Lenda cubana do vôlei recorda briga com brasileiras e cita torcida por Márcia Fu em ‘A Fazenda’


Considerada umas das melhores jogadoras da história, tricampeã olímpica Mireya Luis fala ao ‘Estadão’ sobre duelo emblemático com o Brasil em Atlanta, revela carinho por adversárias e comenta momento do esporte em Cuba

Por Rodrigo Sampaio
Atualização:
Foto: WERTHER
Entrevista comMireya LuisEx-jogadora de vôlei

Mireya Luis, lenda do vôlei de Cuba e considerada uma das melhores jogadoras de todos os tempos, está no Brasil para uma série de palestras e atividades na 29ª edição do Sesc Verão 2024. Tricampeã olímpica e bicampeã mundial, a ex-atleta de 56 anos falou ao Estadão sobre a sua trajetória vitoriosa nas quadras, a crise do esporte cubano, a histórica “peleja” com a seleção brasileira na semifinal das Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996, além da sua expectativa para os Jogos de Paris.

Enquanto esteve em atividade, nas décadas de 1980 e 1990, Mireya compensou a baixa estatura para a modalidade (1,75m) com grande vigor físico. Na função de ponteira, a cubana se destacou pelos saltos que chegavam a um metro do chão, e por ataques potentes, a cerca de 3,35 metros, praticamente indefensáveis. Natural de Camaguey, uma das maiores cidades da ilha caribenha, ela conta que começou a praticar esportes ainda pequena, com apenas dez anos, e o contato com o vôlei aconteceu por influência da irmã.

“Dei os meus primeiros passos em uma escola de iniciação esportiva, que haviam em todas as províncias do meu país, especificamente para atletas. Tive treinadores que me ajudaram muito no meu desenvolvimento. Fiquei cinco anos nesta escola, representando minha província, com quatro medalhas de ouro e uma bronze. Aos 15, fui chamada para fazer uma prova para fazer parte da seleção nacional. Não tinha muita perspectiva porque eu era muito pequena, mas acabei passando”, conta.

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Ex-jogadora de vôlei Mireya Luis, considerada a melhor de todos os tempos, está no Brasil para atividades do Sesc Verão.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

A primeira medalha de ouro de Mireya com a seleção cubana veio em 1983, nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, com apenas 16 anos. Foi o início de uma era vitoriosa para o país, que se tornou referência na modalidade e abocanhou diversos títulos, incluindo o tetracampeonato consecutivo do torneio sul-americano. A jogadora rapidamente foi reconhecida por imprensa e adversários como a melhor daquele time, sendo crucial para a equipe subir três vezes seguidas ao lugar mais alto do pódio em Olimpíadas (Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000), e duas em campeonatos mundiais (Brasil-1994 e Japão-1998).

Para Mireya, o sucesso daquela equipe só foi possível por causa do incentivo ao esporte na educação pública de Cuba sob o comando de Fidel Castro (1926-2016), como primeiro-ministro, entre 1959 e 1976, e depois presidente, de 1976 a 2008. “(Fidel) foi um impulsor do esporte e sabia que nosso país era reconhecido pelos grandes atletas. Sempre recebemos apoio total do governo, e acredito que o êxito em conquistar tantas medalhas foi por causa disso”, afirma.

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Mireya deu adeus às quadras em 2001 e, coincidentemente, Cuba perdeu o posto de protagonista no vôlei feminino, ao mesmo tempo em que seleções como Brasil, EUA e Japão começaram a ganhar maior destaque. O país também determina que atletas em ligas estrangeiras, financeiramente mais rentáveis, abram mão da seleção, ocasionado na perda de talentos para outras nações — Itália e Polônia são algumas das seleções com cubanos naturalizados.

A grave crise econômica vivida por Cuba nos últimos anos, a mais grave em três décadas, também provocou um êxodo em massa da ilha caribenha, especialmente de jovens. Somente no Pan de Santiago, em 2023, oito atletas cubanos ficaram no Chile para pedir asilo ou refúgio. De 2022 para cá, 187 esportistas já deixaram Cuba, segundo dados oficiais. Entre eles o boxeador Andy Cruz, considerado por muitos o melhor do país.

“Cuba vive um momento difícil na Economia, e o esporte não está alheio a isso, pois precisa de muitos recursos para se sustentar. Sempre tivemos um sistema que nos apoiou, e não deixamos de ter esse sustento, mas já não é o mesmo dos anos anteriores. Então, muitos atletas decidem buscar outra forma de vida”, diz Mireya. “Os atletas cubanos sempre foram de alto nível, e por isso também sofrem assédio e são perseguidos por outras ligas e países.”

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Mireya Luis é tricampeã olímpica e bicampeã mundial por Cuba.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

BRIGA EM ATLANTA

Ao longo de sua carreira, Mireya Luis protagonizou inúmeros confrontos com o Brasil, que considera um dos adversários mais difíceis que já enfrentou. O duelo mais emblemático entre brasileiras e cubanas aconteceu na semifinal da Olimpíada de Atlanta. A partida ficou marcada por provocações de ambos os lados, alimentada pela crescente rivalidade entre as equipes. Além de Mireya, o time cubano contava com outros nomes importantes, como Regla Torres, Yumilka Ruiz, Raisa O’Farril (1972 - 2023) e Mirka Francia.

