30 anos da morte de Senna: o relato de como foi voar com o caixão do piloto da Itália para o Brasil


‘Você acredita que nós estamos levando o Ayrton de volta para o Brasil aí dentro?’, questionou Galvão Bueno

Por Livio Oricchio

No meio da tarde de 3 de maio de 1994, os jornalistas que cobriam o GP de Ímola de Fórmula 1 foram informados pelos funcionários do Instituto Médico Legal de Bolonha (IML) que a Justiça italiana havia liberado o corpo de Ayrton Senna para regressar a São Paulo. Nos dois últimos dias, a imprensa e milhares de fãs de Senna permaneceram em pé em frente ao IML, aguardando notícias, ou mesmo para dar o última adeus ao ídolo.

Eu queria estar naquele voo. O cônsul brasileiro em Milão, Roberto Botafogo, contou-nos, em meio ao tumulto formado na porta do IML, que um avião da Força Aérea Italiana levaria o caixão do aeroporto de Bolonha para Paris, onde seria embarcado no voo 723 com destino ao Brasil.

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Capacete de Ayrton Senna foi colocado sobre seu caixão durante o velório ocorrido na capital paulista - 06/05/94. Foto: Luiz Prado/AE

Desde o dia anterior meu hotel era o meu carro alugado. Bagagem e computador me acompanhavam onde ia, ao IML, ao Novo Hotel de Bolonha, distante uns 20 quilômetros do centro, e ao Autódromo Enzo e Dino Ferrari, 50 quilômetros ao Sul. A notícia estava espalhada nos três locais. O cônsul encontrava-se no hotel, com Celso Lemos, diretor da Senna Promotion, responsável com o cônsul pela liberação do corpo, e Betise Assumpção, assessora de imprensa do piloto.

Corri com meu carro para o Aeroporto de Bolonha tão logo registrei as impressões das pessoas que esperavam por aqueles breves segundos da saída do carro funerário do IML. A avenida, lotada, parou, e praticamente todos bateram palmas enquanto o motorista, em respeito a Senna e seus fãs, dirigia lentamente. Para os meus textos da época ouvi gente que se deslocara duas horas de trem na segunda-feira só para aquele gesto, aplaudir Senna por poucos segundos. Era uma senhora, já de alguma idade, e quando soube que o corpo não seria liberado na segunda-feira, não hesitou em regressar no dia seguinte. O portão do IML transformou-se num santuário e no depositário de tudo o que se pode imaginar que lembrasse Senna, como ricos arranjos de flores, fotos, pôsteres, bandeiras, faixas, velas, cartas, algumas abertas e impressionantemente carregadas de dor.

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Quando cheguei ao aeroporto vi que estava com sorte. Poucos minutos depois de o DC9 da Força Aérea decolar havia um voo da Alitália para Paris e para o mesmo Aeroporto Charles de Gaule, de onde partiria o voo da Varig para São Paulo. Adquiri a passagem e comecei a redigir os textos do dia. Eu iria dispor de cerca de uma hora entre desembarcar no terminal 2 do aeroporto francês, retirar a bagagem, me transferir para o terminal 1 e embarcar no avião da Varig.

Fãs penduram faixa em ponte da cidade de São Paulo durante o cortejo fúnebre do caixão de Ayrton Senna - 04/05/94. Foto: Nelson Almeida/AE

Cheguei para o voo no limite da hora. E já ali, instantes antes de entrar a bordo, fiquei sabendo do que se passara no check in da Varig. Galvão Bueno, o locutor da Globo, muito amigo de Senna, o cônsul e Celso Lemos pediram para que o caixão fosse levado com os passageiros e não no compartimento de carga. O comandante, Gomes Pinto, que já transportara Senna várias vezes como passageiro, recusou-se, alegando tratar-se de “lei internacional”.

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Diante da insistência dos interessados, Gomes Pinto disse que concordaria, desde que o presidente da empresa assumisse a responsabilidade pela decisão. Em pouco tempo a Varig de Paris recebeu um fax com a autorização solicitada. Com isso, retiraram alguns assentos da seção central da classe executiva do MD11 e acomodaram o caixão ali, envolto com a bandeira do Brasil, cedida pelo consulado de Milão.

Foi assim que retornamos para o Brasil, com o caixão de Senna ao nosso lado no centro da classe executiva e nós sentados nas cadeiras. Bem poucos passageiros souberam disso. A aeronave decolou de Paris com as cortinas que separam as classes fechadas e travadas e assim permaneceram até o pouso em Cumbica, 11 horas e 30 minutos depois.

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O que vou contar agora é, até hoje, a maior experiência profissional que já vivi. Quem conseguiria dormir ao lado de Senna morto? Ninguém. Passamos a noite acordados. Galvão Bueno começou a conversa: “Você acredita que nós estamos levando o Ayrton de volta para o Brasil aí dentro?”, perguntou algumas vezes para nós. Passamos horas relembrando passagens da vida do piloto. No meu caso, apenas contatos profissionais, mas Galvão era um grande amigo pessoal dele.

