Novo campeão da família Gracie diz que Musk x Zuckerberg mostra importância do jiu-jítsu brasileiro


Rayron Gracie, aos 21 anos, comemora título mundial da modalidade, aprova o desafio entre os gigantes da tecnologia e enaltece esporte criado por seus antepassados

Por Eugenio Goussinsky
Atualização:

A partir do início do século passado, a família Gracie transformou o jiu-jítsu, então desenvolvido no Japão, em uma luta tipicamente brasileira. A partir dos irmãos Carlos e Hélio, os Gracie fizeram do jiu-jítsu sua maior herança cultural. E o mais recente Gracie a brilhar no tatame, apegado aos valores deste esporte e consciente de seu legado, é o jovem Rayron, de 21 anos, que no início de junho último conquistou, nos Estados Unidos, o título mundial na faixa marrom. Dias depois, ele se tornou o mais novo faixa-preta da família.

Morando no Rio, Rayron passou sete anos em Nova York e outro ano em Londres treinando e divulgando a técnica brasileira, que agora pode ser escolhida no combate de dois empresários gigantes, Elon Musk e Mark Zuckerberg. “Meu título foi uma combinação de meu esforço individual com o legado da minha família. Não chegaria a conquistas sem os ensinamentos desenvolvidos pelos parentes que me antecederam”, afirma o garoto.

Representante deste esporte milenar na era tecnológica, atualizado em relação às necessidades da sociedade moderna, Rayron considera, com um discurso de veterano, que os conceitos do jiu-jítsu são atemporais. Tanto que se encaixam no estilo de vida dos maiores empresários do momento, como Musk e Zuckerberg.

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Mark Zuckerberg e Elon Musk negociam um combate de MMA com promoção do UFC Foto: Manu Fernandez e Stephan Savoia / AP

“Se ambos estão praticando o jiu-jítsu, com vistas a um possível combate entre eles, é algo que valoriza muito esse esporte e o nosso País também. Afinal, dois empresários que estão no topo do mundo estão mostrando que os conceitos do jiu-jítsu brasileiro, tanto do ponto de vista físico quanto comportamental, são importantes para o modo de vida deles. Acho isso ótimo”, afirma.

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MISSÃO FAMILIAR

Os dois CEOs das maiores empresas de comunicação digital, a Meta, de Zuckerberg, e o Twitter, de Musk, que também comanda a Tesla, têm postado, nas redes sociais, imagens deles treinando jiu-jítsu, visando a um possível combate de MMA (Artes Marciais Mistas) entre ambos, numa luta que seria beneficente, organizada pelo empresário e dono do UFC, Dana White, nos Estados Unidos, ainda sem data marcada, mas com possibilidades no calendário.

Quando Rayron fala sobre os valores do jiu-jítsu (de respeito, autoconfiança e disciplina) ele também os associa à trajetória familiar. Para o jovem, cada membro do clã já nasce com uma missão de representar de alguma maneira esse esporte. Rayron é filho de Ryan, neto de Robson e bisneto de Carlos Gracie, considerado um dos criadores do jiu-jítsu nacional.

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“Não acredito em acaso, não nascemos à toa, sem um objetivo, quando alguém nasce precisa agregar algo de si para o mundo que o rodeia e a família faz parte disso. Não precisa exatamente ser lutador, mas o importante, para um Gracie, é contribuir de alguma maneira com o jiu-jítsu, dando aulas, participando de eventos, algo assim”, observa.

Rayron conta que, mesmo fora do Brasil, nas academias comandadas pelos Gracie, a técnica ensinada é a do jiu-jítsu brasileiro, que começou a se formar a partir de 1914, quando o japonês Mitsuyo Maeda (1878-1941), conhecido como Conde Koma, excursionou pelo mundo para ensinar sua técnica de defesa pessoal. Koma era instrutor na escola de judô Kodokan, esporte em que também era faixa-preta, e, no Brasil, ficou amigo de Gastão Gracie, pai de Carlos, Oswaldo, Gastão Filho, George e Hélio, que moravam em Belém (PA), em função do trabalho do pai.

Carlos, o mais velho, foi o primeiro a difundir a luta no Norte do Brasil. Hélio só assumiu a função de instrutor quando Carlos não pôde comparecer para dar uma aula na academia que inaugurou em 1925, no Rio, para onde os irmãos se mudaram. Outro fator que ajudou a difundir a luta foram os 21 filhos de Carlos, dos quais pelo menos 11 se tornaram faixas-pretas.