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Ana Moser, com dedo em riste, reclamou de ter recebido uma bolada de Mireya de maneira proposital no ponto decisivo. Márcia Fu e Ana Paula Henkel foram tirar satisfações com as cubanas e a confusão se estendeu ao vestiário. Segundo a cubana, as jogadoras foram às vias de fato quando estavam longe das câmeras.

“Recordo bem daquela semifinal, e é como reviver tudo mais uma vez agora que estou aqui no Brasil. Lembro que quando marquei o último ponto, a Ana Moser, a Márcia e Ana Paula começaram partiram para cima da gente e nós começamos a brigamos com elas também e nos vestiário houve o ‘corpo a corpo’“, recorda Mireya, aos risos. “Foi um momento tenso, de muita adrenalina, mas também foi um exemplo de como se deve defender uma medalha olímpica.”

Ana Moser e Mireya Luis discutem durante semifinal do vôlei feminino na Olimpíada de Atlanta.  Foto: LULUDI/AE
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Apesar da tensão daquela partida, Mireya garante que tudo ficou no passado. A cubana já se reencontrou com Ana Moser diversas vezes desde então e registrou o encontro em suas redes sociais. Ela também conta que acompanhou a trajetória de Márcia Fu no reality show “A Fazenda”, da Rede Record, e que torceu pela brasileira — a ex-jogadora terminou em terceiro lugar e ficou marcada por resgatar a música “Escrito nas Estrelas”, sucesso na voz de Tetê Espíndola, em 1985.

“Nós seguimos com a mesma amizade, respeito e carinho que sempre sentíamos umas pelas outras. Foram duas equipes fortes e que tiveram a oportunidade de competir em grandes torneios, em alto nível. Para mim, as brasileiras são minhas irmãs de luta e sinto muito orgulho disso”, afirma.

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PÓS-CARREIRA E JOGOS DE PARIS

Mireya atualmente integra o Comitê Olímpico Internacional (COI) e atua no desenvolvimento do vôlei de praia da Federação Cubana. Em 2016, ela esteve no Brasil para atuar como comentarista dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no canal Fox. Naquele mesmo ano, lançou sua biografia “Entre Cielo y Tierra”, escrita pelo jornalista cubano Oscar Sánchez Serra.

A ex-jogadora lamenta a ausência do vôlei de Cuba na Olimpíada de Paris, marcada para acontecer entre 24 de julho e 11 de agosto. Ao ser questionada qual seleção é a favorita para vencer a medalha de ouro na capital francesa, Mireya pondera. “Difícil... O vôlei atualmente tem equipes bastante parelhas, como a Turquia, Sérvia, Rússia, China, Estados Unidos e, claro, o Brasil”, diz a ex-jogadora. “Prefiro não me ‘adiantar’”, brinca.

Com apenas 1,75 de altura, Mireya Luis se destacou pela impulsão nos saltos e saques potentes.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do alto de sua experiência em Jogos Olímpicos, Mireya dá a receita para quem deseja terminar a competição com a medalha no peito. “Treinar 365 dias por ano, ao máximo, todos os dias, por quatro anos.”

Mireya Luis fica no Brasil até o dia 21 de janeiro e participa de mais três datas da programação do Sesc Verão 2024. Confira a agenda abaixo.

  • Dia 18/1 (quinta), das 19h às 21h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc Piracicaba
  • Dia 20/1 (sábado), das 16h às 18h30 - Mireya e Spence Lee - Sesc Taubaté
  • Dia 21/1 (domingo), das 15h30 às 18h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc São José dos Campos

Mireya Luis, lenda do vôlei de Cuba e considerada uma das melhores jogadoras de todos os tempos, está no Brasil para uma série de palestras e atividades na 29ª edição do Sesc Verão 2024. Tricampeã olímpica e bicampeã mundial, a ex-atleta de 56 anos falou ao Estadão sobre a sua trajetória vitoriosa nas quadras, a crise do esporte cubano, a histórica “peleja” com a seleção brasileira na semifinal das Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996, além da sua expectativa para os Jogos de Paris.

Enquanto esteve em atividade, nas décadas de 1980 e 1990, Mireya compensou a baixa estatura para a modalidade (1,75m) com grande vigor físico. Na função de ponteira, a cubana se destacou pelos saltos que chegavam a um metro do chão, e por ataques potentes, a cerca de 3,35 metros, praticamente indefensáveis. Natural de Camaguey, uma das maiores cidades da ilha caribenha, ela conta que começou a praticar esportes ainda pequena, com apenas dez anos, e o contato com o vôlei aconteceu por influência da irmã.

“Dei os meus primeiros passos em uma escola de iniciação esportiva, que haviam em todas as províncias do meu país, especificamente para atletas. Tive treinadores que me ajudaram muito no meu desenvolvimento. Fiquei cinco anos nesta escola, representando minha província, com quatro medalhas de ouro e uma bronze. Aos 15, fui chamada para fazer uma prova para fazer parte da seleção nacional. Não tinha muita perspectiva porque eu era muito pequena, mas acabei passando”, conta.