Celso Lemos se aproxima e nos conta: “Comprei ontem um lindo terno cinza claro, uma camisa branca e uma gravata azul escura. É assim que ele está vestido.” O comandante Gomes Pinto diz que Senna se interessava muito por conhecer os comandos do avião e visitava com regularidade a cabine. Senna voava de helicóptero. O mesmo comandante explica que outras aeronaves, em aerovias próximas, em que a tripulação sabia da presença do corpo de Senna naquele avião, enviavam sinais de luz ou mesmo entravam na fonia para dar sua saudação. As bases de terra no roteiro do voo também reverenciavam de alguma maneira o voo da Varig.

Ayrton Senna foi enterrado no Cemitério Parque Morumby - 05/05/1994. Foto: Vidal Cavalcante/AE
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Galvão lembra de uma passagem entre ambos, em Imola, antes da largada: “O Ayrton viu o Prost lá no autódromo e disse a ele que sentia muito a sua falta na pista. Houve um momento em que os dois se odiavam, mas todos sabem também que eles se respeitavam como piloto.” Alguém empurra a cortina, estava escuro, mas identifica o que pode ser um caixão dentro do avião. É um senhor, de sotaque forte, talvez francês.

Alguém lhe diz que aquele é o corpo de Senna. Ele pede que as pessoas se afastem um pouco, ajoelha, apóia os cotovelos sobre o caixão e reza por uns cinco minutos. A seguir, de cabeça baixa, sem falar, retorna a seu lugar, na classe econômica. O voo prossegue sem que quase nenhum dos 200 passageiros sequer desconfie que estavam ao lado daquele que, com muita probabilidade, era um grande ídolo deles, um herói nacional.

O dia não estava totalmente claro, mas de dentro do MDI11 do voo 723 podia-se ver um enxame de helicópteros sobrevoando o aeroporto Internacional de Cumbica. Às 6h14, o comandante Gomes Pinto pousou macio na pista, como numa homenagem à categoria do piloto morto em Ímola. Ainda não era possível ver a multidão que se formou para dar seu adeus a Senna, mas já dava para senti-la.

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A tripulação informa que o desembarque se daria apenas pela porta de trás. Era um modo de evitar que todos vissem que o caixão estava na classe executiva. Por uns instantes o avião fica vazio. Alguns jornalistas estão a bordo ainda, preparando-se para sair. E quando entram a irmã do piloto, Viviane, e seu ex-marido, Flávio Lalli, falecido em fevereiro de 1996 num acidente de motocicleta, em São Paulo.

Foi o primeiro contato de Viviane com Senna depois da tragédia na curva Tamburello. A cena é comovente. Triste até hoje. Todos deixam o local para a família. Mais tarde os bombeiros entrariam para retirar o caixão e acomodá-lo num carro da corporação a fim de percorrer as ruas da cidade. Nunca esquecerei o que vivi naqueles dias, dentre os mais desgastantes como jornalista e ser humano.

No meio da tarde de 3 de maio de 1994, os jornalistas que cobriam o GP de Ímola de Fórmula 1 foram informados pelos funcionários do Instituto Médico Legal de Bolonha (IML) que a Justiça italiana havia liberado o corpo de Ayrton Senna para regressar a São Paulo. Nos dois últimos dias, a imprensa e milhares de fãs de Senna permaneceram em pé em frente ao IML, aguardando notícias, ou mesmo para dar o última adeus ao ídolo.

Eu queria estar naquele voo. O cônsul brasileiro em Milão, Roberto Botafogo, contou-nos, em meio ao tumulto formado na porta do IML, que um avião da Força Aérea Italiana levaria o caixão do aeroporto de Bolonha para Paris, onde seria embarcado no voo 723 com destino ao Brasil.

Capacete de Ayrton Senna foi colocado sobre seu caixão durante o velório ocorrido na capital paulista - 06/05/94. Foto: Luiz Prado/AE

Desde o dia anterior meu hotel era o meu carro alugado. Bagagem e computador me acompanhavam onde ia, ao IML, ao Novo Hotel de Bolonha, distante uns 20 quilômetros do centro, e ao Autódromo Enzo e Dino Ferrari, 50 quilômetros ao Sul. A notícia estava espalhada nos três locais. O cônsul encontrava-se no hotel, com Celso Lemos, diretor da Senna Promotion, responsável com o cônsul pela liberação do corpo, e Betise Assumpção, assessora de imprensa do piloto.