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NOVA TÉCNICA

Koma tinha estatura baixa e, com o jiu-jítsu japonês, queria mostrar como as técnicas do esporte poderiam fazer alguém mais fraco vencer um oponente mais alto e forte. Carlos, no entanto, se apaixonou pela luta e a adaptou ainda mais para esse objetivo. Ele e Hélio eram franzinos, o que os motivou a criar o jiu-jitsu brasileiro, como um desafogo dos menos privilegiados fisicamente.

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Rayron conta que essa nova técnica também utilizava chutes e socos e não era baseada só no chão. No entanto, a criação, pelos Gracie, da técnica da alavanca, realizada no chão, tornou-se um diferencial da luta, neste estilo brasileiro. A alavanca é um movimento no qual, com pouca força física, o lutador utiliza a força do adversário para superá-lo, aprimorando o objetivo inicial do próprio jiu-jítsu praticado por Koma.

O jiu-jítsu, que significa ‘arte suave’, desta maneira, se tornou um dos poucos esportes em que uma das suas características é medir seus limites em disputas contra outras modalidades. Foi assim que Hélio, durante sua trajetória, idealizou os combates de Vale Tudo (mas com proibição de golpes baixos como mordida e dedos nos olhos), que inspiraram o famoso UFC (Ultimate Fighting Championship), nos anos 90, inicialmente idealizado por Rorion Gracie, filho de Hélio, ao lado de Art Davie e John Milius.

Eles criaram a WOW Promotions para produzir o evento, que colocava frente a frente vários estilos de artes marciais, ao lado da empresa SEG. Das quatro primeiras edições, a partir de 1993, o vitorioso foi Royce Gracie, irmão de Rorion, e a sequência de triunfos serviu para divulgar ao mundo o conceito e o potencial do jiu-jítsu brasileiro. Desde então o esporte só cresceu.

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Em 2001, uma mudança de regras dividiu as lutas por rounds, o que, segundo Rorion, prejudicou a performance dos atletas de jiu-jítsu, acostumados a derrotar o adversário com técnica e paciência, sem interrupções. O evento passou a ser organizado por Dana White e sua equipe. “O atual UFC não favorece muito o jiu-jítsu porque os lutadores entram com o objetivo de derrubar antes do fim do round. No jiu-jítsu é necessário tempo. Mas, mesmo assim, a luta ainda faz parte da essência desse evento e sempre é utilizada de alguma maneira”, ressalta Rayron, que tem como objetivo disputar o UFC.

“Agora, estou focado no jiu-jítsu competitivo, mas tenho como plano participar do UFC, para completar o ciclo inteiro das variantes do jiu-jítsu, para defesa, no competitivo, no MMA”, garante.

DO BRASIL PARA O MUNDO

No Brasil, segundo o Atlas do Esporte no Brasil, criado por Lamartine Pereira DaCosta, formado em Educação Física e membro do Conselho de Pesquisas do Comitê Olímpico Internacional, em 2006, o jiu-jítsu foi o esporte individual que mais cresceu, chegando a 350 mil praticantes. Em 2019, o número passou dos 500 mil e, naquele ano, o Campeonato Brasileiro de Jiu-jítsu passou a ser o maior do mundo, com o recorde de 7.589 participantes.

Rockson Gracie com Helio Gracie, responsável pela criação do jiu-jítsu brasileiro Foto: Arquivo / AE

O Conde Koma, ao difundir o jiu-jítsu, teria, segundo as tradições, ido contra uma norma vigente na época de que tal segredo milenar não poderia ser revelado. Ao entrarem em contato com o esporte, os representantes dos Gracie fizeram o oposto. Não esconderam de ninguém qualquer golpe ou técnica novos. “Meus parentes nunca esconderam nada, foram somando e revelando os resultados sempre, onde quer que ensinassem. Por isso não são exatamente segredos, mas novas descobertas que surgem no jiu-jítsu”.

Rayron ressalta que a família se orgulha por ter criado um novo esporte no Brasil e por ele estar sendo praticado por muita gente, inclusive os magos da tecnologia Musk e Zuckerberg. “Atletas do mundo inteiro vêm para as academias brasileiras para praticar jiu-jítsu. Por mais que esse esporte tenha se expandido no mundo, o Brasil não deixa de ser o seu berço. Foi feito no Brasil e isso não se apaga. É um esporte brasileiro. Já faz parte da nossa cultura”, diz Rayron.

