O que estão compartilhando: texto que mostra supostas mensagens entre o ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e um engenheiro da Oracle, que atestariam que houve fraude nas eleições presidenciais de 2022 a favor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A manipulação, segundo o texto, teria se dado no primeiro turno, por meio de um algoritmo criado pelo suposto engenheiro.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: as supostas mensagens trazem dados errados que demonstram sua falsidade. Exemplos incluem o horário em que Lula ultrapassou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no 1º turno e o resultado do petista na primeira etapa das eleições. A contabilização dos votos começa nas urnas eletrônicas, equipamentos que não contam com nenhum sistema da Oracle. Elas emitem os boletins de urna, que são impressos em cada seção eleitoral após o fim da votação e estão disponíveis na internet para conferência. Diversas entidades, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Exército, auditaram o sistema e atestaram que não houve fraude nas eleições de 2022.
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Saiba mais: texto afirma que mais de 90 horas de conversas por WhatsApp entre “M” (que seria o ministro Alexandre) e integrantes do sistema de apuração das eleições de 2022 foram distribuídas para várias pessoas importantes do Brasil e dos EUA. A postagem afirma ainda que os áudios virão à tona. O texto situa a conversa durante o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022. Porém, apresenta inconsistências que atestam a falsidade do conteúdo.
Um desses pontos é quando “M”, em conversa com o suposto engenheiro da Oracle, o parabeniza após a “quarta parcial 1º turno” da votação, às 17h50: “Viramos. Parabéns. Trabalho excelente. Vou pedir para triplicar sua grana”. Porém, a virada de Lula sobre Bolsonaro no 1º turno se deu somente às 20h.
Em outro trecho, o suposto engenheiro diz: “ele venceu a eleição no primeiro turno com 51.9% dos votos. É só para que o senhor reconheça meu esforço”. Mas o resultado do primeiro turno em 2022 foi de 48,43% para Lula.
Após o 1º turno, diversas instituições atestaram a confiabilidade do pleito, como o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público Federal (MPF), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade de São Paulo (USP), a Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e a Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).
Não há software da Oracle na urna
Professor do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), André Santos participou da Comissão de Transparência Eleitoral e afirma que a Oracle não tem nenhum equipamento nas urnas eletrônicas. No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), consta que o contrato com a empresa é para licença e suporte de software de banco de dados alocados nos Tribunais Regionais Eleitorais.
Portanto, explica o professor, não faz sentido a alegação da postagem de que um suposto engenheiro da empresa teria alterado a votação por meio de um algoritmo, já que a primeira contabilização de votos se dá nas urnas eletrônicas.
“A primeira soma é na urna”, explicou. “Ela gera os boletins em papel, que ficam afixados nas seções de votação e são entregues a fiscais de partidos e outras pessoas, e podem ser fotografados por qualquer um”.
“A urna também gera os boletins eletrônicos, que vão para o TSE”, continuou. “Depois, é possível pegar os boletins impressos ou os eletrônicos no site do TSE e comparar com os resultados oficiais divulgados. O sistema é perfeitamente auditável”.
Os boletins de urna estão disponíveis neste link, no site do TSE.
TCU conferiu boletins e atestou legalidade
O TCU acompanhou presencialmente as eleições de 2022. E selecionou e conferiu, no primeiro e segundo turno, 1.163 boletins de urnas distintas no dia das votações. O órgão confirmou que os boletins de urna emitidos em cada seção eleitoral após a conclusão da votação apresentaram as mesmas informações divulgadas pelo TSE.
Ao mesmo tempo, o TCU analisou amostra de boletins de urna de 4.577 seções eleitorais, com o cruzamento de 6,3 milhões de informações, e não detectou divergência com os resultados divulgados pelo TSE. Os dados constam do site do TCU, que concluiu, no fim de 2023, a auditoria, afirmando que “a segurança do sistema eleitoral foi confirmada novamente”.
Processos de fiscalização e auditoria do sistema eletrônico de votação ocorrem em várias etapas, antes, durante e depois das eleições. Além do TCU, o Exército, outra entidade fiscalizadora nas eleições de 2022, apresentou relatório que não apontou qualquer fraude eleitoral e reconheceu que os boletins de urnas e os resultados divulgados pelo TSE são idênticos.