Zé Roberto Guimarães assume nova função na CBV e vê período na seleção como ‘mais difícil de todos’


Treinador valoriza conquista da vaga olímpica com o Brasil para Paris e pede que a Federação Internacional reveja calendário para o bem das atletas

Por Paulo Chacon
Atualização:
Foto: Matt Rourke/ AP
Entrevista comZé Roberto GuimarãesTécnico da seleção brasileira feminina

José Roberto Guimarães estará em mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Único tricampeão olímpico brasileiro, o treinador da seleção feminina de vôlei se classificou para a Olimpíada de Paris 2024 por meio do Pré-Olímpico deste ano com mais emoção do que se gostaria. Garantido na França, o técnico e a Confederação Brasileira de Vôlei olham para o futuro e ele vai assumir como coordenador das seleções femininas do País a partir de janeiro.

“Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e eu aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos”, explicou José Roberto em entrevista exclusiva para o Estadão.

Mesmo com a nova função, Zé Roberto não vai deixar o comando da equipe principal feminina de vôlei do Brasil. Em Paris-2024, ele vai para a sexta edição seguida como técnico do time feminino e ressalta que o cenário precisa mudar. “A pressão de todos os lados foi a maior que já senti na seleção brasileira. Muita gente não entendeu o processo e as situações dessa temporada em específico e criticou demais. A nossa seleção viajou muito e teve muitas horas perdidas em aeroporto, voo e jet lag. Uma das coisas que estamos falando com a Federação Internacional é a revisão disso tudo, desse calendário porque afeta o rendimento das atletas, que são as protagonistas de tudo”, explicou. Veja a entrevista:

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José Roberto Guimarães vai assumir nova função na CBV após os Jogos de Paris Foto: Sander Koning / EFE

Como você viu a temporada de 2023 com a seleção brasileira feminina?

Foi uma temporada difícil e possivelmente o período que nós menos treinamos. Foi o ano mais difícil de todos. Nós começamos jogando no Japão logo após o fim da Superliga e dos Nacionais e foi um ano atribulado e apertado. Não conseguimos fazer uma programação completa, as atletas tiveram de ir se apresentando e jogando e até a relação de folgas e descansos foi prejudicada. Mas o próximo ano também será apertado.

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E como você contornou isso?

O caminho foi usar nas primeiras partidas as atletas que estavam com um tempo maior de descanso. Tivemos dificuldade em homogeneizar a equipe toda. No Japão, tivemos a primeira baixa nos primeiros treinos, que foi a Lara, que teve a ruptura de cruzado em um treino. Depois das partidas na semana no Japão, viemos para o Brasil e tivemos outra baixa, que foi a Ana, com uma lesão de menisco. A Ana é uma atleta importante para a seleção e estava sendo a jogadora que definia as bolas importantes. Com a saída dela, tivemos de repensar tudo e passamos a nos preocupar com o ranking mundial, que é uma forma de classificação olímpica caso não desse certo no Pré-Olímpico. Depois tivemos mais uma viagem para a Ásia e depois para os EUA, para a fase final da Liga das Nações, onde perdemos nas quartas de final e tivemos críticas. Depois um Sul-Americano em Recife, que foi importante para a equipe e para a relação com o torcedor. O Pré-Olímpico no Japão, mais uma vez, teve uma preparação e aclimatação boa e tivemos uma sequência boa. A derrota para a Turquia nos deixou em uma situação de vencer Bélgica e Japão para ir para a Olimpíada.

E como foi a final?

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A final contra a seleção japonesa foi da maneira como a gente já imaginava e as meninas precisaram ser resilientes ao extremo. Elas jogavam a classificação direta em casa e a pressão foi grande. Soubemos suportar e crescer para vencer.

Como você entendeu o convite para ser o coordenador de seleções no feminino da CBV?

Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos.

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Como você vê as bases no vôlei?

A base sempre foi uma das minhas preocupações. Sabemos que o investimento diminuiu, por causa de diversos fatores do País e do mundo como um todo. Sabemos que diversos clubes diminuíram e até fecharam a base e isso acarreta em uma diminuição da quantidade de atletas que podem servir a seleção no futuro. Alguns times, como o Barueri, Pinheiros, São Caetano e outras equipes, projetam lutar para manter e continuar existindo, mas o investimento precisa voltar. Acho que foi primordial a nossa equipe sub-21 voltar ao pódio em uma grande competição como foi neste ano com uma geração promissora e penso que o importante é tentar e conseguir ajudar o desenvolvimento do time e das meninas.

Há uma formação pessoal das meninas também.

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Para além da jogadora e da seleção, é importante pensar na menina como cidadã, dando oportunidade para que ela consiga crescer com o esporte no sentido de vida também. Sabemos que as seleções recebem gerações de atletas de alto rendimento, mas essas gerações se encerram e precisam ser renovadas. Não só as jogadoras, mas os treinadores e toda a equipe técnica. Acho que a nossa queda foi grande com a redução de investimento que aconteceu e precisamos repor e melhorar isso. Acho que é importante não pagar o preço. Vou te dar um exemplo. Aqui na Turquia, só podemos treinar no ginásio até às 17h, pois todos os dias a quadra é usada pela base a noite para jogos e com a presença de público em peso. Eles investiram tempo em dinheiro para ter o sucesso que tem hoje no país e na seleção.

Como tem sido a ambientação na Turquia e os treinos com o time THY?