Corri com meu carro para o Aeroporto de Bolonha tão logo registrei as impressões das pessoas que esperavam por aqueles breves segundos da saída do carro funerário do IML. A avenida, lotada, parou, e praticamente todos bateram palmas enquanto o motorista, em respeito a Senna e seus fãs, dirigia lentamente. Para os meus textos da época ouvi gente que se deslocara duas horas de trem na segunda-feira só para aquele gesto, aplaudir Senna por poucos segundos. Era uma senhora, já de alguma idade, e quando soube que o corpo não seria liberado na segunda-feira, não hesitou em regressar no dia seguinte. O portão do IML transformou-se num santuário e no depositário de tudo o que se pode imaginar que lembrasse Senna, como ricos arranjos de flores, fotos, pôsteres, bandeiras, faixas, velas, cartas, algumas abertas e impressionantemente carregadas de dor.

Quando cheguei ao aeroporto vi que estava com sorte. Poucos minutos depois de o DC9 da Força Aérea decolar havia um voo da Alitália para Paris e para o mesmo Aeroporto Charles de Gaule, de onde partiria o voo da Varig para São Paulo. Adquiri a passagem e comecei a redigir os textos do dia. Eu iria dispor de cerca de uma hora entre desembarcar no terminal 2 do aeroporto francês, retirar a bagagem, me transferir para o terminal 1 e embarcar no avião da Varig.

Fãs penduram faixa em ponte da cidade de São Paulo durante o cortejo fúnebre do caixão de Ayrton Senna - 04/05/94. Foto: Nelson Almeida/AE

Cheguei para o voo no limite da hora. E já ali, instantes antes de entrar a bordo, fiquei sabendo do que se passara no check in da Varig. Galvão Bueno, o locutor da Globo, muito amigo de Senna, o cônsul e Celso Lemos pediram para que o caixão fosse levado com os passageiros e não no compartimento de carga. O comandante, Gomes Pinto, que já transportara Senna várias vezes como passageiro, recusou-se, alegando tratar-se de “lei internacional”.

Diante da insistência dos interessados, Gomes Pinto disse que concordaria, desde que o presidente da empresa assumisse a responsabilidade pela decisão. Em pouco tempo a Varig de Paris recebeu um fax com a autorização solicitada. Com isso, retiraram alguns assentos da seção central da classe executiva do MD11 e acomodaram o caixão ali, envolto com a bandeira do Brasil, cedida pelo consulado de Milão.

Foi assim que retornamos para o Brasil, com o caixão de Senna ao nosso lado no centro da classe executiva e nós sentados nas cadeiras. Bem poucos passageiros souberam disso. A aeronave decolou de Paris com as cortinas que separam as classes fechadas e travadas e assim permaneceram até o pouso em Cumbica, 11 horas e 30 minutos depois.

O que vou contar agora é, até hoje, a maior experiência profissional que já vivi. Quem conseguiria dormir ao lado de Senna morto? Ninguém. Passamos a noite acordados. Galvão Bueno começou a conversa: “Você acredita que nós estamos levando o Ayrton de volta para o Brasil aí dentro?”, perguntou algumas vezes para nós. Passamos horas relembrando passagens da vida do piloto. No meu caso, apenas contatos profissionais, mas Galvão era um grande amigo pessoal dele.

Celso Lemos se aproxima e nos conta: “Comprei ontem um lindo terno cinza claro, uma camisa branca e uma gravata azul escura. É assim que ele está vestido.” O comandante Gomes Pinto diz que Senna se interessava muito por conhecer os comandos do avião e visitava com regularidade a cabine. Senna voava de helicóptero. O mesmo comandante explica que outras aeronaves, em aerovias próximas, em que a tripulação sabia da presença do corpo de Senna naquele avião, enviavam sinais de luz ou mesmo entravam na fonia para dar sua saudação. As bases de terra no roteiro do voo também reverenciavam de alguma maneira o voo da Varig.

Ayrton Senna foi enterrado no Cemitério Parque Morumby - 05/05/1994. Foto: Vidal Cavalcante/AE

Galvão lembra de uma passagem entre ambos, em Imola, antes da largada: “O Ayrton viu o Prost lá no autódromo e disse a ele que sentia muito a sua falta na pista. Houve um momento em que os dois se odiavam, mas todos sabem também que eles se respeitavam como piloto.” Alguém empurra a cortina, estava escuro, mas identifica o que pode ser um caixão dentro do avião. É um senhor, de sotaque forte, talvez francês.

Alguém lhe diz que aquele é o corpo de Senna. Ele pede que as pessoas se afastem um pouco, ajoelha, apóia os cotovelos sobre o caixão e reza por uns cinco minutos. A seguir, de cabeça baixa, sem falar, retorna a seu lugar, na classe econômica. O voo prossegue sem que quase nenhum dos 200 passageiros sequer desconfie que estavam ao lado daquele que, com muita probabilidade, era um grande ídolo deles, um herói nacional.