A partir do início do século passado, a família Gracie transformou o jiu-jítsu, então desenvolvido no Japão, em uma luta tipicamente brasileira. A partir dos irmãos Carlos e Hélio, os Gracie fizeram do jiu-jítsu sua maior herança cultural. E o mais recente Gracie a brilhar no tatame, apegado aos valores deste esporte e consciente de seu legado, é o jovem Rayron, de 21 anos, que no início de junho último conquistou, nos Estados Unidos, o título mundial na faixa marrom. Dias depois, ele se tornou o mais novo faixa-preta da família.

Morando no Rio, Rayron passou sete anos em Nova York e outro ano em Londres treinando e divulgando a técnica brasileira, que agora pode ser escolhida no combate de dois empresários gigantes, Elon Musk e Mark Zuckerberg. “Meu título foi uma combinação de meu esforço individual com o legado da minha família. Não chegaria a conquistas sem os ensinamentos desenvolvidos pelos parentes que me antecederam”, afirma o garoto.

Representante deste esporte milenar na era tecnológica, atualizado em relação às necessidades da sociedade moderna, Rayron considera, com um discurso de veterano, que os conceitos do jiu-jítsu são atemporais. Tanto que se encaixam no estilo de vida dos maiores empresários do momento, como Musk e Zuckerberg.

Mark Zuckerberg e Elon Musk negociam um combate de MMA com promoção do UFC Foto: Manu Fernandez e Stephan Savoia / AP

“Se ambos estão praticando o jiu-jítsu, com vistas a um possível combate entre eles, é algo que valoriza muito esse esporte e o nosso País também. Afinal, dois empresários que estão no topo do mundo estão mostrando que os conceitos do jiu-jítsu brasileiro, tanto do ponto de vista físico quanto comportamental, são importantes para o modo de vida deles. Acho isso ótimo”, afirma.

MISSÃO FAMILIAR

Os dois CEOs das maiores empresas de comunicação digital, a Meta, de Zuckerberg, e o Twitter, de Musk, que também comanda a Tesla, têm postado, nas redes sociais, imagens deles treinando jiu-jítsu, visando a um possível combate de MMA (Artes Marciais Mistas) entre ambos, numa luta que seria beneficente, organizada pelo empresário e dono do UFC, Dana White, nos Estados Unidos, ainda sem data marcada, mas com possibilidades no calendário.

Quando Rayron fala sobre os valores do jiu-jítsu (de respeito, autoconfiança e disciplina) ele também os associa à trajetória familiar. Para o jovem, cada membro do clã já nasce com uma missão de representar de alguma maneira esse esporte. Rayron é filho de Ryan, neto de Robson e bisneto de Carlos Gracie, considerado um dos criadores do jiu-jítsu nacional.

“Não acredito em acaso, não nascemos à toa, sem um objetivo, quando alguém nasce precisa agregar algo de si para o mundo que o rodeia e a família faz parte disso. Não precisa exatamente ser lutador, mas o importante, para um Gracie, é contribuir de alguma maneira com o jiu-jítsu, dando aulas, participando de eventos, algo assim”, observa.

Rayron conta que, mesmo fora do Brasil, nas academias comandadas pelos Gracie, a técnica ensinada é a do jiu-jítsu brasileiro, que começou a se formar a partir de 1914, quando o japonês Mitsuyo Maeda (1878-1941), conhecido como Conde Koma, excursionou pelo mundo para ensinar sua técnica de defesa pessoal. Koma era instrutor na escola de judô Kodokan, esporte em que também era faixa-preta, e, no Brasil, ficou amigo de Gastão Gracie, pai de Carlos, Oswaldo, Gastão Filho, George e Hélio, que moravam em Belém (PA), em função do trabalho do pai.

Carlos, o mais velho, foi o primeiro a difundir a luta no Norte do Brasil. Hélio só assumiu a função de instrutor quando Carlos não pôde comparecer para dar uma aula na academia que inaugurou em 1925, no Rio, para onde os irmãos se mudaram. Outro fator que ajudou a difundir a luta foram os 21 filhos de Carlos, dos quais pelo menos 11 se tornaram faixas-pretas.

