Após 10 anos no SUS, vacinação contra HPV ainda enfrenta desinformação e falta de conhecimento


Imunizante que pode zerar os casos de câncer de colo de útero é alvo de tabus e resistência entre a população e até nos consultórios

Por Clarissa Pacheco e Luciana Marschall
Atualização:

A vacina que protege contra o papilomavírus humano (HPV) e previne o câncer do colo do útero é segura e uma das mais eficazes do calendário vacinal brasileiro, com quase 100% de eficácia comprovada. Apesar disso, a desinformação que se espalha nas redes é uma das principais razões pelas quais esta vacina, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) há dez anos, esteja entre as três com maior índice de hesitação vacinal no País. O dado é do Programa Integral de Imunização do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), e mostra que, além das vacinas contra a gripe e a covid-19, a do HPV é uma daquelas que mais enfrentam resistência dos brasileiros.

Embalagem da vacina do HPV Foto: JF Diorio/Estadão

O pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que o fenômeno antivacina no Brasil é recente. Para ele, a hesitação vacinal foi impulsionada pela pandemia, pelo negacionismo e pela politização da saúde. “Nós sempre fomos exemplo mundial de cobertura vacinal, de sucesso em campanhas de vacinação”, lembrou. “Sempre fomos um País que acreditou na vacina. Por isso, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou em 2019 que a hesitação vacinal seria um dos dez problemas da década, a gente torceu o nariz, falou que esse discurso aqui não pegaria, que era coisa de americano, de europeu”.

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Mas o discurso pegou, e veio importado e traduzido. Hoje, não é difícil encontrar nas redes sociais publicações sobre diversos tipos de vacina que “importam” discursos de outros países. No X (antigo Twitter), por exemplo, uma mulher alcançou milhares de visualizações ao espalhar uma série de informações falsas: que a vacina é experimental, deixa jovens inférteis, interrompe a menstruação, causa narcolepsia e paraplegia. O imunizante contra HPV não faz nada disso. Na verdade, protege contra quatro tipos do vírus e pode zerar casos de câncer do colo do útero no País, se alcançar uma cobertura alta.

“A vacina contra HPV é uma das mais eficazes, só perde para a da Hepatite A”, destacou Kfouri. “Ela existe há quase 20 anos, com centenas de milhões de doses aplicadas, e não há dúvida: de experimental, ela não tem nada”.

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Dados mostram diminuição na procura da vacina

Os ataques ao imunizante contra o HPV são uma das causas da redução recente na procura pela vacinação. Dados dos anos anteriores mostram um cenário de queda. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras a partir de 9 anos receberam a primeira dose da vacina. Mas essa taxa de adesão caiu para 75,81% em 2022. Entre os meninos, o índice foi de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022. É importante destacar que, no caso específico do HPV, não existem dados de cobertura anual, e sim um cálculo da adesão à vacinação desde que foi implantada no SUS.

A médica pediatra Isabella Ballalai, diretora da SBIm e membro do Conselho Consultivo da Vaccine Safety Net, da OMS, destaca que a adesão à vacina tem se mantido estável entre 75% e 80%, o que ela considera bom. Para a OMS, no entanto, a cobertura ideal para eliminar o câncer do colo do útero é de 90% ou superior.

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 Foto: Reprodução/Estadão Verifica
 Foto: Reprodução/Estadão Verifica

O Ministério da Saúde demonstra preocupação com a redução na procura por esta e outras vacinas, que apresentam queda de cobertura desde 2016. Em relação ao imunizante contra o HPV, dados mostram que a falta de conhecimento público faz com que nem mesmo profissionais de saúde recomendem a aplicação desta vacina em salas de imunização.

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No ano passado, a Fundação do Câncer publicou uma revisão sistemática de estudos sobre práticas da população e de profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero. Os estudos mostraram que 33% dos profissionais de saúde não se sentiam seguros para informar sobre a vacinação contra HPV.

No Brasil, a vacina era disponibilizada no SUS em duas doses para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Em abril deste ano, para tentar aumentar a cobertura, o Ministério da Saúde decidiu adotar um esquema de dose única e levar a vacinação para as escolas. A recomendação ainda é de duas doses para meninos e meninas de 9 a 14 anos que sofreram abuso sexual. Homens e mulheres imunossuprimidos, de 15 a 45 anos, que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos também podem tomar a vacina pelo SUS - a recomendação é de três doses.

Casos de câncer são evitáveis com vacina

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A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus – 6, 11, 16 e 18 – e contra doenças desencadeadas pelo HPV. Isso inclui câncer do colo do útero, da vulva, da vagina e do ânus, além de verrugas genitais, infecções e lesões anormais e pré-cancerosas em ambos os sexos. Segundo a pediatra Isabella Ballalai, esses quadros podem aparecer a longo prazo, daí a importância da vacina que é capaz de impedi-los.

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que explica não haver números precisos porque o câncer não é uma doença de notificação obrigatória. As estimativas são feitas com base nos dados de cada Estado por triênio. Para o período de 2023 a 2025, São Paulo deve ser o Estado com mais casos (2.550), seguido de Minas Gerais (1.670), Rio de Janeiro (1.540), Bahia (1.160) e Ceará (1.030).

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Foto: Freepik
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A oncologista clínica Angélica Nogueira, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explica que virtualmente 100% dos casos de câncer de colo do útero são associados ao HPV. Nogueira destaca que a vacinação é importante principalmente porque a infecção pelo vírus não é curável.

“O que existe contra HPV é a vacina preventiva para quem ainda não teve a infecção persistente”, afirmou. “Estamos falando de evitar diagnóstico de um câncer que tem uma morbidade e mortalidade alta com uma medida muito simples, que é a vacinação”.

Tabus relacionados a sexualidade atrapalham vacinação

Apesar de ser uma vacina segura, eficaz e proteger contra o câncer, muita gente deixa de levar os filhos para se imunizar por conta dos tabus que existem em torno da vacina. Kfouri observa que, por proteger de um vírus sexualmente transmissível, os pais não veem sentido em vacinar crianças em idade não sexual. Muitos acreditam que essa vacinação pode estimular uma antecipação da vida sexual, mas não há dados que comprovem isso. A vacina é aplicada antes do início da atividade sexual para proteger a criança ou o adolescente enquanto ele ainda não foi exposto.

Conforme o vice-presidente da SBIm, um agravante que contribuiu para que o imunizante fosse cercado de tabus foi um episódio registrado no Acre e que deu origem à criação da Associação das Vítimas da Vacina do HPV em 2014, justamente quando a vacina foi introduzida no SUS. Na época, adolescentes que receberam o imunizante começaram a ter convulsões, que se espalharam entre outras meninas próximas que também tinham se vacinado. Depois, ficou provado que esses sintomas não tinham sido causados pela vacina. Mas essa situação é vista entre imunologistas brasileiros como o ponto de partida do antivacinismo no Brasil.