Acho que é um processo de aprendizado e de estar acompanhando o que tem de melhor no mundo. A Europa é o centro de vôlei do mundo e as jogadoras estão participando das competições e você tem outros grandes centros próximos. É um investimento em aprendizado e evolução. Aqui, normalmente, se joga nos mesmos ginásios, que é onde nós do time THY treinamos. Estar aqui para ver, analisar e ter parâmetros é o que vejo como positivo. Claro que deixar para trás as coisas que você ama, que são família, amigos, o projeto de Barueri, tem um preço, mas está valendo a pena. Tenho visto e participado de coisas importantes aqui que me fazem evoluir.

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Você comentou que 2024 é um ano com calendário mais apertado para a seleção, como está a preparação para isso?

O ano de 2024 será especial por causa dos Jogos Olímpicos. Essa será a meta e precisamos ter um cuidado mais especial com essa preparação. A classificação no Pré-Olímpico foi boa por isso. Com a vaga garantida é possível dar uma período maior de descanso e preparação para as atletas de fora do Brasil e dos times brasileiros. Por outro lado, não podemos deixar de jogar as partidas da Liga das Nações. Temos o exemplo da Itália, que fez isso em 2021, e depois precisou correr atrás de amistosos para tentar se recuperar e não conseguiu. O que a gente tem de pensar é nesse planejamento com um lastro físico.

E como se faz isso?

Precisamos pensar em tudo, com descanso e tudo. Mesmo não tendo tanto tempo para isso, porque a Liga das Nações começa em 14 de maio para nós. Pode ser que tenhamos uma análise de carga e tudo neste sentido. Mas também preciso que todas as atletas se preocupem com o corpo e o físico, para não chegarem acima do peso como aconteceu neste ano. Não teremos tempo para cuidar de atletas que estejam acima do peso, fora de forma. Por outro lado, sei que já estamos fazendo isso agora, com toda a comissão técnica em contato com as jogadoras e com as comissões técnicas dos clubes sobre a situação de cada atleta. Todos precisam se preocupar agora, porque em 2024 não teremos tempo para isso.

O Renan Dal Zotto comentou ao Estadão que você foi essencial para ele aceitar o cargo de treinador do masculino. Ele surpreendeu a todos com o pedido de demissão após o Pré-Olímpico. Como você viu a atitude dele?

O Renan passou por momentos difíceis com a covid-19. Ele esteve internado vários dias e conseguiu se reabilitar bem a tempo para a Olimpíada. O voleibol para gente é uma paixão. Como é para mim, é para ele também. Servir a seleção sempre foi um sonho para todos. O que penso é que a pressão está cada vez mais no Brasil. Cada vez mais forte. Mas o mundo do vôlei está globalizado com todos tendo condição de ganhar. No masculino você tem oito seleções que brigam pelo título, no feminino pelo menos seis e em uma Olimpíada o momento conta. Penso que o desgaste dele foi grande, assim como foi comigo. Eu mandei mensagem assim que o jogo acabou e, em questão de minutos, ele fez o anúncio na quadra. Penso que ele se dedicou ao máximo, que se entregou, buscou, tentou e sei que ele foi guerreiro. Sei o que ele sofreu porque no feminino foi uma pressão parecida. Acho que ele sentiu este momento final. A derrota no Sul-Americano iria acontecer em algum momento, porque faz parte da vida. A Argentina é uma grande equipe com um treinador muito bom. A Alemanha fez um pré-olímpico quase perfeito e lamento porque sei que é um sonho estar na Olimpíada com o Brasil. Penso que ele tem muita parte na conquista da vaga e sei que ele sai de cabeça erguida.

José Roberto Guimarães estará em mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Único tricampeão olímpico brasileiro, o treinador da seleção feminina de vôlei se classificou para a Olimpíada de Paris 2024 por meio do Pré-Olímpico deste ano com mais emoção do que se gostaria. Garantido na França, o técnico e a Confederação Brasileira de Vôlei olham para o futuro e ele vai assumir como coordenador das seleções femininas do País a partir de janeiro.

“Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e eu aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos”, explicou José Roberto em entrevista exclusiva para o Estadão.

Mesmo com a nova função, Zé Roberto não vai deixar o comando da equipe principal feminina de vôlei do Brasil. Em Paris-2024, ele vai para a sexta edição seguida como técnico do time feminino e ressalta que o cenário precisa mudar. “A pressão de todos os lados foi a maior que já senti na seleção brasileira. Muita gente não entendeu o processo e as situações dessa temporada em específico e criticou demais. A nossa seleção viajou muito e teve muitas horas perdidas em aeroporto, voo e jet lag. Uma das coisas que estamos falando com a Federação Internacional é a revisão disso tudo, desse calendário porque afeta o rendimento das atletas, que são as protagonistas de tudo”, explicou. Veja a entrevista:

José Roberto Guimarães vai assumir nova função na CBV após os Jogos de Paris Foto: Sander Koning / EFE

Como você viu a temporada de 2023 com a seleção brasileira feminina?

Foi uma temporada difícil e possivelmente o período que nós menos treinamos. Foi o ano mais difícil de todos. Nós começamos jogando no Japão logo após o fim da Superliga e dos Nacionais e foi um ano atribulado e apertado. Não conseguimos fazer uma programação completa, as atletas tiveram de ir se apresentando e jogando e até a relação de folgas e descansos foi prejudicada. Mas o próximo ano também será apertado.

E como você contornou isso?

