Não é verdade que exista cura para o Alzheimer, diferentemente do que diz médico em vídeo viral


Especialistas e organizações de saúde esclarecem que a doença é progressiva e irreversível; não há evidências científicas de que dietas possam curar pacientes com o transtorno; médico não respondeu contato da reportagem

Por Giovana Frioli
Atualização:

O que estão compartilhando: postagem compartilha trecho de entrevista em que médico comenta sobre o aumento dos diagnósticos de Alzheimer e diz que “hoje em dia é possível curar a doença”. Em sequência, o doutor afirma que é necessário “alimentar o cérebro” com “leite materno, óleo de coco e gemas de ovos”.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso porque não existe cura para o Alzheimer, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e entidades internacionais. Os geriatras Leonardo Oliva e Celene Pinheiro explicam que a doença é progressiva e irreversível. Os sintomas podem ser controlados com tratamentos multidisciplinares e medicamentos.

Segundo os especialistas, a alimentação saudável pode ser benéfica na prevenção de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer, e na promoção da saúde cerebral. Entretanto, não há evidências científicas de que uma dieta possa curar o transtorno neurodegenerativo. A reportagem tentou contato com o médico responsável pelas alegações, mas não obteve retorno.

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Não é verdadeiro que exista cura para o Alzheimer, diferentemente do que diz médico em vídeo viral Foto: Redes Sociais/Reprodução

Saiba mais: Postagens nas redes sociais reproduzem trecho de uma entrevista em que o médico Lair Ribeiro diz que há cura para o Alzheimer e comenta, em seguida, sobre alimentos que contribuíram para o cérebro. A informação é refutada por especialistas da ABRAz, SBGG e por entidades internacionais, como a Associação de Alzheimer, que afirmam não haver nenhuma cura para a doença até o momento.

Os conteúdos recortam partes de uma conversa sobre saúde de Ribeiro com Leda Nagle em 16 de novembro de 2023. Durante a entrevista, a jornalista pergunta sobre “alternativas” para impedir a doença e o médico responde que “hoje em dia é possível curar o Alzheimer”, aos 41 minutos e 28 segundos do vídeo. “É possível? Como assim?”, questiona Nagle. “Sim, é possível”, reafirma ele. O trecho passou a ser reproduzido no Facebook como uma promessa de recuperação completa aos pacientes, o que não é comprovado cientificamente.

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Não existe cura para o Alzheimer, mas há tratamento

O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que deteriora as funções cognitivas, comprometendo a memória, pensamento e comportamento. Como informa o Ministério da Saúde, há tratamentos que contribuem para a manutenção da qualidade de vida do paciente, mas a doença ainda é sem cura. A organização internacional Alzheimer’s Association, em inglês, também esclarece em seu site que não há uma cura, e sim opções que ajudam a lidar com os sintomas.

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A geriatra Celene Pinheiro, presidente da ABRAz, explica que “existem aspectos relacionados à prevenção dessa doença, o que é confirmado por grupos de estudos no mundo todo. Infelizmente, não temos cura”. Segundo o médico Leonardo Oliva, da SBGG, o diagnóstico do Alzheimer está crescendo com o envelhecimento da população, que é o principal fator de risco, porém não há uma resolução definitiva.

“Como é uma doença estigmatizada, que causa sofrimento ao paciente e seus familiares, ficamos muito suscetíveis a qualquer informação que prometa a cura, mas isso não é verdade”, afirmou. “Todos nós profissionais estamos em busca disso e há pesquisas científicas nesse sentido, mas ainda não há nada que acabe com esse transtorno”.

Os especialistas apontam que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são os caminhos recomendados para o declínio da progressão da doença. “Quanto antes tivermos a identificação do Alzheimer, melhor”, afirmou Celene. “Assim, conseguimos iniciar os cuidados com mais agilidade, o que ajuda a manter a qualidade de vida e uma dignidade maior para o paciente”.

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Os medicamentos são uma das estratégias para lidar com o transtorno, estimulando uma substância no cérebro que regula a memória e o aprendizado. “Os fármacos aumentam a acetilcolina no cérebro, que tende a faltar durante o Alzheimer”, explicou Oliva. “Isso não reverte o problema, mas contribui para estabilizar ou diminuir seus efeitos”.