Adolescentes no Acre tiveram convulsões, mas associação com vacina foi descartada

A partir do primeiro relato de convulsões nas redes sociais, outras adolescentes começaram a dizer que tinham sentido o mesmo. De repente, havia um grupo de mães de meninas do Acre atribuindo as convulsões – que na época foram erroneamente entendidas como epilepsia – a uma reação à vacina. A bula da vacina inclui a possibilidade rara de desmaio e convulsões, mas não de epilepsia. As reações mais comuns são no local da injeção (como dor, inchaço, coceira, hematoma e vermelhidão) e dor de cabeça, febre e dor nas extremidades, tontura, náuseas e vômitos.

Ballalai recorda que, antes dos especialistas perceberem algo, o assunto já havia tomado o Instagram, onde mães diziam que a vacina causava reações. Não havia qualquer comprovação de que aqueles episódios tinham sido decorrentes da imunização, mas o “diagnóstico” foi feito, prontamente, por associação.

A partir da intervenção da SBIm, o Ministério da Saúde passou a investigar o caso. Parte das meninas participaram de um estudo na Universidade de São Paulo (USP), que descartou a associação entre os casos e as vacinas. “Descobriram que não havia nada da vacina em si, eram manifestações psicogênicas. As crises eram não epilépticas, mas o estrago estava feito. Até hoje, as coberturas do Acre são as piores do Brasil”, apontou Kfouri.

Desinformação é apenas um dos problemas para hesitação vacinal

Apesar de a desinformação ser um problema crescente, não é a única causa para a hesitação vacinal. Segundo Lely Guzmán, coordenadora do Programa Integral de Imunização do escritório da Opas, as motivações para alguém não se vacinar são diversas.

“Experiências negativas relacionadas aos serviços de saúde, barreiras de acesso, preocupação com as possíveis reações das vacinas – ainda que leves – e medo de agulha são exemplos de situações que também podem levar à hesitação vacinal”, explicou.

No caso do Brasil, destaca Guzmán, um inquérito de cobertura vacinal em crianças nascidas entre 2017 e 2018, feito pelo Ministério da Saúde em parceria com a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, apontou que 18% dos entrevistados se preocupavam com reações graves das vacinas.

Por incrível que pareça, Brasil é vítima do sucesso do próprio PNI, já que alta cobertura vacinal fez com que as pessoas perdessem a percepção de risco de algumas doenças. Foto: Igor do Vale/Estadão Foto: Igor do Vale / Estadão

A mesma pesquisa demonstrou que 28,3% dos entrevistados relataram não ter conseguido vacinar uma criança apesar de tê-la levado a um posto de vacinação. Outros 7,6% tiveram dificuldade de levar seus filhos para serem vacinados.

Outro fator apontado por Guzmán para a queda das coberturas vacinais é surpreendente: o sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “A população e os trabalhadores da saúde têm perdido a percepção de risco relacionado a doenças que foram eliminadas há décadas aqui na região das Américas, como a pólio, mas que continuam a oferecer riscos para os não vacinados por não terem sido ainda erradicadas do mundo”, explica.

Para mudar esse cenário, são necessárias diferentes medidas. Guzmán destaca que, em relação ao medo das reações, é preciso esclarecer quais são as mais comuns e as mais raras e graves. Também é importante aumentar o acesso aos imunizantes, levando-os até a casa das pessoas ou outros espaços de alta circulação. Especificamente sobre o imunizante contra HPV, Guzmán ressalta a importância de mostrar a toda a família que a vacina oferece proteção contra diversos tipos de câncer que podem matar homens e mulheres de todas as idades.

Nesse contexto, a oncologista Angélica Nogueira comenta que, no dia a dia da clínica, se percebe que a população é aberta à vacinação, mas nem sempre sabe a importância de cada imunizante. “Se o médico é claro na informação de que a vacina do HPV é uma vacina contra câncer, que protege homens e mulheres, e que vacinando as crianças a gente tem maior efeito para quando elas virarem adultas, os pais e quem cuida de crianças imediatamente aceitam a informação”.

A vacina que protege contra o papilomavírus humano (HPV) e previne o câncer do colo do útero é segura e uma das mais eficazes do calendário vacinal brasileiro, com quase 100% de eficácia comprovada. Apesar disso, a desinformação que se espalha nas redes é uma das principais razões pelas quais esta vacina, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) há dez anos, esteja entre as três com maior índice de hesitação vacinal no País. O dado é do Programa Integral de Imunização do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), e mostra que, além das vacinas contra a gripe e a covid-19, a do HPV é uma daquelas que mais enfrentam resistência dos brasileiros.

Embalagem da vacina do HPV Foto: JF Diorio/Estadão

O pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que o fenômeno antivacina no Brasil é recente. Para ele, a hesitação vacinal foi impulsionada pela pandemia, pelo negacionismo e pela politização da saúde. “Nós sempre fomos exemplo mundial de cobertura vacinal, de sucesso em campanhas de vacinação”, lembrou. “Sempre fomos um País que acreditou na vacina. Por isso, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou em 2019 que a hesitação vacinal seria um dos dez problemas da década, a gente torceu o nariz, falou que esse discurso aqui não pegaria, que era coisa de americano, de europeu”.

Mas o discurso pegou, e veio importado e traduzido. Hoje, não é difícil encontrar nas redes sociais publicações sobre diversos tipos de vacina que “importam” discursos de outros países. No X (antigo Twitter), por exemplo, uma mulher alcançou milhares de visualizações ao espalhar uma série de informações falsas: que a vacina é experimental, deixa jovens inférteis, interrompe a menstruação, causa narcolepsia e paraplegia. O imunizante contra HPV não faz nada disso. Na verdade, protege contra quatro tipos do vírus e pode zerar casos de câncer do colo do útero no País, se alcançar uma cobertura alta.

“A vacina contra HPV é uma das mais eficazes, só perde para a da Hepatite A”, destacou Kfouri. “Ela existe há quase 20 anos, com centenas de milhões de doses aplicadas, e não há dúvida: de experimental, ela não tem nada”.

Dados mostram diminuição na procura da vacina

Os ataques ao imunizante contra o HPV são uma das causas da redução recente na procura pela vacinação. Dados dos anos anteriores mostram um cenário de queda. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras a partir de 9 anos receberam a primeira dose da vacina. Mas essa taxa de adesão caiu para 75,81% em 2022. Entre os meninos, o índice foi de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022. É importante destacar que, no caso específico do HPV, não existem dados de cobertura anual, e sim um cálculo da adesão à vacinação desde que foi implantada no SUS.