Ex-jogadora de vôlei Mireya Luis, considerada a melhor de todos os tempos, está no Brasil para atividades do Sesc Verão.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

A primeira medalha de ouro de Mireya com a seleção cubana veio em 1983, nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, com apenas 16 anos. Foi o início de uma era vitoriosa para o país, que se tornou referência na modalidade e abocanhou diversos títulos, incluindo o tetracampeonato consecutivo do torneio sul-americano. A jogadora rapidamente foi reconhecida por imprensa e adversários como a melhor daquele time, sendo crucial para a equipe subir três vezes seguidas ao lugar mais alto do pódio em Olimpíadas (Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000), e duas em campeonatos mundiais (Brasil-1994 e Japão-1998).

Para Mireya, o sucesso daquela equipe só foi possível por causa do incentivo ao esporte na educação pública de Cuba sob o comando de Fidel Castro (1926-2016), como primeiro-ministro, entre 1959 e 1976, e depois presidente, de 1976 a 2008. “(Fidel) foi um impulsor do esporte e sabia que nosso país era reconhecido pelos grandes atletas. Sempre recebemos apoio total do governo, e acredito que o êxito em conquistar tantas medalhas foi por causa disso”, afirma.

Mireya deu adeus às quadras em 2001 e, coincidentemente, Cuba perdeu o posto de protagonista no vôlei feminino, ao mesmo tempo em que seleções como Brasil, EUA e Japão começaram a ganhar maior destaque. O país também determina que atletas em ligas estrangeiras, financeiramente mais rentáveis, abram mão da seleção, ocasionado na perda de talentos para outras nações — Itália e Polônia são algumas das seleções com cubanos naturalizados.

A grave crise econômica vivida por Cuba nos últimos anos, a mais grave em três décadas, também provocou um êxodo em massa da ilha caribenha, especialmente de jovens. Somente no Pan de Santiago, em 2023, oito atletas cubanos ficaram no Chile para pedir asilo ou refúgio. De 2022 para cá, 187 esportistas já deixaram Cuba, segundo dados oficiais. Entre eles o boxeador Andy Cruz, considerado por muitos o melhor do país.

“Cuba vive um momento difícil na Economia, e o esporte não está alheio a isso, pois precisa de muitos recursos para se sustentar. Sempre tivemos um sistema que nos apoiou, e não deixamos de ter esse sustento, mas já não é o mesmo dos anos anteriores. Então, muitos atletas decidem buscar outra forma de vida”, diz Mireya. “Os atletas cubanos sempre foram de alto nível, e por isso também sofrem assédio e são perseguidos por outras ligas e países.”

Mireya Luis é tricampeã olímpica e bicampeã mundial por Cuba.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

BRIGA EM ATLANTA

Ao longo de sua carreira, Mireya Luis protagonizou inúmeros confrontos com o Brasil, que considera um dos adversários mais difíceis que já enfrentou. O duelo mais emblemático entre brasileiras e cubanas aconteceu na semifinal da Olimpíada de Atlanta. A partida ficou marcada por provocações de ambos os lados, alimentada pela crescente rivalidade entre as equipes. Além de Mireya, o time cubano contava com outros nomes importantes, como Regla Torres, Yumilka Ruiz, Raisa O’Farril (1972 - 2023) e Mirka Francia.

Ana Moser, com dedo em riste, reclamou de ter recebido uma bolada de Mireya de maneira proposital no ponto decisivo. Márcia Fu e Ana Paula Henkel foram tirar satisfações com as cubanas e a confusão se estendeu ao vestiário. Segundo a cubana, as jogadoras foram às vias de fato quando estavam longe das câmeras.

“Recordo bem daquela semifinal, e é como reviver tudo mais uma vez agora que estou aqui no Brasil. Lembro que quando marquei o último ponto, a Ana Moser, a Márcia e Ana Paula começaram partiram para cima da gente e nós começamos a brigamos com elas também e nos vestiário houve o ‘corpo a corpo’“, recorda Mireya, aos risos. “Foi um momento tenso, de muita adrenalina, mas também foi um exemplo de como se deve defender uma medalha olímpica.”

Ana Moser e Mireya Luis discutem durante semifinal do vôlei feminino na Olimpíada de Atlanta.  Foto: LULUDI/AE

Apesar da tensão daquela partida, Mireya garante que tudo ficou no passado. A cubana já se reencontrou com Ana Moser diversas vezes desde então e registrou o encontro em suas redes sociais. Ela também conta que acompanhou a trajetória de Márcia Fu no reality show “A Fazenda”, da Rede Record, e que torceu pela brasileira — a ex-jogadora terminou em terceiro lugar e ficou marcada por resgatar a música “Escrito nas Estrelas”, sucesso na voz de Tetê Espíndola, em 1985.

“Nós seguimos com a mesma amizade, respeito e carinho que sempre sentíamos umas pelas outras. Foram duas equipes fortes e que tiveram a oportunidade de competir em grandes torneios, em alto nível. Para mim, as brasileiras são minhas irmãs de luta e sinto muito orgulho disso”, afirma.

PÓS-CARREIRA E JOGOS DE PARIS

Mireya atualmente integra o Comitê Olímpico Internacional (COI) e atua no desenvolvimento do vôlei de praia da Federação Cubana. Em 2016, ela esteve no Brasil para atuar como comentarista dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no canal Fox. Naquele mesmo ano, lançou sua biografia “Entre Cielo y Tierra”, escrita pelo jornalista cubano Oscar Sánchez Serra.

