foram divulgados os nomes ou informações de nenhum profissional médico envolvido no processo de aprovação”, escreveu à época. “Mas você não precisa ser um profissional para ver os danos que o ‘Slap Fighting’ causa”.

A associação encerrava com um apelo: “Pedimos que use sua autoridade para pôr fim a esta atividade antes que ocorram mais lesões cerebrais traumáticas aos seus participantes”.

É um receio acertado. Em 2021, o polonês Artur “Waluś” Walczak teve que passar por uma cirurgia e ser induzido ao coma após um tapa recebido em uma dessas competições, realizada na Polônia. O impacto gerou uma hemorragia cerebral. O lutador não resistiu às lesões e morreu, por múltipla falência de órgãos, aos 46 anos.

De fato, outros esportes como boxe e futebol americano podem causar traumas semelhantes — não à toa, a Encefalopatia Traumática Crônica, uma doença neurodegenerativa, também é conhecida como “Demência do Pugilista”. Para os pesquisadores, porém, os impactos da luta de tapas são piores.

“Existe literatura sobre as taxas de concussão no boxe. Um estudo anterior analisou 545 lutadores na Austrália. Aquele estudo descobriu que 11,7% de todas as lesões foram concussões, enquanto no nosso estudo quase um um terço dos tapas resultou em uma concussão visível”, explica Lavadi.

Apesar de outras modalidades também oferecerem perigo de lesões cerebrais, o risco aumentado trazido pelo Power Slap faz com que Agarwal sequer o considere um esporte. “Qualquer esporte de contato ou combate terá um risco de concussão. Isso não é um esporte, é só ficar parado e esperar para ser acertado no rosto. É como pedir por um sinal invisível de lesão toda vez que você participa”, conclui.

Questionados sobre os riscos a longo prazo que a prática pode oferecer, os estudiosos respondem que não podem afirmar com certeza, e por isso querem estudar o assunto mais a fundo. No entanto, tendo como base o que já foi visto em outras modalidades, eles dizem que o resultado será muito ruim. Eles pedem para que a reportagem ensine uma única frase em português a eles: “Nós estamos muito preocupados”.

A música brasileira pode até afirmar que um tapinha não dói — mas, a depender do contexto, um tapa pode causar graves danos cerebrais. É isso o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, feito com o objetivo de identificar sinais de concussão entre participantes de competições de tapa.

Publicado na revista JAMA Surgery, o Video Analysis of Concussion Among Slap Fighting Athletes (Análise de vídeo de concussão entre atletas que praticam tapa, em português) reuniu estudiosos da área da neurocirurgia e apresentou resultados que preocupam, sobretudo considerando o aumento da popularidade desse tipo de campeonato.

Power Slap?

Separados nas mesmas categorias de peso do MMA, os combatentes se enfrentam em batalhas de um contra um. Um sorteio determina quem inicia como o atacante e quem deve receber as pancadas. De frente um para o outro, separados por uma mesa, os participantes devem atacar o rosto do adversário com o objetivo de causar um nocaute.

É proibido a quem recebe o tapa tentar se defender ou evitar o impacto. Os únicos equipamentos de segurança são protetores bucais e protetores auriculares de algodão.

O mais famoso promotor desse tipo de competição é um nome já bem conhecido no universo das artes marciais: Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC). É ele quem comanda também o Power Slap, uma organização que desde 2022 está à frente dos principais eventos que envolvem as lutas de tapas.

Assim como foi o UFC, o Power Slap é um negócio em ascensão. “Comecei a acompanhar em 2017 e desde então entrei de cabeça nesse esporte. Pensei comigo: ‘Isso é interessante e está ganhando um enorme engajamento nas redes sociais’. Então, quis participar. E deu resultados. Nosso último evento superou as finais de conferência da NHL, com dois milhões de espectadores”, afirmou o empresário ao Estadão, no ano passado.

A modalidade ganhou força após conseguir autorização para operar dentro do estado de Nevada, em 2022. Desde então, conquista fãs e lutadores ao redor do mundo. “O Power Slap tem sido enorme para nós e estou extremamente feliz e satisfeito com o resultado. A ideia é expandir para outras partes do mundo, como fizemos recentemente com o México”, contou White.

E ainda revelou: “Nós utilizamos o conteúdo do Power Slap em nossas plataformas do UFC. Dos cinco vídeos mais assistidos, quatro são sobre tapas na cara. Quando revelei os números para a imprensa, eles pensaram que eu estava mentindo”.

Mesmo que tenha obtido o aval e seja divulgado pelo UFC, o Power Slap não é bem visto por todos os lutadores de MMA. Questionado recentemente sobre sua opinião a respeito da competição, Sean O’Malley, ex-campeão mundial do peso-galo, preferiu ficar em silêncio. “Próxima pergunta. Eu amo o Dana White, mas…”, dando a entender que não gosta da ideia proposta pela modalidade.