O caminho foi usar nas primeiras partidas as atletas que estavam com um tempo maior de descanso. Tivemos dificuldade em homogeneizar a equipe toda. No Japão, tivemos a primeira baixa nos primeiros treinos, que foi a Lara, que teve a ruptura de cruzado em um treino. Depois das partidas na semana no Japão, viemos para o Brasil e tivemos outra baixa, que foi a Ana, com uma lesão de menisco. A Ana é uma atleta importante para a seleção e estava sendo a jogadora que definia as bolas importantes. Com a saída dela, tivemos de repensar tudo e passamos a nos preocupar com o ranking mundial, que é uma forma de classificação olímpica caso não desse certo no Pré-Olímpico. Depois tivemos mais uma viagem para a Ásia e depois para os EUA, para a fase final da Liga das Nações, onde perdemos nas quartas de final e tivemos críticas. Depois um Sul-Americano em Recife, que foi importante para a equipe e para a relação com o torcedor. O Pré-Olímpico no Japão, mais uma vez, teve uma preparação e aclimatação boa e tivemos uma sequência boa. A derrota para a Turquia nos deixou em uma situação de vencer Bélgica e Japão para ir para a Olimpíada.

E como foi a final?

A final contra a seleção japonesa foi da maneira como a gente já imaginava e as meninas precisaram ser resilientes ao extremo. Elas jogavam a classificação direta em casa e a pressão foi grande. Soubemos suportar e crescer para vencer.

Como você entendeu o convite para ser o coordenador de seleções no feminino da CBV?

Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos.

Como você vê as bases no vôlei?

A base sempre foi uma das minhas preocupações. Sabemos que o investimento diminuiu, por causa de diversos fatores do País e do mundo como um todo. Sabemos que diversos clubes diminuíram e até fecharam a base e isso acarreta em uma diminuição da quantidade de atletas que podem servir a seleção no futuro. Alguns times, como o Barueri, Pinheiros, São Caetano e outras equipes, projetam lutar para manter e continuar existindo, mas o investimento precisa voltar. Acho que foi primordial a nossa equipe sub-21 voltar ao pódio em uma grande competição como foi neste ano com uma geração promissora e penso que o importante é tentar e conseguir ajudar o desenvolvimento do time e das meninas.

Há uma formação pessoal das meninas também.

Para além da jogadora e da seleção, é importante pensar na menina como cidadã, dando oportunidade para que ela consiga crescer com o esporte no sentido de vida também. Sabemos que as seleções recebem gerações de atletas de alto rendimento, mas essas gerações se encerram e precisam ser renovadas. Não só as jogadoras, mas os treinadores e toda a equipe técnica. Acho que a nossa queda foi grande com a redução de investimento que aconteceu e precisamos repor e melhorar isso. Acho que é importante não pagar o preço. Vou te dar um exemplo. Aqui na Turquia, só podemos treinar no ginásio até às 17h, pois todos os dias a quadra é usada pela base a noite para jogos e com a presença de público em peso. Eles investiram tempo em dinheiro para ter o sucesso que tem hoje no país e na seleção.

Como tem sido a ambientação na Turquia e os treinos com o time THY?

Acho que é um processo de aprendizado e de estar acompanhando o que tem de melhor no mundo. A Europa é o centro de vôlei do mundo e as jogadoras estão participando das competições e você tem outros grandes centros próximos. É um investimento em aprendizado e evolução. Aqui, normalmente, se joga nos mesmos ginásios, que é onde nós do time THY treinamos. Estar aqui para ver, analisar e ter parâmetros é o que vejo como positivo. Claro que deixar para trás as coisas que você ama, que são família, amigos, o projeto de Barueri, tem um preço, mas está valendo a pena. Tenho visto e participado de coisas importantes aqui que me fazem evoluir.

Você comentou que 2024 é um ano com calendário mais apertado para a seleção, como está a preparação para isso?

O ano de 2024 será especial por causa dos Jogos Olímpicos. Essa será a meta e precisamos ter um cuidado mais especial com essa preparação. A classificação no Pré-Olímpico foi boa por isso. Com a vaga garantida é possível dar uma período maior de descanso e preparação para as atletas de fora do Brasil e dos times brasileiros. Por outro lado, não podemos deixar de jogar as partidas da Liga das Nações. Temos o exemplo da Itália, que fez isso em 2021, e depois precisou correr atrás de amistosos para tentar se recuperar e não conseguiu. O que a gente tem de pensar é nesse planejamento com um lastro físico.

E como se faz isso?

Precisamos pensar em tudo, com descanso e tudo. Mesmo não tendo tanto tempo para isso, porque a Liga das Nações começa em 14 de maio para nós. Pode ser que tenhamos uma análise de carga e tudo neste sentido. Mas também preciso que todas as atletas se preocupem com o corpo e o físico, para não chegarem acima do peso como aconteceu neste ano. Não teremos tempo para cuidar de atletas que estejam acima do peso, fora de forma. Por outro lado, sei que já estamos fazendo isso agora, com toda a comissão técnica em contato com as jogadoras e com as comissões técnicas dos clubes sobre a situação de cada atleta. Todos precisam se preocupar agora, porque em 2024 não teremos tempo para isso.

O Renan Dal Zotto comentou ao Estadão que você foi essencial para ele aceitar o cargo de treinador do masculino. Ele surpreendeu a todos com o pedido de demissão após o Pré-Olímpico. Como você viu a atitude dele?