A ex-jogadora lamenta a ausência do vôlei de Cuba na Olimpíada de Paris, marcada para acontecer entre 24 de julho e 11 de agosto. Ao ser questionada qual seleção é a favorita para vencer a medalha de ouro na capital francesa, Mireya pondera. “Difícil... O vôlei atualmente tem equipes bastante parelhas, como a Turquia, Sérvia, Rússia, China, Estados Unidos e, claro, o Brasil”, diz a ex-jogadora. “Prefiro não me ‘adiantar’”, brinca.

Com apenas 1,75 de altura, Mireya Luis se destacou pela impulsão nos saltos e saques potentes.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do alto de sua experiência em Jogos Olímpicos, Mireya dá a receita para quem deseja terminar a competição com a medalha no peito. “Treinar 365 dias por ano, ao máximo, todos os dias, por quatro anos.”

Mireya Luis fica no Brasil até o dia 21 de janeiro e participa de mais três datas da programação do Sesc Verão 2024. Confira a agenda abaixo.

  • Dia 18/1 (quinta), das 19h às 21h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc Piracicaba
  • Dia 20/1 (sábado), das 16h às 18h30 - Mireya e Spence Lee - Sesc Taubaté
  • Dia 21/1 (domingo), das 15h30 às 18h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc São José dos Campos

Mireya Luis, lenda do vôlei de Cuba e considerada uma das melhores jogadoras de todos os tempos, está no Brasil para uma série de palestras e atividades na 29ª edição do Sesc Verão 2024. Tricampeã olímpica e bicampeã mundial, a ex-atleta de 56 anos falou ao Estadão sobre a sua trajetória vitoriosa nas quadras, a crise do esporte cubano, a histórica “peleja” com a seleção brasileira na semifinal das Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996, além da sua expectativa para os Jogos de Paris.

Enquanto esteve em atividade, nas décadas de 1980 e 1990, Mireya compensou a baixa estatura para a modalidade (1,75m) com grande vigor físico. Na função de ponteira, a cubana se destacou pelos saltos que chegavam a um metro do chão, e por ataques potentes, a cerca de 3,35 metros, praticamente indefensáveis. Natural de Camaguey, uma das maiores cidades da ilha caribenha, ela conta que começou a praticar esportes ainda pequena, com apenas dez anos, e o contato com o vôlei aconteceu por influência da irmã.

“Dei os meus primeiros passos em uma escola de iniciação esportiva, que haviam em todas as províncias do meu país, especificamente para atletas. Tive treinadores que me ajudaram muito no meu desenvolvimento. Fiquei cinco anos nesta escola, representando minha província, com quatro medalhas de ouro e uma bronze. Aos 15, fui chamada para fazer uma prova para fazer parte da seleção nacional. Não tinha muita perspectiva porque eu era muito pequena, mas acabei passando”, conta.

Ex-jogadora de vôlei Mireya Luis, considerada a melhor de todos os tempos, está no Brasil para atividades do Sesc Verão.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

A primeira medalha de ouro de Mireya com a seleção cubana veio em 1983, nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, com apenas 16 anos. Foi o início de uma era vitoriosa para o país, que se tornou referência na modalidade e abocanhou diversos títulos, incluindo o tetracampeonato consecutivo do torneio sul-americano. A jogadora rapidamente foi reconhecida por imprensa e adversários como a melhor daquele time, sendo crucial para a equipe subir três vezes seguidas ao lugar mais alto do pódio em Olimpíadas (Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000), e duas em campeonatos mundiais (Brasil-1994 e Japão-1998).

Para Mireya, o sucesso daquela equipe só foi possível por causa do incentivo ao esporte na educação pública de Cuba sob o comando de Fidel Castro (1926-2016), como primeiro-ministro, entre 1959 e 1976, e depois presidente, de 1976 a 2008. “(Fidel) foi um impulsor do esporte e sabia que nosso país era reconhecido pelos grandes atletas. Sempre recebemos apoio total do governo, e acredito que o êxito em conquistar tantas medalhas foi por causa disso”, afirma.

Mireya deu adeus às quadras em 2001 e, coincidentemente, Cuba perdeu o posto de protagonista no vôlei feminino, ao mesmo tempo em que seleções como Brasil, EUA e Japão começaram a ganhar maior destaque. O país também determina que atletas em ligas estrangeiras, financeiramente mais rentáveis, abram mão da seleção, ocasionado na perda de talentos para outras nações — Itália e Polônia são algumas das seleções com cubanos naturalizados.

A grave crise econômica vivida por Cuba nos últimos anos, a mais grave em três décadas, também provocou um êxodo em massa da ilha caribenha, especialmente de jovens. Somente no Pan de Santiago, em 2023, oito atletas cubanos ficaram no Chile para pedir asilo ou refúgio. De 2022 para cá, 187 esportistas já deixaram Cuba, segundo dados oficiais. Entre eles o boxeador Andy Cruz, considerado por muitos o melhor do país.

“Cuba vive um momento difícil na Economia, e o esporte não está alheio a isso, pois precisa de muitos recursos para se sustentar. Sempre tivemos um sistema que nos apoiou, e não deixamos de ter esse sustento, mas já não é o mesmo dos anos anteriores. Então, muitos atletas decidem buscar outra forma de vida”, diz Mireya. “Os atletas cubanos sempre foram de alto nível, e por isso também sofrem assédio e são perseguidos por outras ligas e países.”