O dia não estava totalmente claro, mas de dentro do MDI11 do voo 723 podia-se ver um enxame de helicópteros sobrevoando o aeroporto Internacional de Cumbica. Às 6h14, o comandante Gomes Pinto pousou macio na pista, como numa homenagem à categoria do piloto morto em Ímola. Ainda não era possível ver a multidão que se formou para dar seu adeus a Senna, mas já dava para senti-la.

A tripulação informa que o desembarque se daria apenas pela porta de trás. Era um modo de evitar que todos vissem que o caixão estava na classe executiva. Por uns instantes o avião fica vazio. Alguns jornalistas estão a bordo ainda, preparando-se para sair. E quando entram a irmã do piloto, Viviane, e seu ex-marido, Flávio Lalli, falecido em fevereiro de 1996 num acidente de motocicleta, em São Paulo.

Foi o primeiro contato de Viviane com Senna depois da tragédia na curva Tamburello. A cena é comovente. Triste até hoje. Todos deixam o local para a família. Mais tarde os bombeiros entrariam para retirar o caixão e acomodá-lo num carro da corporação a fim de percorrer as ruas da cidade. Nunca esquecerei o que vivi naqueles dias, dentre os mais desgastantes como jornalista e ser humano.

No meio da tarde de 3 de maio de 1994, os jornalistas que cobriam o GP de Ímola de Fórmula 1 foram informados pelos funcionários do Instituto Médico Legal de Bolonha (IML) que a Justiça italiana havia liberado o corpo de Ayrton Senna para regressar a São Paulo. Nos dois últimos dias, a imprensa e milhares de fãs de Senna permaneceram em pé em frente ao IML, aguardando notícias, ou mesmo para dar o última adeus ao ídolo.

Eu queria estar naquele voo. O cônsul brasileiro em Milão, Roberto Botafogo, contou-nos, em meio ao tumulto formado na porta do IML, que um avião da Força Aérea Italiana levaria o caixão do aeroporto de Bolonha para Paris, onde seria embarcado no voo 723 com destino ao Brasil.

Capacete de Ayrton Senna foi colocado sobre seu caixão durante o velório ocorrido na capital paulista - 06/05/94. Foto: Luiz Prado/AE

Desde o dia anterior meu hotel era o meu carro alugado. Bagagem e computador me acompanhavam onde ia, ao IML, ao Novo Hotel de Bolonha, distante uns 20 quilômetros do centro, e ao Autódromo Enzo e Dino Ferrari, 50 quilômetros ao Sul. A notícia estava espalhada nos três locais. O cônsul encontrava-se no hotel, com Celso Lemos, diretor da Senna Promotion, responsável com o cônsul pela liberação do corpo, e Betise Assumpção, assessora de imprensa do piloto.

Corri com meu carro para o Aeroporto de Bolonha tão logo registrei as impressões das pessoas que esperavam por aqueles breves segundos da saída do carro funerário do IML. A avenida, lotada, parou, e praticamente todos bateram palmas enquanto o motorista, em respeito a Senna e seus fãs, dirigia lentamente. Para os meus textos da época ouvi gente que se deslocara duas horas de trem na segunda-feira só para aquele gesto, aplaudir Senna por poucos segundos. Era uma senhora, já de alguma idade, e quando soube que o corpo não seria liberado na segunda-feira, não hesitou em regressar no dia seguinte. O portão do IML transformou-se num santuário e no depositário de tudo o que se pode imaginar que lembrasse Senna, como ricos arranjos de flores, fotos, pôsteres, bandeiras, faixas, velas, cartas, algumas abertas e impressionantemente carregadas de dor.

Quando cheguei ao aeroporto vi que estava com sorte. Poucos minutos depois de o DC9 da Força Aérea decolar havia um voo da Alitália para Paris e para o mesmo Aeroporto Charles de Gaule, de onde partiria o voo da Varig para São Paulo. Adquiri a passagem e comecei a redigir os textos do dia. Eu iria dispor de cerca de uma hora entre desembarcar no terminal 2 do aeroporto francês, retirar a bagagem, me transferir para o terminal 1 e embarcar no avião da Varig.

Fãs penduram faixa em ponte da cidade de São Paulo durante o cortejo fúnebre do caixão de Ayrton Senna - 04/05/94. Foto: Nelson Almeida/AE

Cheguei para o voo no limite da hora. E já ali, instantes antes de entrar a bordo, fiquei sabendo do que se passara no check in da Varig. Galvão Bueno, o locutor da Globo, muito amigo de Senna, o cônsul e Celso Lemos pediram para que o caixão fosse levado com os passageiros e não no compartimento de carga. O comandante, Gomes Pinto, que já transportara Senna várias vezes como passageiro, recusou-se, alegando tratar-se de “lei internacional”.