“Os remédios não impedem que a pessoa continue esquecendo, isso deve estar alinhado às expectativas dos familiares”, lembrou Celene. “Eles possibilitam uma piora mais lenta no quadro, o que mantém a pessoa funcional e as habilidades básicas de cuidado e comunicação”.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde oferece tratamento multidisciplinar e gratuito para os pacientes e medicamentos que possibilitam o alívio dos sintomas. Na última terça-feira, 4, foi sancionada a Lei para Cuidado Integral às Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, que estabelece políticas para o reforço da prevenção, diagnóstico, disseminação de informação clínica e apoio de pesquisas sobre a doença. O projeto foi sancionado pelo presidente, após aprovação no Congresso Nacional.

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Não há evidências que alimentos curem o Alzheimer

O vídeo analisado ainda recorta um trecho da mesma entrevista em que Lair Ribeiro recomenda a “alimentação do cérebro”, sugerindo uma dieta que poderia proporcionar a cura. Na conversa original, o médico citava as orientações do neurologista Dale Bredesen, que teria regredido o Alzheimer em pacientes com a estratégia. Porém, estudos publicados por revistas de investigação, como Lancet Neurology e Theoretical Medicine and Bioethics, demonstram preocupações e apontam falta de comprovação nas pesquisas do médico norte-americano.

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“O Dr. Bredesen, professor da Faculdade de Medicina de Los Angeles, na Califórnia, escreveu um livro dos primeiros cem casos onde ele conseguiu regredir pessoas que não dirigiam mais, voltaram a dirigir, pessoas que não reconheciam os filhos, voltaram a reconhecer”, afirma Ribeiro no vídeo. “Quer dizer, hoje tem uma esperança muito grande nessa área porque você tem quase… Quais são os alimentos para o cérebro? Bom, o primeiro seria o leite materno, o colostro. Claro que no Brasil não, mas lá na Europa eles tem isso no mercado negro”. Ele ainda recomenda o uso da gema do ovo e do óleo de coco na entrevista.

Apesar de ser citado como professor e membro do Mary S. Easton Center for Alzheimer’s Disease Research, da Universidade da Califórnia, em 2015, não é possível encontrar o nome de Bredesen entre os pesquisadores e docentes atuais do laboratório ou no site da instituição de ensino. Em 2020, a neurologista Joanna Hellmuth, membro da Academia Americana de Neurologia e professora da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), publicou que o “Protocolo Bredesen” possui “vários sinais de alerta” e que “as evidências não apoiam a sua alegação de prevenir e reverter o declínio cognitivo de uma doença incurável”.

Segundo estimativas de 2022 da Alzheimer’s Disease International, 50 milhões de pessoas convivem com alguma forma de demência em todo o mundo. Foto: Tiago Queiroz

Ao Estadão Verifica, a presidente da Associação Brasileira de Alzheimer afirma que os alimentos não são capazes de curar a doença. “Há evidências científicas de que dietas podem ajudar a prevenir o Alzheimer, alimentos como peixes, ovos, óleos e vegetais, podem proporcionar nutrientes importantes para o cérebro. Mas isso não é uma cura”, disse Celene. O geriatra Oliva também aponta que “não há evidência científica de nenhum alimento que cura o Alzheimer”.

Segundo a médica, o envelhecimento, condições genéticas, baixa escolaridade, depressão, obesidade, diabetes, traumas cranianos, colesterol alto, tabagismo e outros são fatores de risco para o Alzheimer. “Bons hábitos de vida contribuem na prevenção e também no tratamento da doença. Prática de atividade física, boa qualidade do sono, alimentação adequada, estimulação cognitiva, interação social, tudo isso é importante para o cérebro”, disse.

Uma alimentação saudável pode reduzir o desenvolvimento de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer. “Se alimentar bem previne doenças. No caso de uma pessoa que recebeu o diagnóstico também é necessário uma dieta adequada para a manutenção da sua memória e da saúde cerebral. Isso reduz a chance de adoecimento e controla melhor o transtorno, mas nunca a cura”, afirmou o representante da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

O colostro humano, citado no vídeo analisado, é a primeira secreção produzida após o parto. Porém, o leite materno não tem permissão de venda no Brasil.

