Campeã de Porsche Cup, Antonella Bassani faz 18 anos e troca pistas por autoescola


Primeira mulher a vencer um título da categoria em 20 anos, a jovem piloto cumpre, a partir de maio, rotina para realizar o sonho de guiar no trânsito paulistano

Por Toni Assis

Ela costuma atingir 260 quilômetros nas retas e não abre mão do estilo agressivo para obter uma ultrapassagem nas pistas. A partir deste mês de maio, no entanto, esse perfil ao volante vai ser alterado em nome de um nobre objetivo: tirar a tão sonhada carteira de motorista. Com 18 anos completados em abril, Antonella Bassani é uma adolescente que já vem escrevendo o seu nome na história do automobilismo nacional. É a mais jovem campeã da Porsche Cup, título conquistado no final do ano passado, quando superou mais de 30 adversários.

Em meio ao acerto do carro, tomadas de tempo e conversas com a equipe, a jovem piloto fez uma pausa nos treinos para receber a reportagem do Estadão nos boxes do autódromo de Interlagos para conversar sobre esse “desafio”.

“Fiz 18 anos recentemente né”, disse a adolescente exibindo um largo sorriso. “Estou no processo de tirar a carta. Acredito que vai ser bem engraçado. O povo vai ficar meio em choque quando me ver lá, fazendo 20 horas de aulas práticas. É bastante coisa para quem vive correndo”, disse Antonella.

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Primeira mulher a vencer a Porsche Cup, catarinense Antonella Bassani acaba de completar 18 anos de idade e, como milhares de adolescentes dessa idade, vai se matricular na autoescola.  Foto: Werther Santana/Estadão

Estudar as leis de trânsito, bem como aprender o significado das placas, vêm ganhando uma atenção especial nas horas vagas. “É uma ansiedade que tenho desde pequena. Já sei um monte de coisa de lei de trânsito, significado de várias placas. Quero tirar a carta de primeira. Imagina reprovar na prova técnica. Fica feio, né”, comentou em tom descontraído.

Veloz nas pistas, Antonella disse ser cautelosa quando o assunto é trânsito. “Nunca dirigi na cidade por não ter habilitação, mas já guiei em uma fazenda, onde tudo é mais aberto. Sou bem tranquila na direção”, comentou.

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Natural de Santa Catarina, sua vida teve uma mudança recente após a vinda para São Paulo. Aqui, divide o apartamento com a irmã mais velha e precisa se organizar para cumprir as tarefas de um cotidiano atarefado. Antes mesmo de o sol raiar, ela já está de pé.

“Acordo às 5h50, tomo café e arrumo as minhas coisas. Às 6h40 saio de casa, pego o metrô, e tenho que estar na escola às 7h15. Depois tenho treino e fico ocupada até o final da tarde. Ao chegar em casa preciso ter energia para a aula com o personal.”

Obstinada, Antonella só descansa à noite, após assistir as aulas de inglês e francês. “Divido o meu tempo em estudo, treino e preparação. Quero muito focar nos meus objetivos e acho que as pessoas da minha idade têm mesmo que colocar isso como meta. Nada de namorar por enquanto”, disse.

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E a prioridade, no caso, é mesmo o automobilismo. Com a missão de defender o título da classe Challenge da Porsche Cup, o seu protagonismo volta a se confirmar neste início de ano. Em seis corridas até aqui, foram três vitórias. A mais recente delas, aconteceu no autódromo de Interlagos, no último dia 26 de abril. Antes disso, também recebeu a bandeirada como primeira colocada em Goiânia, e em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo.

Antonella já ganhou uma corrida em 2024 em Goiânia e aparece empatada com Miguel Mariotti na liderança da tabela de classificação da Porsche Cup.  Foto: Werther Santana/Estadão

“Meus tempos agora estão virando referência por causa do título do ano passado. Quando os outros pilotos estão treinando, se baseiam neles. É normal porque eu também faria isso”, afirmou de forma espontânea.

