Próximo do fim, o Campeonato Mundial de F-1 já vive um clima de fim de festa diante de atitudes, decisões e mudanças que se misturam entre o consumado e o esperado. Desde a crise que envolve a Federação Internacional do Automóvel (FIA), passando pelo aviso prévio vivido por Lewis Hamilton e a suposta aposentadoria de Sérgio Pérez, não faltam tópicos para esquentar o interesse em torno da última etapa da temporada, domingo em Abu Dhabi (Foto de abertura/Haas). O futuro de outro piloto latino, Franco Colapinto, também é destaque em tal cenário.
O catariano Mohammed bem Sulayem Desde que assumiu a presidência da FIA em dezembro de 2021 após um longo trajeto na estrutura diretiva do automobilismo mundial. Esse percurso foi iniciado em 2005: após abandonar uma bem sucedida carreira como piloto de rally-raid, ele assumiu a presidência da Organização de esportes a Motor dos Emirados. Nesse período o francês Jean Todt se desdobrava para se manter como mandatário da entidade e, ao notar as ambições de bem Sulayem, contribuiu para que ele fosse eleito vice-presidente de esporte e membro do Conselho Mundial da FIA em 2008.
O desembarque do Catar no Mundial de F-1 deve parte de sua conquista a bem Sulayem, mas vários profissionais da categoria questionam seus valores e seus métodos e desde que ele assumiu o comando da FIA foram registradas muitas mudanças, demissões e desligamentos em cargos importantes da entidade. Uma fonte próxima a ele, que prefere manter-se anônimo, explica a causa de tanta confusão:
"O bem Sulayem está colocando ordem na casa e nesse processo está cortando muitas mordomias e privilégios. Isso gera muito descontentamento."
Uma de suas primeiras atitudes ao assumir a presidência da FIA em 2021 foi fazer uma auditoria da situação financeira da entidade, investigação que teve um resultado alarmante:entre dois e três anos a falência seria inevitável caso novos métodos e procedimentos não fossem adotados imediatamente. Nesse contexto, o crescimento fabuloso da F-1, a maior geradora de renda da FIA, ganhou notoriedade e bem Sulayem iniciou gestões para rever as taxas que a categoria paga à entidade. Paralelamente, a forma como o Campeonato Mundial de 2021 foi decidido ainda gera discussões, status que é exacerbado pelas constantes mudanças no cargo de diretor de provas dessa especialidade. A última casualidade nesse quadro aconteceu na semana anterior ao GP de Las Vegas, quando foi divulgado que Niel Wittich pediu demissão do cargo, algo que o próprio demissionado, substituído pelo português Rui Marques, nega publicamente.
Desde que bem Sulayem assumiu o poder nove pessoa com cargos de alto nível foram demitidas ou pediram demissão, entre elas inclui Natalie Robyn (diretora executiva), Bertrand Badre (chefe do comitê de auditoria), Paolo Basarri (executivo de conformidade), Tim Goss (diretor técnico), Janette Tan (vice-diretora de corridas para a F-2) e Tim Mayer (filho de um dos fundadores da McLaren, Teddy Mayer). Esse grupo discorda dos valores e métodos adotados pelo dirigente enquanto seus apoiadores lembram que ele é o primeiro não europeu a comandar a entidade fundada em 1904, uma indicação que remete às diferenças culturais do velho mundo com os países árabes. Outro ponto que contribui para inflar o debate em torno do catariano é o fato de ele ter escolhido o Brasil para sediar o primeiro escritório da FIA fora da Europa e que está locado na sede da Confederação Brasileira de Automobilismo, no Rio de Janeiro.
Se a vida não está fácil para bem Sulayem, o que dizer do que se passa com Lewis Hamilton, que este ano deixa a Mercedes, onde conquistou seis dos seus títulos mundiais. No GP do Catar, disputado no último fim de semana em Lusail, Hamilton deixou claro ao seu engenheiro Peter Bonnington seu desejo de abandonar a corrida após receber uma punição por queima de largada. Bonno convenceu Hamilton a seguir as regras e continuar na prova, onde ficou em décimo-segundo lugar, oito posições atrás do seu companheiro de equipe, George Russell.
Apesar de tudo, Hamilton tem lugar garantido e segue na F-1 e nos próximos dois anos, no mínimo, será visto pilotando um carro da Ferrari. por pelo menos mais dois anos. O mesmo não acontece com Sérgio Pérez e Franco Colapinto. Aumenta a cada dia os que apostam na demissão do mexicano na equipe Red Bull. Sua atuação errática em Lusail pareceu indicar que a decisão da equipe em encerrar seu contrato já lhe foi comunicada.
Após uma série de atuações que ergueram monumentos em um terreno baldio deixado pelo estadunidense Logan Sargeant, o argentino Franco Colapinto vive agora uma vistoria digna de um processo de habite-se. Os dois acidentes em Interlagos e outro em Las Vegas baixaram sua cotação em um mercado em que seu nome era visto como sonho de consumo em equipes como a Red Bull e a Alpine. Ainda que seu abandono em Lusail não tenha sido culpa sua, o abandono na primeira volta não contribuiu para abrir as portas a uma vaga no grid de 2025. Mais, o australiano Jack Doohan, que poderia perder para o argentino sua vaga na Alpine, foi anunciado como substituto do francês Esteban Ocon, desligado da equipe com uma prova de antecipação ao final do seu contrato.
Se o título de pilotos já está decidido em favor de Max Verstappen, a prova final do Campeonato Mundial de F-1 ganha importância pela disputa do vice-campeonato entre Lando Norris e Charles Leclerc e pelo título de Construtores, onde a McLaren lidera a Ferrari com 640 pontos contra 619. 26 pontos estarão em jogo no circuito de Yas Marina.
O resultado completo do GP do Catar, vencido por Max Verstappen, você encontra aqui.