Afirmações do médico Lair Ribeiro já foram checado em outras ocasiões pelo Estadão Verifica, que mostrou que não há comprovação científica de relação entre retirada da vesícula e enfarte no miocárdio e que é falso que exame de mamografia anual cause câncer de mama. A reportagem tentou contato com o profissional, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O que estão compartilhando: postagem compartilha trecho de entrevista em que médico comenta sobre o aumento dos diagnósticos de Alzheimer e diz que “hoje em dia é possível curar a doença”. Em sequência, o doutor afirma que é necessário “alimentar o cérebro” com “leite materno, óleo de coco e gemas de ovos”.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso porque não existe cura para o Alzheimer, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e entidades internacionais. Os geriatras Leonardo Oliva e Celene Pinheiro explicam que a doença é progressiva e irreversível. Os sintomas podem ser controlados com tratamentos multidisciplinares e medicamentos.

Segundo os especialistas, a alimentação saudável pode ser benéfica na prevenção de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer, e na promoção da saúde cerebral. Entretanto, não há evidências científicas de que uma dieta possa curar o transtorno neurodegenerativo. A reportagem tentou contato com o médico responsável pelas alegações, mas não obteve retorno.

Não é verdadeiro que exista cura para o Alzheimer, diferentemente do que diz médico em vídeo viral Foto: Redes Sociais/Reprodução

Saiba mais: Postagens nas redes sociais reproduzem trecho de uma entrevista em que o médico Lair Ribeiro diz que há cura para o Alzheimer e comenta, em seguida, sobre alimentos que contribuíram para o cérebro. A informação é refutada por especialistas da ABRAz, SBGG e por entidades internacionais, como a Associação de Alzheimer, que afirmam não haver nenhuma cura para a doença até o momento.

Os conteúdos recortam partes de uma conversa sobre saúde de Ribeiro com Leda Nagle em 16 de novembro de 2023. Durante a entrevista, a jornalista pergunta sobre “alternativas” para impedir a doença e o médico responde que “hoje em dia é possível curar o Alzheimer”, aos 41 minutos e 28 segundos do vídeo. “É possível? Como assim?”, questiona Nagle. “Sim, é possível”, reafirma ele. O trecho passou a ser reproduzido no Facebook como uma promessa de recuperação completa aos pacientes, o que não é comprovado cientificamente.

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Não existe cura para o Alzheimer, mas há tratamento

O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que deteriora as funções cognitivas, comprometendo a memória, pensamento e comportamento. Como informa o Ministério da Saúde, há tratamentos que contribuem para a manutenção da qualidade de vida do paciente, mas a doença ainda é sem cura. A organização internacional Alzheimer’s Association, em inglês, também esclarece em seu site que não há uma cura, e sim opções que ajudam a lidar com os sintomas.

A geriatra Celene Pinheiro, presidente da ABRAz, explica que “existem aspectos relacionados à prevenção dessa doença, o que é confirmado por grupos de estudos no mundo todo. Infelizmente, não temos cura”. Segundo o médico Leonardo Oliva, da SBGG, o diagnóstico do Alzheimer está crescendo com o envelhecimento da população, que é o principal fator de risco, porém não há uma resolução definitiva.

“Como é uma doença estigmatizada, que causa sofrimento ao paciente e seus familiares, ficamos muito suscetíveis a qualquer informação que prometa a cura, mas isso não é verdade”, afirmou. “Todos nós profissionais estamos em busca disso e há pesquisas científicas nesse sentido, mas ainda não há nada que acabe com esse transtorno”.

Os especialistas apontam que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são os caminhos recomendados para o declínio da progressão da doença. “Quanto antes tivermos a identificação do Alzheimer, melhor”, afirmou Celene. “Assim, conseguimos iniciar os cuidados com mais agilidade, o que ajuda a manter a qualidade de vida e uma dignidade maior para o paciente”.

Os medicamentos são uma das estratégias para lidar com o transtorno, estimulando uma substância no cérebro que regula a memória e o aprendizado. “Os fármacos aumentam a acetilcolina no cérebro, que tende a faltar durante o Alzheimer”, explicou Oliva. “Isso não reverte o problema, mas contribui para estabilizar ou diminuir seus efeitos”.

