Max Verstappen é um piloto inigualável no contexto da Fórmula 1 atual. Observado o histórico de grandes nomes da categoria, já há um lugar para o holandês no hall dos maiores de todos os tempos. Seu estilo de pilotagem indomável foi um terremoto para o heptacampeão Lewis Hamilton há três anos e não deu chances para concorrentes da nova geração, como Lando Norris e Charles Leclerc, que se veem ofuscados diante de alguém com tal mentalidade.
Apesar do carro menos confiável dos últimos anos, Verstappen foi capaz de sustentar sua Red Bull em boas posições mesmo quando não conseguiu ir ao pódio. A corrida no Brasil, no início do mês, foi uma fotografia perfeita sobre quem é Max. O arrojo do holandês o permite ser o melhor faça chuva ou faça sol. O melhor piloto nem sempre vence a corrida, mas o melhor sempre faz de tudo - algumas vezes mais do que deveria - para ocultar suas fragilidades e demonstrar aos que tentam ultrapassá-lo que ele ainda é a autoridade nas pistas.
Verstappen tem, instintivamente, virtudes e vícios que outros campeões da Fórmula 1 também cultivaram. Chamado pelo campeão mundial Damon Hill de “Dick Vigarista”, como o personagem de desenhos animados de Hanna-Barbera, o holandês reagiu e disse “saber o que está fazendo". O que alguns apontam como ações para trapacear, Max enxerga como forma de domínio, frieza, estratégia vencedora e forma de proteger seu habitat.
Ayrton Senna, Michael Schumacher e Alain Prost também agiram muitas vezes de maneira eticamente contestável, dentro e fora das pistas, para levar vantagem. Não por isso os três deixam de constar no elenco dos melhores de todos os tempos na Fórmula 1. Ao contrário, talvez por isso estejam nessa lista.
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Pesou contra a imagem do tetracampeão a roupagem dada a seu personagem em Drive to Survive, da Netflix, em um momento em que coincidiram sua ascensão e o surgimento de uma nova geração de fãs criada e condicionada pelo que se reproduzia na série documental. Esse perfil arisco, egoísta e impiedoso pode confundir quem não está conectado com o automobilismo ou passou a acompanhar o circo da Fórmula 1 recentemente.
Além de Verstappen, apenas o argentino Juan Manuel Fangio, os alemães Michael Schumacher e Sebastian Vettel e o britânico Lewis Hamilton conquistaram quatro títulos consecutivos na Fórmula 1. Um feito incomum para o século passado que se tornou clichê a partir dos anos 2000. Nas últimas 25 temporadas, a Fórmula 1 teve oito campeões. Nas 25 temporadas anteriores, foram 14 os pilotos que faturaram o título.
A Fórmula 1 é terra de soberanias e se arquiteta sob eras de dominação. Muitas delas construídas em uma mesma temporada e outras tantas em seguidos anos. Em 1988, as McLarens de Senna e Prost ganharam 15 das 16 corridas. A Mercedes foi campeã de construtores de 2014 a 2021. Em 2023, Verstappen faturou 19 dos 22 Grandes Prêmios. Mas foi agora, na atual temporada, que o holandês provou que não é apenas a máquina que faz um campeão. Um piloto dessa natureza competitiva controla qualquer ameaça a seu reinado e, se necessário for, se impõe como a figura hegemônica a ocupar o único trono disponível.