Mireya Luis é tricampeã olímpica e bicampeã mundial por Cuba.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

BRIGA EM ATLANTA

Ao longo de sua carreira, Mireya Luis protagonizou inúmeros confrontos com o Brasil, que considera um dos adversários mais difíceis que já enfrentou. O duelo mais emblemático entre brasileiras e cubanas aconteceu na semifinal da Olimpíada de Atlanta. A partida ficou marcada por provocações de ambos os lados, alimentada pela crescente rivalidade entre as equipes. Além de Mireya, o time cubano contava com outros nomes importantes, como Regla Torres, Yumilka Ruiz, Raisa O’Farril (1972 - 2023) e Mirka Francia.

Ana Moser, com dedo em riste, reclamou de ter recebido uma bolada de Mireya de maneira proposital no ponto decisivo. Márcia Fu e Ana Paula Henkel foram tirar satisfações com as cubanas e a confusão se estendeu ao vestiário. Segundo a cubana, as jogadoras foram às vias de fato quando estavam longe das câmeras.

“Recordo bem daquela semifinal, e é como reviver tudo mais uma vez agora que estou aqui no Brasil. Lembro que quando marquei o último ponto, a Ana Moser, a Márcia e Ana Paula começaram partiram para cima da gente e nós começamos a brigamos com elas também e nos vestiário houve o ‘corpo a corpo’“, recorda Mireya, aos risos. “Foi um momento tenso, de muita adrenalina, mas também foi um exemplo de como se deve defender uma medalha olímpica.”

Ana Moser e Mireya Luis discutem durante semifinal do vôlei feminino na Olimpíada de Atlanta.  Foto: LULUDI/AE

Apesar da tensão daquela partida, Mireya garante que tudo ficou no passado. A cubana já se reencontrou com Ana Moser diversas vezes desde então e registrou o encontro em suas redes sociais. Ela também conta que acompanhou a trajetória de Márcia Fu no reality show “A Fazenda”, da Rede Record, e que torceu pela brasileira — a ex-jogadora terminou em terceiro lugar e ficou marcada por resgatar a música “Escrito nas Estrelas”, sucesso na voz de Tetê Espíndola, em 1985.

“Nós seguimos com a mesma amizade, respeito e carinho que sempre sentíamos umas pelas outras. Foram duas equipes fortes e que tiveram a oportunidade de competir em grandes torneios, em alto nível. Para mim, as brasileiras são minhas irmãs de luta e sinto muito orgulho disso”, afirma.

PÓS-CARREIRA E JOGOS DE PARIS

Mireya atualmente integra o Comitê Olímpico Internacional (COI) e atua no desenvolvimento do vôlei de praia da Federação Cubana. Em 2016, ela esteve no Brasil para atuar como comentarista dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no canal Fox. Naquele mesmo ano, lançou sua biografia “Entre Cielo y Tierra”, escrita pelo jornalista cubano Oscar Sánchez Serra.

A ex-jogadora lamenta a ausência do vôlei de Cuba na Olimpíada de Paris, marcada para acontecer entre 24 de julho e 11 de agosto. Ao ser questionada qual seleção é a favorita para vencer a medalha de ouro na capital francesa, Mireya pondera. “Difícil... O vôlei atualmente tem equipes bastante parelhas, como a Turquia, Sérvia, Rússia, China, Estados Unidos e, claro, o Brasil”, diz a ex-jogadora. “Prefiro não me ‘adiantar’”, brinca.

Com apenas 1,75 de altura, Mireya Luis se destacou pela impulsão nos saltos e saques potentes.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do alto de sua experiência em Jogos Olímpicos, Mireya dá a receita para quem deseja terminar a competição com a medalha no peito. “Treinar 365 dias por ano, ao máximo, todos os dias, por quatro anos.”

Mireya Luis fica no Brasil até o dia 21 de janeiro e participa de mais três datas da programação do Sesc Verão 2024. Confira a agenda abaixo.

  • Dia 18/1 (quinta), das 19h às 21h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc Piracicaba
  • Dia 20/1 (sábado), das 16h às 18h30 - Mireya e Spence Lee - Sesc Taubaté
  • Dia 21/1 (domingo), das 15h30 às 18h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc São José dos Campos

Mireya Luis, lenda do vôlei de Cuba e considerada uma das melhores jogadoras de todos os tempos, está no Brasil para uma série de palestras e atividades na 29ª edição do Sesc Verão 2024. Tricampeã olímpica e bicampeã mundial, a ex-atleta de 56 anos falou ao Estadão sobre a sua trajetória vitoriosa nas quadras, a crise do esporte cubano, a histórica “peleja” com a seleção brasileira na semifinal das Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996, além da sua expectativa para os Jogos de Paris.

Enquanto esteve em atividade, nas décadas de 1980 e 1990, Mireya compensou a baixa estatura para a modalidade (1,75m) com grande vigor físico. Na função de ponteira, a cubana se destacou pelos saltos que chegavam a um metro do chão, e por ataques potentes, a cerca de 3,35 metros, praticamente indefensáveis. Natural de Camaguey, uma das maiores cidades da ilha caribenha, ela conta que começou a praticar esportes ainda pequena, com apenas dez anos, e o contato com o vôlei aconteceu por influência da irmã.

