Aos 48 anos, Christian Fittipaldi encerra uma carreira de aproximadamente quatro décadas: as 24 Horas de Daytona, que ocorrem neste final de semana, será sua última largada. Representante da segunda geração da família mais tradicional do automobilismo brasileiro, Christian tem um currículo que o coloca entre os pilotos mais completos do esporte e agora ganha uma nova página como diretor esportivo da equipe Action Express e embaixador da Mustang Sampling (empresa de análises de gás e óleo que patrocina sua equipe) e da Cadillac.
Filho de Wilsinho e Suzy Fittipaldi, Christian iniciou a carreira no Brasil, onde correu de kart e fórmulas Ford e 3; anos mais tarde retornou para disputar provas de Stock Car. No exterior competiu na Fórmula 3, Fórmula 3000, Fórmula 1, Fórmula Indy, Nascar e na IMSA. É raro encontrar nos paddocks do automobilismo mundial um piloto com a imagem tão positiva quanto a dele.
Como você descobriu que este era o momento de parar?
Foi um processo de alguns passos e o que acelerou a decisão foi a vitória no ano passado, em Daytona. Em 2016 perdemos a corrida a duas voltas do final, quando estávamos liderando. Houve uma certa confusão, não estou apontando a culpa para ninguém, mas aquilo ficou entalado na garganta de todo mundo da equipe. Quando ganhamos no ano passado eu senti que me tiraram um peso de 15 toneladas das minhas costas e dos 10, 15 itens que eu enxergava para formar o momento de parar. A terceira vitória foi um desses. Outros foram a minha idade, um dia todo mundo tem de parar, por melhor que você seja, você não vai guiar eternamente. Tentei enxergar quanto tempo de carreira eu ainda teria, o que conseguiria. Enfim, foi uma combinação de varias coisas.
Quais são seus planos agora que se aposentou?
Inicialmente vou continuar o trabalho que eu venho fazendo com a minha equipe e com a Cadillac. Acho que lá por agosto, setembro terei uma ideia mais clara do que eu vou fazer nos próximos cinco, oito, dez anos. Está tudo muito recente, eu quero usar a minha experiência para ajudar outros e tentar capitalizar em cima de tudo o que eu construí. Daqui a seis meses, eu terei tudo mais claro, pode até ser continuar como diretor esportivo, driver coach, consultor.
Vai sobrar mais tempo para andar de mountain bike, curtir a sua filha Manuela?
Acho que vou acabar viajando mais do que eu viajei nessas últimas temporadas. Mas, ao mesmo tempo, serão atividades mais curtas e, com certeza, vou poder acompanhar minha família, abrir o próximo capítulo da minha vida.
O automobilismo feminino está ganhando um protagonismo cada vez maior...
Já sei o que você vai perguntar. De jeito nenhum, não sou chauvinista, mas de jeito nenhum. Como você mencionou o automobilismo feminino, uma categoria à parte, só para mulheres. Se existisse a possibilidade da Manuela pilotar um dia, seria em uma competição só para mulheres. Se misturar com homens, de jeito nenhum.
No ano passado você já atuou como diretor esportivo. Como foi analisar o trabalho dos pilotos?
No momento em que eu vejo o carro da equipe na pista eu consigo me transportar para dentro do cockpit e entender o que está acontecendo, consigo visualizar os problemas que o piloto está passando. O fato de estar ainda correndo me ajudou nesse processo.
Das participações em Daytona qual é a mais significativa?
A corrida perfeita, com certeza, foi a de 2014. Largamos, andamos forte o tempo todo e não tivemos nenhum imprevisto, todas as paradas de box foram perfeitas, enfim, não aconteceu nada. Acho que só encostamos num carro da categoria GT, mas mal marcou o bico do nosso carro. A de 2018 foi significativa também, por ter disparado o processo que estou vivendo hoje.
Você pensa em ter uma própria equipe?
Não. Eu sei muito bem como isso é difícil, algo do tipo contar com o completo alinhamento dos planetas. Para isso acontecer seria preciso ter garantias que todas as peças estão encaixadas firmemente.
Quais as três pessoas que mais te ajudaram como piloto?
A primeira, sem dúvida, foi meu pai. O Emerson, especificamente em Indianapolis em 1995. Ele não classificou e eu terminei em segundo. Antes da corrida ele me passou muitas informações, muito de sua experiência na Indy. Quase ganhei a prova. A terceira é o Rubinho (Barrichello). Eu devo muito do que sou a ele e acho que se você perguntar para ele vai dizer a mesma coisa. Pela nossa história no kart eu tenho certeza que se não fosse por causa dele eu não seria o que sou e vice-versa. A gente se esforçava muito para superar o outro e com isso fomos melhorando.