A médica pediatra Isabella Ballalai, diretora da SBIm e membro do Conselho Consultivo da Vaccine Safety Net, da OMS, destaca que a adesão à vacina tem se mantido estável entre 75% e 80%, o que ela considera bom. Para a OMS, no entanto, a cobertura ideal para eliminar o câncer do colo do útero é de 90% ou superior.

 Foto: Reprodução/Estadão Verifica
 Foto: Reprodução/Estadão Verifica

O Ministério da Saúde demonstra preocupação com a redução na procura por esta e outras vacinas, que apresentam queda de cobertura desde 2016. Em relação ao imunizante contra o HPV, dados mostram que a falta de conhecimento público faz com que nem mesmo profissionais de saúde recomendem a aplicação desta vacina em salas de imunização.

No ano passado, a Fundação do Câncer publicou uma revisão sistemática de estudos sobre práticas da população e de profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero. Os estudos mostraram que 33% dos profissionais de saúde não se sentiam seguros para informar sobre a vacinação contra HPV.

No Brasil, a vacina era disponibilizada no SUS em duas doses para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Em abril deste ano, para tentar aumentar a cobertura, o Ministério da Saúde decidiu adotar um esquema de dose única e levar a vacinação para as escolas. A recomendação ainda é de duas doses para meninos e meninas de 9 a 14 anos que sofreram abuso sexual. Homens e mulheres imunossuprimidos, de 15 a 45 anos, que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos também podem tomar a vacina pelo SUS - a recomendação é de três doses.

Casos de câncer são evitáveis com vacina

A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus – 6, 11, 16 e 18 – e contra doenças desencadeadas pelo HPV. Isso inclui câncer do colo do útero, da vulva, da vagina e do ânus, além de verrugas genitais, infecções e lesões anormais e pré-cancerosas em ambos os sexos. Segundo a pediatra Isabella Ballalai, esses quadros podem aparecer a longo prazo, daí a importância da vacina que é capaz de impedi-los.

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que explica não haver números precisos porque o câncer não é uma doença de notificação obrigatória. As estimativas são feitas com base nos dados de cada Estado por triênio. Para o período de 2023 a 2025, São Paulo deve ser o Estado com mais casos (2.550), seguido de Minas Gerais (1.670), Rio de Janeiro (1.540), Bahia (1.160) e Ceará (1.030).

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Foto: Freepik

A oncologista clínica Angélica Nogueira, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explica que virtualmente 100% dos casos de câncer de colo do útero são associados ao HPV. Nogueira destaca que a vacinação é importante principalmente porque a infecção pelo vírus não é curável.

“O que existe contra HPV é a vacina preventiva para quem ainda não teve a infecção persistente”, afirmou. “Estamos falando de evitar diagnóstico de um câncer que tem uma morbidade e mortalidade alta com uma medida muito simples, que é a vacinação”.

Tabus relacionados a sexualidade atrapalham vacinação

Apesar de ser uma vacina segura, eficaz e proteger contra o câncer, muita gente deixa de levar os filhos para se imunizar por conta dos tabus que existem em torno da vacina. Kfouri observa que, por proteger de um vírus sexualmente transmissível, os pais não veem sentido em vacinar crianças em idade não sexual. Muitos acreditam que essa vacinação pode estimular uma antecipação da vida sexual, mas não há dados que comprovem isso. A vacina é aplicada antes do início da atividade sexual para proteger a criança ou o adolescente enquanto ele ainda não foi exposto.

Conforme o vice-presidente da SBIm, um agravante que contribuiu para que o imunizante fosse cercado de tabus foi um episódio registrado no Acre e que deu origem à criação da Associação das Vítimas da Vacina do HPV em 2014, justamente quando a vacina foi introduzida no SUS. Na época, adolescentes que receberam o imunizante começaram a ter convulsões, que se espalharam entre outras meninas próximas que também tinham se vacinado. Depois, ficou provado que esses sintomas não tinham sido causados pela vacina. Mas essa situação é vista entre imunologistas brasileiros como o ponto de partida do antivacinismo no Brasil.

Adolescentes no Acre tiveram convulsões, mas associação com vacina foi descartada

A partir do primeiro relato de convulsões nas redes sociais, outras adolescentes começaram a dizer que tinham sentido o mesmo. De repente, havia um grupo de mães de meninas do Acre atribuindo as convulsões – que na época foram erroneamente entendidas como epilepsia – a uma reação à vacina. A bula da vacina inclui a possibilidade rara de desmaio e convulsões, mas não de epilepsia. As reações mais comuns são no local da injeção (como dor, inchaço, coceira, hematoma e vermelhidão) e dor de cabeça, febre e dor nas extremidades, tontura, náuseas e vômitos.

Ballalai recorda que, antes dos especialistas perceberem algo, o assunto já havia tomado o Instagram, onde mães diziam que a vacina causava reações. Não havia qualquer comprovação de que aqueles episódios tinham sido decorrentes da imunização, mas o “diagnóstico” foi feito, prontamente, por associação.

A partir da intervenção da SBIm, o Ministério da Saúde passou a investigar o caso. Parte das meninas participaram de um estudo na Universidade de São Paulo (USP), que descartou a associação entre os casos e as vacinas. “Descobriram que não havia nada da vacina em si, eram manifestações psicogênicas. As crises eram não epilépticas, mas o estrago estava feito. Até hoje, as coberturas do Acre são as piores do Brasil”, apontou Kfouri.

Desinformação é apenas um dos problemas para hesitação vacinal

Apesar de a desinformação ser um problema crescente, não é a única causa para a hesitação vacinal. Segundo Lely Guzmán, coordenadora do Programa Integral de Imunização do escritório da Opas, as motivações para alguém não se vacinar são diversas.

“Experiências negativas relacionadas aos serviços de saúde, barreiras de acesso, preocupação com as possíveis reações das vacinas – ainda que leves – e medo de agulha são exemplos de situações que também podem levar à hesitação vacinal”, explicou.

No caso do Brasil, destaca Guzmán, um inquérito de cobertura vacinal em crianças nascidas entre 2017 e 2018, feito pelo Ministério da Saúde em parceria com a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, apontou que 18% dos entrevistados se preocupavam com reações graves das vacinas.

Por incrível que pareça, Brasil é vítima do sucesso do próprio PNI, já que alta cobertura vacinal fez com que as pessoas perdessem a percepção de risco de algumas doenças. Foto: Igor do Vale/Estadão Foto: Igor do Vale / Estadão

A mesma pesquisa demonstrou que 28,3% dos entrevistados relataram não ter conseguido vacinar uma criança apesar de tê-la levado a um posto de vacinação. Outros 7,6% tiveram dificuldade de levar seus filhos para serem vacinados.