Diante da insistência dos interessados, Gomes Pinto disse que concordaria, desde que o presidente da empresa assumisse a responsabilidade pela decisão. Em pouco tempo a Varig de Paris recebeu um fax com a autorização solicitada. Com isso, retiraram alguns assentos da seção central da classe executiva do MD11 e acomodaram o caixão ali, envolto com a bandeira do Brasil, cedida pelo consulado de Milão.

Foi assim que retornamos para o Brasil, com o caixão de Senna ao nosso lado no centro da classe executiva e nós sentados nas cadeiras. Bem poucos passageiros souberam disso. A aeronave decolou de Paris com as cortinas que separam as classes fechadas e travadas e assim permaneceram até o pouso em Cumbica, 11 horas e 30 minutos depois.

O que vou contar agora é, até hoje, a maior experiência profissional que já vivi. Quem conseguiria dormir ao lado de Senna morto? Ninguém. Passamos a noite acordados. Galvão Bueno começou a conversa: “Você acredita que nós estamos levando o Ayrton de volta para o Brasil aí dentro?”, perguntou algumas vezes para nós. Passamos horas relembrando passagens da vida do piloto. No meu caso, apenas contatos profissionais, mas Galvão era um grande amigo pessoal dele.

Celso Lemos se aproxima e nos conta: “Comprei ontem um lindo terno cinza claro, uma camisa branca e uma gravata azul escura. É assim que ele está vestido.” O comandante Gomes Pinto diz que Senna se interessava muito por conhecer os comandos do avião e visitava com regularidade a cabine. Senna voava de helicóptero. O mesmo comandante explica que outras aeronaves, em aerovias próximas, em que a tripulação sabia da presença do corpo de Senna naquele avião, enviavam sinais de luz ou mesmo entravam na fonia para dar sua saudação. As bases de terra no roteiro do voo também reverenciavam de alguma maneira o voo da Varig.

Ayrton Senna foi enterrado no Cemitério Parque Morumby - 05/05/1994. Foto: Vidal Cavalcante/AE

Galvão lembra de uma passagem entre ambos, em Imola, antes da largada: “O Ayrton viu o Prost lá no autódromo e disse a ele que sentia muito a sua falta na pista. Houve um momento em que os dois se odiavam, mas todos sabem também que eles se respeitavam como piloto.” Alguém empurra a cortina, estava escuro, mas identifica o que pode ser um caixão dentro do avião. É um senhor, de sotaque forte, talvez francês.

Alguém lhe diz que aquele é o corpo de Senna. Ele pede que as pessoas se afastem um pouco, ajoelha, apóia os cotovelos sobre o caixão e reza por uns cinco minutos. A seguir, de cabeça baixa, sem falar, retorna a seu lugar, na classe econômica. O voo prossegue sem que quase nenhum dos 200 passageiros sequer desconfie que estavam ao lado daquele que, com muita probabilidade, era um grande ídolo deles, um herói nacional.

O dia não estava totalmente claro, mas de dentro do MDI11 do voo 723 podia-se ver um enxame de helicópteros sobrevoando o aeroporto Internacional de Cumbica. Às 6h14, o comandante Gomes Pinto pousou macio na pista, como numa homenagem à categoria do piloto morto em Ímola. Ainda não era possível ver a multidão que se formou para dar seu adeus a Senna, mas já dava para senti-la.

A tripulação informa que o desembarque se daria apenas pela porta de trás. Era um modo de evitar que todos vissem que o caixão estava na classe executiva. Por uns instantes o avião fica vazio. Alguns jornalistas estão a bordo ainda, preparando-se para sair. E quando entram a irmã do piloto, Viviane, e seu ex-marido, Flávio Lalli, falecido em fevereiro de 1996 num acidente de motocicleta, em São Paulo.

Foi o primeiro contato de Viviane com Senna depois da tragédia na curva Tamburello. A cena é comovente. Triste até hoje. Todos deixam o local para a família. Mais tarde os bombeiros entrariam para retirar o caixão e acomodá-lo num carro da corporação a fim de percorrer as ruas da cidade. Nunca esquecerei o que vivi naqueles dias, dentre os mais desgastantes como jornalista e ser humano.

No meio da tarde de 3 de maio de 1994, os jornalistas que cobriam o GP de Ímola de Fórmula 1 foram informados pelos funcionários do Instituto Médico Legal de Bolonha (IML) que a Justiça italiana havia liberado o corpo de Ayrton Senna para regressar a São Paulo. Nos dois últimos dias, a imprensa e milhares de fãs de Senna permaneceram em pé em frente ao IML, aguardando notícias, ou mesmo para dar o última adeus ao ídolo.

Eu queria estar naquele voo. O cônsul brasileiro em Milão, Roberto Botafogo, contou-nos, em meio ao tumulto formado na porta do IML, que um avião da Força Aérea Italiana levaria o caixão do aeroporto de Bolonha para Paris, onde seria embarcado no voo 723 com destino ao Brasil.