“Dei os meus primeiros passos em uma escola de iniciação esportiva, que haviam em todas as províncias do meu país, especificamente para atletas. Tive treinadores que me ajudaram muito no meu desenvolvimento. Fiquei cinco anos nesta escola, representando minha província, com quatro medalhas de ouro e uma bronze. Aos 15, fui chamada para fazer uma prova para fazer parte da seleção nacional. Não tinha muita perspectiva porque eu era muito pequena, mas acabei passando”, conta.

Ex-jogadora de vôlei Mireya Luis, considerada a melhor de todos os tempos, está no Brasil para atividades do Sesc Verão.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

A primeira medalha de ouro de Mireya com a seleção cubana veio em 1983, nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, com apenas 16 anos. Foi o início de uma era vitoriosa para o país, que se tornou referência na modalidade e abocanhou diversos títulos, incluindo o tetracampeonato consecutivo do torneio sul-americano. A jogadora rapidamente foi reconhecida por imprensa e adversários como a melhor daquele time, sendo crucial para a equipe subir três vezes seguidas ao lugar mais alto do pódio em Olimpíadas (Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000), e duas em campeonatos mundiais (Brasil-1994 e Japão-1998).

Para Mireya, o sucesso daquela equipe só foi possível por causa do incentivo ao esporte na educação pública de Cuba sob o comando de Fidel Castro (1926-2016), como primeiro-ministro, entre 1959 e 1976, e depois presidente, de 1976 a 2008. “(Fidel) foi um impulsor do esporte e sabia que nosso país era reconhecido pelos grandes atletas. Sempre recebemos apoio total do governo, e acredito que o êxito em conquistar tantas medalhas foi por causa disso”, afirma.

Mireya deu adeus às quadras em 2001 e, coincidentemente, Cuba perdeu o posto de protagonista no vôlei feminino, ao mesmo tempo em que seleções como Brasil, EUA e Japão começaram a ganhar maior destaque. O país também determina que atletas em ligas estrangeiras, financeiramente mais rentáveis, abram mão da seleção, ocasionado na perda de talentos para outras nações — Itália e Polônia são algumas das seleções com cubanos naturalizados.

A grave crise econômica vivida por Cuba nos últimos anos, a mais grave em três décadas, também provocou um êxodo em massa da ilha caribenha, especialmente de jovens. Somente no Pan de Santiago, em 2023, oito atletas cubanos ficaram no Chile para pedir asilo ou refúgio. De 2022 para cá, 187 esportistas já deixaram Cuba, segundo dados oficiais. Entre eles o boxeador Andy Cruz, considerado por muitos o melhor do país.

“Cuba vive um momento difícil na Economia, e o esporte não está alheio a isso, pois precisa de muitos recursos para se sustentar. Sempre tivemos um sistema que nos apoiou, e não deixamos de ter esse sustento, mas já não é o mesmo dos anos anteriores. Então, muitos atletas decidem buscar outra forma de vida”, diz Mireya. “Os atletas cubanos sempre foram de alto nível, e por isso também sofrem assédio e são perseguidos por outras ligas e países.”

Mireya Luis é tricampeã olímpica e bicampeã mundial por Cuba.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

BRIGA EM ATLANTA

Ao longo de sua carreira, Mireya Luis protagonizou inúmeros confrontos com o Brasil, que considera um dos adversários mais difíceis que já enfrentou. O duelo mais emblemático entre brasileiras e cubanas aconteceu na semifinal da Olimpíada de Atlanta. A partida ficou marcada por provocações de ambos os lados, alimentada pela crescente rivalidade entre as equipes. Além de Mireya, o time cubano contava com outros nomes importantes, como Regla Torres, Yumilka Ruiz, Raisa O’Farril (1972 - 2023) e Mirka Francia.

Ana Moser, com dedo em riste, reclamou de ter recebido uma bolada de Mireya de maneira proposital no ponto decisivo. Márcia Fu e Ana Paula Henkel foram tirar satisfações com as cubanas e a confusão se estendeu ao vestiário. Segundo a cubana, as jogadoras foram às vias de fato quando estavam longe das câmeras.

“Recordo bem daquela semifinal, e é como reviver tudo mais uma vez agora que estou aqui no Brasil. Lembro que quando marquei o último ponto, a Ana Moser, a Márcia e Ana Paula começaram partiram para cima da gente e nós começamos a brigamos com elas também e nos vestiário houve o ‘corpo a corpo’“, recorda Mireya, aos risos. “Foi um momento tenso, de muita adrenalina, mas também foi um exemplo de como se deve defender uma medalha olímpica.”

Ana Moser e Mireya Luis discutem durante semifinal do vôlei feminino na Olimpíada de Atlanta.  Foto: LULUDI/AE

Apesar da tensão daquela partida, Mireya garante que tudo ficou no passado. A cubana já se reencontrou com Ana Moser diversas vezes desde então e registrou o encontro em suas redes sociais. Ela também conta que acompanhou a trajetória de Márcia Fu no reality show “A Fazenda”, da Rede Record, e que torceu pela brasileira — a ex-jogadora terminou em terceiro lugar e ficou marcada por resgatar a música “Escrito nas Estrelas”, sucesso na voz de Tetê Espíndola, em 1985.