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E quando o assunto é velocidade e desempenho nas pistas, a fisionomia da adolescente se transforma. Depois de brilhar no kart quando criança, a Porsche Cup cruzou seu caminho para aumentar a certeza de que a escolha foi acertada.

Os vídeos e programas com a presença de Ayrton Senna são apenas algumas de suas referências. O britânico Lewis Hamilton, o atual tricampeão de Fórmula 1 Max Verstappen, e o brasileiro Rubinho Barrichello, também foram citados como fonte de inspiração.

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“Dependendo da pista, consigo chegar a 260 quilômetros. É adrenalina pura. Posso falar que em momentos decisivos sou muito agressiva, que é como um piloto tem que agir. Mas fora isso, gosto da pilotagem técnica. Penso na prova e no campeonato e não só na vitória”, declarou.

Sobre o futuro, a projeção na carreira vislumbra uma vida de corridas pelos mais variados circuitos internacionais. “Meu sonho é competir na Europa e viver lá. Quero disputar as 24 Horas de Le Mans e Daytona. São metas difíceis de alcançar, mas tenho capacidade. Então é ter fé em Deus.”

Acidente de kart e seis paradas cardíacas

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E num esporte onde o risco anda muito próximo do ofício de buscar tempos cada vez mais rápidos, Antonella já viveu o drama de ter de lutar pela própria vida quando ainda dava os primeiros passos no kart.

Um acidente no autódromo de Tarumã, quando tinha apenas sete anos, a deixou em estado grave. O kart capotou provocando uma séria lesão no pulmão. Levada de ambulância para o hospital, e sob o risco de morte, uma cirurgia de emergência foi a alternativa para salvar sua vida. Durante o procedimento, mais complicações: ela sofreu seis paradas cardíacas.

“Foram quase seis meses sem poder andar direito. Fiz terapia com um psicólogo juntamente com meus pais. Só então eles (pai e mãe) mudaram de ideia e decidiram me apoiar. Foi nesse momento que tirei a maior força para estar aqui fazendo o que gosto”, disse.

Antonella já sofreu acidente grave enquanto corria de kart e teve de lutar pela vida. Atualmente lidera disputa na Porsche Cup Foto: Werther Santana/Estadão

Equipe 100% feminina

De sobrevivente de um grave acidente ao estrelato na esfera nacional, Antonella quer agora dar seguimento a sua trajetória. Primeira mulher a obter uma pole position, a conquistar uma vitória e ainda ganhar um título na Porsche Cup, Antonella desafia seus adversários trabalhando com uma equipe integralmente feminina.

Na categoria, ela conta com uma mecânica, uma engenheira e ainda tem o apoio da coach Bia Figueiredo. O título do ano passado e a segunda posição na classificação do campeonato deste ano atestam o sucesso do time formado só por mulheres.

“Quando entrei aqui, achei que teria dificuldade por ser mulher. Mas a Porsche me surpreendeu e deu de presente uma engenheira e uma mecânica. A nossa relação é ótima. Consegui me entrosar e tenho muita liberdade para discutir os problemas e acertos Tudo fica mais fácil.”

Ela costuma atingir 260 quilômetros nas retas e não abre mão do estilo agressivo para obter uma ultrapassagem nas pistas. A partir deste mês de maio, no entanto, esse perfil ao volante vai ser alterado em nome de um nobre objetivo: tirar a tão sonhada carteira de motorista. Com 18 anos completados em abril, Antonella Bassani é uma adolescente que já vem escrevendo o seu nome na história do automobilismo nacional. É a mais jovem campeã da Porsche Cup, título conquistado no final do ano passado, quando superou mais de 30 adversários.

Em meio ao acerto do carro, tomadas de tempo e conversas com a equipe, a jovem piloto fez uma pausa nos treinos para receber a reportagem do Estadão nos boxes do autódromo de Interlagos para conversar sobre esse “desafio”.

