A Polícia Federal nega que Adélio Bispo, preso por atentar contra a vida do presidente Jair Bolsonaro (PL), tenha prestado um novo depoimento sobre o crime. A alegação de que ele teria relacionado o atentado à campanha rival de Bolsonaro nas eleições de 2018 foi compartilhada por páginas e perfis de amplo alcance nas redes sociais, mas não tem nenhum embasamento. "Informa-se que não houve o depoimento", disse a PF ao Estadão Verifica por meio de nota. "Trata-se de notícia falsa."
Utilizando a ferramenta de monitoramento de redes sociais CrowdTangle, é possível ver que a primeira menção ao suposto depoimento foi feita pelo perfil @AnonNovidades, em 12 de fevereiro. A página foi criada em fevereiro de 2020 e se diz parte do grupo de ativistas Anonymous. Eles não informam qual seria a fonte da informação.
Nos dias seguintes, postagens no Instagram e no Facebook viralizaram reproduzindo o tuíte. O jornal O Globo mostrou que as 13 postagens com mais reações somaram 126,7 mil interações no Facebook.
O blog Terra Brasil Notícias, já checado pelo Estadão Verifica por divulgar informações enganosas, chegou a publicar a informação e a dar crédito para o perfil @AnonNovidades. A manchete da notícia ajudou a dar gás para o boato. No mesmo dia, o blog publicou outro texto no qual disse que a Polícia Federal negou que o depoimento tivesse ocorrido. Esse segundo texto não teve o mesmo grau de viralização que o original.
No relatório final das investigações sobre o atentado, o delegado Rodrigo Morais Fernandes descartou a participação de agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou mesmo paramilitares. "Até aqui, a investigação, marcada ininterruptamente pelo rigor técnico, demonstrou que Adélio Bispo de Oliveira atuou sozinho, por iniciativa própria, tendo sido o responsável pelo planejamento da ação criminosa e por sua execução, não contando, a qualquer tempo, com o apoio de terceiros", concluiu.
O delegado também afirmou que a única lacuna deixada pelas investigações foi quanto à "dúvida razoável acerca do real interesse dos advogados" de Adélio. Para isso, foram feitas buscas no escritório do advogado Zanone Júnior, mas uma decisão liminar de um desembargador do 1º Tribunal Regional Federal à época impediu a análise do material coletado.
Em novembro de 2021, a Segunda Seção do TRF-1, em Brasília, derrubou a decisão liminar. Isso permitiu que a investigação fosse reaberta. Nessa nova fase, os dados bancários e o celular do advogado de Adélio serão analisados. A PF quer saber se alguém pagou pelos honorários dele ou se ele assumiu a defesa pela visibilidade do caso.
Adélio foi considerado inimputável, o que quer dizer que é considerado incapaz de responder pelo crime por sofrer distúrbios psicológicos. Ele cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, por tempo indeterminado.