“Nós seguimos com a mesma amizade, respeito e carinho que sempre sentíamos umas pelas outras. Foram duas equipes fortes e que tiveram a oportunidade de competir em grandes torneios, em alto nível. Para mim, as brasileiras são minhas irmãs de luta e sinto muito orgulho disso”, afirma.

PÓS-CARREIRA E JOGOS DE PARIS

Mireya atualmente integra o Comitê Olímpico Internacional (COI) e atua no desenvolvimento do vôlei de praia da Federação Cubana. Em 2016, ela esteve no Brasil para atuar como comentarista dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no canal Fox. Naquele mesmo ano, lançou sua biografia “Entre Cielo y Tierra”, escrita pelo jornalista cubano Oscar Sánchez Serra.

A ex-jogadora lamenta a ausência do vôlei de Cuba na Olimpíada de Paris, marcada para acontecer entre 24 de julho e 11 de agosto. Ao ser questionada qual seleção é a favorita para vencer a medalha de ouro na capital francesa, Mireya pondera. “Difícil... O vôlei atualmente tem equipes bastante parelhas, como a Turquia, Sérvia, Rússia, China, Estados Unidos e, claro, o Brasil”, diz a ex-jogadora. “Prefiro não me ‘adiantar’”, brinca.

Com apenas 1,75 de altura, Mireya Luis se destacou pela impulsão nos saltos e saques potentes.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do alto de sua experiência em Jogos Olímpicos, Mireya dá a receita para quem deseja terminar a competição com a medalha no peito. “Treinar 365 dias por ano, ao máximo, todos os dias, por quatro anos.”

Mireya Luis fica no Brasil até o dia 21 de janeiro e participa de mais três datas da programação do Sesc Verão 2024. Confira a agenda abaixo.

  • Dia 18/1 (quinta), das 19h às 21h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc Piracicaba
  • Dia 20/1 (sábado), das 16h às 18h30 - Mireya e Spence Lee - Sesc Taubaté
  • Dia 21/1 (domingo), das 15h30 às 18h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc São José dos Campos

Mireya Luis, lenda do vôlei de Cuba e considerada uma das melhores jogadoras de todos os tempos, está no Brasil para uma série de palestras e atividades na 29ª edição do Sesc Verão 2024. Tricampeã olímpica e bicampeã mundial, a ex-atleta de 56 anos falou ao Estadão sobre a sua trajetória vitoriosa nas quadras, a crise do esporte cubano, a histórica “peleja” com a seleção brasileira na semifinal das Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996, além da sua expectativa para os Jogos de Paris.

Enquanto esteve em atividade, nas décadas de 1980 e 1990, Mireya compensou a baixa estatura para a modalidade (1,75m) com grande vigor físico. Na função de ponteira, a cubana se destacou pelos saltos que chegavam a um metro do chão, e por ataques potentes, a cerca de 3,35 metros, praticamente indefensáveis. Natural de Camaguey, uma das maiores cidades da ilha caribenha, ela conta que começou a praticar esportes ainda pequena, com apenas dez anos, e o contato com o vôlei aconteceu por influência da irmã.

“Dei os meus primeiros passos em uma escola de iniciação esportiva, que haviam em todas as províncias do meu país, especificamente para atletas. Tive treinadores que me ajudaram muito no meu desenvolvimento. Fiquei cinco anos nesta escola, representando minha província, com quatro medalhas de ouro e uma bronze. Aos 15, fui chamada para fazer uma prova para fazer parte da seleção nacional. Não tinha muita perspectiva porque eu era muito pequena, mas acabei passando”, conta.

Ex-jogadora de vôlei Mireya Luis, considerada a melhor de todos os tempos, está no Brasil para atividades do Sesc Verão.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

A primeira medalha de ouro de Mireya com a seleção cubana veio em 1983, nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, com apenas 16 anos. Foi o início de uma era vitoriosa para o país, que se tornou referência na modalidade e abocanhou diversos títulos, incluindo o tetracampeonato consecutivo do torneio sul-americano. A jogadora rapidamente foi reconhecida por imprensa e adversários como a melhor daquele time, sendo crucial para a equipe subir três vezes seguidas ao lugar mais alto do pódio em Olimpíadas (Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000), e duas em campeonatos mundiais (Brasil-1994 e Japão-1998).

Para Mireya, o sucesso daquela equipe só foi possível por causa do incentivo ao esporte na educação pública de Cuba sob o comando de Fidel Castro (1926-2016), como primeiro-ministro, entre 1959 e 1976, e depois presidente, de 1976 a 2008. “(Fidel) foi um impulsor do esporte e sabia que nosso país era reconhecido pelos grandes atletas. Sempre recebemos apoio total do governo, e acredito que o êxito em conquistar tantas medalhas foi por causa disso”, afirma.

Mireya deu adeus às quadras em 2001 e, coincidentemente, Cuba perdeu o posto de protagonista no vôlei feminino, ao mesmo tempo em que seleções como Brasil, EUA e Japão começaram a ganhar maior destaque. O país também determina que atletas em ligas estrangeiras, financeiramente mais rentáveis, abram mão da seleção, ocasionado na perda de talentos para outras nações — Itália e Polônia são algumas das seleções com cubanos naturalizados.

A grave crise econômica vivida por Cuba nos últimos anos, a mais grave em três décadas, também provocou um êxodo em massa da ilha caribenha, especialmente de jovens. Somente no Pan de Santiago, em 2023, oito atletas cubanos ficaram no Chile para pedir asilo ou refúgio. De 2022 para cá, 187 esportistas já deixaram Cuba, segundo dados oficiais. Entre eles o boxeador Andy Cruz, considerado por muitos o melhor do país.