“Fiz 18 anos recentemente né”, disse a adolescente exibindo um largo sorriso. “Estou no processo de tirar a carta. Acredito que vai ser bem engraçado. O povo vai ficar meio em choque quando me ver lá, fazendo 20 horas de aulas práticas. É bastante coisa para quem vive correndo”, disse Antonella.

Primeira mulher a vencer a Porsche Cup, catarinense Antonella Bassani acaba de completar 18 anos de idade e, como milhares de adolescentes dessa idade, vai se matricular na autoescola.  Foto: Werther Santana/Estadão

Estudar as leis de trânsito, bem como aprender o significado das placas, vêm ganhando uma atenção especial nas horas vagas. “É uma ansiedade que tenho desde pequena. Já sei um monte de coisa de lei de trânsito, significado de várias placas. Quero tirar a carta de primeira. Imagina reprovar na prova técnica. Fica feio, né”, comentou em tom descontraído.

Veloz nas pistas, Antonella disse ser cautelosa quando o assunto é trânsito. “Nunca dirigi na cidade por não ter habilitação, mas já guiei em uma fazenda, onde tudo é mais aberto. Sou bem tranquila na direção”, comentou.

Natural de Santa Catarina, sua vida teve uma mudança recente após a vinda para São Paulo. Aqui, divide o apartamento com a irmã mais velha e precisa se organizar para cumprir as tarefas de um cotidiano atarefado. Antes mesmo de o sol raiar, ela já está de pé.

“Acordo às 5h50, tomo café e arrumo as minhas coisas. Às 6h40 saio de casa, pego o metrô, e tenho que estar na escola às 7h15. Depois tenho treino e fico ocupada até o final da tarde. Ao chegar em casa preciso ter energia para a aula com o personal.”

Obstinada, Antonella só descansa à noite, após assistir as aulas de inglês e francês. “Divido o meu tempo em estudo, treino e preparação. Quero muito focar nos meus objetivos e acho que as pessoas da minha idade têm mesmo que colocar isso como meta. Nada de namorar por enquanto”, disse.

E a prioridade, no caso, é mesmo o automobilismo. Com a missão de defender o título da classe Challenge da Porsche Cup, o seu protagonismo volta a se confirmar neste início de ano. Em seis corridas até aqui, foram três vitórias. A mais recente delas, aconteceu no autódromo de Interlagos, no último dia 26 de abril. Antes disso, também recebeu a bandeirada como primeira colocada em Goiânia, e em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo.

Antonella já ganhou uma corrida em 2024 em Goiânia e aparece empatada com Miguel Mariotti na liderança da tabela de classificação da Porsche Cup.  Foto: Werther Santana/Estadão

“Meus tempos agora estão virando referência por causa do título do ano passado. Quando os outros pilotos estão treinando, se baseiam neles. É normal porque eu também faria isso”, afirmou de forma espontânea.

E quando o assunto é velocidade e desempenho nas pistas, a fisionomia da adolescente se transforma. Depois de brilhar no kart quando criança, a Porsche Cup cruzou seu caminho para aumentar a certeza de que a escolha foi acertada.

Os vídeos e programas com a presença de Ayrton Senna são apenas algumas de suas referências. O britânico Lewis Hamilton, o atual tricampeão de Fórmula 1 Max Verstappen, e o brasileiro Rubinho Barrichello, também foram citados como fonte de inspiração.

“Dependendo da pista, consigo chegar a 260 quilômetros. É adrenalina pura. Posso falar que em momentos decisivos sou muito agressiva, que é como um piloto tem que agir. Mas fora isso, gosto da pilotagem técnica. Penso na prova e no campeonato e não só na vitória”, declarou.

Sobre o futuro, a projeção na carreira vislumbra uma vida de corridas pelos mais variados circuitos internacionais. “Meu sonho é competir na Europa e viver lá. Quero disputar as 24 Horas de Le Mans e Daytona. São metas difíceis de alcançar, mas tenho capacidade. Então é ter fé em Deus.”

