Quando se pensa em Ultimate Fighting Championship (UFC), um nome vem à mente do fã de MMA: Dana White. O presidente e “chefão” da organização transformou um esporte tido como “violento” em um centro de audiência e interesse mundial. No Instagram, a modalidade fica atrás apenas dos perfis da Champions League, NBA, Premier League e LaLiga em número de seguidores. Além dos Estados Unidos, o Brasil é o foco dessa expansão da marca.
O lançamento do UFC Fight Pass, em janeiro, segue uma tendência de retorno do UFC ao Brasil após hiato provocado pela pandemia. No mesmo mês, o UFC 283, realizado no Rio, celebrou essa volta da marca na América do Sul. Além dos EUA, o Brasil é o país que mais recebeu eventos da categoria e é um “celeiro” de talentos, como destaca o próprio presidente em entrevista exclusiva ao Estadão.
Dana White comentou poucas vezes com exclusividade a veículos de imprensa brasileiros; antes do UFC 289, neste sábado, o mandatário conversou durante 20 minutos com a reportagem sobre tudo que envolve o futuro do UFC, em especial a atuação da marca e planos para seu envolvimento no País. “Desde 1993, esta companhia foi construída graças ao Brasil”, destaca.
Nesta entrevista ao Estadão, Dana White também destaca as dificuldades do UFC durante a pandemia, com mais eventos nos EUA em comparação a outras partes do mundo. Isso se deve às restrições sanitárias, que variavam de acordo com cada país. De acordo com o presidente do UFC, ele “não queria lidar com nenhuma dessas besteiras” de medidas sanitárias, que impediram eventos de forma global nos últimos dois anos. Desde então, a organização já foi aos Emirados Árabes Unidos, Canadá, Londres e ao próprio Brasil.
Charles do Bronxs, que retorna ao octógono para enfrentar Beneil Dariush neste sábado, Amanda Nunes e Alex Poatan são alguns dos nomes destacados pelo presidente ao longo da entrevista. “A fata de talento brasileiro nunca foi um problema para nós.” A junção com o WWE, com a possível ida de talentos do UFC para a organização, também foi tema na conversa. WWE é uma organização de luta livre.
Dana, com o UFC 289 neste sábado, como destacaria o evento na escala de grandeza da organização?
Não sei se promovi como o maior evento do ano, mas para o Brasil é um grande negócio. Temos a Amanda Nunes, a maior lutadora feminina de todos os tempos, o Charles Oliveira, que retorna ao octógono e tem uma grande chance de enfrentar o Islam Makhachev no futuro. Toda a vez que ele (Do Bonxs) luta é algo diferente, e ele tem uma legião de seguidores no Brasil e ao redor do mundo. É um card muito importante para o Brasil.
Desde o início da pandemia, o UFC teve de realizar mais eventos nos EUA e menos ao redor do mundo. Há uma expectativa para que a organização retome os números pré-covid?
Estamos crescendo para voltar lá (ao número de eventos antes da pandemia). Em primeiro lugar, no último ano, ainda havia certas restrições em alguns locais. Eu não queria lidar com nenhuma dessas besteiras. Nós vamos colocar nossos eventos onde seja fácil realizar, podemos esgotar os ingressos se não tiver nenhuma restrição imposta. Todo mundo estava enfrentando esses problemas (de restrições sanitárias). Shows e outros tipos de entretenimento também, então isso era bem normal, mas passamos pela pandemia com grandes eventos acontecendo. Ainda temos grandes eventos. Já estivemos em Londres duas vezes e vamos voltar para lá novamente neste ano. Agora, neste fim de semana, será nossa primeira vez no Canadá em três anos. Fomos para o Rio assim que acabou a pandemia. Estivemos em Paris. Vamos a Paris pela segunda vez. Então, eu diria que, em comparação com outros esportes, já estamos muito à frente (após a pandemia).
Houve um hiato de eventos no Brasil, interrompido em janeiro com o UFC 283. Podemos esperar mais lutas no País nos próximos anos?