Outro fator apontado por Guzmán para a queda das coberturas vacinais é surpreendente: o sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “A população e os trabalhadores da saúde têm perdido a percepção de risco relacionado a doenças que foram eliminadas há décadas aqui na região das Américas, como a pólio, mas que continuam a oferecer riscos para os não vacinados por não terem sido ainda erradicadas do mundo”, explica.

Para mudar esse cenário, são necessárias diferentes medidas. Guzmán destaca que, em relação ao medo das reações, é preciso esclarecer quais são as mais comuns e as mais raras e graves. Também é importante aumentar o acesso aos imunizantes, levando-os até a casa das pessoas ou outros espaços de alta circulação. Especificamente sobre o imunizante contra HPV, Guzmán ressalta a importância de mostrar a toda a família que a vacina oferece proteção contra diversos tipos de câncer que podem matar homens e mulheres de todas as idades.

Nesse contexto, a oncologista Angélica Nogueira comenta que, no dia a dia da clínica, se percebe que a população é aberta à vacinação, mas nem sempre sabe a importância de cada imunizante. “Se o médico é claro na informação de que a vacina do HPV é uma vacina contra câncer, que protege homens e mulheres, e que vacinando as crianças a gente tem maior efeito para quando elas virarem adultas, os pais e quem cuida de crianças imediatamente aceitam a informação”.

A vacina que protege contra o papilomavírus humano (HPV) e previne o câncer do colo do útero é segura e uma das mais eficazes do calendário vacinal brasileiro, com quase 100% de eficácia comprovada. Apesar disso, a desinformação que se espalha nas redes é uma das principais razões pelas quais esta vacina, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) há dez anos, esteja entre as três com maior índice de hesitação vacinal no País. O dado é do Programa Integral de Imunização do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), e mostra que, além das vacinas contra a gripe e a covid-19, a do HPV é uma daquelas que mais enfrentam resistência dos brasileiros.

Embalagem da vacina do HPV Foto: JF Diorio/Estadão

O pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que o fenômeno antivacina no Brasil é recente. Para ele, a hesitação vacinal foi impulsionada pela pandemia, pelo negacionismo e pela politização da saúde. “Nós sempre fomos exemplo mundial de cobertura vacinal, de sucesso em campanhas de vacinação”, lembrou. “Sempre fomos um País que acreditou na vacina. Por isso, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou em 2019 que a hesitação vacinal seria um dos dez problemas da década, a gente torceu o nariz, falou que esse discurso aqui não pegaria, que era coisa de americano, de europeu”.

Mas o discurso pegou, e veio importado e traduzido. Hoje, não é difícil encontrar nas redes sociais publicações sobre diversos tipos de vacina que “importam” discursos de outros países. No X (antigo Twitter), por exemplo, uma mulher alcançou milhares de visualizações ao espalhar uma série de informações falsas: que a vacina é experimental, deixa jovens inférteis, interrompe a menstruação, causa narcolepsia e paraplegia. O imunizante contra HPV não faz nada disso. Na verdade, protege contra quatro tipos do vírus e pode zerar casos de câncer do colo do útero no País, se alcançar uma cobertura alta.

“A vacina contra HPV é uma das mais eficazes, só perde para a da Hepatite A”, destacou Kfouri. “Ela existe há quase 20 anos, com centenas de milhões de doses aplicadas, e não há dúvida: de experimental, ela não tem nada”.

Dados mostram diminuição na procura da vacina

Os ataques ao imunizante contra o HPV são uma das causas da redução recente na procura pela vacinação. Dados dos anos anteriores mostram um cenário de queda. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras a partir de 9 anos receberam a primeira dose da vacina. Mas essa taxa de adesão caiu para 75,81% em 2022. Entre os meninos, o índice foi de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022. É importante destacar que, no caso específico do HPV, não existem dados de cobertura anual, e sim um cálculo da adesão à vacinação desde que foi implantada no SUS.

A médica pediatra Isabella Ballalai, diretora da SBIm e membro do Conselho Consultivo da Vaccine Safety Net, da OMS, destaca que a adesão à vacina tem se mantido estável entre 75% e 80%, o que ela considera bom. Para a OMS, no entanto, a cobertura ideal para eliminar o câncer do colo do útero é de 90% ou superior.

 Foto: Reprodução/Estadão Verifica
 Foto: Reprodução/Estadão Verifica

O Ministério da Saúde demonstra preocupação com a redução na procura por esta e outras vacinas, que apresentam queda de cobertura desde 2016. Em relação ao imunizante contra o HPV, dados mostram que a falta de conhecimento público faz com que nem mesmo profissionais de saúde recomendem a aplicação desta vacina em salas de imunização.

No ano passado, a Fundação do Câncer publicou uma revisão sistemática de estudos sobre práticas da população e de profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero. Os estudos mostraram que 33% dos profissionais de saúde não se sentiam seguros para informar sobre a vacinação contra HPV.

No Brasil, a vacina era disponibilizada no SUS em duas doses para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Em abril deste ano, para tentar aumentar a cobertura, o Ministério da Saúde decidiu adotar um esquema de dose única e levar a vacinação para as escolas. A recomendação ainda é de duas doses para meninos e meninas de 9 a 14 anos que sofreram abuso sexual. Homens e mulheres imunossuprimidos, de 15 a 45 anos, que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos também podem tomar a vacina pelo SUS - a recomendação é de três doses.

Casos de câncer são evitáveis com vacina

A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus – 6, 11, 16 e 18 – e contra doenças desencadeadas pelo HPV. Isso inclui câncer do colo do útero, da vulva, da vagina e do ânus, além de verrugas genitais, infecções e lesões anormais e pré-cancerosas em ambos os sexos. Segundo a pediatra Isabella Ballalai, esses quadros podem aparecer a longo prazo, daí a importância da vacina que é capaz de impedi-los.

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que explica não haver números precisos porque o câncer não é uma doença de notificação obrigatória. As estimativas são feitas com base nos dados de cada Estado por triênio. Para o período de 2023 a 2025, São Paulo deve ser o Estado com mais casos (2.550), seguido de Minas Gerais (1.670), Rio de Janeiro (1.540), Bahia (1.160) e Ceará (1.030).

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Foto: Freepik

A oncologista clínica Angélica Nogueira, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explica que virtualmente 100% dos casos de câncer de colo do útero são associados ao HPV. Nogueira destaca que a vacinação é importante principalmente porque a infecção pelo vírus não é curável.