Capacete de Ayrton Senna foi colocado sobre seu caixão durante o velório ocorrido na capital paulista - 06/05/94. Foto: Luiz Prado/AE

Desde o dia anterior meu hotel era o meu carro alugado. Bagagem e computador me acompanhavam onde ia, ao IML, ao Novo Hotel de Bolonha, distante uns 20 quilômetros do centro, e ao Autódromo Enzo e Dino Ferrari, 50 quilômetros ao Sul. A notícia estava espalhada nos três locais. O cônsul encontrava-se no hotel, com Celso Lemos, diretor da Senna Promotion, responsável com o cônsul pela liberação do corpo, e Betise Assumpção, assessora de imprensa do piloto.

Corri com meu carro para o Aeroporto de Bolonha tão logo registrei as impressões das pessoas que esperavam por aqueles breves segundos da saída do carro funerário do IML. A avenida, lotada, parou, e praticamente todos bateram palmas enquanto o motorista, em respeito a Senna e seus fãs, dirigia lentamente. Para os meus textos da época ouvi gente que se deslocara duas horas de trem na segunda-feira só para aquele gesto, aplaudir Senna por poucos segundos. Era uma senhora, já de alguma idade, e quando soube que o corpo não seria liberado na segunda-feira, não hesitou em regressar no dia seguinte. O portão do IML transformou-se num santuário e no depositário de tudo o que se pode imaginar que lembrasse Senna, como ricos arranjos de flores, fotos, pôsteres, bandeiras, faixas, velas, cartas, algumas abertas e impressionantemente carregadas de dor.

Quando cheguei ao aeroporto vi que estava com sorte. Poucos minutos depois de o DC9 da Força Aérea decolar havia um voo da Alitália para Paris e para o mesmo Aeroporto Charles de Gaule, de onde partiria o voo da Varig para São Paulo. Adquiri a passagem e comecei a redigir os textos do dia. Eu iria dispor de cerca de uma hora entre desembarcar no terminal 2 do aeroporto francês, retirar a bagagem, me transferir para o terminal 1 e embarcar no avião da Varig.

Fãs penduram faixa em ponte da cidade de São Paulo durante o cortejo fúnebre do caixão de Ayrton Senna - 04/05/94. Foto: Nelson Almeida/AE

Cheguei para o voo no limite da hora. E já ali, instantes antes de entrar a bordo, fiquei sabendo do que se passara no check in da Varig. Galvão Bueno, o locutor da Globo, muito amigo de Senna, o cônsul e Celso Lemos pediram para que o caixão fosse levado com os passageiros e não no compartimento de carga. O comandante, Gomes Pinto, que já transportara Senna várias vezes como passageiro, recusou-se, alegando tratar-se de “lei internacional”.

Diante da insistência dos interessados, Gomes Pinto disse que concordaria, desde que o presidente da empresa assumisse a responsabilidade pela decisão. Em pouco tempo a Varig de Paris recebeu um fax com a autorização solicitada. Com isso, retiraram alguns assentos da seção central da classe executiva do MD11 e acomodaram o caixão ali, envolto com a bandeira do Brasil, cedida pelo consulado de Milão.

Foi assim que retornamos para o Brasil, com o caixão de Senna ao nosso lado no centro da classe executiva e nós sentados nas cadeiras. Bem poucos passageiros souberam disso. A aeronave decolou de Paris com as cortinas que separam as classes fechadas e travadas e assim permaneceram até o pouso em Cumbica, 11 horas e 30 minutos depois.

O que vou contar agora é, até hoje, a maior experiência profissional que já vivi. Quem conseguiria dormir ao lado de Senna morto? Ninguém. Passamos a noite acordados. Galvão Bueno começou a conversa: “Você acredita que nós estamos levando o Ayrton de volta para o Brasil aí dentro?”, perguntou algumas vezes para nós. Passamos horas relembrando passagens da vida do piloto. No meu caso, apenas contatos profissionais, mas Galvão era um grande amigo pessoal dele.

Celso Lemos se aproxima e nos conta: “Comprei ontem um lindo terno cinza claro, uma camisa branca e uma gravata azul escura. É assim que ele está vestido.” O comandante Gomes Pinto diz que Senna se interessava muito por conhecer os comandos do avião e visitava com regularidade a cabine. Senna voava de helicóptero. O mesmo comandante explica que outras aeronaves, em aerovias próximas, em que a tripulação sabia da presença do corpo de Senna naquele avião, enviavam sinais de luz ou mesmo entravam na fonia para dar sua saudação. As bases de terra no roteiro do voo também reverenciavam de alguma maneira o voo da Varig.

Ayrton Senna foi enterrado no Cemitério Parque Morumby - 05/05/1994. Foto: Vidal Cavalcante/AE

Galvão lembra de uma passagem entre ambos, em Imola, antes da largada: “O Ayrton viu o Prost lá no autódromo e disse a ele que sentia muito a sua falta na pista. Houve um momento em que os dois se odiavam, mas todos sabem também que eles se respeitavam como piloto.” Alguém empurra a cortina, estava escuro, mas identifica o que pode ser um caixão dentro do avião. É um senhor, de sotaque forte, talvez francês.