“Os remédios não impedem que a pessoa continue esquecendo, isso deve estar alinhado às expectativas dos familiares”, lembrou Celene. “Eles possibilitam uma piora mais lenta no quadro, o que mantém a pessoa funcional e as habilidades básicas de cuidado e comunicação”.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde oferece tratamento multidisciplinar e gratuito para os pacientes e medicamentos que possibilitam o alívio dos sintomas. Na última terça-feira, 4, foi sancionada a Lei para Cuidado Integral às Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, que estabelece políticas para o reforço da prevenção, diagnóstico, disseminação de informação clínica e apoio de pesquisas sobre a doença. O projeto foi sancionado pelo presidente, após aprovação no Congresso Nacional.

Não há evidências que alimentos curem o Alzheimer

O vídeo analisado ainda recorta um trecho da mesma entrevista em que Lair Ribeiro recomenda a “alimentação do cérebro”, sugerindo uma dieta que poderia proporcionar a cura. Na conversa original, o médico citava as orientações do neurologista Dale Bredesen, que teria regredido o Alzheimer em pacientes com a estratégia. Porém, estudos publicados por revistas de investigação, como Lancet Neurology e Theoretical Medicine and Bioethics, demonstram preocupações e apontam falta de comprovação nas pesquisas do médico norte-americano.

“O Dr. Bredesen, professor da Faculdade de Medicina de Los Angeles, na Califórnia, escreveu um livro dos primeiros cem casos onde ele conseguiu regredir pessoas que não dirigiam mais, voltaram a dirigir, pessoas que não reconheciam os filhos, voltaram a reconhecer”, afirma Ribeiro no vídeo. “Quer dizer, hoje tem uma esperança muito grande nessa área porque você tem quase… Quais são os alimentos para o cérebro? Bom, o primeiro seria o leite materno, o colostro. Claro que no Brasil não, mas lá na Europa eles tem isso no mercado negro”. Ele ainda recomenda o uso da gema do ovo e do óleo de coco na entrevista.

Apesar de ser citado como professor e membro do Mary S. Easton Center for Alzheimer’s Disease Research, da Universidade da Califórnia, em 2015, não é possível encontrar o nome de Bredesen entre os pesquisadores e docentes atuais do laboratório ou no site da instituição de ensino. Em 2020, a neurologista Joanna Hellmuth, membro da Academia Americana de Neurologia e professora da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), publicou que o “Protocolo Bredesen” possui “vários sinais de alerta” e que “as evidências não apoiam a sua alegação de prevenir e reverter o declínio cognitivo de uma doença incurável”.

Segundo estimativas de 2022 da Alzheimer’s Disease International, 50 milhões de pessoas convivem com alguma forma de demência em todo o mundo. Foto: Tiago Queiroz

Ao Estadão Verifica, a presidente da Associação Brasileira de Alzheimer afirma que os alimentos não são capazes de curar a doença. “Há evidências científicas de que dietas podem ajudar a prevenir o Alzheimer, alimentos como peixes, ovos, óleos e vegetais, podem proporcionar nutrientes importantes para o cérebro. Mas isso não é uma cura”, disse Celene. O geriatra Oliva também aponta que “não há evidência científica de nenhum alimento que cura o Alzheimer”.

Segundo a médica, o envelhecimento, condições genéticas, baixa escolaridade, depressão, obesidade, diabetes, traumas cranianos, colesterol alto, tabagismo e outros são fatores de risco para o Alzheimer. “Bons hábitos de vida contribuem na prevenção e também no tratamento da doença. Prática de atividade física, boa qualidade do sono, alimentação adequada, estimulação cognitiva, interação social, tudo isso é importante para o cérebro”, disse.

Uma alimentação saudável pode reduzir o desenvolvimento de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer. “Se alimentar bem previne doenças. No caso de uma pessoa que recebeu o diagnóstico também é necessário uma dieta adequada para a manutenção da sua memória e da saúde cerebral. Isso reduz a chance de adoecimento e controla melhor o transtorno, mas nunca a cura”, afirmou o representante da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

O colostro humano, citado no vídeo analisado, é a primeira secreção produzida após o parto. Porém, o leite materno não tem permissão de venda no Brasil.