“O que existe contra HPV é a vacina preventiva para quem ainda não teve a infecção persistente”, afirmou. “Estamos falando de evitar diagnóstico de um câncer que tem uma morbidade e mortalidade alta com uma medida muito simples, que é a vacinação”.

Tabus relacionados a sexualidade atrapalham vacinação

Apesar de ser uma vacina segura, eficaz e proteger contra o câncer, muita gente deixa de levar os filhos para se imunizar por conta dos tabus que existem em torno da vacina. Kfouri observa que, por proteger de um vírus sexualmente transmissível, os pais não veem sentido em vacinar crianças em idade não sexual. Muitos acreditam que essa vacinação pode estimular uma antecipação da vida sexual, mas não há dados que comprovem isso. A vacina é aplicada antes do início da atividade sexual para proteger a criança ou o adolescente enquanto ele ainda não foi exposto.

Conforme o vice-presidente da SBIm, um agravante que contribuiu para que o imunizante fosse cercado de tabus foi um episódio registrado no Acre e que deu origem à criação da Associação das Vítimas da Vacina do HPV em 2014, justamente quando a vacina foi introduzida no SUS. Na época, adolescentes que receberam o imunizante começaram a ter convulsões, que se espalharam entre outras meninas próximas que também tinham se vacinado. Depois, ficou provado que esses sintomas não tinham sido causados pela vacina. Mas essa situação é vista entre imunologistas brasileiros como o ponto de partida do antivacinismo no Brasil.

Adolescentes no Acre tiveram convulsões, mas associação com vacina foi descartada

A partir do primeiro relato de convulsões nas redes sociais, outras adolescentes começaram a dizer que tinham sentido o mesmo. De repente, havia um grupo de mães de meninas do Acre atribuindo as convulsões – que na época foram erroneamente entendidas como epilepsia – a uma reação à vacina. A bula da vacina inclui a possibilidade rara de desmaio e convulsões, mas não de epilepsia. As reações mais comuns são no local da injeção (como dor, inchaço, coceira, hematoma e vermelhidão) e dor de cabeça, febre e dor nas extremidades, tontura, náuseas e vômitos.

Ballalai recorda que, antes dos especialistas perceberem algo, o assunto já havia tomado o Instagram, onde mães diziam que a vacina causava reações. Não havia qualquer comprovação de que aqueles episódios tinham sido decorrentes da imunização, mas o “diagnóstico” foi feito, prontamente, por associação.

A partir da intervenção da SBIm, o Ministério da Saúde passou a investigar o caso. Parte das meninas participaram de um estudo na Universidade de São Paulo (USP), que descartou a associação entre os casos e as vacinas. “Descobriram que não havia nada da vacina em si, eram manifestações psicogênicas. As crises eram não epilépticas, mas o estrago estava feito. Até hoje, as coberturas do Acre são as piores do Brasil”, apontou Kfouri.

Desinformação é apenas um dos problemas para hesitação vacinal

Apesar de a desinformação ser um problema crescente, não é a única causa para a hesitação vacinal. Segundo Lely Guzmán, coordenadora do Programa Integral de Imunização do escritório da Opas, as motivações para alguém não se vacinar são diversas.

“Experiências negativas relacionadas aos serviços de saúde, barreiras de acesso, preocupação com as possíveis reações das vacinas – ainda que leves – e medo de agulha são exemplos de situações que também podem levar à hesitação vacinal”, explicou.

No caso do Brasil, destaca Guzmán, um inquérito de cobertura vacinal em crianças nascidas entre 2017 e 2018, feito pelo Ministério da Saúde em parceria com a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, apontou que 18% dos entrevistados se preocupavam com reações graves das vacinas.

Por incrível que pareça, Brasil é vítima do sucesso do próprio PNI, já que alta cobertura vacinal fez com que as pessoas perdessem a percepção de risco de algumas doenças. Foto: Igor do Vale/Estadão Foto: Igor do Vale / Estadão

A mesma pesquisa demonstrou que 28,3% dos entrevistados relataram não ter conseguido vacinar uma criança apesar de tê-la levado a um posto de vacinação. Outros 7,6% tiveram dificuldade de levar seus filhos para serem vacinados.

Outro fator apontado por Guzmán para a queda das coberturas vacinais é surpreendente: o sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “A população e os trabalhadores da saúde têm perdido a percepção de risco relacionado a doenças que foram eliminadas há décadas aqui na região das Américas, como a pólio, mas que continuam a oferecer riscos para os não vacinados por não terem sido ainda erradicadas do mundo”, explica.

Para mudar esse cenário, são necessárias diferentes medidas. Guzmán destaca que, em relação ao medo das reações, é preciso esclarecer quais são as mais comuns e as mais raras e graves. Também é importante aumentar o acesso aos imunizantes, levando-os até a casa das pessoas ou outros espaços de alta circulação. Especificamente sobre o imunizante contra HPV, Guzmán ressalta a importância de mostrar a toda a família que a vacina oferece proteção contra diversos tipos de câncer que podem matar homens e mulheres de todas as idades.

Nesse contexto, a oncologista Angélica Nogueira comenta que, no dia a dia da clínica, se percebe que a população é aberta à vacinação, mas nem sempre sabe a importância de cada imunizante. “Se o médico é claro na informação de que a vacina do HPV é uma vacina contra câncer, que protege homens e mulheres, e que vacinando as crianças a gente tem maior efeito para quando elas virarem adultas, os pais e quem cuida de crianças imediatamente aceitam a informação”.

A vacina que protege contra o papilomavírus humano (HPV) e previne o câncer do colo do útero é segura e uma das mais eficazes do calendário vacinal brasileiro, com quase 100% de eficácia comprovada. Apesar disso, a desinformação que se espalha nas redes é uma das principais razões pelas quais esta vacina, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) há dez anos, esteja entre as três com maior índice de hesitação vacinal no País. O dado é do Programa Integral de Imunização do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), e mostra que, além das vacinas contra a gripe e a covid-19, a do HPV é uma daquelas que mais enfrentam resistência dos brasileiros.

Embalagem da vacina do HPV Foto: JF Diorio/Estadão

O pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que o fenômeno antivacina no Brasil é recente. Para ele, a hesitação vacinal foi impulsionada pela pandemia, pelo negacionismo e pela politização da saúde. “Nós sempre fomos exemplo mundial de cobertura vacinal, de sucesso em campanhas de vacinação”, lembrou. “Sempre fomos um País que acreditou na vacina. Por isso, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou em 2019 que a hesitação vacinal seria um dos dez problemas da década, a gente torceu o nariz, falou que esse discurso aqui não pegaria, que era coisa de americano, de europeu”.