Acidente de kart e seis paradas cardíacas

E num esporte onde o risco anda muito próximo do ofício de buscar tempos cada vez mais rápidos, Antonella já viveu o drama de ter de lutar pela própria vida quando ainda dava os primeiros passos no kart.

Um acidente no autódromo de Tarumã, quando tinha apenas sete anos, a deixou em estado grave. O kart capotou provocando uma séria lesão no pulmão. Levada de ambulância para o hospital, e sob o risco de morte, uma cirurgia de emergência foi a alternativa para salvar sua vida. Durante o procedimento, mais complicações: ela sofreu seis paradas cardíacas.

“Foram quase seis meses sem poder andar direito. Fiz terapia com um psicólogo juntamente com meus pais. Só então eles (pai e mãe) mudaram de ideia e decidiram me apoiar. Foi nesse momento que tirei a maior força para estar aqui fazendo o que gosto”, disse.

Antonella já sofreu acidente grave enquanto corria de kart e teve de lutar pela vida. Atualmente lidera disputa na Porsche Cup Foto: Werther Santana/Estadão

Equipe 100% feminina

De sobrevivente de um grave acidente ao estrelato na esfera nacional, Antonella quer agora dar seguimento a sua trajetória. Primeira mulher a obter uma pole position, a conquistar uma vitória e ainda ganhar um título na Porsche Cup, Antonella desafia seus adversários trabalhando com uma equipe integralmente feminina.

Na categoria, ela conta com uma mecânica, uma engenheira e ainda tem o apoio da coach Bia Figueiredo. O título do ano passado e a segunda posição na classificação do campeonato deste ano atestam o sucesso do time formado só por mulheres.

“Quando entrei aqui, achei que teria dificuldade por ser mulher. Mas a Porsche me surpreendeu e deu de presente uma engenheira e uma mecânica. A nossa relação é ótima. Consegui me entrosar e tenho muita liberdade para discutir os problemas e acertos Tudo fica mais fácil.”

Ela costuma atingir 260 quilômetros nas retas e não abre mão do estilo agressivo para obter uma ultrapassagem nas pistas. A partir deste mês de maio, no entanto, esse perfil ao volante vai ser alterado em nome de um nobre objetivo: tirar a tão sonhada carteira de motorista. Com 18 anos completados em abril, Antonella Bassani é uma adolescente que já vem escrevendo o seu nome na história do automobilismo nacional. É a mais jovem campeã da Porsche Cup, título conquistado no final do ano passado, quando superou mais de 30 adversários.

Em meio ao acerto do carro, tomadas de tempo e conversas com a equipe, a jovem piloto fez uma pausa nos treinos para receber a reportagem do Estadão nos boxes do autódromo de Interlagos para conversar sobre esse “desafio”.

“Fiz 18 anos recentemente né”, disse a adolescente exibindo um largo sorriso. “Estou no processo de tirar a carta. Acredito que vai ser bem engraçado. O povo vai ficar meio em choque quando me ver lá, fazendo 20 horas de aulas práticas. É bastante coisa para quem vive correndo”, disse Antonella.

Primeira mulher a vencer a Porsche Cup, catarinense Antonella Bassani acaba de completar 18 anos de idade e, como milhares de adolescentes dessa idade, vai se matricular na autoescola.  Foto: Werther Santana/Estadão

Estudar as leis de trânsito, bem como aprender o significado das placas, vêm ganhando uma atenção especial nas horas vagas. “É uma ansiedade que tenho desde pequena. Já sei um monte de coisa de lei de trânsito, significado de várias placas. Quero tirar a carta de primeira. Imagina reprovar na prova técnica. Fica feio, né”, comentou em tom descontraído.