Afirmações do médico Lair Ribeiro já foram checado em outras ocasiões pelo Estadão Verifica, que mostrou que não há comprovação científica de relação entre retirada da vesícula e enfarte no miocárdio e que é falso que exame de mamografia anual cause câncer de mama. A reportagem tentou contato com o profissional, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O que estão compartilhando: postagem compartilha trecho de entrevista em que médico comenta sobre o aumento dos diagnósticos de Alzheimer e diz que “hoje em dia é possível curar a doença”. Em sequência, o doutor afirma que é necessário “alimentar o cérebro” com “leite materno, óleo de coco e gemas de ovos”.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso porque não existe cura para o Alzheimer, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e entidades internacionais. Os geriatras Leonardo Oliva e Celene Pinheiro explicam que a doença é progressiva e irreversível. Os sintomas podem ser controlados com tratamentos multidisciplinares e medicamentos.

Segundo os especialistas, a alimentação saudável pode ser benéfica na prevenção de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer, e na promoção da saúde cerebral. Entretanto, não há evidências científicas de que uma dieta possa curar o transtorno neurodegenerativo. A reportagem tentou contato com o médico responsável pelas alegações, mas não obteve retorno.

Não é verdadeiro que exista cura para o Alzheimer, diferentemente do que diz médico em vídeo viral Foto: Redes Sociais/Reprodução

Saiba mais: Postagens nas redes sociais reproduzem trecho de uma entrevista em que o médico Lair Ribeiro diz que há cura para o Alzheimer e comenta, em seguida, sobre alimentos que contribuíram para o cérebro. A informação é refutada por especialistas da ABRAz, SBGG e por entidades internacionais, como a Associação de Alzheimer, que afirmam não haver nenhuma cura para a doença até o momento.

Os conteúdos recortam partes de uma conversa sobre saúde de Ribeiro com Leda Nagle em 16 de novembro de 2023. Durante a entrevista, a jornalista pergunta sobre “alternativas” para impedir a doença e o médico responde que “hoje em dia é possível curar o Alzheimer”, aos 41 minutos e 28 segundos do vídeo. “É possível? Como assim?”, questiona Nagle. “Sim, é possível”, reafirma ele. O trecho passou a ser reproduzido no Facebook como uma promessa de recuperação completa aos pacientes, o que não é comprovado cientificamente.

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Não existe cura para o Alzheimer, mas há tratamento

O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que deteriora as funções cognitivas, comprometendo a memória, pensamento e comportamento. Como informa o Ministério da Saúde, há tratamentos que contribuem para a manutenção da qualidade de vida do paciente, mas a doença ainda é sem cura. A organização internacional Alzheimer’s Association, em inglês, também esclarece em seu site que não há uma cura, e sim opções que ajudam a lidar com os sintomas.

A geriatra Celene Pinheiro, presidente da ABRAz, explica que “existem aspectos relacionados à prevenção dessa doença, o que é confirmado por grupos de estudos no mundo todo. Infelizmente, não temos cura”. Segundo o médico Leonardo Oliva, da SBGG, o diagnóstico do Alzheimer está crescendo com o envelhecimento da população, que é o principal fator de risco, porém não há uma resolução definitiva.

“Como é uma doença estigmatizada, que causa sofrimento ao paciente e seus familiares, ficamos muito suscetíveis a qualquer informação que prometa a cura, mas isso não é verdade”, afirmou. “Todos nós profissionais estamos em busca disso e há pesquisas científicas nesse sentido, mas ainda não há nada que acabe com esse transtorno”.

Os especialistas apontam que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são os caminhos recomendados para o declínio da progressão da doença. “Quanto antes tivermos a identificação do Alzheimer, melhor”, afirmou Celene. “Assim, conseguimos iniciar os cuidados com mais agilidade, o que ajuda a manter a qualidade de vida e uma dignidade maior para o paciente”.

Os medicamentos são uma das estratégias para lidar com o transtorno, estimulando uma substância no cérebro que regula a memória e o aprendizado. “Os fármacos aumentam a acetilcolina no cérebro, que tende a faltar durante o Alzheimer”, explicou Oliva. “Isso não reverte o problema, mas contribui para estabilizar ou diminuir seus efeitos”.