Mas o discurso pegou, e veio importado e traduzido. Hoje, não é difícil encontrar nas redes sociais publicações sobre diversos tipos de vacina que “importam” discursos de outros países. No X (antigo Twitter), por exemplo, uma mulher alcançou milhares de visualizações ao espalhar uma série de informações falsas: que a vacina é experimental, deixa jovens inférteis, interrompe a menstruação, causa narcolepsia e paraplegia. O imunizante contra HPV não faz nada disso. Na verdade, protege contra quatro tipos do vírus e pode zerar casos de câncer do colo do útero no País, se alcançar uma cobertura alta.

“A vacina contra HPV é uma das mais eficazes, só perde para a da Hepatite A”, destacou Kfouri. “Ela existe há quase 20 anos, com centenas de milhões de doses aplicadas, e não há dúvida: de experimental, ela não tem nada”.

Dados mostram diminuição na procura da vacina

Os ataques ao imunizante contra o HPV são uma das causas da redução recente na procura pela vacinação. Dados dos anos anteriores mostram um cenário de queda. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras a partir de 9 anos receberam a primeira dose da vacina. Mas essa taxa de adesão caiu para 75,81% em 2022. Entre os meninos, o índice foi de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022. É importante destacar que, no caso específico do HPV, não existem dados de cobertura anual, e sim um cálculo da adesão à vacinação desde que foi implantada no SUS.

A médica pediatra Isabella Ballalai, diretora da SBIm e membro do Conselho Consultivo da Vaccine Safety Net, da OMS, destaca que a adesão à vacina tem se mantido estável entre 75% e 80%, o que ela considera bom. Para a OMS, no entanto, a cobertura ideal para eliminar o câncer do colo do útero é de 90% ou superior.

 Foto: Reprodução/Estadão Verifica
 Foto: Reprodução/Estadão Verifica

O Ministério da Saúde demonstra preocupação com a redução na procura por esta e outras vacinas, que apresentam queda de cobertura desde 2016. Em relação ao imunizante contra o HPV, dados mostram que a falta de conhecimento público faz com que nem mesmo profissionais de saúde recomendem a aplicação desta vacina em salas de imunização.

No ano passado, a Fundação do Câncer publicou uma revisão sistemática de estudos sobre práticas da população e de profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero. Os estudos mostraram que 33% dos profissionais de saúde não se sentiam seguros para informar sobre a vacinação contra HPV.

No Brasil, a vacina era disponibilizada no SUS em duas doses para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Em abril deste ano, para tentar aumentar a cobertura, o Ministério da Saúde decidiu adotar um esquema de dose única e levar a vacinação para as escolas. A recomendação ainda é de duas doses para meninos e meninas de 9 a 14 anos que sofreram abuso sexual. Homens e mulheres imunossuprimidos, de 15 a 45 anos, que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos também podem tomar a vacina pelo SUS - a recomendação é de três doses.

Casos de câncer são evitáveis com vacina

A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus – 6, 11, 16 e 18 – e contra doenças desencadeadas pelo HPV. Isso inclui câncer do colo do útero, da vulva, da vagina e do ânus, além de verrugas genitais, infecções e lesões anormais e pré-cancerosas em ambos os sexos. Segundo a pediatra Isabella Ballalai, esses quadros podem aparecer a longo prazo, daí a importância da vacina que é capaz de impedi-los.

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que explica não haver números precisos porque o câncer não é uma doença de notificação obrigatória. As estimativas são feitas com base nos dados de cada Estado por triênio. Para o período de 2023 a 2025, São Paulo deve ser o Estado com mais casos (2.550), seguido de Minas Gerais (1.670), Rio de Janeiro (1.540), Bahia (1.160) e Ceará (1.030).

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Foto: Freepik

A oncologista clínica Angélica Nogueira, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explica que virtualmente 100% dos casos de câncer de colo do útero são associados ao HPV. Nogueira destaca que a vacinação é importante principalmente porque a infecção pelo vírus não é curável.

“O que existe contra HPV é a vacina preventiva para quem ainda não teve a infecção persistente”, afirmou. “Estamos falando de evitar diagnóstico de um câncer que tem uma morbidade e mortalidade alta com uma medida muito simples, que é a vacinação”.

Tabus relacionados a sexualidade atrapalham vacinação

Apesar de ser uma vacina segura, eficaz e proteger contra o câncer, muita gente deixa de levar os filhos para se imunizar por conta dos tabus que existem em torno da vacina. Kfouri observa que, por proteger de um vírus sexualmente transmissível, os pais não veem sentido em vacinar crianças em idade não sexual. Muitos acreditam que essa vacinação pode estimular uma antecipação da vida sexual, mas não há dados que comprovem isso. A vacina é aplicada antes do início da atividade sexual para proteger a criança ou o adolescente enquanto ele ainda não foi exposto.

Conforme o vice-presidente da SBIm, um agravante que contribuiu para que o imunizante fosse cercado de tabus foi um episódio registrado no Acre e que deu origem à criação da Associação das Vítimas da Vacina do HPV em 2014, justamente quando a vacina foi introduzida no SUS. Na época, adolescentes que receberam o imunizante começaram a ter convulsões, que se espalharam entre outras meninas próximas que também tinham se vacinado. Depois, ficou provado que esses sintomas não tinham sido causados pela vacina. Mas essa situação é vista entre imunologistas brasileiros como o ponto de partida do antivacinismo no Brasil.

Adolescentes no Acre tiveram convulsões, mas associação com vacina foi descartada

A partir do primeiro relato de convulsões nas redes sociais, outras adolescentes começaram a dizer que tinham sentido o mesmo. De repente, havia um grupo de mães de meninas do Acre atribuindo as convulsões – que na época foram erroneamente entendidas como epilepsia – a uma reação à vacina. A bula da vacina inclui a possibilidade rara de desmaio e convulsões, mas não de epilepsia. As reações mais comuns são no local da injeção (como dor, inchaço, coceira, hematoma e vermelhidão) e dor de cabeça, febre e dor nas extremidades, tontura, náuseas e vômitos.

Ballalai recorda que, antes dos especialistas perceberem algo, o assunto já havia tomado o Instagram, onde mães diziam que a vacina causava reações. Não havia qualquer comprovação de que aqueles episódios tinham sido decorrentes da imunização, mas o “diagnóstico” foi feito, prontamente, por associação.

A partir da intervenção da SBIm, o Ministério da Saúde passou a investigar o caso. Parte das meninas participaram de um estudo na Universidade de São Paulo (USP), que descartou a associação entre os casos e as vacinas. “Descobriram que não havia nada da vacina em si, eram manifestações psicogênicas. As crises eram não epilépticas, mas o estrago estava feito. Até hoje, as coberturas do Acre são as piores do Brasil”, apontou Kfouri.