Se você pensar no último (evento) que fizemos no Rio, a luta entre Glover Teixeira e Jamahal Hill foi incrível. Esse foi nosso último evento no Rio. E, sim, voltaremos ao Brasil. A outra coisa é que temos uma tonelada de novos talentos saindo do Brasil, como sempre. A falta de talento brasileiro nunca foi um problema para nós, desde 1993. Esta empresa foi construída graças ao Brasil no passado. Todo o talento vem daí, vários superstars, vários campeões mundiais, top 10, top 5, top 3 agora. Nomes como Jailton Almeida, Natalia Silva, Charles do Bronxs, Alex Poatan… a lista continua. Não temos nenhum problema. Resta ver quem vai emergir como a próxima grande estrela do Brasil.
Além do Rio, quais outros locais o UFC têm em mente para os eventos nos próximos anos?
São Paulo, Brasília… o UFC viajou para todo os lugares do Brasil. Nós estivemos em todos os locais possíveis, seja em eventos pay-per-view ou Fight Night. O Brasil é um grande e importante mercado para nós.
Sobre essa importância, preciso perguntar sobre o UFC Fight Pass. Seis meses desde o lançamento no Brasil, como a organização enxerga esse início? Pessoalmente, tenho visto propagandas do serviço recentemente.
É ótimo ouvir isso. Fico feliz que estejam vendo sobre o serviço. É algo que lançamos no Brasil. Leva um tempo para nos estabelecermos, mas estamos satisfeitos com os resultados iniciais. O diferencial é a biblioteca, com mais de 70 horas de documentários e todo o conteúdo de outras organizações, como o Pride. Se você é um lutador ou alguém que quer saber mais sobre o UFC, totalmente em português, é um erro não assinar o aplicativo do Fight Pass.
Sobre essa relação com outras organizações, você acredita que o UFC ajude a expandir o MMA dentro do Brasil?
Com certeza. Algo importante no Fight Pass é a cobertura de eventos regionais que acontecem em todas as partes do mundo. Temos lutadores de destaque, surgindo em pequenos eventos. Brasileiros, mexicanos, canadenses, que estão lutando para chegar ao UFC.
Recentemente, foi anunciada a junção do WWE e do UFC. Como funcionará essa parceria de agora em diante?
Irá funcionar da seguinte forma: eu irei seguir administrando o UFC como sempre fiz, eles (WWE) farão o mesmo. A empresa-mãe, WME Endeavor, pode adicionar valor ao WWE, com patrocínios, licenciamento de direitos e muitas outras atividades. Vamos ser combinados em um só negócio na bolsa de valores de Nova York, mas continuaremos arrebentando ao longo do ano. Nada mudará por aqui.
Mas podemos ver mais lutadores do WWE no UFC?
Duvido muito. Nossos lutadores podem fazer coisas do lado de lá, mas é muito difícil para um lutador do WWE chegar ao UFC. Brock Lesnar conseguiu porque ele foi um dos melhores no esporte universitário, tinha uma base de preparo. Essa transição da WWE para o UFC é complicada.
Além do UFC, você passou a investir no Power Slap, organização de “tapa na cara”. Como isso se deu e quais resultados você observa neste negócio?
É divertido assistir, ainda mais ao vivo. Comecei a acompanhar em 2017 e desde então entrei de cabeça nesse esporte. Pensei comigo: ‘Isso é interessante e está ganhando um enorme engajamento nas redes sociais’. Então, quis participar. E deu resultados. Nosso último evento superou as finais de conferência da NHL, com dois milhões de espectadores. O Power Slap tem sido enorme para nós e estou extremamente feliz e satisfeito com o resultado. A ideia é expandir para outras partes do mundo, como fizemos recentemente com o México. Nós utilizamos o conteúdo do Power Slap em nossas plataforma do UFC. Dos cinco vídeos mais assistidos, quatro são sobre tapas na cara. Quando revelei os números para a imprensa, eles pensaram que eu estava mentindo.
Queria abordar a rivalidade entre Adesanya e Poatan, que teve o segundo capítulo no UFC recentemente. Com a mudança de categoria do brasileiro, o fã de MMA pode aguardar um terceiro encontro entre eles?
É uma rivalidade incrível, que começou no kickboxing e terminou no UFC. No momento, o Poatan mudou para o meio-pesado. Irá enfrentar o Jan Blachowicz e, se vencer, entrará no top 3 da categoria. Quem sabe o que irá acontecer no futuro? E se Adesanya também decidir competir no meio-pesado? Essa é uma das rivalidades que podemos ver dez vezes, sem nos cansarmos. É divertido. Vamos ver como isso vai se acertar em breve.