Alguém lhe diz que aquele é o corpo de Senna. Ele pede que as pessoas se afastem um pouco, ajoelha, apóia os cotovelos sobre o caixão e reza por uns cinco minutos. A seguir, de cabeça baixa, sem falar, retorna a seu lugar, na classe econômica. O voo prossegue sem que quase nenhum dos 200 passageiros sequer desconfie que estavam ao lado daquele que, com muita probabilidade, era um grande ídolo deles, um herói nacional.

O dia não estava totalmente claro, mas de dentro do MDI11 do voo 723 podia-se ver um enxame de helicópteros sobrevoando o aeroporto Internacional de Cumbica. Às 6h14, o comandante Gomes Pinto pousou macio na pista, como numa homenagem à categoria do piloto morto em Ímola. Ainda não era possível ver a multidão que se formou para dar seu adeus a Senna, mas já dava para senti-la.

A tripulação informa que o desembarque se daria apenas pela porta de trás. Era um modo de evitar que todos vissem que o caixão estava na classe executiva. Por uns instantes o avião fica vazio. Alguns jornalistas estão a bordo ainda, preparando-se para sair. E quando entram a irmã do piloto, Viviane, e seu ex-marido, Flávio Lalli, falecido em fevereiro de 1996 num acidente de motocicleta, em São Paulo.

Foi o primeiro contato de Viviane com Senna depois da tragédia na curva Tamburello. A cena é comovente. Triste até hoje. Todos deixam o local para a família. Mais tarde os bombeiros entrariam para retirar o caixão e acomodá-lo num carro da corporação a fim de percorrer as ruas da cidade. Nunca esquecerei o que vivi naqueles dias, dentre os mais desgastantes como jornalista e ser humano.

No meio da tarde de 3 de maio de 1994, os jornalistas que cobriam o GP de Ímola de Fórmula 1 foram informados pelos funcionários do Instituto Médico Legal de Bolonha (IML) que a Justiça italiana havia liberado o corpo de Ayrton Senna para regressar a São Paulo. Nos dois últimos dias, a imprensa e milhares de fãs de Senna permaneceram em pé em frente ao IML, aguardando notícias, ou mesmo para dar o última adeus ao ídolo.

Eu queria estar naquele voo. O cônsul brasileiro em Milão, Roberto Botafogo, contou-nos, em meio ao tumulto formado na porta do IML, que um avião da Força Aérea Italiana levaria o caixão do aeroporto de Bolonha para Paris, onde seria embarcado no voo 723 com destino ao Brasil.

Capacete de Ayrton Senna foi colocado sobre seu caixão durante o velório ocorrido na capital paulista - 06/05/94. Foto: Luiz Prado/AE

Desde o dia anterior meu hotel era o meu carro alugado. Bagagem e computador me acompanhavam onde ia, ao IML, ao Novo Hotel de Bolonha, distante uns 20 quilômetros do centro, e ao Autódromo Enzo e Dino Ferrari, 50 quilômetros ao Sul. A notícia estava espalhada nos três locais. O cônsul encontrava-se no hotel, com Celso Lemos, diretor da Senna Promotion, responsável com o cônsul pela liberação do corpo, e Betise Assumpção, assessora de imprensa do piloto.

Corri com meu carro para o Aeroporto de Bolonha tão logo registrei as impressões das pessoas que esperavam por aqueles breves segundos da saída do carro funerário do IML. A avenida, lotada, parou, e praticamente todos bateram palmas enquanto o motorista, em respeito a Senna e seus fãs, dirigia lentamente. Para os meus textos da época ouvi gente que se deslocara duas horas de trem na segunda-feira só para aquele gesto, aplaudir Senna por poucos segundos. Era uma senhora, já de alguma idade, e quando soube que o corpo não seria liberado na segunda-feira, não hesitou em regressar no dia seguinte. O portão do IML transformou-se num santuário e no depositário de tudo o que se pode imaginar que lembrasse Senna, como ricos arranjos de flores, fotos, pôsteres, bandeiras, faixas, velas, cartas, algumas abertas e impressionantemente carregadas de dor.

Quando cheguei ao aeroporto vi que estava com sorte. Poucos minutos depois de o DC9 da Força Aérea decolar havia um voo da Alitália para Paris e para o mesmo Aeroporto Charles de Gaule, de onde partiria o voo da Varig para São Paulo. Adquiri a passagem e comecei a redigir os textos do dia. Eu iria dispor de cerca de uma hora entre desembarcar no terminal 2 do aeroporto francês, retirar a bagagem, me transferir para o terminal 1 e embarcar no avião da Varig.