Desinformação é apenas um dos problemas para hesitação vacinal

Apesar de a desinformação ser um problema crescente, não é a única causa para a hesitação vacinal. Segundo Lely Guzmán, coordenadora do Programa Integral de Imunização do escritório da Opas, as motivações para alguém não se vacinar são diversas.

“Experiências negativas relacionadas aos serviços de saúde, barreiras de acesso, preocupação com as possíveis reações das vacinas – ainda que leves – e medo de agulha são exemplos de situações que também podem levar à hesitação vacinal”, explicou.

No caso do Brasil, destaca Guzmán, um inquérito de cobertura vacinal em crianças nascidas entre 2017 e 2018, feito pelo Ministério da Saúde em parceria com a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, apontou que 18% dos entrevistados se preocupavam com reações graves das vacinas.

Por incrível que pareça, Brasil é vítima do sucesso do próprio PNI, já que alta cobertura vacinal fez com que as pessoas perdessem a percepção de risco de algumas doenças. Foto: Igor do Vale/Estadão Foto: Igor do Vale / Estadão

A mesma pesquisa demonstrou que 28,3% dos entrevistados relataram não ter conseguido vacinar uma criança apesar de tê-la levado a um posto de vacinação. Outros 7,6% tiveram dificuldade de levar seus filhos para serem vacinados.

Outro fator apontado por Guzmán para a queda das coberturas vacinais é surpreendente: o sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “A população e os trabalhadores da saúde têm perdido a percepção de risco relacionado a doenças que foram eliminadas há décadas aqui na região das Américas, como a pólio, mas que continuam a oferecer riscos para os não vacinados por não terem sido ainda erradicadas do mundo”, explica.

Para mudar esse cenário, são necessárias diferentes medidas. Guzmán destaca que, em relação ao medo das reações, é preciso esclarecer quais são as mais comuns e as mais raras e graves. Também é importante aumentar o acesso aos imunizantes, levando-os até a casa das pessoas ou outros espaços de alta circulação. Especificamente sobre o imunizante contra HPV, Guzmán ressalta a importância de mostrar a toda a família que a vacina oferece proteção contra diversos tipos de câncer que podem matar homens e mulheres de todas as idades.

Nesse contexto, a oncologista Angélica Nogueira comenta que, no dia a dia da clínica, se percebe que a população é aberta à vacinação, mas nem sempre sabe a importância de cada imunizante. “Se o médico é claro na informação de que a vacina do HPV é uma vacina contra câncer, que protege homens e mulheres, e que vacinando as crianças a gente tem maior efeito para quando elas virarem adultas, os pais e quem cuida de crianças imediatamente aceitam a informação”.

A vacina que protege contra o papilomavírus humano (HPV) e previne o câncer do colo do útero é segura e uma das mais eficazes do calendário vacinal brasileiro, com quase 100% de eficácia comprovada. Apesar disso, a desinformação que se espalha nas redes é uma das principais razões pelas quais esta vacina, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) há dez anos, esteja entre as três com maior índice de hesitação vacinal no País. O dado é do Programa Integral de Imunização do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), e mostra que, além das vacinas contra a gripe e a covid-19, a do HPV é uma daquelas que mais enfrentam resistência dos brasileiros.

Embalagem da vacina do HPV Foto: JF Diorio/Estadão

O pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que o fenômeno antivacina no Brasil é recente. Para ele, a hesitação vacinal foi impulsionada pela pandemia, pelo negacionismo e pela politização da saúde. “Nós sempre fomos exemplo mundial de cobertura vacinal, de sucesso em campanhas de vacinação”, lembrou. “Sempre fomos um País que acreditou na vacina. Por isso, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou em 2019 que a hesitação vacinal seria um dos dez problemas da década, a gente torceu o nariz, falou que esse discurso aqui não pegaria, que era coisa de americano, de europeu”.

Mas o discurso pegou, e veio importado e traduzido. Hoje, não é difícil encontrar nas redes sociais publicações sobre diversos tipos de vacina que “importam” discursos de outros países. No X (antigo Twitter), por exemplo, uma mulher alcançou milhares de visualizações ao espalhar uma série de informações falsas: que a vacina é experimental, deixa jovens inférteis, interrompe a menstruação, causa narcolepsia e paraplegia. O imunizante contra HPV não faz nada disso. Na verdade, protege contra quatro tipos do vírus e pode zerar casos de câncer do colo do útero no País, se alcançar uma cobertura alta.

“A vacina contra HPV é uma das mais eficazes, só perde para a da Hepatite A”, destacou Kfouri. “Ela existe há quase 20 anos, com centenas de milhões de doses aplicadas, e não há dúvida: de experimental, ela não tem nada”.

Dados mostram diminuição na procura da vacina

Os ataques ao imunizante contra o HPV são uma das causas da redução recente na procura pela vacinação. Dados dos anos anteriores mostram um cenário de queda. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras a partir de 9 anos receberam a primeira dose da vacina. Mas essa taxa de adesão caiu para 75,81% em 2022. Entre os meninos, o índice foi de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022. É importante destacar que, no caso específico do HPV, não existem dados de cobertura anual, e sim um cálculo da adesão à vacinação desde que foi implantada no SUS.

A médica pediatra Isabella Ballalai, diretora da SBIm e membro do Conselho Consultivo da Vaccine Safety Net, da OMS, destaca que a adesão à vacina tem se mantido estável entre 75% e 80%, o que ela considera bom. Para a OMS, no entanto, a cobertura ideal para eliminar o câncer do colo do útero é de 90% ou superior.

 Foto: Reprodução/Estadão Verifica
 Foto: Reprodução/Estadão Verifica

O Ministério da Saúde demonstra preocupação com a redução na procura por esta e outras vacinas, que apresentam queda de cobertura desde 2016. Em relação ao imunizante contra o HPV, dados mostram que a falta de conhecimento público faz com que nem mesmo profissionais de saúde recomendem a aplicação desta vacina em salas de imunização.

No ano passado, a Fundação do Câncer publicou uma revisão sistemática de estudos sobre práticas da população e de profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero. Os estudos mostraram que 33% dos profissionais de saúde não se sentiam seguros para informar sobre a vacinação contra HPV.

No Brasil, a vacina era disponibilizada no SUS em duas doses para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Em abril deste ano, para tentar aumentar a cobertura, o Ministério da Saúde decidiu adotar um esquema de dose única e levar a vacinação para as escolas. A recomendação ainda é de duas doses para meninos e meninas de 9 a 14 anos que sofreram abuso sexual. Homens e mulheres imunossuprimidos, de 15 a 45 anos, que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos também podem tomar a vacina pelo SUS - a recomendação é de três doses.

