A Fórmula 1 inicia na Hungria a segunda metade da temporada 2024, em um fim de semana que pode se tornar também um dos mais decisivos do ano — certamente, já o é para muita gente do grid. Dessa forma, não foi uma surpresa entender a opção da Red Bull em levar a Budapeste um robusto pacote de atualizações para o RB20. A ideia é tentar retomar o caminho de domínio do início do ano e neutralizar a cada vez mais forte McLaren. Por ora, apenas Max Verstappen recebeu todas as novidades e terminou os treinos livres desta sexta-feira, 19, com um sorriso no rosto, ainda que a melhor volta do dia tenha ficado com Lando Norris. Mais uma vez, o Mundial caminha para um embate entre as duas ponteiras.
A atual campeã do mundo conduziu uma profunda mudança para a Hungria. Parte das atualizações são muito particulares. Ou seja, elementos próprios para a melhor performance em um circuito travado como o de Hungaroring, porém a maior parte das alterações foi pensada para ampliar a condição geral do RB20, quando voltando ao conceito do bem-sucedido RB19 — vencedor de 21 das 22 etapas de 2023. De maneira global, os engenheiros comandados por Pierre Waché revisaram a cobertura do motor, o halo, entradas de ar traseira e dianteira e também na asa dianteira, além dos dutos de freios. Tudo em uma tentativa de melhorar o fluxo do ar e, portanto, chegar a uma maior eficiência aerodinâmica.
Houve também um trabalho delicado com relação ao sistema de resfriamento — esse é um elemento complexo desse modelo taurino e que atende muito bem à demanda do motor Honda. Não à toa, a equipe pensou em melhorias na Hungria, onde as temperaturas do verão europeu estão muito altas. A confiabilidade é palavra de ordem, especialmente diante da situação de Verstappen, que já está na quarta unidade de potência.
O tricampeão da Red Bull aprovou as mudanças, embora ainda entenda que a esquadra precise de mais tempo de avaliação. Foi interessante perceber durante o segundo treino, especialmente, que a velocidade de reta e nos trechos mais rápidos do circuito segue intacta, enquanto o RB20 ainda perde para a McLaren nas curvas de baixa da pista húngara. Max também precisou de mais uma volta no pneu macio para chegar no tempo que lhe deu a segunda posição na tabela — o piloto pegou trânsito no giro inicial, mas, ainda assim, foi capaz de ficar a 0s2 de Norris. Agora, o ritmo de corrida impressionou, curiosamente com Sergio Pérez.
O mexicano, que vive sob a ameaça do desemprego na Red Bull, se mostrou mais à vontade — ele não tem todas as novidades no carro, mas também recebeu alguns componentes, além da asa e do assoalho. Checo fechou o dia em quarto, um pouco mais perto de Verstappen em desempenho de volta única e foi mais rápido que o colega de garagem nos ensaios em condição de corrida.
Apesar de liderar nesse quesito, a vantagem da Red Bull é pequena na comparação com a McLaren: menos de 0s1. O problema aqui é que a equipe inglesa optou por usar os pneus duros com Norris, enquanto os taurinos calçaram os médios. Os pneus devem combinar a estratégia para o domingo. É importante também destacar que o time de Andrea Stella está muito bem, obrigada. Em uma pista diferente, o MCL38 apresentou de novo uma grande performance, especialmente em ritmo de classificação. Lando dominou a folha de tempos com 1min17s788 — foi o único a andar nessa marca.
O caso é que a McLaren parece bastante confortável nos trechos de baixa e média velocidade, além de se adaptar melhor às altas temperaturas. Mas há algumas ressalvas. A primeira delas é Oscar Piastri. O australiano viveu um dia agitado, marcado por problemas de confiabilidade e foi apenas o 13º. A decisão de usar os pneus duros na sexta-feira também inspira preocupação, pois será um composto importante para a corrida e agora há apenas um jogo. Diante disso, a classificação será fundamental.
Logo atrás das duas rivais, está a Mercedes. A equipe que venceu as duas últimas corridas tenta se encontrar em um circuito também difícil, levando em conta a natureza do revisado W15. Lewis Hamilton foi o sétimo colocado do dia e se queixou da configuração do carro. George Russell, quinto na tabela, foi na mesma linha, mas apontou para um problema maior: o calor. O calcanhar de Aquiles da esquadra alemã. E de fato, será um desafio.
Segundo a Pirelli, a sexta-feira em Budapeste registrou a terceira maior temperatura de pista desde que a fornecedora italiana retornou à Fórmula 1 em 2011. Os 59,7°C vistos no primeiro treino livre só foram superados pelos 60°C no GP da Hungria de 2018 e os 61°C no primeiro treino livre na Malásia de 2016.
“Houve uma diferença significativa entre 10 e 15°C entre as temperaturas nas duas sessões de hoje, amenizada pela cobertura parcial de nuvens na segunda hora. É um dado importante ao analisar os dados, também tendo em conta o fato de a classificação começar às 16h (locais) e a corrida de domingo às 15h, mesmo que a previsão meteorológica seja de uma ligeira queda na temperatura do ar para o sábado, antes de ver uma repetição dos números desta sexta no domingo”, explicou a Pirelli.
Quer dizer, a Mercedes terá de encontrar uma forma de lidar melhor com o calor se quiser evoluir ao longo do fim de semana, mas já conta com uma boa notícia, ao menos para a definição das posições de largada. Em termos de performance em prova, Hamilton e Russell conduziram programas diferentes. Enquanto o heptacampeão andou com os pneus macios, o vencedor do GP da Áustria foi de médios. E de fato, como Lewis afirmou após o TL2, o desempenho é bem decente, embora sustente uma diferença de 0s3 para a Red Bull. Por outro lado, o time possui um ritmo 0s2 melhor que a Ferrari.
E falando nos italianos, a sexta-feira foi de sensações mistas. A escuderia também levou atualizações, sendo a mais importante o assoalho. O objetivo é voltar ao ponto em que estava em Mônaco. Afinal, circuitos travados parecem ser a força da SF-24. Carlos Sainz foi quem melhor se saiu nos treinos ao terminar o dia em terceiro, provando que há performance em volta única. No entanto, a equipe perdeu muito com a violenta pancada de Charles Leclerc na primeira parte do TL2. Quer dizer, Frédéric Vasseur e seus comandados terão trabalho em Budapeste.
Por fim, destaque positivo para a Haas, que colocou Kevin Magnussen na sexta colocação da tabela de tempos, comprovando a boa performance em classificação. O ponto negativo do dia vai para a Aston Martin. As atualizações não surtiram efeito neste primeiro momento, e Fernando Alonso já demonstra cada vez menos paciência.