Arnold Allen, outro lutador do UFC, prefere “se enfiar em um buraco” do que assistir ou participar do Power Slap.

Números que assustam

Os pesquisadores de Pittsburgh analisaram, no total, 78 lutas. Nelas, foi observado que quase um terço dos tapas dados nessa competição acabam causando sinais de concussão, enquanto mais da metade da sequência de tapas tem o mesmo efeito. 56 concorrentes participaram das batalhas estudadas — deles, quase 80% apresentou ao menos um sinal de concussão.

“Pensamos que seria muito interessante aplicar uma metodologia que já foi aplicada em outros esportes para documentar o quão ruins são as concussões no Power Slap. Seria importante entender melhor essa carga de concussão e conscientizar sobre seus riscos”, afirma Nitin Agarwal, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, ao Estadão. “Não cabe a mim decidir se essa atividade continua ou não. Nosso objetivo é conscientizar sobre os riscos aos participantes e à nossa juventude.”

Competidor acerta um adversário em campeonato organizado pelo Power Slap, de Dana White Foto: @powerslap via X

Entre os sinais mais comuns estão a falta de coordenação motora, a lentidão ao levantar e o olhar vago. Menos frequentes são a amnésia, a convulsão e os ferimentos visíveis, como sangramentos e hematomas.

O estudo conclui que a luta de tapas pode induzir os participantes a terem lesões traumáticas graves, inclusive a longo prazo. A falta de defesa, imposta pelas regras da competição, podem aumentar o risco de concussões.

Após revelados os primeiros números do estudo, alguns lutadores do Power Slap chamaram os pesquisadores de “fracos”, por se preocuparem com os riscos da modalidade. “Nós não fomos contatados por nenhuma pessoa próxima ao Dana White ou ao Power Slap, mas algum desses comentários tentando nos atacar são bem engraçados”, diz Raj Lavadi, outro pesquisador envolvido no estudo.

‘Nós estamos muito preocupados’

Não é a primeira vez que estudiosos alertam para os riscos das competições de tapa. Ainda em 2023, pouco tempo depois de o estado de Nevada permitir a realização dos campeonatos em seu território, a Brain Injury Association of America (BIAA), associação que trata sobre lesões cerebrais no país, lançou uma carta pedindo à Comissão Atlética de Nevada que a permissão fosse revogada.

“Muitos na comunidade médica levantaram questões sobre como este esporte foi aprovado pela sua comissão. Até o momento, não foram divulgados os nomes ou informações de nenhum profissional médico envolvido no processo de aprovação”, escreveu à época. “Mas você não precisa ser um profissional para ver os danos que o ‘Slap Fighting’ causa”.

A associação encerrava com um apelo: “Pedimos que use sua autoridade para pôr fim a esta atividade antes que ocorram mais lesões cerebrais traumáticas aos seus participantes”.

É um receio acertado. Em 2021, o polonês Artur “Waluś” Walczak teve que passar por uma cirurgia e ser induzido ao coma após um tapa recebido em uma dessas competições, realizada na Polônia. O impacto gerou uma hemorragia cerebral. O lutador não resistiu às lesões e morreu, por múltipla falência de órgãos, aos 46 anos.

De fato, outros esportes como boxe e futebol americano podem causar traumas semelhantes — não à toa, a Encefalopatia Traumática Crônica, uma doença neurodegenerativa, também é conhecida como “Demência do Pugilista”. Para os pesquisadores, porém, os impactos da luta de tapas são piores.

“Existe literatura sobre as taxas de concussão no boxe. Um estudo anterior analisou 545 lutadores na Austrália. Aquele estudo descobriu que 11,7% de todas as lesões foram concussões, enquanto no nosso estudo quase um um terço dos tapas resultou em uma concussão visível”, explica Lavadi.

Apesar de outras modalidades também oferecerem perigo de lesões cerebrais, o risco aumentado trazido pelo Power Slap faz com que Agarwal sequer o considere um esporte. “Qualquer esporte de contato ou combate terá um risco de concussão. Isso não é um esporte, é só ficar parado e esperar para ser acertado no rosto. É como pedir por um sinal invisível de lesão toda vez que você participa”, conclui.

Questionados sobre os riscos a longo prazo que a prática pode oferecer, os estudiosos respondem que não podem afirmar com certeza, e por isso querem estudar o assunto mais a fundo. No entanto, tendo como base o que já foi visto em outras modalidades, eles dizem que o resultado será muito ruim. Eles pedem para que a reportagem ensine uma única frase em português a eles: “Nós estamos muito preocupados”.

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