Veloz nas pistas, Antonella disse ser cautelosa quando o assunto é trânsito. “Nunca dirigi na cidade por não ter habilitação, mas já guiei em uma fazenda, onde tudo é mais aberto. Sou bem tranquila na direção”, comentou.

Natural de Santa Catarina, sua vida teve uma mudança recente após a vinda para São Paulo. Aqui, divide o apartamento com a irmã mais velha e precisa se organizar para cumprir as tarefas de um cotidiano atarefado. Antes mesmo de o sol raiar, ela já está de pé.

“Acordo às 5h50, tomo café e arrumo as minhas coisas. Às 6h40 saio de casa, pego o metrô, e tenho que estar na escola às 7h15. Depois tenho treino e fico ocupada até o final da tarde. Ao chegar em casa preciso ter energia para a aula com o personal.”

Obstinada, Antonella só descansa à noite, após assistir as aulas de inglês e francês. “Divido o meu tempo em estudo, treino e preparação. Quero muito focar nos meus objetivos e acho que as pessoas da minha idade têm mesmo que colocar isso como meta. Nada de namorar por enquanto”, disse.

E a prioridade, no caso, é mesmo o automobilismo. Com a missão de defender o título da classe Challenge da Porsche Cup, o seu protagonismo volta a se confirmar neste início de ano. Em seis corridas até aqui, foram três vitórias. A mais recente delas, aconteceu no autódromo de Interlagos, no último dia 26 de abril. Antes disso, também recebeu a bandeirada como primeira colocada em Goiânia, e em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo.

Antonella já ganhou uma corrida em 2024 em Goiânia e aparece empatada com Miguel Mariotti na liderança da tabela de classificação da Porsche Cup.  Foto: Werther Santana/Estadão

“Meus tempos agora estão virando referência por causa do título do ano passado. Quando os outros pilotos estão treinando, se baseiam neles. É normal porque eu também faria isso”, afirmou de forma espontânea.

E quando o assunto é velocidade e desempenho nas pistas, a fisionomia da adolescente se transforma. Depois de brilhar no kart quando criança, a Porsche Cup cruzou seu caminho para aumentar a certeza de que a escolha foi acertada.

Os vídeos e programas com a presença de Ayrton Senna são apenas algumas de suas referências. O britânico Lewis Hamilton, o atual tricampeão de Fórmula 1 Max Verstappen, e o brasileiro Rubinho Barrichello, também foram citados como fonte de inspiração.

“Dependendo da pista, consigo chegar a 260 quilômetros. É adrenalina pura. Posso falar que em momentos decisivos sou muito agressiva, que é como um piloto tem que agir. Mas fora isso, gosto da pilotagem técnica. Penso na prova e no campeonato e não só na vitória”, declarou.

Sobre o futuro, a projeção na carreira vislumbra uma vida de corridas pelos mais variados circuitos internacionais. “Meu sonho é competir na Europa e viver lá. Quero disputar as 24 Horas de Le Mans e Daytona. São metas difíceis de alcançar, mas tenho capacidade. Então é ter fé em Deus.”

Acidente de kart e seis paradas cardíacas

E num esporte onde o risco anda muito próximo do ofício de buscar tempos cada vez mais rápidos, Antonella já viveu o drama de ter de lutar pela própria vida quando ainda dava os primeiros passos no kart.

Um acidente no autódromo de Tarumã, quando tinha apenas sete anos, a deixou em estado grave. O kart capotou provocando uma séria lesão no pulmão. Levada de ambulância para o hospital, e sob o risco de morte, uma cirurgia de emergência foi a alternativa para salvar sua vida. Durante o procedimento, mais complicações: ela sofreu seis paradas cardíacas.

“Foram quase seis meses sem poder andar direito. Fiz terapia com um psicólogo juntamente com meus pais. Só então eles (pai e mãe) mudaram de ideia e decidiram me apoiar. Foi nesse momento que tirei a maior força para estar aqui fazendo o que gosto”, disse.