O Renan passou por momentos difíceis com a covid-19. Ele esteve internado vários dias e conseguiu se reabilitar bem a tempo para a Olimpíada. O voleibol para gente é uma paixão. Como é para mim, é para ele também. Servir a seleção sempre foi um sonho para todos. O que penso é que a pressão está cada vez mais no Brasil. Cada vez mais forte. Mas o mundo do vôlei está globalizado com todos tendo condição de ganhar. No masculino você tem oito seleções que brigam pelo título, no feminino pelo menos seis e em uma Olimpíada o momento conta. Penso que o desgaste dele foi grande, assim como foi comigo. Eu mandei mensagem assim que o jogo acabou e, em questão de minutos, ele fez o anúncio na quadra. Penso que ele se dedicou ao máximo, que se entregou, buscou, tentou e sei que ele foi guerreiro. Sei o que ele sofreu porque no feminino foi uma pressão parecida. Acho que ele sentiu este momento final. A derrota no Sul-Americano iria acontecer em algum momento, porque faz parte da vida. A Argentina é uma grande equipe com um treinador muito bom. A Alemanha fez um pré-olímpico quase perfeito e lamento porque sei que é um sonho estar na Olimpíada com o Brasil. Penso que ele tem muita parte na conquista da vaga e sei que ele sai de cabeça erguida.

José Roberto Guimarães estará em mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Único tricampeão olímpico brasileiro, o treinador da seleção feminina de vôlei se classificou para a Olimpíada de Paris 2024 por meio do Pré-Olímpico deste ano com mais emoção do que se gostaria. Garantido na França, o técnico e a Confederação Brasileira de Vôlei olham para o futuro e ele vai assumir como coordenador das seleções femininas do País a partir de janeiro.

“Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e eu aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos”, explicou José Roberto em entrevista exclusiva para o Estadão.

Mesmo com a nova função, Zé Roberto não vai deixar o comando da equipe principal feminina de vôlei do Brasil. Em Paris-2024, ele vai para a sexta edição seguida como técnico do time feminino e ressalta que o cenário precisa mudar. “A pressão de todos os lados foi a maior que já senti na seleção brasileira. Muita gente não entendeu o processo e as situações dessa temporada em específico e criticou demais. A nossa seleção viajou muito e teve muitas horas perdidas em aeroporto, voo e jet lag. Uma das coisas que estamos falando com a Federação Internacional é a revisão disso tudo, desse calendário porque afeta o rendimento das atletas, que são as protagonistas de tudo”, explicou. Veja a entrevista:

José Roberto Guimarães vai assumir nova função na CBV após os Jogos de Paris Foto: Sander Koning / EFE

Como você viu a temporada de 2023 com a seleção brasileira feminina?

Foi uma temporada difícil e possivelmente o período que nós menos treinamos. Foi o ano mais difícil de todos. Nós começamos jogando no Japão logo após o fim da Superliga e dos Nacionais e foi um ano atribulado e apertado. Não conseguimos fazer uma programação completa, as atletas tiveram de ir se apresentando e jogando e até a relação de folgas e descansos foi prejudicada. Mas o próximo ano também será apertado.

E como você contornou isso?

O caminho foi usar nas primeiras partidas as atletas que estavam com um tempo maior de descanso. Tivemos dificuldade em homogeneizar a equipe toda. No Japão, tivemos a primeira baixa nos primeiros treinos, que foi a Lara, que teve a ruptura de cruzado em um treino. Depois das partidas na semana no Japão, viemos para o Brasil e tivemos outra baixa, que foi a Ana, com uma lesão de menisco. A Ana é uma atleta importante para a seleção e estava sendo a jogadora que definia as bolas importantes. Com a saída dela, tivemos de repensar tudo e passamos a nos preocupar com o ranking mundial, que é uma forma de classificação olímpica caso não desse certo no Pré-Olímpico. Depois tivemos mais uma viagem para a Ásia e depois para os EUA, para a fase final da Liga das Nações, onde perdemos nas quartas de final e tivemos críticas. Depois um Sul-Americano em Recife, que foi importante para a equipe e para a relação com o torcedor. O Pré-Olímpico no Japão, mais uma vez, teve uma preparação e aclimatação boa e tivemos uma sequência boa. A derrota para a Turquia nos deixou em uma situação de vencer Bélgica e Japão para ir para a Olimpíada.

E como foi a final?

A final contra a seleção japonesa foi da maneira como a gente já imaginava e as meninas precisaram ser resilientes ao extremo. Elas jogavam a classificação direta em casa e a pressão foi grande. Soubemos suportar e crescer para vencer.

Como você entendeu o convite para ser o coordenador de seleções no feminino da CBV?

Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos.

Como você vê as bases no vôlei?

A base sempre foi uma das minhas preocupações. Sabemos que o investimento diminuiu, por causa de diversos fatores do País e do mundo como um todo. Sabemos que diversos clubes diminuíram e até fecharam a base e isso acarreta em uma diminuição da quantidade de atletas que podem servir a seleção no futuro. Alguns times, como o Barueri, Pinheiros, São Caetano e outras equipes, projetam lutar para manter e continuar existindo, mas o investimento precisa voltar. Acho que foi primordial a nossa equipe sub-21 voltar ao pódio em uma grande competição como foi neste ano com uma geração promissora e penso que o importante é tentar e conseguir ajudar o desenvolvimento do time e das meninas.

Há uma formação pessoal das meninas também.

