Fórmula 1: De jovens a mulheres, entenda como a categoria está conquistando novos públicos


Categoria máxima do automobilismo adota novas estratégias para interagir com torcedores e lança plano de transmissão especial para a garotada

Por Marcos Antomil e Felipe Rosa Mendes
Atualização:

A Fórmula 1 está mais jovem e feminina. Tem crescido nas redes sociais e despertado interesse de novos fãs. De acordo com Stefano Domenicali, atual chefão da categoria, um em cada três fãs começou a seguir a competição nos últimos quatro anos. Eles são, em média, dez anos mais jovens do que aqueles que acompanham as provas há mais tempo.

Ao Estadão, a F-1 revelou nesta semana que o crescimento da audiência dos mais jovens foi verificada em diferentes níveis, tanto nas arquibancadas dos autódromos quanto diante da televisão. Nos circuitos, o grupo dos torcedores de até 25 anos de idade cresceu 21% em apenas um ano, entre as temporadas de 2021 e 2022. Nas transmissões, a audiência aumentou 44% entre fãs de até 35 anos, entre 2018 e o ano passado. Atualmente, essa faixa etária corresponde a 26% do total dos espectadores.

Desde que passou para as mãos dos americanos da Liberty Media, em 2016, a Fórmula 1 começou a se preocupar com o engajamento de novos públicos. A categoria vem investindo em vídeos nas redes sociais, principalmente no TikTok, em novas formas de filmar carros e equipes e em gráficos mais agradáveis e acessíveis para os fãs tanto na TV quanto nos celulares. Os efeitos desta busca por um público mais jovem são sentidos pela direção da categoria.

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Torcedoras da Ferrari acompanham corrida em Ímola da varanda de apartamento. "Vivo com emoções que Ferrari nem mesmo sabe que me dá", diz o cartaz. Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

O público mais jovem também é mais feminino. No total, segundo informou a F-1 ao Estadão, 40% de todos os fãs são mulheres atualmente - um crescimento de 32% em relação a 2017, o primeiro ano da gestão da Liberty Media na categoria. Nas arquibancadas, elas são 25% do total - eram 17% na mesma temporada de 2017. No GP da Inglaterra do ano passado, disputado no circuito de Silverstone, o público feminino atingiu 39% do total, enquanto o GP da Austrália contou com 34%.

Em Mônaco, torcedora tira foto com Lewis Hamilton, heptacampeão mundial de F-1. Foto: Piroschka Van De Wouw/ Reuters
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Esta mudança no perfil dos seguidores da F-1 também é vista no Brasil. Se em 2021, 20,7% dos torcedores no Autódromo de Interlagos eram mulheres, em 2022, esse percentual saltou para 36,4%. Quanto à idade desses mesmos fãs, em 2021, 33,1% dos presentes tinham entre 18 e 29 anos. Na última edição, no ano passado, o percentual foi de 44,1%.

O que explica a conquista de novos públicos pela Fórmula 1?

Não há somente um fator para explicar essa mudança de público. A Fórmula 1 é uma das marcas que melhor sabe usar as redes sociais a seu favor. Essa ferramenta não está limitada à organização da categoria, mas a seus participantes, pilotos e escuderias. Eles dão vazão ao mesmo propósito e encontraram uma forma orgânica de reunir as características necessárias para vincular torcedores à categoria, aos pilotos e equipes.

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Nas redes, a Fórmula 1 está bem posicionada entre importantes ligas de diferentes modalidades esportivas. Ainda atrás de marcas do futebol e basquete, a categoria já ameaça o UFC e o futebol americano (NFL) e deixa para trás Bundesliga (Campeonato Alemão), Serie A (Campeonato Italiano) e Ligue 1 (Campeonato Francês), por exemplo.

Como ‘Drive to Survive’ ajudou a F-1 a conquistar novos fãs?

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Outro fator para explicar o sucesso da F-1 é a série “Drive to Survive”. A produção da Netflix, lançada em 2019, apresentou, de forma polêmica e por vezes contraditória, o cotidiano dos pilotos e os aproximou dos fãs. Conhecer seus hábitos, hobbies e preferências criou uma nova forma de se identificar com a modalidade.

A revolução na comunicação que acompanhou as inserções tecnológicas modernas ajudou a F-1 a mudar de patamar. Marcas do mundo todo têm, dia após dia, de se aperfeiçoar para obter novos clientes e fãs. Se dentro das pistas, a F-1 ainda não conseguiu se livrar totalmente da monotonia da última década, fora delas conta com inúmeros atores que ajudam no processo de inovação e a construir uma imagem mais próxima entre ídolos e fãs. Eles estão nas redes e se mostram como todos. Isso era impensável no passado.

