Não é verdade que no dia 31 de março de 1964 "o povo saiu às ruas exigindo a intervenção militar contra os comunistas". Uma publicação no Facebook com mais de 14 mil compartilhamentos usa uma foto da Marcha da Família com Deus pela Liberdade do dia 2 de abril de 1964 para reescrever uma parte da história do golpe militar. A imagem mostra um ato que ocorreu depois da tomada de poder pelos militares.
A manifestação mostrada na foto compartilhada no Facebook ocorreu no Rio de Janeiro e reuniu cerca de 1 milhão de pessoas. A imagem foi divulgada na "edição histórica" da Revista Manchete, de abril de 1964.
Essa passeata ocorreu já após a tomada de poder pelos militares e ficou conhecida como "marcha da vitória". O ato foi articulado pela Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), mesmo movimento que havia auxiliado a organizar as marchas anteriores.
A primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu cerca de 300 mil pessoas em São Paulo no dia 19 de março de 1964, seis dias depois do comício do então presidente João Goulart no Rio de Janeiro. Nesse ato, que contou com 150 mil participantes, Jango defendeu a implementação de um programa de reformas de base -- agrária, bancária, administrativa, universitária e eleitoral.
O que realmente ocorreu no dia 31 de março
Na madrugada do dia 31 de março, tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão Filho saíram de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro para depor o presidente João Goulart. De acordo com o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), "a falta de reação do governo (de Goulart) e dos grupos que lhe davam apoio foi notável".
No dia 1º de abril, Jango viajou do Rio para Brasília e de lá partiu para Porto Alegre, onde Leonel Brizola buscava organizar uma resistência ao golpe militar. O presidente deposto se recusou a apoiar essas iniciativas e se refugiou em uma fazenda, de onde partiu para o exílio no Uruguai.
O que foi a ditadura militar
O golpe instituiu uma junta militar no poder, que seria sucedida pelo presidente Castelo Branco. Até 1985, o País foi governado por militares eleitos de maneira indireta pelo Colégio Eleitoral. A ditadura militar ficou marcada pela repressão de direitos, censura, perseguição política e autoritarismo.
Segundo os dados reconhecidos oficialmente pelo Estado brasileiro, foram 434 mortos por discordância política. Um levantamento da Human Rights Watch (HRW) estima que 20 mil pessoas foram torturadas durante esse período.
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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.