Antonella já sofreu acidente grave enquanto corria de kart e teve de lutar pela vida. Atualmente lidera disputa na Porsche Cup Foto: Werther Santana/Estadão

Equipe 100% feminina

De sobrevivente de um grave acidente ao estrelato na esfera nacional, Antonella quer agora dar seguimento a sua trajetória. Primeira mulher a obter uma pole position, a conquistar uma vitória e ainda ganhar um título na Porsche Cup, Antonella desafia seus adversários trabalhando com uma equipe integralmente feminina.

Na categoria, ela conta com uma mecânica, uma engenheira e ainda tem o apoio da coach Bia Figueiredo. O título do ano passado e a segunda posição na classificação do campeonato deste ano atestam o sucesso do time formado só por mulheres.

“Quando entrei aqui, achei que teria dificuldade por ser mulher. Mas a Porsche me surpreendeu e deu de presente uma engenheira e uma mecânica. A nossa relação é ótima. Consegui me entrosar e tenho muita liberdade para discutir os problemas e acertos Tudo fica mais fácil.”

Ela costuma atingir 260 quilômetros nas retas e não abre mão do estilo agressivo para obter uma ultrapassagem nas pistas. A partir deste mês de maio, no entanto, esse perfil ao volante vai ser alterado em nome de um nobre objetivo: tirar a tão sonhada carteira de motorista. Com 18 anos completados em abril, Antonella Bassani é uma adolescente que já vem escrevendo o seu nome na história do automobilismo nacional. É a mais jovem campeã da Porsche Cup, título conquistado no final do ano passado, quando superou mais de 30 adversários.

Em meio ao acerto do carro, tomadas de tempo e conversas com a equipe, a jovem piloto fez uma pausa nos treinos para receber a reportagem do Estadão nos boxes do autódromo de Interlagos para conversar sobre esse “desafio”.

“Fiz 18 anos recentemente né”, disse a adolescente exibindo um largo sorriso. “Estou no processo de tirar a carta. Acredito que vai ser bem engraçado. O povo vai ficar meio em choque quando me ver lá, fazendo 20 horas de aulas práticas. É bastante coisa para quem vive correndo”, disse Antonella.

Primeira mulher a vencer a Porsche Cup, catarinense Antonella Bassani acaba de completar 18 anos de idade e, como milhares de adolescentes dessa idade, vai se matricular na autoescola.  Foto: Werther Santana/Estadão

Estudar as leis de trânsito, bem como aprender o significado das placas, vêm ganhando uma atenção especial nas horas vagas. “É uma ansiedade que tenho desde pequena. Já sei um monte de coisa de lei de trânsito, significado de várias placas. Quero tirar a carta de primeira. Imagina reprovar na prova técnica. Fica feio, né”, comentou em tom descontraído.

Veloz nas pistas, Antonella disse ser cautelosa quando o assunto é trânsito. “Nunca dirigi na cidade por não ter habilitação, mas já guiei em uma fazenda, onde tudo é mais aberto. Sou bem tranquila na direção”, comentou.

Natural de Santa Catarina, sua vida teve uma mudança recente após a vinda para São Paulo. Aqui, divide o apartamento com a irmã mais velha e precisa se organizar para cumprir as tarefas de um cotidiano atarefado. Antes mesmo de o sol raiar, ela já está de pé.

“Acordo às 5h50, tomo café e arrumo as minhas coisas. Às 6h40 saio de casa, pego o metrô, e tenho que estar na escola às 7h15. Depois tenho treino e fico ocupada até o final da tarde. Ao chegar em casa preciso ter energia para a aula com o personal.”

Obstinada, Antonella só descansa à noite, após assistir as aulas de inglês e francês. “Divido o meu tempo em estudo, treino e preparação. Quero muito focar nos meus objetivos e acho que as pessoas da minha idade têm mesmo que colocar isso como meta. Nada de namorar por enquanto”, disse.