As formas de divulgar a imagem da Fórmula 1 conta com ingredientes americanizados. Conhecidos por fazerem os melhores e mais atrativos espetáculos e shows, os EUA sabem referendar iniciativas pelas quais a Liberty Media tem introduzido a categoria a novos públicos.

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Essa conversa, porém, oferece obstáculos, atalhos e limites. Um dos atalhos bem planificados responde pela série “Drive to Survive”. O produto da Netflix está em sua quinta temporada e sempre divulga seus episódios semanas antes da estreia de um novo ano na F-1. Acompanhar os pilotos nos bastidores e as polêmicas - factuais e muitas vezes exageradas - ganha olhares redobrados e serve para aquecer os motores para o novo campeonato.

Os limites, no entanto, ainda têm sido testados. Atual bicampeão da Fórmula 1 e em caminho promissor para o terceiro título consecutivo, o holandês Max Verstappen não escondeu seu descontentamento com a produção da série e negou sua participação na temporada passada após ter visto a produção desenhá-lo como vilão.

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Após chegar a um novo acordo, o piloto da Red Bull aceitou retornar às filmagens. “Como campeão, preciso participar de um produto como este, tão importante para a popularidade da F-1. Quero aparecer como realmente sou. Os diretores da série entenderam meu ponto de vista, assim como compreendo a necessidade de tornar as histórias espetaculares. Mas me importo com uma imagem verdadeira”, afirmou o holandês.

Verstappen não foi o único a criticar “Drive to Survive”. Seu companheiro de equipe, Sergio Pérez, afirmou à ESPN em 2022 que a produção havia ido “longe demais”. “Eles tentaram criar muito drama em uma temporada que já era dramática o suficiente”, disse o mexicano à época.

F-1 planeja novidade para público infantil

Os planos para rejuvenescer o público da F-1 são de longo prazo. Nesta semana, a direção do campeonato anunciou uma transmissão especial para crianças. Pela primeira vez na história, a categoria vai se debruçar sobre o público infantil no GP da Hungria, entre os dias 21 e 23 de julho.

A transmissão, segundo a F-1, terá gráficos especiais, efeitos sonoros e “recursos especiais”, como gráficos 3D, para captar a atenção da garotada. Inicialmente, o teste vai acontecer somente para o público da Inglaterra e da Alemanha.

Max Verstappen tira fotos com fãs mirins no circuito de Montemeló, em Barcelona. Foto: Joan Monfort/ AP

Para facilitar a proximidade com o novo público, dois apresentadores mirins conhecidos das crianças britânicas, Braydon Bent e Scarlett Archer, vão comandar atrações no paddock, ao lado do alemão Nico Rosberg, campeão da F-1 em 2016 e atualmente aposentado, e da americana Danica Patrick, que correu de Indy. Estão previstas até entrevistas das crianças com os pilotos atuais do grid.

“Queremos garantir que nossos fãs de todas as idades possam curtir e se apaixonar pela F-1. Este será a primeira iniciativa do tipo no automobilismo e estou empolgado para ver esta transmissão ganhando vida”, afirmou Ian Holmes, diretor de Mídia e Conteúdo da F-1.

Quais os pilotos mais populares da F-1?

A Fórmula 1 responde por fenômenos dentro e fora dos cockpits. Alguns, mesmo sem vitórias ou feitos memoráveis esportivamente, conseguem atrair a atenção de muitos fãs. Enquanto o heptacampeão mundial Lewis Hamilton lidera com folga a lista de pilotos mais seguidos da categoria no Instagram, com 32,8 milhões, a briga pela segunda posição está mais parelha. Charles Leclerc, da Ferrari, é um exemplo de popstar que consolidou sua imagem como garoto-propaganda da escuderia de Maranello ao mesmo tempo que sofre para obter bons resultados. O monegasco conta com 11 milhões de seguidores na rede.

Verstappen não é o piloto mais simpático da categoria. Entre raros sorrisos, o holandês tem construído seu bloco de apoiadores, que pintam os céus das corridas europeias de laranja, graças a sua fome de vitórias e estilo arrojado. Com 9,7 milhões de seguidores, Max está na terceira posição desse ranking.