Para além da jogadora e da seleção, é importante pensar na menina como cidadã, dando oportunidade para que ela consiga crescer com o esporte no sentido de vida também. Sabemos que as seleções recebem gerações de atletas de alto rendimento, mas essas gerações se encerram e precisam ser renovadas. Não só as jogadoras, mas os treinadores e toda a equipe técnica. Acho que a nossa queda foi grande com a redução de investimento que aconteceu e precisamos repor e melhorar isso. Acho que é importante não pagar o preço. Vou te dar um exemplo. Aqui na Turquia, só podemos treinar no ginásio até às 17h, pois todos os dias a quadra é usada pela base a noite para jogos e com a presença de público em peso. Eles investiram tempo em dinheiro para ter o sucesso que tem hoje no país e na seleção.

Como tem sido a ambientação na Turquia e os treinos com o time THY?

Acho que é um processo de aprendizado e de estar acompanhando o que tem de melhor no mundo. A Europa é o centro de vôlei do mundo e as jogadoras estão participando das competições e você tem outros grandes centros próximos. É um investimento em aprendizado e evolução. Aqui, normalmente, se joga nos mesmos ginásios, que é onde nós do time THY treinamos. Estar aqui para ver, analisar e ter parâmetros é o que vejo como positivo. Claro que deixar para trás as coisas que você ama, que são família, amigos, o projeto de Barueri, tem um preço, mas está valendo a pena. Tenho visto e participado de coisas importantes aqui que me fazem evoluir.

Você comentou que 2024 é um ano com calendário mais apertado para a seleção, como está a preparação para isso?

O ano de 2024 será especial por causa dos Jogos Olímpicos. Essa será a meta e precisamos ter um cuidado mais especial com essa preparação. A classificação no Pré-Olímpico foi boa por isso. Com a vaga garantida é possível dar uma período maior de descanso e preparação para as atletas de fora do Brasil e dos times brasileiros. Por outro lado, não podemos deixar de jogar as partidas da Liga das Nações. Temos o exemplo da Itália, que fez isso em 2021, e depois precisou correr atrás de amistosos para tentar se recuperar e não conseguiu. O que a gente tem de pensar é nesse planejamento com um lastro físico.

E como se faz isso?

Precisamos pensar em tudo, com descanso e tudo. Mesmo não tendo tanto tempo para isso, porque a Liga das Nações começa em 14 de maio para nós. Pode ser que tenhamos uma análise de carga e tudo neste sentido. Mas também preciso que todas as atletas se preocupem com o corpo e o físico, para não chegarem acima do peso como aconteceu neste ano. Não teremos tempo para cuidar de atletas que estejam acima do peso, fora de forma. Por outro lado, sei que já estamos fazendo isso agora, com toda a comissão técnica em contato com as jogadoras e com as comissões técnicas dos clubes sobre a situação de cada atleta. Todos precisam se preocupar agora, porque em 2024 não teremos tempo para isso.

O Renan Dal Zotto comentou ao Estadão que você foi essencial para ele aceitar o cargo de treinador do masculino. Ele surpreendeu a todos com o pedido de demissão após o Pré-Olímpico. Como você viu a atitude dele?

O Renan passou por momentos difíceis com a covid-19. Ele esteve internado vários dias e conseguiu se reabilitar bem a tempo para a Olimpíada. O voleibol para gente é uma paixão. Como é para mim, é para ele também. Servir a seleção sempre foi um sonho para todos. O que penso é que a pressão está cada vez mais no Brasil. Cada vez mais forte. Mas o mundo do vôlei está globalizado com todos tendo condição de ganhar. No masculino você tem oito seleções que brigam pelo título, no feminino pelo menos seis e em uma Olimpíada o momento conta. Penso que o desgaste dele foi grande, assim como foi comigo. Eu mandei mensagem assim que o jogo acabou e, em questão de minutos, ele fez o anúncio na quadra. Penso que ele se dedicou ao máximo, que se entregou, buscou, tentou e sei que ele foi guerreiro. Sei o que ele sofreu porque no feminino foi uma pressão parecida. Acho que ele sentiu este momento final. A derrota no Sul-Americano iria acontecer em algum momento, porque faz parte da vida. A Argentina é uma grande equipe com um treinador muito bom. A Alemanha fez um pré-olímpico quase perfeito e lamento porque sei que é um sonho estar na Olimpíada com o Brasil. Penso que ele tem muita parte na conquista da vaga e sei que ele sai de cabeça erguida.

José Roberto Guimarães estará em mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Único tricampeão olímpico brasileiro, o treinador da seleção feminina de vôlei se classificou para a Olimpíada de Paris 2024 por meio do Pré-Olímpico deste ano com mais emoção do que se gostaria. Garantido na França, o técnico e a Confederação Brasileira de Vôlei olham para o futuro e ele vai assumir como coordenador das seleções femininas do País a partir de janeiro.

“Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e eu aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos”, explicou José Roberto em entrevista exclusiva para o Estadão.

Mesmo com a nova função, Zé Roberto não vai deixar o comando da equipe principal feminina de vôlei do Brasil. Em Paris-2024, ele vai para a sexta edição seguida como técnico do time feminino e ressalta que o cenário precisa mudar. “A pressão de todos os lados foi a maior que já senti na seleção brasileira. Muita gente não entendeu o processo e as situações dessa temporada em específico e criticou demais. A nossa seleção viajou muito e teve muitas horas perdidas em aeroporto, voo e jet lag. Uma das coisas que estamos falando com a Federação Internacional é a revisão disso tudo, desse calendário porque afeta o rendimento das atletas, que são as protagonistas de tudo”, explicou. Veja a entrevista:

José Roberto Guimarães vai assumir nova função na CBV após os Jogos de Paris Foto: Sander Koning / EFE

Como você viu a temporada de 2023 com a seleção brasileira feminina?