“Os remédios não impedem que a pessoa continue esquecendo, isso deve estar alinhado às expectativas dos familiares”, lembrou Celene. “Eles possibilitam uma piora mais lenta no quadro, o que mantém a pessoa funcional e as habilidades básicas de cuidado e comunicação”.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde oferece tratamento multidisciplinar e gratuito para os pacientes e medicamentos que possibilitam o alívio dos sintomas. Na última terça-feira, 4, foi sancionada a Lei para Cuidado Integral às Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, que estabelece políticas para o reforço da prevenção, diagnóstico, disseminação de informação clínica e apoio de pesquisas sobre a doença. O projeto foi sancionado pelo presidente, após aprovação no Congresso Nacional.

Não há evidências que alimentos curem o Alzheimer

O vídeo analisado ainda recorta um trecho da mesma entrevista em que Lair Ribeiro recomenda a “alimentação do cérebro”, sugerindo uma dieta que poderia proporcionar a cura. Na conversa original, o médico citava as orientações do neurologista Dale Bredesen, que teria regredido o Alzheimer em pacientes com a estratégia. Porém, estudos publicados por revistas de investigação, como Lancet Neurology e Theoretical Medicine and Bioethics, demonstram preocupações e apontam falta de comprovação nas pesquisas do médico norte-americano.

“O Dr. Bredesen, professor da Faculdade de Medicina de Los Angeles, na Califórnia, escreveu um livro dos primeiros cem casos onde ele conseguiu regredir pessoas que não dirigiam mais, voltaram a dirigir, pessoas que não reconheciam os filhos, voltaram a reconhecer”, afirma Ribeiro no vídeo. “Quer dizer, hoje tem uma esperança muito grande nessa área porque você tem quase… Quais são os alimentos para o cérebro? Bom, o primeiro seria o leite materno, o colostro. Claro que no Brasil não, mas lá na Europa eles tem isso no mercado negro”. Ele ainda recomenda o uso da gema do ovo e do óleo de coco na entrevista.

Apesar de ser citado como professor e membro do Mary S. Easton Center for Alzheimer’s Disease Research, da Universidade da Califórnia, em 2015, não é possível encontrar o nome de Bredesen entre os pesquisadores e docentes atuais do laboratório ou no site da instituição de ensino. Em 2020, a neurologista Joanna Hellmuth, membro da Academia Americana de Neurologia e professora da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), publicou que o “Protocolo Bredesen” possui “vários sinais de alerta” e que “as evidências não apoiam a sua alegação de prevenir e reverter o declínio cognitivo de uma doença incurável”.

Segundo estimativas de 2022 da Alzheimer’s Disease International, 50 milhões de pessoas convivem com alguma forma de demência em todo o mundo. Foto: Tiago Queiroz

Ao Estadão Verifica, a presidente da Associação Brasileira de Alzheimer afirma que os alimentos não são capazes de curar a doença. “Há evidências científicas de que dietas podem ajudar a prevenir o Alzheimer, alimentos como peixes, ovos, óleos e vegetais, podem proporcionar nutrientes importantes para o cérebro. Mas isso não é uma cura”, disse Celene. O geriatra Oliva também aponta que “não há evidência científica de nenhum alimento que cura o Alzheimer”.

Segundo a médica, o envelhecimento, condições genéticas, baixa escolaridade, depressão, obesidade, diabetes, traumas cranianos, colesterol alto, tabagismo e outros são fatores de risco para o Alzheimer. “Bons hábitos de vida contribuem na prevenção e também no tratamento da doença. Prática de atividade física, boa qualidade do sono, alimentação adequada, estimulação cognitiva, interação social, tudo isso é importante para o cérebro”, disse.

Uma alimentação saudável pode reduzir o desenvolvimento de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer. “Se alimentar bem previne doenças. No caso de uma pessoa que recebeu o diagnóstico também é necessário uma dieta adequada para a manutenção da sua memória e da saúde cerebral. Isso reduz a chance de adoecimento e controla melhor o transtorno, mas nunca a cura”, afirmou o representante da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

O colostro humano, citado no vídeo analisado, é a primeira secreção produzida após o parto. Porém, o leite materno não tem permissão de venda no Brasil.