O quarto colocado em popularidade tampouco une resultados e um perfil afável, mas Carlos Sainz Jr. possui a marca Ferrari como sustentáculo nas redes sociais e conta com 6,7 milhões de fãs. Esses caras levam os torcedores para os autódromos e também para diante da TV aos domingos.

O quinto ranqueado se apresenta com um perfil semelhante ao de Leclerc. Lando Norris é jovem, tem 23 anos, despeja bom humor e angaria fãs a partir da sua personalidade comunicativa. Muitos dos 6,1 milhões de fãs sofrem com Norris a cada corrida perdida pela McLaren e milésimos desperdiçados nas disputas por melhores posições no grid.

F-1 muda foco com a Liberty Media e tem nos EUA sua grande fortaleza

O foco da Fórmula 1 está nos Estados Unidos, um povo apaixonado por carros e corridas. O país havia ficado fora da categoria entre 2007 e 2012. O Oriente Médio também estava ‘abandonado’. As duas regiões correspondem atualmente a 32% do calendário da categoria.

Neste ano, os americanos vão receber três provas. Uma delas já foi realizada, a de Miami. As outras ainda acontecem em Austin, no Texas (22 de outubro), e em Las Vegas, Nevada (18 de novembro). Arábia Saudita e Bahrein inauguraram a temporada atual, enquanto Catar (8 de outubro) e Emirados Árabes Unidos (26 de novembro) estarão nos momentos decisivos do ano.

Por um bom tempo, quando ainda estava nas mãos de Bernie Ecclestone, a missão da F-1 tinha como alvo a Ásia Oriental e o Sudeste Asiático. Autódromos foram construídos do zero, não trouxeram resultados e culminaram na desistência de sediar provas na Coreia do Sul, Índia, Malásia, entre outros lugares. Para fins de comparação, seis das 19 provas de 2013 (há uma década, portanto) se concentravam nesse mercado. O número reproduz um percentual semelhante, de 31,5%. Em 2023, somente Cingapura e Japão continuam recebendo corridas na região.

A geografia da F-1 também sofreu alteração. A categoria vai a regiões do planeta mais carentes de eventos esportivos de grande porte. A tendência também é válida para o futebol, que fez Copas do Mundo em países de menor tradição, como Rússia e Catar.

A América do Sul, porém, segue desprestigiada, só fica à frente da África, que não tem uma corrida sequer. No Brasil, dos campeões Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, a falta de um piloto local no grid enfraqueceu o desempenho junto aos patrocinadores e chefões da modalidade.

Porém, o Autódromo de Interlagos recebeu nos últimos anos corridas emocionantes com as disputas entre Hamilton e Verstappen, em 2021, e a vitória inédita de George Russell, em 2022. O autódromo registrou público de 235.617 espectadores nos três dias de evento do Grande Prêmio de São Paulo da última temporada. Em 2021, foram 181.711 presentes em Interlagos, ainda com as restrições da pandemia. A organização do evento investe em acordos publicitários para ampliar as áreas que podem receber torcedores e espera bater novos recordes ao longo do contrato, até 2025.

George Russell comemora vitória no Grande Prêmio de São Paulo com o público em Interlagos. Foto: Marcelo Chello/ AP

A Fórmula 1 está mais jovem e feminina. Tem crescido nas redes sociais e despertado interesse de novos fãs. De acordo com Stefano Domenicali, atual chefão da categoria, um em cada três fãs começou a seguir a competição nos últimos quatro anos. Eles são, em média, dez anos mais jovens do que aqueles que acompanham as provas há mais tempo.

Ao Estadão, a F-1 revelou nesta semana que o crescimento da audiência dos mais jovens foi verificada em diferentes níveis, tanto nas arquibancadas dos autódromos quanto diante da televisão. Nos circuitos, o grupo dos torcedores de até 25 anos de idade cresceu 21% em apenas um ano, entre as temporadas de 2021 e 2022. Nas transmissões, a audiência aumentou 44% entre fãs de até 35 anos, entre 2018 e o ano passado. Atualmente, essa faixa etária corresponde a 26% do total dos espectadores.

Desde que passou para as mãos dos americanos da Liberty Media, em 2016, a Fórmula 1 começou a se preocupar com o engajamento de novos públicos. A categoria vem investindo em vídeos nas redes sociais, principalmente no TikTok, em novas formas de filmar carros e equipes e em gráficos mais agradáveis e acessíveis para os fãs tanto na TV quanto nos celulares. Os efeitos desta busca por um público mais jovem são sentidos pela direção da categoria.