NOVA TÉCNICA

Koma tinha estatura baixa e, com o jiu-jítsu japonês, queria mostrar como as técnicas do esporte poderiam fazer alguém mais fraco vencer um oponente mais alto e forte. Carlos, no entanto, se apaixonou pela luta e a adaptou ainda mais para esse objetivo. Ele e Hélio eram franzinos, o que os motivou a criar o jiu-jitsu brasileiro, como um desafogo dos menos privilegiados fisicamente.

Rayron conta que essa nova técnica também utilizava chutes e socos e não era baseada só no chão. No entanto, a criação, pelos Gracie, da técnica da alavanca, realizada no chão, tornou-se um diferencial da luta, neste estilo brasileiro. A alavanca é um movimento no qual, com pouca força física, o lutador utiliza a força do adversário para superá-lo, aprimorando o objetivo inicial do próprio jiu-jítsu praticado por Koma.

O jiu-jítsu, que significa ‘arte suave’, desta maneira, se tornou um dos poucos esportes em que uma das suas características é medir seus limites em disputas contra outras modalidades. Foi assim que Hélio, durante sua trajetória, idealizou os combates de Vale Tudo (mas com proibição de golpes baixos como mordida e dedos nos olhos), que inspiraram o famoso UFC (Ultimate Fighting Championship), nos anos 90, inicialmente idealizado por Rorion Gracie, filho de Hélio, ao lado de Art Davie e John Milius.

Eles criaram a WOW Promotions para produzir o evento, que colocava frente a frente vários estilos de artes marciais, ao lado da empresa SEG. Das quatro primeiras edições, a partir de 1993, o vitorioso foi Royce Gracie, irmão de Rorion, e a sequência de triunfos serviu para divulgar ao mundo o conceito e o potencial do jiu-jítsu brasileiro. Desde então o esporte só cresceu.

Em 2001, uma mudança de regras dividiu as lutas por rounds, o que, segundo Rorion, prejudicou a performance dos atletas de jiu-jítsu, acostumados a derrotar o adversário com técnica e paciência, sem interrupções. O evento passou a ser organizado por Dana White e sua equipe. “O atual UFC não favorece muito o jiu-jítsu porque os lutadores entram com o objetivo de derrubar antes do fim do round. No jiu-jítsu é necessário tempo. Mas, mesmo assim, a luta ainda faz parte da essência desse evento e sempre é utilizada de alguma maneira”, ressalta Rayron, que tem como objetivo disputar o UFC.

“Agora, estou focado no jiu-jítsu competitivo, mas tenho como plano participar do UFC, para completar o ciclo inteiro das variantes do jiu-jítsu, para defesa, no competitivo, no MMA”, garante.

DO BRASIL PARA O MUNDO

No Brasil, segundo o Atlas do Esporte no Brasil, criado por Lamartine Pereira DaCosta, formado em Educação Física e membro do Conselho de Pesquisas do Comitê Olímpico Internacional, em 2006, o jiu-jítsu foi o esporte individual que mais cresceu, chegando a 350 mil praticantes. Em 2019, o número passou dos 500 mil e, naquele ano, o Campeonato Brasileiro de Jiu-jítsu passou a ser o maior do mundo, com o recorde de 7.589 participantes.

Rockson Gracie com Helio Gracie, responsável pela criação do jiu-jítsu brasileiro Foto: Arquivo / AE

O Conde Koma, ao difundir o jiu-jítsu, teria, segundo as tradições, ido contra uma norma vigente na época de que tal segredo milenar não poderia ser revelado. Ao entrarem em contato com o esporte, os representantes dos Gracie fizeram o oposto. Não esconderam de ninguém qualquer golpe ou técnica novos. “Meus parentes nunca esconderam nada, foram somando e revelando os resultados sempre, onde quer que ensinassem. Por isso não são exatamente segredos, mas novas descobertas que surgem no jiu-jítsu”.

Rayron ressalta que a família se orgulha por ter criado um novo esporte no Brasil e por ele estar sendo praticado por muita gente, inclusive os magos da tecnologia Musk e Zuckerberg. “Atletas do mundo inteiro vêm para as academias brasileiras para praticar jiu-jítsu. Por mais que esse esporte tenha se expandido no mundo, o Brasil não deixa de ser o seu berço. Foi feito no Brasil e isso não se apaga. É um esporte brasileiro. Já faz parte da nossa cultura”, diz Rayron.

