Vídeos que prometem curas milagrosas para o câncer de mama ou mentem que a doença é causada pelo exame de mamografia acumulam milhares de curtidas nas redes sociais. Por conta do aumento da circulação desses conteúdos entre os pacientes, especialistas acreditam que a detecção do câncer pode ser prejudicada pela desinformação online. Veja abaixo uma lista de afirmações falsas sobre o câncer de mama.
Desinformação prejudica diagnóstico do câncer de mama
Em um documento assinado por sete sociedades médicas, publicado neste mês de combate ao câncer de mama, o Outubro Rosa, a desinformação é citada como um dos prejuízos para o tratamento e diagnóstico da doença. Ao Estadão Verifica, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Cícero Urban, que participou da elaboração do artigo, relata que os médicos da área enfrentam diariamente as fake news em seus atendimentos. Os casos influenciam mulheres a não procurar por exames ou desistir de tratamentos adequados.
“Nós vemos o problema da desinformação em todas as camadas sociais, seja na rede pública ou privada. Os pacientes recebem falsidades por meio de vídeos ou posts na internet e acabam confiando”, disse. “Ainda não conseguimos medir de fato o impacto, mas o Brasil é um País que ainda tem o diagnóstico muito tardio. Isso possivelmente pode estar relacionado com a desinformação”, complementou o mastologista.
O câncer de mama é a doença mais incidente entre as mulheres do mundo e o segundo mais comum em todas as regiões do País, apenas atrás do câncer de pele não melanoma, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O documento produzido pelas sociedades médicas aponta que o Brasil tem mais de 73 mil casos diagnosticados a cada ano, sendo mais da metade deles em fase avançada. Apesar de os casos serem mais frequentes em pacientes na faixa dos 40 e 50 anos, o câncer também acomete mulheres mais jovens.
De acordo com Urban, é comum que pessoas repitam inverdades, ditas até mesmo por profissionais de saúde, como a mentira de que o desodorante causa câncer ou de que o exame de diagnóstico acarreta problemas. “Você escuta falsidades até mesmo de colegas médicos, que não são especializados na área de mama, dizendo que a mamografia causa problemas. Isso faz com que muitas mulheres deixem de fazer o seu rastreamento”, afirmou. “O exame reduz a mortalidade pela doença e ajuda no diagnóstico precoce”, explicou.
O mastologista alerta ainda sobre a desinformação que afetam pacientes que já têm a doença. “Para mulheres com o diagnóstico, a informação falsa pode impactar na desistência de tratamentos que salvam vidas. A quimioterapia é agressiva, mas importante quando se tem indicação”, disse. “O câncer de mama é potencialmente curável, mas muitas vezes pacientes vão fazer terapias alternativas e deixam de realizar os procedimentos adequados. Quando chegam até nós, a situação está bem avançada e complexa”, complementou.
Para se prevenir de informações falsas, o especialista em câncer de mama indica que os pacientes procurem pelo currículo dos produtores de conteúdo na internet. “No caso de profissionais da saúde, é importante buscar pelo histórico e conferir se eles possuem especialidade na área de mastologia, ginecologia, oncologia ou radioterapia, se são pessoas que trabalham com câncer de mama”, diz Urban.
O médico também indica se informar em portais confiáveis e especializados no assunto. “Em conjunto com sociedades médicas elaboramos um site com informações confiáveis sobre diagnóstico, tratamento e pesquisa de câncer de mama”, indica.
Separamos as principais desinformações sobre o câncer de mama para que você não se engane. Veja abaixo:
É falso que mamografia cause câncer
As sociedades médicas recomendam a realização anual da mamografia para quem tem mais de 40 anos. De acordo com o vice-presidente da SBM, é totalmente falso que o exame cause câncer. “A mamografia é uma forma de radiação. Se você fizer uma mamografia todo dia ou todos os meses, claro que ela pode vir a desencadear um câncer depois de muitos anos”, começou. “Mas uma mamografia anual, em pacientes que tem a indicação, proporciona muito mais benefícios”, afirmou o médico.
O mastologista explica que todos os exames têm seus limites. Mas são limites conhecidos. “A gente sabe o benefício de uma mamografia numa paciente acima de 40 anos, sobretudo numa população como a nossa. Isso já está bem documentado. Nós temos quase 30% dos cânceres de mama detectados em pacientes abaixo de 50 anos”, informou. O Estadão Verifica já esclareceu que o rastreamento é a melhor forma de identificar a doença de maneira precoce.
É falso que próteses de silicone causem câncer
O vice-presidente da SBM esclarece que a prótese de silicone não leva ao câncer de mama. “Existe um câncer específico relacionado à prótese de silicone, que é muito raro, mas câncer de mama não”, afirmou. Também é falso que as próteses dificultem o diagnóstico de câncer. “Hoje, com os exames atuais e tecnologias mais recentes, isso não é uma dificuldade”, explicou o mastologista.
Chás, ervas ou cremes não curam câncer
Urban esclarece que produtos como chás e ervas não têm fundamentação científica contra a doença. Alguns podem inclusive apresentar riscos à saúde. “A maior parte são totalmente inócuos, realmente não vão fazer nada”, explicou o vice-presidente da SBM. “Mas tem situações que a gente tem que inclusive rever, porque pode aumentar a condição estrogênica numa paciente que está fazendo tratamento para câncer de mama e agravar o risco sim da doença voltar”, complementou.
O Estadão Verifica publicou que não é verdadeiro que chás feitos com a casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer.
É falso que só pessoas com idade avançada tenham câncer de mama
Diferentemente do que diz o boato, o médico afirma atender diariamente pacientes mais jovens, na faixa dos 30 anos. “Claro que não é o mais frequente”, explicou o médico. “A incidência é mais comum acima dos 40 e dos 50 anos”, afirmou. De acordo com o especialista, pessoas na faixa dos 40 anos representam no mínimo um terço das pacientes atendidas.
É falso que o câncer de mama não tenha cura
O mastologista informa que hoje as chances de cura do câncer de mama passam de 90%. “Mas fazendo o tratamento correto”, enfatizou. “Essa é a grande diferença”. O diagnóstico precoce da doença é a melhor maneira de evitar o agravamento do quadro.