Torcedoras da Ferrari acompanham corrida em Ímola da varanda de apartamento. "Vivo com emoções que Ferrari nem mesmo sabe que me dá", diz o cartaz. Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

O público mais jovem também é mais feminino. No total, segundo informou a F-1 ao Estadão, 40% de todos os fãs são mulheres atualmente - um crescimento de 32% em relação a 2017, o primeiro ano da gestão da Liberty Media na categoria. Nas arquibancadas, elas são 25% do total - eram 17% na mesma temporada de 2017. No GP da Inglaterra do ano passado, disputado no circuito de Silverstone, o público feminino atingiu 39% do total, enquanto o GP da Austrália contou com 34%.

Em Mônaco, torcedora tira foto com Lewis Hamilton, heptacampeão mundial de F-1. Foto: Piroschka Van De Wouw/ Reuters

Esta mudança no perfil dos seguidores da F-1 também é vista no Brasil. Se em 2021, 20,7% dos torcedores no Autódromo de Interlagos eram mulheres, em 2022, esse percentual saltou para 36,4%. Quanto à idade desses mesmos fãs, em 2021, 33,1% dos presentes tinham entre 18 e 29 anos. Na última edição, no ano passado, o percentual foi de 44,1%.

O que explica a conquista de novos públicos pela Fórmula 1?

Não há somente um fator para explicar essa mudança de público. A Fórmula 1 é uma das marcas que melhor sabe usar as redes sociais a seu favor. Essa ferramenta não está limitada à organização da categoria, mas a seus participantes, pilotos e escuderias. Eles dão vazão ao mesmo propósito e encontraram uma forma orgânica de reunir as características necessárias para vincular torcedores à categoria, aos pilotos e equipes.

Nas redes, a Fórmula 1 está bem posicionada entre importantes ligas de diferentes modalidades esportivas. Ainda atrás de marcas do futebol e basquete, a categoria já ameaça o UFC e o futebol americano (NFL) e deixa para trás Bundesliga (Campeonato Alemão), Serie A (Campeonato Italiano) e Ligue 1 (Campeonato Francês), por exemplo.

Como ‘Drive to Survive’ ajudou a F-1 a conquistar novos fãs?

Outro fator para explicar o sucesso da F-1 é a série “Drive to Survive”. A produção da Netflix, lançada em 2019, apresentou, de forma polêmica e por vezes contraditória, o cotidiano dos pilotos e os aproximou dos fãs. Conhecer seus hábitos, hobbies e preferências criou uma nova forma de se identificar com a modalidade.

A revolução na comunicação que acompanhou as inserções tecnológicas modernas ajudou a F-1 a mudar de patamar. Marcas do mundo todo têm, dia após dia, de se aperfeiçoar para obter novos clientes e fãs. Se dentro das pistas, a F-1 ainda não conseguiu se livrar totalmente da monotonia da última década, fora delas conta com inúmeros atores que ajudam no processo de inovação e a construir uma imagem mais próxima entre ídolos e fãs. Eles estão nas redes e se mostram como todos. Isso era impensável no passado.

As formas de divulgar a imagem da Fórmula 1 conta com ingredientes americanizados. Conhecidos por fazerem os melhores e mais atrativos espetáculos e shows, os EUA sabem referendar iniciativas pelas quais a Liberty Media tem introduzido a categoria a novos públicos.

Essa conversa, porém, oferece obstáculos, atalhos e limites. Um dos atalhos bem planificados responde pela série “Drive to Survive”. O produto da Netflix está em sua quinta temporada e sempre divulga seus episódios semanas antes da estreia de um novo ano na F-1. Acompanhar os pilotos nos bastidores e as polêmicas - factuais e muitas vezes exageradas - ganha olhares redobrados e serve para aquecer os motores para o novo campeonato.

Os limites, no entanto, ainda têm sido testados. Atual bicampeão da Fórmula 1 e em caminho promissor para o terceiro título consecutivo, o holandês Max Verstappen não escondeu seu descontentamento com a produção da série e negou sua participação na temporada passada após ter visto a produção desenhá-lo como vilão.

Após chegar a um novo acordo, o piloto da Red Bull aceitou retornar às filmagens. “Como campeão, preciso participar de um produto como este, tão importante para a popularidade da F-1. Quero aparecer como realmente sou. Os diretores da série entenderam meu ponto de vista, assim como compreendo a necessidade de tornar as histórias espetaculares. Mas me importo com uma imagem verdadeira”, afirmou o holandês.