Foi uma temporada difícil e possivelmente o período que nós menos treinamos. Foi o ano mais difícil de todos. Nós começamos jogando no Japão logo após o fim da Superliga e dos Nacionais e foi um ano atribulado e apertado. Não conseguimos fazer uma programação completa, as atletas tiveram de ir se apresentando e jogando e até a relação de folgas e descansos foi prejudicada. Mas o próximo ano também será apertado.

E como você contornou isso?

O caminho foi usar nas primeiras partidas as atletas que estavam com um tempo maior de descanso. Tivemos dificuldade em homogeneizar a equipe toda. No Japão, tivemos a primeira baixa nos primeiros treinos, que foi a Lara, que teve a ruptura de cruzado em um treino. Depois das partidas na semana no Japão, viemos para o Brasil e tivemos outra baixa, que foi a Ana, com uma lesão de menisco. A Ana é uma atleta importante para a seleção e estava sendo a jogadora que definia as bolas importantes. Com a saída dela, tivemos de repensar tudo e passamos a nos preocupar com o ranking mundial, que é uma forma de classificação olímpica caso não desse certo no Pré-Olímpico. Depois tivemos mais uma viagem para a Ásia e depois para os EUA, para a fase final da Liga das Nações, onde perdemos nas quartas de final e tivemos críticas. Depois um Sul-Americano em Recife, que foi importante para a equipe e para a relação com o torcedor. O Pré-Olímpico no Japão, mais uma vez, teve uma preparação e aclimatação boa e tivemos uma sequência boa. A derrota para a Turquia nos deixou em uma situação de vencer Bélgica e Japão para ir para a Olimpíada.

E como foi a final?

A final contra a seleção japonesa foi da maneira como a gente já imaginava e as meninas precisaram ser resilientes ao extremo. Elas jogavam a classificação direta em casa e a pressão foi grande. Soubemos suportar e crescer para vencer.

Como você entendeu o convite para ser o coordenador de seleções no feminino da CBV?

Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos.

Como você vê as bases no vôlei?

A base sempre foi uma das minhas preocupações. Sabemos que o investimento diminuiu, por causa de diversos fatores do País e do mundo como um todo. Sabemos que diversos clubes diminuíram e até fecharam a base e isso acarreta em uma diminuição da quantidade de atletas que podem servir a seleção no futuro. Alguns times, como o Barueri, Pinheiros, São Caetano e outras equipes, projetam lutar para manter e continuar existindo, mas o investimento precisa voltar. Acho que foi primordial a nossa equipe sub-21 voltar ao pódio em uma grande competição como foi neste ano com uma geração promissora e penso que o importante é tentar e conseguir ajudar o desenvolvimento do time e das meninas.

Há uma formação pessoal das meninas também.

Para além da jogadora e da seleção, é importante pensar na menina como cidadã, dando oportunidade para que ela consiga crescer com o esporte no sentido de vida também. Sabemos que as seleções recebem gerações de atletas de alto rendimento, mas essas gerações se encerram e precisam ser renovadas. Não só as jogadoras, mas os treinadores e toda a equipe técnica. Acho que a nossa queda foi grande com a redução de investimento que aconteceu e precisamos repor e melhorar isso. Acho que é importante não pagar o preço. Vou te dar um exemplo. Aqui na Turquia, só podemos treinar no ginásio até às 17h, pois todos os dias a quadra é usada pela base a noite para jogos e com a presença de público em peso. Eles investiram tempo em dinheiro para ter o sucesso que tem hoje no país e na seleção.

Como tem sido a ambientação na Turquia e os treinos com o time THY?

Acho que é um processo de aprendizado e de estar acompanhando o que tem de melhor no mundo. A Europa é o centro de vôlei do mundo e as jogadoras estão participando das competições e você tem outros grandes centros próximos. É um investimento em aprendizado e evolução. Aqui, normalmente, se joga nos mesmos ginásios, que é onde nós do time THY treinamos. Estar aqui para ver, analisar e ter parâmetros é o que vejo como positivo. Claro que deixar para trás as coisas que você ama, que são família, amigos, o projeto de Barueri, tem um preço, mas está valendo a pena. Tenho visto e participado de coisas importantes aqui que me fazem evoluir.

Você comentou que 2024 é um ano com calendário mais apertado para a seleção, como está a preparação para isso?

O ano de 2024 será especial por causa dos Jogos Olímpicos. Essa será a meta e precisamos ter um cuidado mais especial com essa preparação. A classificação no Pré-Olímpico foi boa por isso. Com a vaga garantida é possível dar uma período maior de descanso e preparação para as atletas de fora do Brasil e dos times brasileiros. Por outro lado, não podemos deixar de jogar as partidas da Liga das Nações. Temos o exemplo da Itália, que fez isso em 2021, e depois precisou correr atrás de amistosos para tentar se recuperar e não conseguiu. O que a gente tem de pensar é nesse planejamento com um lastro físico.

E como se faz isso?

Precisamos pensar em tudo, com descanso e tudo. Mesmo não tendo tanto tempo para isso, porque a Liga das Nações começa em 14 de maio para nós. Pode ser que tenhamos uma análise de carga e tudo neste sentido. Mas também preciso que todas as atletas se preocupem com o corpo e o físico, para não chegarem acima do peso como aconteceu neste ano. Não teremos tempo para cuidar de atletas que estejam acima do peso, fora de forma. Por outro lado, sei que já estamos fazendo isso agora, com toda a comissão técnica em contato com as jogadoras e com as comissões técnicas dos clubes sobre a situação de cada atleta. Todos precisam se preocupar agora, porque em 2024 não teremos tempo para isso.