Afirmações do médico Lair Ribeiro já foram checado em outras ocasiões pelo Estadão Verifica, que mostrou que não há comprovação científica de relação entre retirada da vesícula e enfarte no miocárdio e que é falso que exame de mamografia anual cause câncer de mama. A reportagem tentou contato com o profissional, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O que estão compartilhando: postagem compartilha trecho de entrevista em que médico comenta sobre o aumento dos diagnósticos de Alzheimer e diz que “hoje em dia é possível curar a doença”. Em sequência, o doutor afirma que é necessário “alimentar o cérebro” com “leite materno, óleo de coco e gemas de ovos”.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso porque não existe cura para o Alzheimer, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e entidades internacionais. Os geriatras Leonardo Oliva e Celene Pinheiro explicam que a doença é progressiva e irreversível. Os sintomas podem ser controlados com tratamentos multidisciplinares e medicamentos.

Segundo os especialistas, a alimentação saudável pode ser benéfica na prevenção de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer, e na promoção da saúde cerebral. Entretanto, não há evidências científicas de que uma dieta possa curar o transtorno neurodegenerativo. A reportagem tentou contato com o médico responsável pelas alegações, mas não obteve retorno.

Não é verdadeiro que exista cura para o Alzheimer, diferentemente do que diz médico em vídeo viral Foto: Redes Sociais/Reprodução

Saiba mais: Postagens nas redes sociais reproduzem trecho de uma entrevista em que o médico Lair Ribeiro diz que há cura para o Alzheimer e comenta, em seguida, sobre alimentos que contribuíram para o cérebro. A informação é refutada por especialistas da ABRAz, SBGG e por entidades internacionais, como a Associação de Alzheimer, que afirmam não haver nenhuma cura para a doença até o momento.

Os conteúdos recortam partes de uma conversa sobre saúde de Ribeiro com Leda Nagle em 16 de novembro de 2023. Durante a entrevista, a jornalista pergunta sobre “alternativas” para impedir a doença e o médico responde que “hoje em dia é possível curar o Alzheimer”, aos 41 minutos e 28 segundos do vídeo. “É possível? Como assim?”, questiona Nagle. “Sim, é possível”, reafirma ele. O trecho passou a ser reproduzido no Facebook como uma promessa de recuperação completa aos pacientes, o que não é comprovado cientificamente.

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Não existe cura para o Alzheimer, mas há tratamento

O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que deteriora as funções cognitivas, comprometendo a memória, pensamento e comportamento. Como informa o Ministério da Saúde, há tratamentos que contribuem para a manutenção da qualidade de vida do paciente, mas a doença ainda é sem cura. A organização internacional Alzheimer’s Association, em inglês, também esclarece em seu site que não há uma cura, e sim opções que ajudam a lidar com os sintomas.

A geriatra Celene Pinheiro, presidente da ABRAz, explica que “existem aspectos relacionados à prevenção dessa doença, o que é confirmado por grupos de estudos no mundo todo. Infelizmente, não temos cura”. Segundo o médico Leonardo Oliva, da SBGG, o diagnóstico do Alzheimer está crescendo com o envelhecimento da população, que é o principal fator de risco, porém não há uma resolução definitiva.

“Como é uma doença estigmatizada, que causa sofrimento ao paciente e seus familiares, ficamos muito suscetíveis a qualquer informação que prometa a cura, mas isso não é verdade”, afirmou. “Todos nós profissionais estamos em busca disso e há pesquisas científicas nesse sentido, mas ainda não há nada que acabe com esse transtorno”.

Os especialistas apontam que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são os caminhos recomendados para o declínio da progressão da doença. “Quanto antes tivermos a identificação do Alzheimer, melhor”, afirmou Celene. “Assim, conseguimos iniciar os cuidados com mais agilidade, o que ajuda a manter a qualidade de vida e uma dignidade maior para o paciente”.

Os medicamentos são uma das estratégias para lidar com o transtorno, estimulando uma substância no cérebro que regula a memória e o aprendizado. “Os fármacos aumentam a acetilcolina no cérebro, que tende a faltar durante o Alzheimer”, explicou Oliva. “Isso não reverte o problema, mas contribui para estabilizar ou diminuir seus efeitos”.