Verstappen não foi o único a criticar “Drive to Survive”. Seu companheiro de equipe, Sergio Pérez, afirmou à ESPN em 2022 que a produção havia ido “longe demais”. “Eles tentaram criar muito drama em uma temporada que já era dramática o suficiente”, disse o mexicano à época.

F-1 planeja novidade para público infantil

Os planos para rejuvenescer o público da F-1 são de longo prazo. Nesta semana, a direção do campeonato anunciou uma transmissão especial para crianças. Pela primeira vez na história, a categoria vai se debruçar sobre o público infantil no GP da Hungria, entre os dias 21 e 23 de julho.

A transmissão, segundo a F-1, terá gráficos especiais, efeitos sonoros e “recursos especiais”, como gráficos 3D, para captar a atenção da garotada. Inicialmente, o teste vai acontecer somente para o público da Inglaterra e da Alemanha.

Max Verstappen tira fotos com fãs mirins no circuito de Montemeló, em Barcelona. Foto: Joan Monfort/ AP

Para facilitar a proximidade com o novo público, dois apresentadores mirins conhecidos das crianças britânicas, Braydon Bent e Scarlett Archer, vão comandar atrações no paddock, ao lado do alemão Nico Rosberg, campeão da F-1 em 2016 e atualmente aposentado, e da americana Danica Patrick, que correu de Indy. Estão previstas até entrevistas das crianças com os pilotos atuais do grid.

“Queremos garantir que nossos fãs de todas as idades possam curtir e se apaixonar pela F-1. Este será a primeira iniciativa do tipo no automobilismo e estou empolgado para ver esta transmissão ganhando vida”, afirmou Ian Holmes, diretor de Mídia e Conteúdo da F-1.

Quais os pilotos mais populares da F-1?

A Fórmula 1 responde por fenômenos dentro e fora dos cockpits. Alguns, mesmo sem vitórias ou feitos memoráveis esportivamente, conseguem atrair a atenção de muitos fãs. Enquanto o heptacampeão mundial Lewis Hamilton lidera com folga a lista de pilotos mais seguidos da categoria no Instagram, com 32,8 milhões, a briga pela segunda posição está mais parelha. Charles Leclerc, da Ferrari, é um exemplo de popstar que consolidou sua imagem como garoto-propaganda da escuderia de Maranello ao mesmo tempo que sofre para obter bons resultados. O monegasco conta com 11 milhões de seguidores na rede.

Verstappen não é o piloto mais simpático da categoria. Entre raros sorrisos, o holandês tem construído seu bloco de apoiadores, que pintam os céus das corridas europeias de laranja, graças a sua fome de vitórias e estilo arrojado. Com 9,7 milhões de seguidores, Max está na terceira posição desse ranking.

O quarto colocado em popularidade tampouco une resultados e um perfil afável, mas Carlos Sainz Jr. possui a marca Ferrari como sustentáculo nas redes sociais e conta com 6,7 milhões de fãs. Esses caras levam os torcedores para os autódromos e também para diante da TV aos domingos.

O quinto ranqueado se apresenta com um perfil semelhante ao de Leclerc. Lando Norris é jovem, tem 23 anos, despeja bom humor e angaria fãs a partir da sua personalidade comunicativa. Muitos dos 6,1 milhões de fãs sofrem com Norris a cada corrida perdida pela McLaren e milésimos desperdiçados nas disputas por melhores posições no grid.

F-1 muda foco com a Liberty Media e tem nos EUA sua grande fortaleza

O foco da Fórmula 1 está nos Estados Unidos, um povo apaixonado por carros e corridas. O país havia ficado fora da categoria entre 2007 e 2012. O Oriente Médio também estava ‘abandonado’. As duas regiões correspondem atualmente a 32% do calendário da categoria.

Neste ano, os americanos vão receber três provas. Uma delas já foi realizada, a de Miami. As outras ainda acontecem em Austin, no Texas (22 de outubro), e em Las Vegas, Nevada (18 de novembro). Arábia Saudita e Bahrein inauguraram a temporada atual, enquanto Catar (8 de outubro) e Emirados Árabes Unidos (26 de novembro) estarão nos momentos decisivos do ano.