O Renan Dal Zotto comentou ao Estadão que você foi essencial para ele aceitar o cargo de treinador do masculino. Ele surpreendeu a todos com o pedido de demissão após o Pré-Olímpico. Como você viu a atitude dele?

O Renan passou por momentos difíceis com a covid-19. Ele esteve internado vários dias e conseguiu se reabilitar bem a tempo para a Olimpíada. O voleibol para gente é uma paixão. Como é para mim, é para ele também. Servir a seleção sempre foi um sonho para todos. O que penso é que a pressão está cada vez mais no Brasil. Cada vez mais forte. Mas o mundo do vôlei está globalizado com todos tendo condição de ganhar. No masculino você tem oito seleções que brigam pelo título, no feminino pelo menos seis e em uma Olimpíada o momento conta. Penso que o desgaste dele foi grande, assim como foi comigo. Eu mandei mensagem assim que o jogo acabou e, em questão de minutos, ele fez o anúncio na quadra. Penso que ele se dedicou ao máximo, que se entregou, buscou, tentou e sei que ele foi guerreiro. Sei o que ele sofreu porque no feminino foi uma pressão parecida. Acho que ele sentiu este momento final. A derrota no Sul-Americano iria acontecer em algum momento, porque faz parte da vida. A Argentina é uma grande equipe com um treinador muito bom. A Alemanha fez um pré-olímpico quase perfeito e lamento porque sei que é um sonho estar na Olimpíada com o Brasil. Penso que ele tem muita parte na conquista da vaga e sei que ele sai de cabeça erguida.

José Roberto Guimarães estará em mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Único tricampeão olímpico brasileiro, o treinador da seleção feminina de vôlei se classificou para a Olimpíada de Paris 2024 por meio do Pré-Olímpico deste ano com mais emoção do que se gostaria. Garantido na França, o técnico e a Confederação Brasileira de Vôlei olham para o futuro e ele vai assumir como coordenador das seleções femininas do País a partir de janeiro.

“Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e eu aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos”, explicou José Roberto em entrevista exclusiva para o Estadão.

Mesmo com a nova função, Zé Roberto não vai deixar o comando da equipe principal feminina de vôlei do Brasil. Em Paris-2024, ele vai para a sexta edição seguida como técnico do time feminino e ressalta que o cenário precisa mudar. “A pressão de todos os lados foi a maior que já senti na seleção brasileira. Muita gente não entendeu o processo e as situações dessa temporada em específico e criticou demais. A nossa seleção viajou muito e teve muitas horas perdidas em aeroporto, voo e jet lag. Uma das coisas que estamos falando com a Federação Internacional é a revisão disso tudo, desse calendário porque afeta o rendimento das atletas, que são as protagonistas de tudo”, explicou. Veja a entrevista:

José Roberto Guimarães vai assumir nova função na CBV após os Jogos de Paris Foto: Sander Koning / EFE

Como você viu a temporada de 2023 com a seleção brasileira feminina?

Foi uma temporada difícil e possivelmente o período que nós menos treinamos. Foi o ano mais difícil de todos. Nós começamos jogando no Japão logo após o fim da Superliga e dos Nacionais e foi um ano atribulado e apertado. Não conseguimos fazer uma programação completa, as atletas tiveram de ir se apresentando e jogando e até a relação de folgas e descansos foi prejudicada. Mas o próximo ano também será apertado.

E como você contornou isso?

O caminho foi usar nas primeiras partidas as atletas que estavam com um tempo maior de descanso. Tivemos dificuldade em homogeneizar a equipe toda. No Japão, tivemos a primeira baixa nos primeiros treinos, que foi a Lara, que teve a ruptura de cruzado em um treino. Depois das partidas na semana no Japão, viemos para o Brasil e tivemos outra baixa, que foi a Ana, com uma lesão de menisco. A Ana é uma atleta importante para a seleção e estava sendo a jogadora que definia as bolas importantes. Com a saída dela, tivemos de repensar tudo e passamos a nos preocupar com o ranking mundial, que é uma forma de classificação olímpica caso não desse certo no Pré-Olímpico. Depois tivemos mais uma viagem para a Ásia e depois para os EUA, para a fase final da Liga das Nações, onde perdemos nas quartas de final e tivemos críticas. Depois um Sul-Americano em Recife, que foi importante para a equipe e para a relação com o torcedor. O Pré-Olímpico no Japão, mais uma vez, teve uma preparação e aclimatação boa e tivemos uma sequência boa. A derrota para a Turquia nos deixou em uma situação de vencer Bélgica e Japão para ir para a Olimpíada.

E como foi a final?

A final contra a seleção japonesa foi da maneira como a gente já imaginava e as meninas precisaram ser resilientes ao extremo. Elas jogavam a classificação direta em casa e a pressão foi grande. Soubemos suportar e crescer para vencer.

Como você entendeu o convite para ser o coordenador de seleções no feminino da CBV?

Era um trabalho que eu já realizava. Sempre me preocupei com a base e com o futuro da seleção e dos clubes. O convite veio e aceitei porque é algo que gosto de fazer. Já usava os períodos de treinos para ver as equipes de base e conversar com os treinadores. Hoje, tenho contato direto com todos de todas as categorias e busco ajudar da melhor forma. Acho que é a iniciativa para retomar o que foi feito em um passado recente no Brasil e que países como Turquia e Itália, que hoje estão entre as melhores do mundo, fazem com sucesso. No papel, todos copiaram o Brasil e tiveram sucesso. Agora, precisamos voltar a fazer como era feito há alguns anos.