A partir do início do século passado, a família Gracie transformou o jiu-jítsu, então desenvolvido no Japão, em uma luta tipicamente brasileira. A partir dos irmãos Carlos e Hélio, os Gracie fizeram do jiu-jítsu sua maior herança cultural. E o mais recente Gracie a brilhar no tatame, apegado aos valores deste esporte e consciente de seu legado, é o jovem Rayron, de 21 anos, que no início de junho último conquistou, nos Estados Unidos, o título mundial na faixa marrom. Dias depois, ele se tornou o mais novo faixa-preta da família.

Morando no Rio, Rayron passou sete anos em Nova York e outro ano em Londres treinando e divulgando a técnica brasileira, que agora pode ser escolhida no combate de dois empresários gigantes, Elon Musk e Mark Zuckerberg. “Meu título foi uma combinação de meu esforço individual com o legado da minha família. Não chegaria a conquistas sem os ensinamentos desenvolvidos pelos parentes que me antecederam”, afirma o garoto.

Representante deste esporte milenar na era tecnológica, atualizado em relação às necessidades da sociedade moderna, Rayron considera, com um discurso de veterano, que os conceitos do jiu-jítsu são atemporais. Tanto que se encaixam no estilo de vida dos maiores empresários do momento, como Musk e Zuckerberg.

Mark Zuckerberg e Elon Musk negociam um combate de MMA com promoção do UFC Foto: Manu Fernandez e Stephan Savoia / AP

“Se ambos estão praticando o jiu-jítsu, com vistas a um possível combate entre eles, é algo que valoriza muito esse esporte e o nosso País também. Afinal, dois empresários que estão no topo do mundo estão mostrando que os conceitos do jiu-jítsu brasileiro, tanto do ponto de vista físico quanto comportamental, são importantes para o modo de vida deles. Acho isso ótimo”, afirma.

MISSÃO FAMILIAR

Os dois CEOs das maiores empresas de comunicação digital, a Meta, de Zuckerberg, e o Twitter, de Musk, que também comanda a Tesla, têm postado, nas redes sociais, imagens deles treinando jiu-jítsu, visando a um possível combate de MMA (Artes Marciais Mistas) entre ambos, numa luta que seria beneficente, organizada pelo empresário e dono do UFC, Dana White, nos Estados Unidos, ainda sem data marcada, mas com possibilidades no calendário.

Quando Rayron fala sobre os valores do jiu-jítsu (de respeito, autoconfiança e disciplina) ele também os associa à trajetória familiar. Para o jovem, cada membro do clã já nasce com uma missão de representar de alguma maneira esse esporte. Rayron é filho de Ryan, neto de Robson e bisneto de Carlos Gracie, considerado um dos criadores do jiu-jítsu nacional.

“Não acredito em acaso, não nascemos à toa, sem um objetivo, quando alguém nasce precisa agregar algo de si para o mundo que o rodeia e a família faz parte disso. Não precisa exatamente ser lutador, mas o importante, para um Gracie, é contribuir de alguma maneira com o jiu-jítsu, dando aulas, participando de eventos, algo assim”, observa.

Rayron conta que, mesmo fora do Brasil, nas academias comandadas pelos Gracie, a técnica ensinada é a do jiu-jítsu brasileiro, que começou a se formar a partir de 1914, quando o japonês Mitsuyo Maeda (1878-1941), conhecido como Conde Koma, excursionou pelo mundo para ensinar sua técnica de defesa pessoal. Koma era instrutor na escola de judô Kodokan, esporte em que também era faixa-preta, e, no Brasil, ficou amigo de Gastão Gracie, pai de Carlos, Oswaldo, Gastão Filho, George e Hélio, que moravam em Belém (PA), em função do trabalho do pai.

Carlos, o mais velho, foi o primeiro a difundir a luta no Norte do Brasil. Hélio só assumiu a função de instrutor quando Carlos não pôde comparecer para dar uma aula na academia que inaugurou em 1925, no Rio, para onde os irmãos se mudaram. Outro fator que ajudou a difundir a luta foram os 21 filhos de Carlos, dos quais pelo menos 11 se tornaram faixas-pretas.