Por um bom tempo, quando ainda estava nas mãos de Bernie Ecclestone, a missão da F-1 tinha como alvo a Ásia Oriental e o Sudeste Asiático. Autódromos foram construídos do zero, não trouxeram resultados e culminaram na desistência de sediar provas na Coreia do Sul, Índia, Malásia, entre outros lugares. Para fins de comparação, seis das 19 provas de 2013 (há uma década, portanto) se concentravam nesse mercado. O número reproduz um percentual semelhante, de 31,5%. Em 2023, somente Cingapura e Japão continuam recebendo corridas na região.

A geografia da F-1 também sofreu alteração. A categoria vai a regiões do planeta mais carentes de eventos esportivos de grande porte. A tendência também é válida para o futebol, que fez Copas do Mundo em países de menor tradição, como Rússia e Catar.

A América do Sul, porém, segue desprestigiada, só fica à frente da África, que não tem uma corrida sequer. No Brasil, dos campeões Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, a falta de um piloto local no grid enfraqueceu o desempenho junto aos patrocinadores e chefões da modalidade.

Porém, o Autódromo de Interlagos recebeu nos últimos anos corridas emocionantes com as disputas entre Hamilton e Verstappen, em 2021, e a vitória inédita de George Russell, em 2022. O autódromo registrou público de 235.617 espectadores nos três dias de evento do Grande Prêmio de São Paulo da última temporada. Em 2021, foram 181.711 presentes em Interlagos, ainda com as restrições da pandemia. A organização do evento investe em acordos publicitários para ampliar as áreas que podem receber torcedores e espera bater novos recordes ao longo do contrato, até 2025.

George Russell comemora vitória no Grande Prêmio de São Paulo com o público em Interlagos. Foto: Marcelo Chello/ AP

A Fórmula 1 está mais jovem e feminina. Tem crescido nas redes sociais e despertado interesse de novos fãs. De acordo com Stefano Domenicali, atual chefão da categoria, um em cada três fãs começou a seguir a competição nos últimos quatro anos. Eles são, em média, dez anos mais jovens do que aqueles que acompanham as provas há mais tempo.

Ao Estadão, a F-1 revelou nesta semana que o crescimento da audiência dos mais jovens foi verificada em diferentes níveis, tanto nas arquibancadas dos autódromos quanto diante da televisão. Nos circuitos, o grupo dos torcedores de até 25 anos de idade cresceu 21% em apenas um ano, entre as temporadas de 2021 e 2022. Nas transmissões, a audiência aumentou 44% entre fãs de até 35 anos, entre 2018 e o ano passado. Atualmente, essa faixa etária corresponde a 26% do total dos espectadores.

Desde que passou para as mãos dos americanos da Liberty Media, em 2016, a Fórmula 1 começou a se preocupar com o engajamento de novos públicos. A categoria vem investindo em vídeos nas redes sociais, principalmente no TikTok, em novas formas de filmar carros e equipes e em gráficos mais agradáveis e acessíveis para os fãs tanto na TV quanto nos celulares. Os efeitos desta busca por um público mais jovem são sentidos pela direção da categoria.

Torcedoras da Ferrari acompanham corrida em Ímola da varanda de apartamento. "Vivo com emoções que Ferrari nem mesmo sabe que me dá", diz o cartaz. Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

O público mais jovem também é mais feminino. No total, segundo informou a F-1 ao Estadão, 40% de todos os fãs são mulheres atualmente - um crescimento de 32% em relação a 2017, o primeiro ano da gestão da Liberty Media na categoria. Nas arquibancadas, elas são 25% do total - eram 17% na mesma temporada de 2017. No GP da Inglaterra do ano passado, disputado no circuito de Silverstone, o público feminino atingiu 39% do total, enquanto o GP da Austrália contou com 34%.

Em Mônaco, torcedora tira foto com Lewis Hamilton, heptacampeão mundial de F-1. Foto: Piroschka Van De Wouw/ Reuters

Esta mudança no perfil dos seguidores da F-1 também é vista no Brasil. Se em 2021, 20,7% dos torcedores no Autódromo de Interlagos eram mulheres, em 2022, esse percentual saltou para 36,4%. Quanto à idade desses mesmos fãs, em 2021, 33,1% dos presentes tinham entre 18 e 29 anos. Na última edição, no ano passado, o percentual foi de 44,1%.

O que explica a conquista de novos públicos pela Fórmula 1?

Não há somente um fator para explicar essa mudança de público. A Fórmula 1 é uma das marcas que melhor sabe usar as redes sociais a seu favor. Essa ferramenta não está limitada à organização da categoria, mas a seus participantes, pilotos e escuderias. Eles dão vazão ao mesmo propósito e encontraram uma forma orgânica de reunir as características necessárias para vincular torcedores à categoria, aos pilotos e equipes.

