Valeu ficar acordado até a madrugada, mesmo que tenha sido só para acompanhar dez voltas, cerca de 20% da duração daquele GP do Japão de 1991, em Suzuka. O pouco tempo de angústia para o desfecho e um esquisito segundo lugar no resultado final deram naquela ocasião a Ayrton Senna, da McLaren, o terceiro título mundial na Fórmula 1, há exatos 25 anos.
A conquista não precisou do lugar mais alto do pódio, nem da bandeirada final. Na 10ª volta, como o concorrente direto ao título, Nigel Mansell, ficou fora da prova, o campeonato estava encerrado com uma etapa de antecedência. O inglês da Williams se perdeu na curva logo após a reta dos boxes, não conseguiu sair da caixa de brita e, assim, deixou Senna confortável para guiar o carro já no posto de campeão daquela temporada.
Ayrton Senna do Brasil
Naquela virada de noite de 19 para 20 de outubro o torcedor atento à televisão viu o título ser mais rápido e fácil do que parecia. O resultado veio cedo, ao contrário da longa espera iniciada desde então. A conquista de Senna foi o último título brasileiro na categoria. Jamais algum representante do País repetiu o feito alcançado três vezes pelo piloto, morto em acidente em 1994.
A decisão do título de 1991 coroou o favorito em prova que teve um episódio marcante nos metros finais entre os dois pilotos da McLaren. Senna, então o líder da corrida, tirou o pé do acelerador para permitir a ultrapassagem do austríaco Gerhard Berger na reta final. Foi uma ordem da equipe transmitida pelo rádio dos boxes e cumprida pelo brasileiro, embora sem grande empolgação.
A cooperação entre os dois colegas norteou as ordens da McLaren naquela temporada. Antes da largada em Suzuka, por exemplo, a estratégia era para o pole position, Berger, e o segundo colocado, Senna, continuarem com as respectivas posições para colocarem pressão no terceiro lugar, Mansell. O inglês, conhecido como "Leão", precisava ganhar para continuar com chance de título, mas movido pelo nervosismo, errou logo cedo e deixou a competição.
A temporada mais regular de Senna, ganhador das quatro primeiras etapas, terminou em Suzuka com uma certa 'obediência rebelde' às ordens da escuderia. A McLaren queria colocar a dupla nas duas primeiras posições e ordenou para o brasileiro devolver a liderança tomada de Berger na 18ª volta. O campeão daquele ano relutou e tentou se fazer de desentendido, até ceder somente a metros do fim, em ultrapassagem questionada na época no ambiente da Fórmula 1.
A ordem de chegada em Suzuka pouco alterou a temporada espetacular de Senna. O tricampeão realizou meses antes do GP do Japão o sonho de ganhar pela primeira vez no Brasil, em Interlagos, fora fechar o ano com sete vitórias e 12 pódios nas 16 etapas do calendário. O retorno ao Brasil, semanas depois da conquista em Suzuka, foi com muita festa nas ruas de São Paulo.
JEJUM Desde 1991 o Brasil não comemorou mais títulos mundiais na Fórmula 1. Nesses 25 anos seguintes à conquista em Suzuka, o País alcançou quatro vices. O próprio Senna ficou em segundo lugar no campeonato de 1993, superado pelo francês Alain Prost. Rubens Barrichello, em 2002 e 2004, viu Michael Schumacher se sagrar campeão. Já em 2008, Felipe Massa perdeu por apenas um ponto para Lewis Hamilton.