NOVA TÉCNICA

Koma tinha estatura baixa e, com o jiu-jítsu japonês, queria mostrar como as técnicas do esporte poderiam fazer alguém mais fraco vencer um oponente mais alto e forte. Carlos, no entanto, se apaixonou pela luta e a adaptou ainda mais para esse objetivo. Ele e Hélio eram franzinos, o que os motivou a criar o jiu-jitsu brasileiro, como um desafogo dos menos privilegiados fisicamente.

Rayron conta que essa nova técnica também utilizava chutes e socos e não era baseada só no chão. No entanto, a criação, pelos Gracie, da técnica da alavanca, realizada no chão, tornou-se um diferencial da luta, neste estilo brasileiro. A alavanca é um movimento no qual, com pouca força física, o lutador utiliza a força do adversário para superá-lo, aprimorando o objetivo inicial do próprio jiu-jítsu praticado por Koma.

O jiu-jítsu, que significa ‘arte suave’, desta maneira, se tornou um dos poucos esportes em que uma das suas características é medir seus limites em disputas contra outras modalidades. Foi assim que Hélio, durante sua trajetória, idealizou os combates de Vale Tudo (mas com proibição de golpes baixos como mordida e dedos nos olhos), que inspiraram o famoso UFC (Ultimate Fighting Championship), nos anos 90, inicialmente idealizado por Rorion Gracie, filho de Hélio, ao lado de Art Davie e John Milius.

Eles criaram a WOW Promotions para produzir o evento, que colocava frente a frente vários estilos de artes marciais, ao lado da empresa SEG. Das quatro primeiras edições, a partir de 1993, o vitorioso foi Royce Gracie, irmão de Rorion, e a sequência de triunfos serviu para divulgar ao mundo o conceito e o potencial do jiu-jítsu brasileiro. Desde então o esporte só cresceu.

Em 2001, uma mudança de regras dividiu as lutas por rounds, o que, segundo Rorion, prejudicou a performance dos atletas de jiu-jítsu, acostumados a derrotar o adversário com técnica e paciência, sem interrupções. O evento passou a ser organizado por Dana White e sua equipe. “O atual UFC não favorece muito o jiu-jítsu porque os lutadores entram com o objetivo de derrubar antes do fim do round. No jiu-jítsu é necessário tempo. Mas, mesmo assim, a luta ainda faz parte da essência desse evento e sempre é utilizada de alguma maneira”, ressalta Rayron, que tem como objetivo disputar o UFC.

“Agora, estou focado no jiu-jítsu competitivo, mas tenho como plano participar do UFC, para completar o ciclo inteiro das variantes do jiu-jítsu, para defesa, no competitivo, no MMA”, garante.

DO BRASIL PARA O MUNDO

No Brasil, segundo o Atlas do Esporte no Brasil, criado por Lamartine Pereira DaCosta, formado em Educação Física e membro do Conselho de Pesquisas do Comitê Olímpico Internacional, em 2006, o jiu-jítsu foi o esporte individual que mais cresceu, chegando a 350 mil praticantes. Em 2019, o número passou dos 500 mil e, naquele ano, o Campeonato Brasileiro de Jiu-jítsu passou a ser o maior do mundo, com o recorde de 7.589 participantes.

Rockson Gracie com Helio Gracie, responsável pela criação do jiu-jítsu brasileiro Foto: Arquivo / AE

O Conde Koma, ao difundir o jiu-jítsu, teria, segundo as tradições, ido contra uma norma vigente na época de que tal segredo milenar não poderia ser revelado. Ao entrarem em contato com o esporte, os representantes dos Gracie fizeram o oposto. Não esconderam de ninguém qualquer golpe ou técnica novos. “Meus parentes nunca esconderam nada, foram somando e revelando os resultados sempre, onde quer que ensinassem. Por isso não são exatamente segredos, mas novas descobertas que surgem no jiu-jítsu”.

Rayron ressalta que a família se orgulha por ter criado um novo esporte no Brasil e por ele estar sendo praticado por muita gente, inclusive os magos da tecnologia Musk e Zuckerberg. “Atletas do mundo inteiro vêm para as academias brasileiras para praticar jiu-jítsu. Por mais que esse esporte tenha se expandido no mundo, o Brasil não deixa de ser o seu berço. Foi feito no Brasil e isso não se apaga. É um esporte brasileiro. Já faz parte da nossa cultura”, diz Rayron.

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