Nas redes, a Fórmula 1 está bem posicionada entre importantes ligas de diferentes modalidades esportivas. Ainda atrás de marcas do futebol e basquete, a categoria já ameaça o UFC e o futebol americano (NFL) e deixa para trás Bundesliga (Campeonato Alemão), Serie A (Campeonato Italiano) e Ligue 1 (Campeonato Francês), por exemplo.

Como ‘Drive to Survive’ ajudou a F-1 a conquistar novos fãs?

Outro fator para explicar o sucesso da F-1 é a série “Drive to Survive”. A produção da Netflix, lançada em 2019, apresentou, de forma polêmica e por vezes contraditória, o cotidiano dos pilotos e os aproximou dos fãs. Conhecer seus hábitos, hobbies e preferências criou uma nova forma de se identificar com a modalidade.

A revolução na comunicação que acompanhou as inserções tecnológicas modernas ajudou a F-1 a mudar de patamar. Marcas do mundo todo têm, dia após dia, de se aperfeiçoar para obter novos clientes e fãs. Se dentro das pistas, a F-1 ainda não conseguiu se livrar totalmente da monotonia da última década, fora delas conta com inúmeros atores que ajudam no processo de inovação e a construir uma imagem mais próxima entre ídolos e fãs. Eles estão nas redes e se mostram como todos. Isso era impensável no passado.

As formas de divulgar a imagem da Fórmula 1 conta com ingredientes americanizados. Conhecidos por fazerem os melhores e mais atrativos espetáculos e shows, os EUA sabem referendar iniciativas pelas quais a Liberty Media tem introduzido a categoria a novos públicos.

Essa conversa, porém, oferece obstáculos, atalhos e limites. Um dos atalhos bem planificados responde pela série “Drive to Survive”. O produto da Netflix está em sua quinta temporada e sempre divulga seus episódios semanas antes da estreia de um novo ano na F-1. Acompanhar os pilotos nos bastidores e as polêmicas - factuais e muitas vezes exageradas - ganha olhares redobrados e serve para aquecer os motores para o novo campeonato.

Os limites, no entanto, ainda têm sido testados. Atual bicampeão da Fórmula 1 e em caminho promissor para o terceiro título consecutivo, o holandês Max Verstappen não escondeu seu descontentamento com a produção da série e negou sua participação na temporada passada após ter visto a produção desenhá-lo como vilão.

Após chegar a um novo acordo, o piloto da Red Bull aceitou retornar às filmagens. “Como campeão, preciso participar de um produto como este, tão importante para a popularidade da F-1. Quero aparecer como realmente sou. Os diretores da série entenderam meu ponto de vista, assim como compreendo a necessidade de tornar as histórias espetaculares. Mas me importo com uma imagem verdadeira”, afirmou o holandês.

Verstappen não foi o único a criticar “Drive to Survive”. Seu companheiro de equipe, Sergio Pérez, afirmou à ESPN em 2022 que a produção havia ido “longe demais”. “Eles tentaram criar muito drama em uma temporada que já era dramática o suficiente”, disse o mexicano à época.

F-1 planeja novidade para público infantil

Os planos para rejuvenescer o público da F-1 são de longo prazo. Nesta semana, a direção do campeonato anunciou uma transmissão especial para crianças. Pela primeira vez na história, a categoria vai se debruçar sobre o público infantil no GP da Hungria, entre os dias 21 e 23 de julho.

A transmissão, segundo a F-1, terá gráficos especiais, efeitos sonoros e “recursos especiais”, como gráficos 3D, para captar a atenção da garotada. Inicialmente, o teste vai acontecer somente para o público da Inglaterra e da Alemanha.

Max Verstappen tira fotos com fãs mirins no circuito de Montemeló, em Barcelona. Foto: Joan Monfort/ AP

Para facilitar a proximidade com o novo público, dois apresentadores mirins conhecidos das crianças britânicas, Braydon Bent e Scarlett Archer, vão comandar atrações no paddock, ao lado do alemão Nico Rosberg, campeão da F-1 em 2016 e atualmente aposentado, e da americana Danica Patrick, que correu de Indy. Estão previstas até entrevistas das crianças com os pilotos atuais do grid.