E a prioridade, no caso, é mesmo o automobilismo. Com a missão de defender o título da classe Challenge da Porsche Cup, o seu protagonismo volta a se confirmar neste início de ano. Em seis corridas até aqui, foram três vitórias. A mais recente delas, aconteceu no autódromo de Interlagos, no último dia 26 de abril. Antes disso, também recebeu a bandeirada como primeira colocada em Goiânia, e em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo.

Antonella já ganhou uma corrida em 2024 em Goiânia e aparece empatada com Miguel Mariotti na liderança da tabela de classificação da Porsche Cup.  Foto: Werther Santana/Estadão

“Meus tempos agora estão virando referência por causa do título do ano passado. Quando os outros pilotos estão treinando, se baseiam neles. É normal porque eu também faria isso”, afirmou de forma espontânea.

E quando o assunto é velocidade e desempenho nas pistas, a fisionomia da adolescente se transforma. Depois de brilhar no kart quando criança, a Porsche Cup cruzou seu caminho para aumentar a certeza de que a escolha foi acertada.

Os vídeos e programas com a presença de Ayrton Senna são apenas algumas de suas referências. O britânico Lewis Hamilton, o atual tricampeão de Fórmula 1 Max Verstappen, e o brasileiro Rubinho Barrichello, também foram citados como fonte de inspiração.

“Dependendo da pista, consigo chegar a 260 quilômetros. É adrenalina pura. Posso falar que em momentos decisivos sou muito agressiva, que é como um piloto tem que agir. Mas fora isso, gosto da pilotagem técnica. Penso na prova e no campeonato e não só na vitória”, declarou.

Sobre o futuro, a projeção na carreira vislumbra uma vida de corridas pelos mais variados circuitos internacionais. “Meu sonho é competir na Europa e viver lá. Quero disputar as 24 Horas de Le Mans e Daytona. São metas difíceis de alcançar, mas tenho capacidade. Então é ter fé em Deus.”

Acidente de kart e seis paradas cardíacas

E num esporte onde o risco anda muito próximo do ofício de buscar tempos cada vez mais rápidos, Antonella já viveu o drama de ter de lutar pela própria vida quando ainda dava os primeiros passos no kart.

Um acidente no autódromo de Tarumã, quando tinha apenas sete anos, a deixou em estado grave. O kart capotou provocando uma séria lesão no pulmão. Levada de ambulância para o hospital, e sob o risco de morte, uma cirurgia de emergência foi a alternativa para salvar sua vida. Durante o procedimento, mais complicações: ela sofreu seis paradas cardíacas.

“Foram quase seis meses sem poder andar direito. Fiz terapia com um psicólogo juntamente com meus pais. Só então eles (pai e mãe) mudaram de ideia e decidiram me apoiar. Foi nesse momento que tirei a maior força para estar aqui fazendo o que gosto”, disse.

Antonella já sofreu acidente grave enquanto corria de kart e teve de lutar pela vida. Atualmente lidera disputa na Porsche Cup Foto: Werther Santana/Estadão

Equipe 100% feminina

De sobrevivente de um grave acidente ao estrelato na esfera nacional, Antonella quer agora dar seguimento a sua trajetória. Primeira mulher a obter uma pole position, a conquistar uma vitória e ainda ganhar um título na Porsche Cup, Antonella desafia seus adversários trabalhando com uma equipe integralmente feminina.

Na categoria, ela conta com uma mecânica, uma engenheira e ainda tem o apoio da coach Bia Figueiredo. O título do ano passado e a segunda posição na classificação do campeonato deste ano atestam o sucesso do time formado só por mulheres.

“Quando entrei aqui, achei que teria dificuldade por ser mulher. Mas a Porsche me surpreendeu e deu de presente uma engenheira e uma mecânica. A nossa relação é ótima. Consegui me entrosar e tenho muita liberdade para discutir os problemas e acertos Tudo fica mais fácil.”

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