“Os remédios não impedem que a pessoa continue esquecendo, isso deve estar alinhado às expectativas dos familiares”, lembrou Celene. “Eles possibilitam uma piora mais lenta no quadro, o que mantém a pessoa funcional e as habilidades básicas de cuidado e comunicação”.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde oferece tratamento multidisciplinar e gratuito para os pacientes e medicamentos que possibilitam o alívio dos sintomas. Na última terça-feira, 4, foi sancionada a Lei para Cuidado Integral às Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, que estabelece políticas para o reforço da prevenção, diagnóstico, disseminação de informação clínica e apoio de pesquisas sobre a doença. O projeto foi sancionado pelo presidente, após aprovação no Congresso Nacional.

Não há evidências que alimentos curem o Alzheimer

O vídeo analisado ainda recorta um trecho da mesma entrevista em que Lair Ribeiro recomenda a “alimentação do cérebro”, sugerindo uma dieta que poderia proporcionar a cura. Na conversa original, o médico citava as orientações do neurologista Dale Bredesen, que teria regredido o Alzheimer em pacientes com a estratégia. Porém, estudos publicados por revistas de investigação, como Lancet Neurology e Theoretical Medicine and Bioethics, demonstram preocupações e apontam falta de comprovação nas pesquisas do médico norte-americano.

“O Dr. Bredesen, professor da Faculdade de Medicina de Los Angeles, na Califórnia, escreveu um livro dos primeiros cem casos onde ele conseguiu regredir pessoas que não dirigiam mais, voltaram a dirigir, pessoas que não reconheciam os filhos, voltaram a reconhecer”, afirma Ribeiro no vídeo. “Quer dizer, hoje tem uma esperança muito grande nessa área porque você tem quase… Quais são os alimentos para o cérebro? Bom, o primeiro seria o leite materno, o colostro. Claro que no Brasil não, mas lá na Europa eles tem isso no mercado negro”. Ele ainda recomenda o uso da gema do ovo e do óleo de coco na entrevista.

Apesar de ser citado como professor e membro do Mary S. Easton Center for Alzheimer’s Disease Research, da Universidade da Califórnia, em 2015, não é possível encontrar o nome de Bredesen entre os pesquisadores e docentes atuais do laboratório ou no site da instituição de ensino. Em 2020, a neurologista Joanna Hellmuth, membro da Academia Americana de Neurologia e professora da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), publicou que o “Protocolo Bredesen” possui “vários sinais de alerta” e que “as evidências não apoiam a sua alegação de prevenir e reverter o declínio cognitivo de uma doença incurável”.

Segundo estimativas de 2022 da Alzheimer’s Disease International, 50 milhões de pessoas convivem com alguma forma de demência em todo o mundo. Foto: Tiago Queiroz

Ao Estadão Verifica, a presidente da Associação Brasileira de Alzheimer afirma que os alimentos não são capazes de curar a doença. “Há evidências científicas de que dietas podem ajudar a prevenir o Alzheimer, alimentos como peixes, ovos, óleos e vegetais, podem proporcionar nutrientes importantes para o cérebro. Mas isso não é uma cura”, disse Celene. O geriatra Oliva também aponta que “não há evidência científica de nenhum alimento que cura o Alzheimer”.

Segundo a médica, o envelhecimento, condições genéticas, baixa escolaridade, depressão, obesidade, diabetes, traumas cranianos, colesterol alto, tabagismo e outros são fatores de risco para o Alzheimer. “Bons hábitos de vida contribuem na prevenção e também no tratamento da doença. Prática de atividade física, boa qualidade do sono, alimentação adequada, estimulação cognitiva, interação social, tudo isso é importante para o cérebro”, disse.

Uma alimentação saudável pode reduzir o desenvolvimento de problemas relacionados à memória, como o Alzheimer. “Se alimentar bem previne doenças. No caso de uma pessoa que recebeu o diagnóstico também é necessário uma dieta adequada para a manutenção da sua memória e da saúde cerebral. Isso reduz a chance de adoecimento e controla melhor o transtorno, mas nunca a cura”, afirmou o representante da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

O colostro humano, citado no vídeo analisado, é a primeira secreção produzida após o parto. Porém, o leite materno não tem permissão de venda no Brasil.

Afirmações do médico Lair Ribeiro já foram checado em outras ocasiões pelo Estadão Verifica, que mostrou que não há comprovação científica de relação entre retirada da vesícula e enfarte no miocárdio e que é falso que exame de mamografia anual cause câncer de mama. A reportagem tentou contato com o profissional, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

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