“Queremos garantir que nossos fãs de todas as idades possam curtir e se apaixonar pela F-1. Este será a primeira iniciativa do tipo no automobilismo e estou empolgado para ver esta transmissão ganhando vida”, afirmou Ian Holmes, diretor de Mídia e Conteúdo da F-1.

Quais os pilotos mais populares da F-1?

A Fórmula 1 responde por fenômenos dentro e fora dos cockpits. Alguns, mesmo sem vitórias ou feitos memoráveis esportivamente, conseguem atrair a atenção de muitos fãs. Enquanto o heptacampeão mundial Lewis Hamilton lidera com folga a lista de pilotos mais seguidos da categoria no Instagram, com 32,8 milhões, a briga pela segunda posição está mais parelha. Charles Leclerc, da Ferrari, é um exemplo de popstar que consolidou sua imagem como garoto-propaganda da escuderia de Maranello ao mesmo tempo que sofre para obter bons resultados. O monegasco conta com 11 milhões de seguidores na rede.

Verstappen não é o piloto mais simpático da categoria. Entre raros sorrisos, o holandês tem construído seu bloco de apoiadores, que pintam os céus das corridas europeias de laranja, graças a sua fome de vitórias e estilo arrojado. Com 9,7 milhões de seguidores, Max está na terceira posição desse ranking.

O quarto colocado em popularidade tampouco une resultados e um perfil afável, mas Carlos Sainz Jr. possui a marca Ferrari como sustentáculo nas redes sociais e conta com 6,7 milhões de fãs. Esses caras levam os torcedores para os autódromos e também para diante da TV aos domingos.

O quinto ranqueado se apresenta com um perfil semelhante ao de Leclerc. Lando Norris é jovem, tem 23 anos, despeja bom humor e angaria fãs a partir da sua personalidade comunicativa. Muitos dos 6,1 milhões de fãs sofrem com Norris a cada corrida perdida pela McLaren e milésimos desperdiçados nas disputas por melhores posições no grid.

F-1 muda foco com a Liberty Media e tem nos EUA sua grande fortaleza

O foco da Fórmula 1 está nos Estados Unidos, um povo apaixonado por carros e corridas. O país havia ficado fora da categoria entre 2007 e 2012. O Oriente Médio também estava ‘abandonado’. As duas regiões correspondem atualmente a 32% do calendário da categoria.

Neste ano, os americanos vão receber três provas. Uma delas já foi realizada, a de Miami. As outras ainda acontecem em Austin, no Texas (22 de outubro), e em Las Vegas, Nevada (18 de novembro). Arábia Saudita e Bahrein inauguraram a temporada atual, enquanto Catar (8 de outubro) e Emirados Árabes Unidos (26 de novembro) estarão nos momentos decisivos do ano.

Por um bom tempo, quando ainda estava nas mãos de Bernie Ecclestone, a missão da F-1 tinha como alvo a Ásia Oriental e o Sudeste Asiático. Autódromos foram construídos do zero, não trouxeram resultados e culminaram na desistência de sediar provas na Coreia do Sul, Índia, Malásia, entre outros lugares. Para fins de comparação, seis das 19 provas de 2013 (há uma década, portanto) se concentravam nesse mercado. O número reproduz um percentual semelhante, de 31,5%. Em 2023, somente Cingapura e Japão continuam recebendo corridas na região.

A geografia da F-1 também sofreu alteração. A categoria vai a regiões do planeta mais carentes de eventos esportivos de grande porte. A tendência também é válida para o futebol, que fez Copas do Mundo em países de menor tradição, como Rússia e Catar.

A América do Sul, porém, segue desprestigiada, só fica à frente da África, que não tem uma corrida sequer. No Brasil, dos campeões Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, a falta de um piloto local no grid enfraqueceu o desempenho junto aos patrocinadores e chefões da modalidade.

Porém, o Autódromo de Interlagos recebeu nos últimos anos corridas emocionantes com as disputas entre Hamilton e Verstappen, em 2021, e a vitória inédita de George Russell, em 2022. O autódromo registrou público de 235.617 espectadores nos três dias de evento do Grande Prêmio de São Paulo da última temporada. Em 2021, foram 181.711 presentes em Interlagos, ainda com as restrições da pandemia. A organização do evento investe em acordos publicitários para ampliar as áreas que podem receber torcedores e espera bater novos recordes ao longo do contrato, até 2025.

George Russell comemora vitória no Grande Prêmio de São Paulo com o público em Interlagos. Foto: Marcelo Chello/ AP

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