“Cuba vive um momento difícil na Economia, e o esporte não está alheio a isso, pois precisa de muitos recursos para se sustentar. Sempre tivemos um sistema que nos apoiou, e não deixamos de ter esse sustento, mas já não é o mesmo dos anos anteriores. Então, muitos atletas decidem buscar outra forma de vida”, diz Mireya. “Os atletas cubanos sempre foram de alto nível, e por isso também sofrem assédio e são perseguidos por outras ligas e países.”

Mireya Luis é tricampeã olímpica e bicampeã mundial por Cuba.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

BRIGA EM ATLANTA

Ao longo de sua carreira, Mireya Luis protagonizou inúmeros confrontos com o Brasil, que considera um dos adversários mais difíceis que já enfrentou. O duelo mais emblemático entre brasileiras e cubanas aconteceu na semifinal da Olimpíada de Atlanta. A partida ficou marcada por provocações de ambos os lados, alimentada pela crescente rivalidade entre as equipes. Além de Mireya, o time cubano contava com outros nomes importantes, como Regla Torres, Yumilka Ruiz, Raisa O’Farril (1972 - 2023) e Mirka Francia.

Ana Moser, com dedo em riste, reclamou de ter recebido uma bolada de Mireya de maneira proposital no ponto decisivo. Márcia Fu e Ana Paula Henkel foram tirar satisfações com as cubanas e a confusão se estendeu ao vestiário. Segundo a cubana, as jogadoras foram às vias de fato quando estavam longe das câmeras.

“Recordo bem daquela semifinal, e é como reviver tudo mais uma vez agora que estou aqui no Brasil. Lembro que quando marquei o último ponto, a Ana Moser, a Márcia e Ana Paula começaram partiram para cima da gente e nós começamos a brigamos com elas também e nos vestiário houve o ‘corpo a corpo’“, recorda Mireya, aos risos. “Foi um momento tenso, de muita adrenalina, mas também foi um exemplo de como se deve defender uma medalha olímpica.”

Ana Moser e Mireya Luis discutem durante semifinal do vôlei feminino na Olimpíada de Atlanta.  Foto: LULUDI/AE

Apesar da tensão daquela partida, Mireya garante que tudo ficou no passado. A cubana já se reencontrou com Ana Moser diversas vezes desde então e registrou o encontro em suas redes sociais. Ela também conta que acompanhou a trajetória de Márcia Fu no reality show “A Fazenda”, da Rede Record, e que torceu pela brasileira — a ex-jogadora terminou em terceiro lugar e ficou marcada por resgatar a música “Escrito nas Estrelas”, sucesso na voz de Tetê Espíndola, em 1985.

“Nós seguimos com a mesma amizade, respeito e carinho que sempre sentíamos umas pelas outras. Foram duas equipes fortes e que tiveram a oportunidade de competir em grandes torneios, em alto nível. Para mim, as brasileiras são minhas irmãs de luta e sinto muito orgulho disso”, afirma.

PÓS-CARREIRA E JOGOS DE PARIS

Mireya atualmente integra o Comitê Olímpico Internacional (COI) e atua no desenvolvimento do vôlei de praia da Federação Cubana. Em 2016, ela esteve no Brasil para atuar como comentarista dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no canal Fox. Naquele mesmo ano, lançou sua biografia “Entre Cielo y Tierra”, escrita pelo jornalista cubano Oscar Sánchez Serra.

A ex-jogadora lamenta a ausência do vôlei de Cuba na Olimpíada de Paris, marcada para acontecer entre 24 de julho e 11 de agosto. Ao ser questionada qual seleção é a favorita para vencer a medalha de ouro na capital francesa, Mireya pondera. “Difícil... O vôlei atualmente tem equipes bastante parelhas, como a Turquia, Sérvia, Rússia, China, Estados Unidos e, claro, o Brasil”, diz a ex-jogadora. “Prefiro não me ‘adiantar’”, brinca.

Com apenas 1,75 de altura, Mireya Luis se destacou pela impulsão nos saltos e saques potentes.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do alto de sua experiência em Jogos Olímpicos, Mireya dá a receita para quem deseja terminar a competição com a medalha no peito. “Treinar 365 dias por ano, ao máximo, todos os dias, por quatro anos.”

Mireya Luis fica no Brasil até o dia 21 de janeiro e participa de mais três datas da programação do Sesc Verão 2024. Confira a agenda abaixo.

  • Dia 18/1 (quinta), das 19h às 21h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc Piracicaba
  • Dia 20/1 (sábado), das 16h às 18h30 - Mireya e Spence Lee - Sesc Taubaté
  • Dia 21/1 (domingo), das 15h30 às 18h - Mireya e Virna Rodrigues - Sesc São José dos Campos
Entrevista por Rodrigo Sampaio

Jornalista natural do Rio de Janeiro (RJ) em São Paulo. Repórter de Esportes do Estadão desde 2021. Antes, passagens por TV Globo e Jornal O Dia, com experiência na cobertura da Metrópole, Cultura, Política e Judiciário. Fez parte da 30ª turma do Curso Estado de Jornalismo.

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