Casos de câncer são evitáveis com vacina

A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus – 6, 11, 16 e 18 – e contra doenças desencadeadas pelo HPV. Isso inclui câncer do colo do útero, da vulva, da vagina e do ânus, além de verrugas genitais, infecções e lesões anormais e pré-cancerosas em ambos os sexos. Segundo a pediatra Isabella Ballalai, esses quadros podem aparecer a longo prazo, daí a importância da vacina que é capaz de impedi-los.

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que explica não haver números precisos porque o câncer não é uma doença de notificação obrigatória. As estimativas são feitas com base nos dados de cada Estado por triênio. Para o período de 2023 a 2025, São Paulo deve ser o Estado com mais casos (2.550), seguido de Minas Gerais (1.670), Rio de Janeiro (1.540), Bahia (1.160) e Ceará (1.030).

No Brasil, a estimativa é que, entre 2023 e 2025, sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer do colo do útero a cada ano. Foto: Freepik

A oncologista clínica Angélica Nogueira, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explica que virtualmente 100% dos casos de câncer de colo do útero são associados ao HPV. Nogueira destaca que a vacinação é importante principalmente porque a infecção pelo vírus não é curável.

“O que existe contra HPV é a vacina preventiva para quem ainda não teve a infecção persistente”, afirmou. “Estamos falando de evitar diagnóstico de um câncer que tem uma morbidade e mortalidade alta com uma medida muito simples, que é a vacinação”.

Tabus relacionados a sexualidade atrapalham vacinação

Apesar de ser uma vacina segura, eficaz e proteger contra o câncer, muita gente deixa de levar os filhos para se imunizar por conta dos tabus que existem em torno da vacina. Kfouri observa que, por proteger de um vírus sexualmente transmissível, os pais não veem sentido em vacinar crianças em idade não sexual. Muitos acreditam que essa vacinação pode estimular uma antecipação da vida sexual, mas não há dados que comprovem isso. A vacina é aplicada antes do início da atividade sexual para proteger a criança ou o adolescente enquanto ele ainda não foi exposto.

Conforme o vice-presidente da SBIm, um agravante que contribuiu para que o imunizante fosse cercado de tabus foi um episódio registrado no Acre e que deu origem à criação da Associação das Vítimas da Vacina do HPV em 2014, justamente quando a vacina foi introduzida no SUS. Na época, adolescentes que receberam o imunizante começaram a ter convulsões, que se espalharam entre outras meninas próximas que também tinham se vacinado. Depois, ficou provado que esses sintomas não tinham sido causados pela vacina. Mas essa situação é vista entre imunologistas brasileiros como o ponto de partida do antivacinismo no Brasil.

Adolescentes no Acre tiveram convulsões, mas associação com vacina foi descartada

A partir do primeiro relato de convulsões nas redes sociais, outras adolescentes começaram a dizer que tinham sentido o mesmo. De repente, havia um grupo de mães de meninas do Acre atribuindo as convulsões – que na época foram erroneamente entendidas como epilepsia – a uma reação à vacina. A bula da vacina inclui a possibilidade rara de desmaio e convulsões, mas não de epilepsia. As reações mais comuns são no local da injeção (como dor, inchaço, coceira, hematoma e vermelhidão) e dor de cabeça, febre e dor nas extremidades, tontura, náuseas e vômitos.

Ballalai recorda que, antes dos especialistas perceberem algo, o assunto já havia tomado o Instagram, onde mães diziam que a vacina causava reações. Não havia qualquer comprovação de que aqueles episódios tinham sido decorrentes da imunização, mas o “diagnóstico” foi feito, prontamente, por associação.

A partir da intervenção da SBIm, o Ministério da Saúde passou a investigar o caso. Parte das meninas participaram de um estudo na Universidade de São Paulo (USP), que descartou a associação entre os casos e as vacinas. “Descobriram que não havia nada da vacina em si, eram manifestações psicogênicas. As crises eram não epilépticas, mas o estrago estava feito. Até hoje, as coberturas do Acre são as piores do Brasil”, apontou Kfouri.

Desinformação é apenas um dos problemas para hesitação vacinal

Apesar de a desinformação ser um problema crescente, não é a única causa para a hesitação vacinal. Segundo Lely Guzmán, coordenadora do Programa Integral de Imunização do escritório da Opas, as motivações para alguém não se vacinar são diversas.

“Experiências negativas relacionadas aos serviços de saúde, barreiras de acesso, preocupação com as possíveis reações das vacinas – ainda que leves – e medo de agulha são exemplos de situações que também podem levar à hesitação vacinal”, explicou.

No caso do Brasil, destaca Guzmán, um inquérito de cobertura vacinal em crianças nascidas entre 2017 e 2018, feito pelo Ministério da Saúde em parceria com a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, apontou que 18% dos entrevistados se preocupavam com reações graves das vacinas.

Por incrível que pareça, Brasil é vítima do sucesso do próprio PNI, já que alta cobertura vacinal fez com que as pessoas perdessem a percepção de risco de algumas doenças. Foto: Igor do Vale/Estadão Foto: Igor do Vale / Estadão

A mesma pesquisa demonstrou que 28,3% dos entrevistados relataram não ter conseguido vacinar uma criança apesar de tê-la levado a um posto de vacinação. Outros 7,6% tiveram dificuldade de levar seus filhos para serem vacinados.

Outro fator apontado por Guzmán para a queda das coberturas vacinais é surpreendente: o sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “A população e os trabalhadores da saúde têm perdido a percepção de risco relacionado a doenças que foram eliminadas há décadas aqui na região das Américas, como a pólio, mas que continuam a oferecer riscos para os não vacinados por não terem sido ainda erradicadas do mundo”, explica.

Para mudar esse cenário, são necessárias diferentes medidas. Guzmán destaca que, em relação ao medo das reações, é preciso esclarecer quais são as mais comuns e as mais raras e graves. Também é importante aumentar o acesso aos imunizantes, levando-os até a casa das pessoas ou outros espaços de alta circulação. Especificamente sobre o imunizante contra HPV, Guzmán ressalta a importância de mostrar a toda a família que a vacina oferece proteção contra diversos tipos de câncer que podem matar homens e mulheres de todas as idades.

Nesse contexto, a oncologista Angélica Nogueira comenta que, no dia a dia da clínica, se percebe que a população é aberta à vacinação, mas nem sempre sabe a importância de cada imunizante. “Se o médico é claro na informação de que a vacina do HPV é uma vacina contra câncer, que protege homens e mulheres, e que vacinando as crianças a gente tem maior efeito para quando elas virarem adultas, os pais e quem cuida de crianças imediatamente aceitam a informação”.

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