Como você vê as bases no vôlei?

A base sempre foi uma das minhas preocupações. Sabemos que o investimento diminuiu, por causa de diversos fatores do País e do mundo como um todo. Sabemos que diversos clubes diminuíram e até fecharam a base e isso acarreta em uma diminuição da quantidade de atletas que podem servir a seleção no futuro. Alguns times, como o Barueri, Pinheiros, São Caetano e outras equipes, projetam lutar para manter e continuar existindo, mas o investimento precisa voltar. Acho que foi primordial a nossa equipe sub-21 voltar ao pódio em uma grande competição como foi neste ano com uma geração promissora e penso que o importante é tentar e conseguir ajudar o desenvolvimento do time e das meninas.

Há uma formação pessoal das meninas também.

Para além da jogadora e da seleção, é importante pensar na menina como cidadã, dando oportunidade para que ela consiga crescer com o esporte no sentido de vida também. Sabemos que as seleções recebem gerações de atletas de alto rendimento, mas essas gerações se encerram e precisam ser renovadas. Não só as jogadoras, mas os treinadores e toda a equipe técnica. Acho que a nossa queda foi grande com a redução de investimento que aconteceu e precisamos repor e melhorar isso. Acho que é importante não pagar o preço. Vou te dar um exemplo. Aqui na Turquia, só podemos treinar no ginásio até às 17h, pois todos os dias a quadra é usada pela base a noite para jogos e com a presença de público em peso. Eles investiram tempo em dinheiro para ter o sucesso que tem hoje no país e na seleção.

Como tem sido a ambientação na Turquia e os treinos com o time THY?

Acho que é um processo de aprendizado e de estar acompanhando o que tem de melhor no mundo. A Europa é o centro de vôlei do mundo e as jogadoras estão participando das competições e você tem outros grandes centros próximos. É um investimento em aprendizado e evolução. Aqui, normalmente, se joga nos mesmos ginásios, que é onde nós do time THY treinamos. Estar aqui para ver, analisar e ter parâmetros é o que vejo como positivo. Claro que deixar para trás as coisas que você ama, que são família, amigos, o projeto de Barueri, tem um preço, mas está valendo a pena. Tenho visto e participado de coisas importantes aqui que me fazem evoluir.

Você comentou que 2024 é um ano com calendário mais apertado para a seleção, como está a preparação para isso?

O ano de 2024 será especial por causa dos Jogos Olímpicos. Essa será a meta e precisamos ter um cuidado mais especial com essa preparação. A classificação no Pré-Olímpico foi boa por isso. Com a vaga garantida é possível dar uma período maior de descanso e preparação para as atletas de fora do Brasil e dos times brasileiros. Por outro lado, não podemos deixar de jogar as partidas da Liga das Nações. Temos o exemplo da Itália, que fez isso em 2021, e depois precisou correr atrás de amistosos para tentar se recuperar e não conseguiu. O que a gente tem de pensar é nesse planejamento com um lastro físico.

E como se faz isso?

Precisamos pensar em tudo, com descanso e tudo. Mesmo não tendo tanto tempo para isso, porque a Liga das Nações começa em 14 de maio para nós. Pode ser que tenhamos uma análise de carga e tudo neste sentido. Mas também preciso que todas as atletas se preocupem com o corpo e o físico, para não chegarem acima do peso como aconteceu neste ano. Não teremos tempo para cuidar de atletas que estejam acima do peso, fora de forma. Por outro lado, sei que já estamos fazendo isso agora, com toda a comissão técnica em contato com as jogadoras e com as comissões técnicas dos clubes sobre a situação de cada atleta. Todos precisam se preocupar agora, porque em 2024 não teremos tempo para isso.

O Renan Dal Zotto comentou ao Estadão que você foi essencial para ele aceitar o cargo de treinador do masculino. Ele surpreendeu a todos com o pedido de demissão após o Pré-Olímpico. Como você viu a atitude dele?

O Renan passou por momentos difíceis com a covid-19. Ele esteve internado vários dias e conseguiu se reabilitar bem a tempo para a Olimpíada. O voleibol para gente é uma paixão. Como é para mim, é para ele também. Servir a seleção sempre foi um sonho para todos. O que penso é que a pressão está cada vez mais no Brasil. Cada vez mais forte. Mas o mundo do vôlei está globalizado com todos tendo condição de ganhar. No masculino você tem oito seleções que brigam pelo título, no feminino pelo menos seis e em uma Olimpíada o momento conta. Penso que o desgaste dele foi grande, assim como foi comigo. Eu mandei mensagem assim que o jogo acabou e, em questão de minutos, ele fez o anúncio na quadra. Penso que ele se dedicou ao máximo, que se entregou, buscou, tentou e sei que ele foi guerreiro. Sei o que ele sofreu porque no feminino foi uma pressão parecida. Acho que ele sentiu este momento final. A derrota no Sul-Americano iria acontecer em algum momento, porque faz parte da vida. A Argentina é uma grande equipe com um treinador muito bom. A Alemanha fez um pré-olímpico quase perfeito e lamento porque sei que é um sonho estar na Olimpíada com o Brasil. Penso que ele tem muita parte na conquista da vaga e sei que ele sai de cabeça erguida.

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