Fãs penduram faixa em ponte da cidade de São Paulo durante o cortejo fúnebre do caixão de Ayrton Senna - 04/05/94. Foto: Nelson Almeida/AE

Cheguei para o voo no limite da hora. E já ali, instantes antes de entrar a bordo, fiquei sabendo do que se passara no check in da Varig. Galvão Bueno, o locutor da Globo, muito amigo de Senna, o cônsul e Celso Lemos pediram para que o caixão fosse levado com os passageiros e não no compartimento de carga. O comandante, Gomes Pinto, que já transportara Senna várias vezes como passageiro, recusou-se, alegando tratar-se de “lei internacional”.

Diante da insistência dos interessados, Gomes Pinto disse que concordaria, desde que o presidente da empresa assumisse a responsabilidade pela decisão. Em pouco tempo a Varig de Paris recebeu um fax com a autorização solicitada. Com isso, retiraram alguns assentos da seção central da classe executiva do MD11 e acomodaram o caixão ali, envolto com a bandeira do Brasil, cedida pelo consulado de Milão.

Foi assim que retornamos para o Brasil, com o caixão de Senna ao nosso lado no centro da classe executiva e nós sentados nas cadeiras. Bem poucos passageiros souberam disso. A aeronave decolou de Paris com as cortinas que separam as classes fechadas e travadas e assim permaneceram até o pouso em Cumbica, 11 horas e 30 minutos depois.

O que vou contar agora é, até hoje, a maior experiência profissional que já vivi. Quem conseguiria dormir ao lado de Senna morto? Ninguém. Passamos a noite acordados. Galvão Bueno começou a conversa: “Você acredita que nós estamos levando o Ayrton de volta para o Brasil aí dentro?”, perguntou algumas vezes para nós. Passamos horas relembrando passagens da vida do piloto. No meu caso, apenas contatos profissionais, mas Galvão era um grande amigo pessoal dele.

Celso Lemos se aproxima e nos conta: “Comprei ontem um lindo terno cinza claro, uma camisa branca e uma gravata azul escura. É assim que ele está vestido.” O comandante Gomes Pinto diz que Senna se interessava muito por conhecer os comandos do avião e visitava com regularidade a cabine. Senna voava de helicóptero. O mesmo comandante explica que outras aeronaves, em aerovias próximas, em que a tripulação sabia da presença do corpo de Senna naquele avião, enviavam sinais de luz ou mesmo entravam na fonia para dar sua saudação. As bases de terra no roteiro do voo também reverenciavam de alguma maneira o voo da Varig.

Ayrton Senna foi enterrado no Cemitério Parque Morumby - 05/05/1994. Foto: Vidal Cavalcante/AE

Galvão lembra de uma passagem entre ambos, em Imola, antes da largada: “O Ayrton viu o Prost lá no autódromo e disse a ele que sentia muito a sua falta na pista. Houve um momento em que os dois se odiavam, mas todos sabem também que eles se respeitavam como piloto.” Alguém empurra a cortina, estava escuro, mas identifica o que pode ser um caixão dentro do avião. É um senhor, de sotaque forte, talvez francês.

Alguém lhe diz que aquele é o corpo de Senna. Ele pede que as pessoas se afastem um pouco, ajoelha, apóia os cotovelos sobre o caixão e reza por uns cinco minutos. A seguir, de cabeça baixa, sem falar, retorna a seu lugar, na classe econômica. O voo prossegue sem que quase nenhum dos 200 passageiros sequer desconfie que estavam ao lado daquele que, com muita probabilidade, era um grande ídolo deles, um herói nacional.

O dia não estava totalmente claro, mas de dentro do MDI11 do voo 723 podia-se ver um enxame de helicópteros sobrevoando o aeroporto Internacional de Cumbica. Às 6h14, o comandante Gomes Pinto pousou macio na pista, como numa homenagem à categoria do piloto morto em Ímola. Ainda não era possível ver a multidão que se formou para dar seu adeus a Senna, mas já dava para senti-la.

A tripulação informa que o desembarque se daria apenas pela porta de trás. Era um modo de evitar que todos vissem que o caixão estava na classe executiva. Por uns instantes o avião fica vazio. Alguns jornalistas estão a bordo ainda, preparando-se para sair. E quando entram a irmã do piloto, Viviane, e seu ex-marido, Flávio Lalli, falecido em fevereiro de 1996 num acidente de motocicleta, em São Paulo.

Foi o primeiro contato de Viviane com Senna depois da tragédia na curva Tamburello. A cena é comovente. Triste até hoje. Todos deixam o local para a família. Mais tarde os bombeiros entrariam para retirar o caixão e acomodá-lo num carro da corporação a fim de percorrer as ruas da cidade. Nunca esquecerei o que vivi naqueles dias, dentre os mais desgastantes como jornalista e ser humano.

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